sexta-feira, 2 de janeiro de 2015

A dança dos cogumelos


Sempre fui citadina, o meu contacto visceral com a Natureza acabou quando tinha uns dez anos e o meu Pai vendeu uma quinta que tínhamos em Albarraque, perto de Sintra. Aí vivíamos ao ar livre e ainda me lembro dos cheiros dos pinhões, das frutas, dos eucaliptos, do leite e animais.
Depois disso, passámos a ir para a praia nas férias, embora déssemos longos passeios em Sintra e gozássemos dos belos ares do Restelo, onde havia um jardim cheio de árvores e flores...


Hoje voltei à Natureza, por sorte quase sem sair de casa, visto que Botânico fica aqui em frente.
 Está em obras, mas tem sempre cantinhos onde podemos andar sem problemas. Grande parte dos lagos está vazia, à espera dos novos hóspedes, mas o jardim no inverno é claro, aberto, respira-se, há sombras e o sol entra por ali adentro sem interferência das copas das árvores que no verão cobrem o céu.


Quando me encaminhava para um local que gosto muito reparei num fenómeno espantoso. Esse local é um dos preferidos dos meus netos, pois tem uns troncos partidos que ficaram depois de decepada uma árvore gigantesca. Esses troncos constituem um enorme prazer para os miúdos que saltam e equilibram-se por cima delas, encavalitam-se, etc.


Choveu imenso este outono e o jardim está viçoso, mesmo luxuriante no que respeita as ervas, trevos, plantas saprófitas, heras, etc. Não ha´tantas flores - só camélias e algumas rosas - mas descobrem-se imensos seres vivos que continuam a habitar por aqui.


Hoje dediquei-me aos cogumelos. Fantásticos. Por todo o lado, dourados, brancos, irisados, azuis, esverdeados como as conchinhas que se alapam às rochas lá na Luz. São massas esponjosas que apetece tocar. Infelizmente não sei se são venenosos ou não...

Estes troncos decepados estão bem vivos, mesmo depois de mortos.

Fica aqui um poema de Jorge de Sousa Braga, a propósito:

O APANHADOR DE COGUMELOS



O mais difícil não é distinguir

entre um boleto pão-de-ló e um

boleto-de-satanás o mais difícil

não é andar quilómetros e quiló-

metros por uma floresta e chegar

ao fim com os pés enxutos.

O mais difícil é não sucumbir

à beleza desse mundo que se

alimenta de detritos em putre-

facção e onde não há flores

nem frutos


4 comentários:

  1. Virgínia, fotos mt bonitas (embora me pareça que têm uns pozinhos de "Photoshop") e um poema a condizer! Ainda os desejos de um Bom Ano.

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    1. Nada de PS, que nunca tive, nem tenho, nem tenciono usar. Para já é caríssimo!! Uso o Picasa que é da Google para acertar, cortar e dar relevo à cor, que no digital fica por vezes baça. O colorido dos cogumelos é mesmo este, não modifiquei nada....
      Bom Domingo!

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  2. Um post que é um encanto, não só pelas fotos fantásticas mas, sobretudo, pelos afectos que encerra.
    E que se estendem, desde a evocação da Natureza na infância associada aos Pais, à presença dos netos que continua no coração e nos sítios das brincadeiras preferidas..., encaminhando-lhe os passos que a levam a desvendar pequenas bizarrias do mundo vegetal... quais bailarinas, rodando suas saias multicores...
    Boa conjugação com o poema !
    Beijinhos, renovando o desejo de um Bom Ano 2015.

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    1. Agradeço o seu interesse pelos cogumelos ( já li a mensagem que deixou no gmail - e comungo dos mesmos sentimentos. A Natureza é algo especial e ultrapassa tudo o que o homem possa inventar. Boa noite e um bom domingo.

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