sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

Minimalismo

Aderi a um grupo do Facebook que se chama : The Best of Minimalism.
As fotos que são publicadas todos os dias têm um interesse estético muito diferente das que só focam temas ou cores.

Tenho aprendido imenso e diverte-me produzir fotos minimalistas. Vai aqui uma colecção delas, umas mais abstratas que outras, algumas mesmo intrigantes. As legendas ajudarão a compreender o que foi retratado.

Uma definição de Minimalismo dum site terra-a-terra, que não complica os conceitos:


Minimalismo é um movimento artístico e cultural que surgiu nos Estados Unidos 

no começo da década de 1960.

Principais características do Minimalismo:

- Elaboração de obras (pinturas, esculturas, músicas, peças de teatro) com a 

utilização do mínimo de recursos;

- Utilização de poucas cores nas pinturas;

- Nas artes plásticas, destaque para o uso de formas geométricas com repetições 

simétricas;

- Criação de músicas com poucas notas musicais, valorizando a repetição sonora.


Banco do jardim ( foto invertida)

logotipo da Apple em Palo Alto

Sombra de cercas num hotel em Ofir



carris no cais da Ferradosa - Douro

Vidros de estufa do Jardim Botânico


O céu reflectido numa mesa molhada do bar do Ingleses

Lajes no Jardim Botânico















Varanda do bar dos Ingleses ( foto invertida)




























































Para finalizar, podem ver/ouvir um vídeo de música minimalista - Philip Glass - Morning Passage - The Hours. 


quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

Dois filmes: duas faces do Homem



Hoje fui ver o filme, que considero o reverso da medalha daquele que critiquei há uma semana.

No primeiro, fala-se da destruição duma mente brilhante através da condenação social homofôbica em Inglaterra na primeira metade do século XX .
Neste trata-se da redenção dum homem diminuído fisicamente em todos os aspectos excepto no seu cérebro, redenção operada pela sociedade da segunda metade do século XX e XXI. Ambos os filmes retratam a vida real.

 A evolução dos costumes e o avanço tecnológico andam a par. A Ciência tem de funcionar como uma revolução de mentalidades, a democracia deve espoletar a transformação social de modo a favorecer o progresso não só individual mas colectivo. Estes dois filmes são a prova de que este milagre é possível, ainda que nem sempre aconteça.

Stephen Hawking é uma força da Natureza que felizmente sobreviveu às ameaças que a lógica e a medicina lhe ditavam. Ver este filme  ( lembrou-me a história de Helen Keller) , faz-nos acreditar no amor, na força, na inteligência e também no poder do dinheiro que possibilita o avanço das tecnologias.

Um filme britânico, sóbrio, sem o mediatismo dos filmes hollywoodescos. Saí da sala com esperança.

Em 2004, a BBC produziu uma mini-série sobre Stephen Hawking, chamado Hawking. Só foca a vida do cientista em Cambridge até ao seu casamento.
Muitos acham-na superior ao filme candidato a Óscares. Coincidência ou não, o protagonista é o actor que interpretou o papel de Alan Turing no filme que citei na semana passada: Benedict Cumberbach.
A sua interpretação é mais inteligente, mais convincente e apelativa.
Há actores brilhantes na cena britânica.


terça-feira, 27 de janeiro de 2015

Janelas com histórias

Foz do Douro
Continuo  entusiasmada com o grupo DK ( decay= decadente).
António Cardoso- Casa de Sophia M.B. Andersen

As fotografias que todos os dias são descarregadas para apreciação vão aumentando e encantando.


É claro que todas elas obedecem à lei da decadência. Janelas modernas não têm interesse nenhum, em geral são metalizadas, com grandes vidraças.

As janelas antigas têm um je ne sais quoi que nos fala de histórias antigas, de famílias e também de miséria ou de degradação.

Ribeira


                                                      Coloco aqui algumas das minhas ( duma grande colecção que tenho) e por fim, colagens das janelas seleccionadas esta semana.
s. João da Pesqueira








Fica aqui um poema em prosa de Baudelaire


Les Fenêtres


Celui qui regarde du dehors à travers une fenêtre ouverte, ne voit jamais autant de choses que celui qui regarde une fenêtre fermée. Il n'est pas d'objet plus profond, plus mystérieux, plus fécond, plus ténébreux, plus éblouissant qu'une fenêtre éclairée d'une chandelle. Ce qu'on peut voir au soleil est toujours moins intéressant que ce qui se passe derrière une vitre. Dans ce trou noir ou lumineux vit la vie, rêve la vie, souffre la vie.

Par delà des vagues de toits, j'aperçois une femme mûre, ridée déjà, pauvre, toujours penchée sur quelque chose, et qui ne sort jamais. Avec son visage, avec son vêtement, avec son geste, avec presque rien, j'ai refait l'histoire de cette femme, ou plutôt sa légende, et quelquefois je me la raconte à moi-même en pleurant.

Si c'eût été un pauvre vieil homme, j'aurais refait la sienne tout aussi aisément.

Et je me couche, fier d'avoir vécu et souffert dans d'autres que moi-même.

Peut-être me direz-vous: «Es-tu sûr que cette légende soit la vraie?» Qu'importe ce que peut être la réalité placée hors de moi, si elle m'a aidé à vivre, à sentir que je suis et ce que suis?

A tradução:


As Janelas

Aquele que olha de fora através de uma janela aberta, não vê nunca tantas coisas quanto aquele que olha uma janela fechada. Não há objeto mais profundo, mais misterioso, mais fecundo, mais tenebroso, mais radiante do que uma janela iluminada por uma candeia. O que se pode ver à luz do sol é sempre menos interessante do que o que se passa por detrás de uma vidraça.Neste buraco negro ou luminoso vive a vida, sonha a vida, sofre a vida.

Para além do ondular dos telhados, avisto uma mulher madura, já com rugas, pobre, sempre debruçada sobre alguma coisa, e que nunca sai. Com seu rosto, com sua roupa, com seu gesto, com quase nada, refiz a história desta mulher, ou melhor, sua lenda e, por vezes, a conto a mim mesmo chorando.

Houvesse sido um pobre velho homem, teria refeito a sua com igual facilidade.

E me deito, feliz por ter vivido e sofrido em outros que não eu mesmo.

Vocês talvez me digam: "Tem certeza de que esta lenda é a verdadeira?" Que importa o que possa ser a realidade situada fora de mim, se ela me ajudou a viver, a sentir que sou e o que sou?



quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

The Imitation Game


Um filme que dignifica o Homem e que simultaneamente nos faz perder a Fé nos homens.

Há Homens, há génios, há seres absolutamente diferentes que salvam a Humanidade em épocas de crise e vivem por acreditarem na Ciência e nas inúmeras possibilidades que ela nos oferece. Mas também há os homenzinhos que tudo censuram, que humilham, condenam e levam outros ao desespero apoiados em leis homofóbicas e desprezíveis.

Oscar Wilde, o génio da literatura irlandesa,  foi destruido em vida por tribunais homofôbicos e desumanos.

Alan Turing, o grande matemático britânico que decifrou os códigos usados pelos Nazis na 2ª GG, foi condenado a uma esterilização forçada, acabando por se suicidar aos 41 anos, dez anos depois do final da GG, ganha pelos Aliados.

Alan Mathison Turing OBE (23 de Junho de 1912 — 7 de Junho de 1954) foi um matemáticológicocrip7toanalista e cientista da computação britânico. Foi influente no desenvolvimento da ciência da computação e na formalização do conceito de algoritmo e computação com a máquina de Turing, desempenhando um papel importante na criação do computador moderno. Ele também é pioneiro na inteligência artificial e na ciência da computação.
Durante a Segunda Guerra Mundial, Turing trabalhou para a inteligência britânica em Bletchley Park, num centro especializado em quebra de códigos. Por um tempo ele foi chefe do Hut 8, a seção responsável pela criptoanálise da frota naval alemã. Planejou uma série de técnicas para quebrar os códigos alemães, incluindo o método da bomba eletromecânica, uma máquina eletromecânica que poderia encontrar definições para a máquina Enigma.



O filme deixa-nos uma grande indignação, uma revolta infinita.

Ao escrever esta entrada no laptop, penso que se o tenho, o devo em parte a este génio da matemática, um dos precursores dos computadores, inventor de máquinas com cérebro capazes de operações impossíveis ao Homem.

O filme é sóbrio como todos os filmes britânicos e segue so detalhes da vida do matemático, introduzindo uma figura feminina ( não sei se existente na vida real ) que adoça um pouco o ambiente. O sorriso e doçura de Keira Knightley, a confiança que ela deposita no seu Amigo, ajudam a tornar o filme menos masculino e mais profundo.

É um filme a ver. Para acreditar na Ciência e nos Homens que a usam para Bem da Humanidade.


quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

As mordomias

Anda a passar no Facebook um vídeo sobre as mordomias e benesses dos deputados ao PE.

Já não é sem tempo.

Devo dizer que todos estes nobres senhores, escolhidos por nós, vivem à tripa forra numa Euro disney paga por nós.
Não são só os vencimentos regiamente pagos todos os meses, são as viagens, os carros, as casas, os colégios dos filhos, os fins de semana de três dias, as reformas, enfim, uma festival de benesses que nenhum médico, juiz, professor da universidade ou investigador de gabarito recebe ou tem direito a gozar.

Sei-o por experiência directa. Um dos meus cunhados foi deputado durante oito anos.

O meu ex-marido foi juiz de carreira e quando chegava do Supremo em Lisboa, tinha de se meter num taxi para vir da estação. Nunca teve carro, nem chauffeur que o fosse levar onde quer que fosse, tudo lhe saía do bolso. Pagámos sempre a educação dos nosso filhos no Colégio alemão com grande sacrifício. O meu vencimento de professora era o que se sabe, o que me valeu foi começar a trabalhar para a Porto Editora em 1983.

Pergunto o que fazem de tão relevante estas sumidades do PE?



Porque pagamos nós estas mordomias para nos representarem ( mal)?
De que é que a UE tem receio? Que não haja gente para o poleiro. Há sempre quem queira esses lugares. Eles abrem as portas a outras regalias.

Um ex-deputado pode ter quatro ou cinco casas nos mais diversos locais.....basta pedir empréstimos ao BCE com juros baixíssimos....

É uma vergonha....


domingo, 18 de janeiro de 2015

Domingo sem sol

O céu está carregado de chumbo, até as gaivotas se assustam e andam em vôo picado de chaminé em candeeiro, piando lamentosas. O gradeamento da casa Andersen forma uma renda contra-luz.

Fins de semana com chuva só incitam à preguiça.
Adoro levantar-me à hora que me apetece, andar de pijama pela casa, tomar o pequeno almoço languidamente, sem pressas...

Sei que poderia sair, ir ao cinema, ver gente.
O meu filho só virá pelas 6 depois do jogo do Bessa. Dava tempo de ir até ao Arrábida ver um dos bons filmes que por aí vão. Mas não. Prefiro estar por aqui, acender a lareira, sentar-me a ouvir música, ler ( ontem acabei O Mandarim), olhar para as chamas. É uma libertação. Gente cansa-me.

Oiço o concerto de Grieg no Mezzo. Um dos meus concertos de piano preferido. Leva-me até países escandinavos, onde neva e há inverno a sério.

Ainda não desmanchei as decorações de Natal. Gosto de ver as luzinhas a piscar no escuro. Dão-me calor.

Todos se admiram...."Então os Reis não passaram por aqui?" perguntou-me a minha nora que veio dos EU e já partiu.

Os Reis passaram, sim.

Mas será Natal enquanto eu quiser...



quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

Mozart em bailado


Um espectáculo inolvidável, que me foi oferecido pela Brava HD, um canal que não me canso de elogiar, pois representa uma pedrada no charco desta televisão cada vez mais decepcionante.
O meu filho que não tem TV em casa por princípio exclamou quando cá veio e assistiu a um concerto neste canal, que ele não conhecia: Dá sensação de que estamos na sala de concertos.
É mesmo. Nada melhor para nos sentirmos acompanhados, em paz.



Estou a ouvir e a ver um bailado moderno com a música divinal da Missa Solene de Mozart e outros intermezzos tocados na Gewandthaus em Leipzig e cantada por solistas excepcionais. Os movimentos acompanham os coros ou os solistas ou apenas os instrumentais, uma coreografia bela e duma simplicidade enorme.

Quantas horas de beleza e tranquilidade nos são oferecidas por estes canais de música clássica! Sem eles, penso que teria a Tv quase sempre fechada, ainda que aprecie um bom jogo de futebol de vez em quando e um ou outro programa de informação.

Fica aqui um vídeo com 12 minutos desta adaptação.


segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

A época do defeso


Depois de ler tanta aberração, tanta contradição e mesmo justificações ridículas em telejornais, nos artigos do jornal ou nas redes sociais sobre o atentado em Paris, soube-me bem hoje entrar na semana com um passeio no Botânico, agora na época de defeso, grande parte vedada ao público, árvores sem folhagem, lagos vazios de nenúfares e papiros.




Por ali passeei uma hora, conversei com uma Avó que tomava conta do seu neto pequenino e contemplei tudo à volta.
Este jardim, mesmo em obras intermináveis . contém sempre algo de mágico, sobretudo quando está sol e  a luz e as sombras jogam às escondidas com os ramos esquálidos dos arbustos, projectando-se nas folhas mortas, nas ervas e trevos que cobrem o solo. Os reflexos na água, que ainda conseguimos fotografar, transmitem-nos imagens estranhas e pouco habituais, mas não menos belos, como se pode ver nestas fotos.

A grande histeria deste fim de semana - desculpem , mas não acredito nos métodos propalados por todas estas sumidades que desfilaram em Paris, nem acredito na boa fé dos milhões que os acompanharam - deixou.me cansada e farta da tão exaltada civilização ocidental. Continua a haver ódio, racismo, discriminação, ignorância cultural...e o insulto gratuito, mesmo em forma de cartoon, não deixa de ser um murro no estômago do adversário. Nada justifica o terrorismo, mas também nada justifica insultar-se durante anos um povo inteiro e as suas crenças, sem utilidade prática, que não vender pasquins.

É um mundo cheio de lodo, onde se torna difícil discernir os bons dos maus.




domingo, 11 de janeiro de 2015

Solo dominical

Já há muito que não passava um domingo a solo.

Filhos fora, netos fora, telemóvel desligado, skype desligado, ausência quase forçada para testar a minha própria capacidade de me aguentar sem comunicação e sem palavras ...logo falarei com a minha filha e é tudo.

Está sol, entra pela minha janela e inunda a sala, onde uma planta de Natal ainda resplandece vermelha de sangue. Não desmanchei a àrvore de Natal e só o farei quando me apetecer. Será Natal enquanto eu quiser.

Este ataque terrorista deu pano para mangas. Exaltei-me no FB, nunca consigo moderar as minhas palavras e irrita-me o carneirismo ( somos todos Charlies), a hipocrisia generalizada, a histeria burguesa instalada.

Prefiro ser calma e estar atenta a tudo o que se passa no mundo, inquietar-me com as inúmeras mortes que todos os dias acontecem em África, no Médio Oriente e até em Portugal. Morre-se de frio e ninguém levanta um dedo para dizer : Eu sou um "sem abrigo". Viva o pão, viva o tecto, viva a saciedade, viva o emprego! Isso é que era bonito. Os jornalistas do "Charlie" já há muito que viviam do insulto e sátira maldosa, que não contribuía para um mundo melhor. Contribuía para satisfazer os seus egos inchados.

Ontem fui ao cinema ver Birdman.
É um filme denso e inquietante. Filmado dum modo único, teatral, performances excelentes, quiçá  over-acting a mais.


Gosto da antítese entre o homem-pássaro que tudo sobrevoa e vence e o actor caído em desgraça, não reconhecido nos teatros da Broadway. O tema da queda dum mito - já bastante batido-  está presente e impressiona na figura representada por Michael Keaton, candidato a um Globo de Ouro.

Oiço o Mezzo: Daphnis & Chloe de Ravel, música etérea, que me afasta ainda mais da realidade. Procuro evadir-me, descobrir a paz, interiorizar a minha solidão. Não quero interferências. Hoje estou só comigo própria.

Coloco aqui uma canção sarcástica dos Sparks sobre a opção que escolhi. Este video é o meu retrato hoje.


I married myself
I'm very happy together
I married myself
I'm very happy together

I married myself
I'm very happy together
Long, long walks on the beach, lovely times
I married myself, I'm very happy together
Candlelight dinners home, lovely times

This time it's gonna last, this time it's gonna last
Forever, forever, forever

I married myself
I'm very happy together
Long, long walks on the beach, lovely times
I married myself, I'm very happy together
Candlelight dinners home, lovely times

This time it's gonna last, this time it's gonna last
Forever, forever, forever
This time it's gonna last, this time it's gonna last
Forever, forever, forever

Lil' Beethoven

quinta-feira, 8 de janeiro de 2015

O Douro

É um rio sempre muito belo.

Não sei se é das curvas sinuosas que o fazem serpentear entre as cidades, escondendo recantos dos morros escarpados para, de súbito,  os revelar um pouco mais adiante, se é a luz velada que o nevoeiro acentua ainda mais, se é aquele abraço com o mar, hoje já menos evidente por causa do molhe, se são os pescadores que esperam horas infindas pelo mordiscar dos iscas, se dos barquinhos frágeis que baloiçam nas suas margens, ou se é do carácter antigo das casas cujas fachadas se debruçam sobre o rio e se reflectem na superfície dourada ou prateada conforme a luz do sol...







Ontem resolvi ir dar um passeio de carro até lá abaixo, sair do carro e andar um pouco na margem. Estava uma tarde de sonho, calma, quente...nem parecia inverno.

A minha empregada foi comigo e acabámos por ir tomar um café à Praia da Luz, onde o sol já estava mais baixo, embora ainda não fossem horas de se pôr. Conversar com ela durante uma hora fez-me bem. O ar de mar e o intenso cheiro a maresia ainda mais.

Esta cidade continua a encantar-me e estes dias de inverno cheios de sol ainda são mais belos do que os de verão. Os áceres aqui em frente não querem perder a folha, por estranho que pareças dá a sensação de que em breve virá a Primavera. Oxalá!!

Coloco aqui um poema que hoje a minha Amiga Regina  gentilmente me enviou ( 10/1).

Lesto, caminha o Sol para poente.
Sobre o rio, estranhas sombras dançam.
A música é feita de um rumor silente 
em magoado canto transformado.
Rumor das sombras?
Rumor das águas?
Rumor das mágoas?


"Entre Margens" - Regina Gouveia

quarta-feira, 7 de janeiro de 2015

Adeus Charlie


Em 1975 fazia furor em França. Era a revista mensal Charlie com as suas histórias picantes, bandas desenhadas de adultos, cartoons picarescos e politicamente incorrectos.

Gostava do cheiro, das capas e da consistência. Ofereci a assinatura ao meu ex-marido no Natal durante uns anos.

Por vezes passávamos por uma garagem no Saldanha em Lisboa e encontrávamos números antigos da revista e também da Pilote, que era no mesmo género.

O meu marido ainda tem os números guardados lá em casa, penso eu. Deve estar a folheá-los com saudade. Porque não se sabe quando voltará o Charlie...



Não há palavras para definir estas barbaridades, são pura ignorância e fanatismo religioso. É dramático não sabermos até onde podem ir estas organizações que agora pululam pelo Mundo e que odeiam a civilização ocidental e a democracia, a liberdade de expressão e até o sentido de humor.

Odeiam tudo o que vai contra a sua interpretação do Corão. Que não é exactamente o que lá está escrito.

terça-feira, 6 de janeiro de 2015

Utopias


À guiza de agradecimento ao meu Irmão Mário, que me abriu o acesso ao blogue antigo, coloco aqui um poema dele, feito para mim no seu blogue : O Espaço azul entre Nuvens - que infelizmente já terminou há anos, mas que ainda se pode ler na net. No sábado, foi a sua Mulher que me trouxe à Gare do Oriente, onde passei uns 20m a contemplar aquela beleza arquitectural, verdadeiro trabalho de filigrana dourada, que parece uma catedral. Não estava vento, nem chuva...os comboios iam e vinham, e depois da festa sentia-me feliz de regressar ao lar, onde o meu filho mais novo me esperava.

Gare do Oriente às 7 da tarde
Este meu irmão mais novo é multifacetado.
Tão depressa está a dar aulas na Universidade, como a ver crianças no consultório, a escrever livros sobre pediatria social, a dar entrevistas para revistas ( ver   http://www.publico.pt/sociedade/noticia/educar-nao-e-dificil-e-ter-momentos-terriveis-1680821                     , a passear o cão nas avenidas novas de Lisboa, a participar em reuniões da escola dos filhos ou a tratar das flores nas Cezaredas.....faz poemas com facilidade ( algo que invejo) e já publicou uma dezena de livros vários, de divulgação, pedagogia, romances, etc.

Quando eu entrei para o atelier Utopia, ele fez-me este poema de que gosto imenso. Retomo-o 4 anos mais tarde. Obrigada, Mário.

UTOPIA

Utopia
Não-lugar
Da sapiência,
Pilar
Da existência
Sem limites.

Utopia
Lugar
De ousados sonhos,
Lugar
Onde o medonho
É apetite.

Utopia
Lugar
Das harmonias
Onde até
Os deuses
Têm coração.

Utopia
Lugar
Das fantasias
Onde a humana condição
Existe
Livre.


Mário Cordeiro

segunda-feira, 5 de janeiro de 2015

A grande prenda do meu Natal


Hoje consegui acesso ao meu antigo blogue Cor em Movimento, que foi escrito de 2009 a 2012.

Tudo foi recuperado e pode ser lido e relido por quem quiser. Na lista de blogues à direita  está indicado o link.

Agradeço ao meu Irmão Mário esta bela prenda de Natal.

Esta foi a última foto que coloquei na entrada em 6 de Dezembro. Aqui fica para recordação.


domingo, 4 de janeiro de 2015

A família

Ontem foi a festa de Natal da família alargada. Estávamos muitos, embora faltassem os principais - os meus todos.

É  bom estarmos todos alive and kicking, como dizem os ingleses, mas o tempo vai afastando algumas pessoas, sem razões aparentes, apenas porque nos recusamos a fazer parte do grupo e "não vamos por ali". O espírito de clan continua a orientar alguns membros da família, que se sentem especialmente vocacionados para mandar nos outros....em vão. A verdade é que à medida que envelhecemos, vamos tolerando as idiossincrasias de cada um.

a 3ª geração

Na minha família depois da morte da minha Mãe, houve sempre um certo mal estar entre alguns de nós , o que não nos impede de ir aos almoços e de conversarmos abertamente, mas cria embaraços. É sempre bom ver os irmãos rapazes pois eles são mais importantes para mim do que qualquer das irmãs com quem tenho tido certos atritos. Todos os sobrinhos da 2ª geração (21) são delicados e afectivos connosco que muito cedo começámos a tomar conta deles ainda em Lisboa.

Verificar que as vinte e tal crianças e adolescentes já da terceira geração estão ali felizes e contentes, não havendo quaisquer quezílias entre eles durante horas é quase milagre. Os nossos pais haviam de ficar felizes de os ver a todos e de saberem que o seu sangue corre e há de correr nas veias dos presentes e dos vindouros. Fico contente de ter contribuído para isso com uma quota parte. Orgulho-me da minha família.


sexta-feira, 2 de janeiro de 2015

A dança dos cogumelos


Sempre fui citadina, o meu contacto visceral com a Natureza acabou quando tinha uns dez anos e o meu Pai vendeu uma quinta que tínhamos em Albarraque, perto de Sintra. Aí vivíamos ao ar livre e ainda me lembro dos cheiros dos pinhões, das frutas, dos eucaliptos, do leite e animais.
Depois disso, passámos a ir para a praia nas férias, embora déssemos longos passeios em Sintra e gozássemos dos belos ares do Restelo, onde havia um jardim cheio de árvores e flores...


Hoje voltei à Natureza, por sorte quase sem sair de casa, visto que Botânico fica aqui em frente.
 Está em obras, mas tem sempre cantinhos onde podemos andar sem problemas. Grande parte dos lagos está vazia, à espera dos novos hóspedes, mas o jardim no inverno é claro, aberto, respira-se, há sombras e o sol entra por ali adentro sem interferência das copas das árvores que no verão cobrem o céu.


Quando me encaminhava para um local que gosto muito reparei num fenómeno espantoso. Esse local é um dos preferidos dos meus netos, pois tem uns troncos partidos que ficaram depois de decepada uma árvore gigantesca. Esses troncos constituem um enorme prazer para os miúdos que saltam e equilibram-se por cima delas, encavalitam-se, etc.


Choveu imenso este outono e o jardim está viçoso, mesmo luxuriante no que respeita as ervas, trevos, plantas saprófitas, heras, etc. Não ha´tantas flores - só camélias e algumas rosas - mas descobrem-se imensos seres vivos que continuam a habitar por aqui.


Hoje dediquei-me aos cogumelos. Fantásticos. Por todo o lado, dourados, brancos, irisados, azuis, esverdeados como as conchinhas que se alapam às rochas lá na Luz. São massas esponjosas que apetece tocar. Infelizmente não sei se são venenosos ou não...

Estes troncos decepados estão bem vivos, mesmo depois de mortos.

Fica aqui um poema de Jorge de Sousa Braga, a propósito:

O APANHADOR DE COGUMELOS



O mais difícil não é distinguir

entre um boleto pão-de-ló e um

boleto-de-satanás o mais difícil

não é andar quilómetros e quiló-

metros por uma floresta e chegar

ao fim com os pés enxutos.

O mais difícil é não sucumbir

à beleza desse mundo que se

alimenta de detritos em putre-

facção e onde não há flores

nem frutos