Há quase um ano que nada escrevo neste canto que era o meu refugio.
Desde 2009 que escrevia regularmente, cheguei a ter 500 leitores diários, comentários interessantes, apoio amigo e também algumas dissidências que não me feriram o ego.
Lentamente, deixei de sentir necessidade de desabafar ou partilhar a minha leitura da vida, talvez porque ela se tornou cada vez mais critica e mordaz ou pura e simplesmente porque nem sempre se consegue partilhar a Beleza e o encantamento, mesmo quando somos criativos.
Pintei algumas coisas de que gosto sinceramente neste período e nem sempre as fotografei. Postei no Facebook muitas fotografias do Porto
e de outros lugares onde fui feliz. Essas estão aqui neste velho Mac, que é o meu espelho e que qualquer um poderá ler quando eu partir.
Escrevi um diário intimo desde 2017, ano em que o M. partiu. Fiz luto e sofri bastante a sua perda. O M.era um Pai, um irmão mais velho, mais do que um marido amoroso. Sentia sempre por ele admiração, carinho e receio. Nunca fui totalmente franca, nem livre enquanto casada. Sacrifiquei muito pelos meus filhos e pela afeição que ainda sentia.
Hoje foi dia de arrumações. Queria deitar fora muita coisa e não consegui. Estou cansada, velha, farta de preocupações familiares crónicas, já nem sequer sonho.
Só quero estar quieta no meu sofá, bordar, olhar as árvores do Botânico lá fora, regar os meus cactos e suculentas, ver umas séries policiais, ler em versão Kindle alguns livros interessantes, biográficos e não só.
Começo a detestar livros em papel. Pertenço a um grupo do FB chamado "Desenvoler". Acho-o original e continuo a ver o que os leitores expressam sobre a leitura.
Sempre achei que era importante ler, li centenas de livros na universidade e na adolescência, adorava poder ler de fio a pavio...mas nunca fiz a apologia da leitura, diabolizando as tecnologias, como se faz agora. Nem vice-versa.
Hoje odeio os livros-objectos, sobretudo quando se acumulam pela casa toda, enchem todo o espaço para respirar, enchem-se de pó, cansam a vista, trazem memórias...
Não preciso de viver rodeada de livros. O M. ia buscá-los às bibliotecas e nunca comprava nada, mas leu tudo o que havia para ler. Só coleccionava BD e literatura clássica. Mesmo assim ofereci mais de 200 livros dele à Biblioteca Almeida Garrett, que nem sequer um cartão de agradecimento se dignou dedicar-me. A minha filha compra livros ao desbarato,
nem sequer os lê, mas gosta de olhar para eles. Já foi "bookworm", já não é. Infelizmente. Ontem encheu uma caixa enorme de livros novos que nem sei onde deixar. Hospitais, bibliotecas, escolas desprezam-nos.
Todos fazem a apologia da leitura. Adoro ouvir os paladinos da cultura aqui do burgo apregoar as multiplas edições das suas obras, como se fossem inventos transformadores da Humanidade. Essa, imersa num mar de informação a que chamam midia, marimba-se para os livros, só lhe interessa o escândalo, o crime e sobretudo, dinheiro. Quanto mais melhor. Programas sobre leitura são infimos.
Escrevo em estado de semi-depressão, eu sei. Acontece. Desculpem. Amanhã será melhor.