quarta-feira, 26 de abril de 2023

Shrine

 No meu local sagrado. 



Sem incenso, nem círios, nem genuflexorios, nem estátuas douradas, nem rostos chorosos de cera com lágrimas fictícias. 



Não preciso de flores arrancadas á raiz, nem prédicas bem intencionadas, nem abraços da Paz, nem hóstias, nem sequer de cânticos lamentosos. 



Não acredito em nada disso há muitos anos. A minha fé está aqui, neste local, rodeada de glicínias roxas, já esguias e a dar lugar a folhas verdes brilh



antes. 

Os pássaros cantam bem melhor que os crentes desafinados. Até às gaivotas sedentas.

Oiço jovens a rir


e a berrar, que não respeitam a maravilha deste local. Nada para eles é sagrado.



Devia ser proibido falar aqui. O silêncio é de ouro. Os sons são naturais. Só eles enchem o ambiente de espanto.


sexta-feira, 7 de abril de 2023

quarta-feira, 5 de abril de 2023

Páscoa da Ressurreição


 Já estou em stand by há alguns dias. Os efeitos da operação ao fígado não foram negligenciáveis. Andei alguns dias cheia de dores, sem vontade de sair, de comer ou fazer o que quer que fosse.

Perdi peso e a alegria.


Ontem tiraram me os agrafes e parece que me saiu um peso de cima. Vou até a praia da Luz com a família. Lá naquele local de recordações e de Vida vou me recompor até as proximas sessões de quimioterapia.



Ainda tenho muito para viver. Cada dia é novo e preciso de gozar o que me rodeia.

Passear pelo Jardim Botânico, ver a Primavera a renascer nos lagos, nos jardins, nos canteiros, nas áleas, nas árvores, é beleza a mais.



Para todos uma Páscoa feliz com saúde e alegria.




sábado, 1 de abril de 2023

Outrora

 Já há quase um mês que não escrevo. Hoje recebi um mail dum aluno muito querido, o Diogo Lourenço, a perguntar me como me sentia, pois tinha lido o meu blogue e visto que atravessava um período mau. Fiquei comovida. 

O Diogo era um aluno esp


ecial. Engraçado, muito inteligente, com o o espírito aguçado. Fazia me rir, coisa que prezo muito noutras pessoas. Contactei com ele no FB, mas depois nunca mais.

Mal sabem os alunos como pensamos tantas vezes neles, nas aulas, no calor da confusão, no entusiasmo das tarefas e também nos momentos mais tristonhos.

Sempre gostei de fazer vibrar os meus alunos, mesmo quando me sentia mais em baixo. E alguns correspondiam totalmente, irradiavam e preenchiam todos os requisitos.

O Diogo era assim. Um dia perguntou me o que achava das calças dele. Tinha o obsessão da moda. Inventei um comentário qualquer sobre aqueles jeans normais. Ele gostou.

Tenho saudades de dar.Saudades de que alguém precise de mim a sério.



Saudades de um sorriso amigo ou duma gargalhada solta.

A vida não volta. Mas tem momentos lindos. 

Hoje, por exemplo.