segunda-feira, 15 de abril de 2019

A nova Páscoa



Quando se pensa em Páscoa hoje em dia, vem-nos à cabeça folhetos de férias, passeios de carro, paisagens magníficas por regiões mais remotas, cheiros primaveris, flores e iguarias próprias da época. Lazer, descanso depois dum período longo de inverno e de trabalho.

Poucas pessoas pensam no significado religioso da palavra, na História que subjaz por detrás da memória. O sentido profano ultrapassa de longe o religioso.

As igrejas estão vazias a não ser nos domingos de Ramos e de Páscoa, talvez porque a eles se aliam também a cerimónias populares, procissões, tradições, etc.

Basta ver os programas de TV, que se centram nos comeres da província, nos pratos regionais, nas doçuras de fazer água na boca e no trabalho à volta do forno ou das panelas. Poucos programas falam de religião e dos costumes ou rituais verdadeiramente espirituais em torno do acontecimento mais marcante da vida de Cristo: a sua morte e para quem acredita,a sua Ressureição.

Hoje escrevi isto num blogue em que se falava da Semana Santa:

"Fui crente até aos 20 anos duma forma consistente e profunda, que me levava a ler os Evangelhos e a seguir as normas da Igreja como se não houvesse mais alternativas. 


Casei com um agnóstico, inteligente e lúcido, o que me alterou por completo a visão da vida, da nossa existência neste mundo e até do futuro para além dela. 
Como muitas pessoas da minha idade um pouco "fanáticas, e com o cérebro lavado pelos professores e padres da "antiga senhora",  acabei por dar uma volta de 180º após o 25/4 e de passar a estudar o outro lado, que nos era vedado. 
Na Faculdade, em 1966~67,  estudei Camus e Sartre, fiz a cadeira de História do Cristianismo e li outros autores crentes ou completamente ateus. Li Renan, Daniel Rops, Simone de Beauvoir, Papin, Simone Veil etc. numa fase em que eu era um verdadeiro bicho de biblioteca. 


Na semana santa, chegava a ir todos os dias à minha paróquia de sempre, ler os Evangelhos, rezar ou comungar. Gostava daquele ritual e acreditava que a minha vida e a do meu namorado poderiam melhorar. Até tentei convertê-lo, mas não consegui. Ele era mais culto e inteligente que eu. 

Hoje , passados 50 anos , não acredito em nada para além da vida. Repudio em especial a Igreja Católica, instituição, que me parece ser o cerne de muitos males que afligem as sociedades católicas, as sul americanas, as asiáticas e até o nosso Portugalzinho tão beato , hipócrita e falso, fiel à clique eclesial, aos beija-mãos e mordomias dos padres em geral. As sociedades católicas são atrasadas visceralmente, preconceituosas e fechadas à inovação. Fátima é uma fraude imensa.

Claro que há excepções, e conheci na minha vida várias pessoas que me influenciaram para bem, como o prior dos Jerónimos, P. Felicidade Alves, grande amigo dos meus pais, que acabou por abandonar a Igreja e casar-se. Foi bom para mim ser criada numa família crente, os valores que hoje tento passar para os meus netos são os mesmos, ainda que muito mais liberais.


Neste momento a única vertente que me liga à Igreja é a Música. Através dela consigo ver algo de místico, de transcendente e belo. 

Para mim, Bach é um Deus. 




Ouvi-lo eleva-me....mais do que todas as imagens, filmes, livros,  textos, prédicas, palavras ou actos que possam vir de padres ou leigos da nossa sociedade. 


Só a Música me faz acreditar em algo sobre
natural.  


Deixo-vos aqui a Missa em Si menor de Bach.  



Páscoa feliz!





5 comentários:

  1. Olá dra Virgínia!Ha quanto tempo! YenTeum texto sobre este post que está muito bom, estou de acordo, define bem a minha evolução que resultou em saída duma dependencia nada saudável. Estranhei a susencauno blog, já tinha intenção de saber se havia problema, mas o tempo voa e não tenho tido muito sossego pelas melhores razões e não quero adiar o agradecer a maravilhosa missa de Bach e enviar um beijinho.
    Bons dias de família, com ou sem gastronomia optima, desde que não nos leve muito tempo a confeccionar, senão perdemos o melhor dos cachopos.
    Quando os nossos ausentes nos fazem falta, ouvir os vários Réquiem, suaviza me a alma. Se calhar...e uma forma de ser religiosa.
    E acredite que tentei, mas...a pompa, arrogância e poder com que me impõem os rituais..deprimem me.
    Um beijinho e até breve.
    Julia Sobrinho

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  2. Está com erros.. desculpe, o corrector vai rápido, e altera.

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  3. Ola Júlia, há muito que não tinha notícias suas. Estive sem escrever durante um ano, mas recomecei no mês passado e estou bastante contente com o resultado. Gosto de escrever como sabe e sobretudo gosto de expressar opiniões sobre o que penso e porque penso assim. Não se preocupe com as gralhas e escreva sempre.
    Uma Páscoa feliz!

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  4. Bom dia com algum vento e muito sol, aqui em Peniche!
    Ele há coincidências! Voltei ao seu blog porque vi o programa visita guiada na rtp2 sobre o jardim botânico do Porto e lembrei me dos seus textos e fotos sobre isto.
    Deparei me com o seu retorno e ainda bem. Pensei que havia algum problema de saúde ou que tivesse mudado o nome para outro.
    Em tempis pedi lhe o email mas ficou nalgum papeleco. E neste entretanto nasceu mais uma neta, dai o estar mais ausente.
    Tenho andado ocupada com um projeto de escrever para os netos a história de Portugal, enquadrada com a história da Polónia da América, se nao for eu a faze lo, não sabem as origens familiares, e quero contar lhes a minha visao e interpretação.
    Não sei se consigo. E um trabalho de loucos.
    Aos filhos, encarreguei me de lhes mostrar Fátima, fazendo a caminhada da via sacra e um bom pic nic, não a Cova da Iria, centro de negócios e mau gosto. Passei lá 10 anos da minha vida no colégio como interna.
    Tenho escrito contos para as netas, os pais encarregam se da tradução para outra língua, e a filha faz a BD. A história dos meninos da Tailândia, deu me muito gozo.
    Depois da Páscoa, estou de partida para Polónia. Fique bem.
    Beijinho da Júlia

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  5. Mas que vida tão cheia e interessante. Só é pena ter a família longe. Entrecruzar duas culturas tão diferentes deve ser aliciante, mas tudo dá tranalho. Não sei a sua idade, mas vejo que ainda há muita energia por aí. Oxalá mantenha essa garra toda e que consiga ver editados os seus livros.
    Vai aqui o meu email. Não preciso escondê-lo a ninguém. Tb tenho FB, se quiser contactar-me pelo Messenger.

    virginiabarros4@gmail.com

    Gostaria de não perder o seu contacto, Júlia.

    Uma Páscoa cheia de amor e companhia dos filhos e netos. Beijinho.

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