quarta-feira, 25 de setembro de 2019

A magnólia




A Magnólia



A exaltação do mínimo,

e o magnifico relâmpago

do acontecimento mestre

restituem-me a forma

o meu resplendor.









Um diminuto berço me recolhe

onde a palavra se elide

na matéria — na metáfora —

necessária, e leve, a cada um

onde se ecoa e resvala.



A magnólia,

o som que se desenvolve nela

quando pronunciada,

é um exaltado aroma

perdido na tempestade,



um mínimo ente magnífico

desfolhando relâmpagos

sobre mim.



Transcrito de Luiza Neto Jorge, poesia, Assírio & Alvim, Lisboa, 2001.

sábado, 14 de setembro de 2019

Quando vier



                        A voz inconfundível de Pedro Lamares, um actor portuense de gema.

Quando Vier a Primavera


Quando vier a Primavera, 
Se eu já estiver morto, 
As flores florirão da mesma maneira 
E as árvores não serão menos verdes que na Primavera passada. 
A realidade não precisa de mim. 

Sinto uma alegria enorme 

Ao pensar que a minha morte não tem importância nenhuma 

Se soubesse que amanhã morria 

E a Primavera era depois de amanhã, 
Morreria contente, porque ela era depois de amanhã. 
Se esse é o seu tempo, quando havia ela de vir senão no seu tempo? 
Gosto que tudo seja real e que tudo esteja certo; 
E gosto porque assim seria, mesmo que eu não gostasse. 
Por isso, se morrer agora, morro contente, 
Porque tudo é real e tudo está certo. 

Podem rezar latim sobre o meu caixão, se quiserem. 

Se quiserem, podem dançar e cantar à roda dele. 
Não tenho preferências para quando já não puder ter preferências. 
O que for, quando for, é que será o que é. 

Alberto Caeiro


quarta-feira, 4 de setembro de 2019

Turistas? Venham eles!


Há quem deteste o turismo. Há quem odeie os estrangeiros, os restaurantes cheios, as ruas repletas de pessoas com mapas na mão. Há quem veja neles intrusos que vêm estragar o nosso património e que, em nada, contribuem para um ambiente melhor. Cada um com o seu gosto.


Talvez porque sou de Lisboa e lá vivi quase 30 anos, habituei-me a ver turistas em todo o lado. Em jovem, adorava ir à Alfama com amigos que vinham de fora, andar pela zona de Belém , onde eu vivia, passear naquelas ruas largas, andar pela Baixa e pelo Chiado. Os turistas eram uma constante na cidade e na Linha, em Cascais, Estoril, Guincho, etc. Tínhamos muitos amigos estrangeiros que ficavam encantados com a cidade e nós felizes por podermos mostrar o que de mais bonito lá havia.



No Algarve, onde passei férias a partir de 1966,  os turistas eram mais que os portugueses e nem sempre muito simpáticos, dado que os subservientes éramos nós e isso irritava-me.
 No entanto, os ingleses que "colonizaram" a praia da Luz conservaram a vila com a graciosidade própria da zona e nunca permitiram que se construíssem prédios altos como em Armação de Pêra ou Albufeira. Nesse aspecto foram uma benesse e ainda o são. Há muitos que vivem lá durante períodos longos e são eles que animam as festas e dão alegria aos eventos da região. O site da Luz é actualizado a toda a hora e seguimos as notícias com interesse.



Ontem fui à Ribeira jantar com a minha filha. Receava encontrar aquilo pejado de gente de tm na mão, mas o que vi foi muitos jovens, parzinhos românticos,  casais já entradotes, crianças, músicos ambulantes, barcos a despejar turistas e a passeá-los pelo Douro, gente feliz sem lágrimas.





Gostei a sério de jantar no Café do Cais com janelas abertas sobre o Douro e um terraço muito ameno, onde a maioria das pessoas só bebem um drink e conversam, contemplando o cair da tarde.

A Ribeira é lindíssima e não me entristece que seja apreciada por muitos nos meses em que o tempo está mais agradável. Setembro é sempre um mês lindo, suave, com pores do sol magníficos. Este ano até tomei banho em Matosinhos, apesar da água não estar lá muito quente !!!





Tirei muitas fotos bonitas para mais tarde recordar. Cada ida à Ribeira é bem melhor que a anterior. Ainda me lembro do choque que tive quando a visitei pela primeira vez. Pobre, suja, cheia de vendedores ambulantes, cheiro a esgotos e a fritos, um ambiente nada apetecível.

Felizmente, agora já se sente um certo cosmopolitismo e as cores são vivas. O rio Douro agradece, nós também.