Tenho reflectido muito nestes últimos meses, depois que a revelação da minha doença me deixou em estado de sítio, para não dizer em pânico.
Aos 76 anos, não se es
pera que a saúde melhore ou que, de repente, os sinais de juventude renascam. Esperamos sempre que as doenças sejam crônicas e chatas, obriguem a tratamentos contínuos mas não nos impeçam de viver uma vida mais ou menos normal sem necessidade de nos pendurarmos nos outros.
Há quem prefira calar tudo e sofrer em silêncio. Não é o meu caso.
Quando soube que tinha cancro em Setembro, aceitei o veredito com calma, ainda que ignorasse por completo o que se seguiria.
Desde então já passei por duas operações, inúmeros exames, análises, consultas, visitas ao hospital, indisposiçoes, queda de cabelo, incapacidade de desfrutar os prazeres simples da vida, aversão á comida, ao barulho e até saídas para o mar. Desconheço-me em certos aspectos.
Em contrapartida, nunca lutei tanto contra a adversidade com sorrisos, ironia, ternura, empatia, desprezo pelo fatalismo e desejo de vencer.
Quero dar a volta por cima, mesmo que seja só uma voltinha pequena. Nunca gostei de rodas gigantes, nem
montanhas russas. Basta -me um baloiço baixinho, donde se veja o horizonte ao fundo.
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