domingo, 30 de novembro de 2014

A degradação pode ser bela

Pertenço agora a um grupo que se dedica a fotografar cenas de degradação, sejam elas urbanas ou mais ligadas à natureza,  objectos, máquinas, zonas abandonadas, barcos, etc.

Fui ao meu arquivo e encontrei uma série de fotos que tirei no jardim botânico  e dediquei-me em especial à área mais degradada - que agora está a ser restaurada - . Os resultados foram surpreendentes e as minha experiências muito enriquecedoras.



 É curioso como a degradação pode ser bela quando fotografada em diferentes ângulos, efeitos de luz ou contraste.






quinta-feira, 27 de novembro de 2014

Boyhood - Momentos da vida


A fotografia da criança deitada no chão com os olhos sonhadores bem abertos desperta-nos para a realidade do filme.
É sedutora.



Momentos da vida são todos aqueles que ficam marcados indelevelmente na nossa memória e na memória dos que privam connosco.

O filme levou treze anos a realizar acompanhando a vida real dum jovem rapaz que vai passando por muitas vicissitudes desde a infância até à juventude.

É um filme muito humano, a que o realizador já nos habituou com a trilogia "Antes do Anoitecer" e sequelas. As personagens envelhecem connosco e durante 145m, envolvem-nos nos seus pequenos dramas, nas aventuras parentais, nas quezílias fraternais, nos primeiros namoros, nas mudanças de casa e de escolas...nas crises conjugais e nos sucessos escolares.


Não é um filme para 4 estrelas como o publico lhe concede, mas entretém e deixa-nos a pensar nos nossos próprios momentos de vida, aqueles que nunca esqueceremos e que nos fazem viver com mais  força e vontade.

Fica aqui o trailer:


terça-feira, 25 de novembro de 2014

Pintar é bom

Fui convidada pelo Espaço Vivacidade para colaborar na exposição colectiva que se vai realizar em Dezembro.
Fiquei feliz, pois já há muito que não expunha nada e às vezes tenho pena, acabo por esmorecer.

Na realidade, os quadros que escolhi são antigos, foram feitos há uns cinco anos. Na altura pintava muito este estilo de quadros e fazia-o na cozinha, pois o meu filho ainda tinha o quarto dele e era o único local da casa, onde havia espaço  para pintar.

Os quadros vão estar à venda, mas já estou com saudades deles...

Ei-los:

Telúrico


segunda-feira, 24 de novembro de 2014

Os plátanos



No leque das árvores de folha caduca, os plátanos são sem dúvida das mais populares, não só pelo seu tamanho, mas também pela beleza das suas folhas recortadas, que adquirem tonalidades castanhas, douradas muito belas.

A minha Mãe conservava estas folhas debaixo dum tapete durante uns dias, deixando-as ser pisadas de modo a ficarem bem espalmadas. Usava então arames para fazer uma armação que cobria com papel crepe castanho ou verde seco. Envernizava as folhas de modo a não perderem a consistência. Estes ramos ficavam muito bonitos no meio da folhagem dourada ou seca no Natal.
Lembro-me dum presépio que montou só com folhas destas a ornamentar a cabana com as três figuras principais que eram douradas.


Adoro folhas de plátano e guardo-as duns anos para os outros, apesar de poder arranjar quantas quero no jardim botânico.

A minha amiga Regina sugeriu-me o poema de António Gedeão que transcrevi abaixo. As fotos são minhas.





As folhas dos plátanos desprendem-se e lançam-se
na aventura do espaço,
e os olhos de uma pobre criatura
comovidos as seguem.
São belas as folhas dos plátanos
quando caem, nas tardes de Novembro,
contra o fundo de um céu desgrenhado e sangrento.
Ondulam como os braços da preguiça
no indolente bocejo.
Sobem e descem, baloiçam-se e repousam,
traçam erres e esses, ciclóides e volutas,
no espaço escrevem com o pecíolo breve,
numa caligrafia requintada,
o nome que se pensa,
e seguem e regressam,
dedilhando em compassos sonolentos
a música outonal do entardecer.

São belas as folhas dos plátanos espalhadas no chão.
Eram verdes e lisas no apogeu
da sua juventude em clorofila,
mas agora, no outono de si mesmas,
o velho citoplasma, queimado e exausto pela luz do Sol,
deixou-se trespassar por afiados ácidos.
A verde clorofila, perdido o seu magnésio,
vestiu-se de burel,
de um tom que não é cor,
nem se sabe dizer que nome tenha,
a não ser o seu próprio,
folha seca de plátano.
A secura do Sol causticou-a de rugas,
um castanho mais denso acentuou-lhe os nervos,
e esta real e pobre criatura,
vendo o Sol coberto de folhas outonais
medita no malogro das coisas que a rodeiam:
dá-lhes o tom a ausência de magnésio;
os olhos, a beleza.

António GedeãoPoemas Póstumos,
Lisboa, Edições João Sá da Costa, 1983

Um vídeo que me lembra os meus tempos de criança e adolescente, na voz do eterno Nat King Cole com imagens do outono nas florestas norte-americanas.


domingo, 23 de novembro de 2014

Outono - poema real


Tília do jardim vizinho visto da janela do meu quarto

Se um dia lágrimas vierem ao seu rosto, não pense no porquê! Pense nas folhas do outono, elas não caem porque querem, e sim porque chegou a hora.
Raphael Bacellar

Tão belo, o meu jardim! É assim ano após ano.
O verde que foi outrora é agora acobreado, amarelo, 
avermelhado, verde seco, acastanhado. 
Deu lugar a clorofila a caroteno, a tanino 
e a antocianina (tudo isto é pigmento).
Soltam-se as folhas ao vento, 
rodopiam pelo ar, ocultam-se na neblina, 
cobrem terra, pavimento, crepitam sob o andar.
É outono no meu jardim, também no meu pensamento 
que já se alheia de mim. 
Oculto no sofrimento, voga no espaço sem fim. 

Regina Gouveia   (2004)




sábado, 22 de novembro de 2014

A Foz sempre bela

Ontem resolvi ir lanchar à Foz. Estava uma tarde magnífica e só apetecia sair. Propuz à minha empregada deixar o ferro e as arrumações, pegar no seu carrinho e irmos lanchar à Foz.






Foi bem pensado. Mal saí do carro o cheiro a maresia e a neblina conquistaram-me.
Sentámo-nos na Praia da Luz, vazia, com o mar a vir quase até à passerelle onde estão as cadeiras. O café parece uma sala de estar com candeeiros brancos, sofás, mesinhas e deck-chairs.

As tostas mistas estavam excelentes embora tenham levado uma eternidade a vir para a mesa. Conversámos e admirámos a bravura do mar.



Há muito que não passava assim uma hora num dos locais mais carismáticos da Foz. A tarde caiu e vim mais feliz para casa.

sexta-feira, 21 de novembro de 2014

A beleza está nos olhos de quem vê

Há quem olhe e não veja nada.


Carros e carros percorrem as ruas do Porto e duvido que 50% dos condutores se dêem ao trabalho de admirar as mutações cromáticas que este outono tem sofrido de há uma semana para cá. Não sei se foi do frio , se da chuva, de repente as folhas resolveram mudar de vestes e em poucos dias tudo se tornou mais belo.

Hoje veio o sol para abrilhantar ainda mais esta paleta de cores - que no dizer da Dalma ( e bem) não chegam aos calcanhares das paisagens míticas como Vermont nos EU, conhecido pelos seus Outonos majestosos e florestas douradas ou vermelhas numa extensão infinda.



Contento-me com os jardins da minha cidade. Hoje fui ao Botânico, atravessando a rua cuidadosamente, pois as folhas molhadas são uma ratoeira para os incautos, e entrei no santuário que considero quase meu.
Está em obras, o que me impede de percorrer o jardim como eu quereria, mas mesmo assim,  as imagens revelam a eterna mudança cíclica que é o outono.

Pode haver chuva a mais, mas a beleza nunca é demais. deixo-vos com algumas fotos que tirei com prazer e deleite.

E também um poema de Fernando Pessoa:





Uma névoa de Outono o ar raro vela,
Cores de meia-cor pairam no céu.
O que indistintamente se revela,
Árvores, casas, montes, nada é meu.

Sim, vejo-o, e pela vista sou seu dono.
Sim, sinto-o eu pelo coração, o como.
Mas entre mim e ver há um grande sono.
De sentir é só a janela a que eu assomo.

Amanhã, se estiver um dia igual,
Mas se for outro, porque é amanhã,
Terei outra verdade, universal,
E será como esta [...]



quinta-feira, 20 de novembro de 2014

Abuso

Ontem estive a ver o documentário Toda a Verdade na SICN pelas duas da manhã.

Impressionou-me tanto que não consegui dormir.

O tema era o abuso das crianças e adolescentes por padres católicos nas instituições da Igreja italiana, onde era suposto educarem-nos e protegerem-nos.
A maioria das crianças eram pobres, tinham os pais longe, eram deficientes ou ostracizados pela sociedade.


No programa, analisava-se o comportamento dos padres, que criavam um ambiente de confiança com as crianças de modo a que elas sentissem o dever de corresponder e deixar-se manipular sem queixas. Estes procedimentos duraram mais de 50 anos e até agora, a Igreja conseguiu sempre ilibar os seus clérigos, ou porque o crime tinha prescrito ou pura e simplesmente, afastando-os do local onde trabalhavam. Em geral, eram colocados noutros a menos de 20km de distância e continuavam a praticar os mesmos actos com outras crianças. Os Bispos obrigavam todos a um sigilo completo.

Os entrevistados já tinham mais de 30 anos, alguns eram surdos-mudos que aprenderam a falar nessas instituições. Apresentavam sinais de trauma evidentes. Muitos deles nunca conseguiram libertar-se, nem sequer queixando-se às direcções. Os castigos eram severos e eles viviam o pavor de ser castigados ou enviados para casas de correcção.

A Igreja italiana criou, entretanto, uma espécie de instituição para clérigos que sofram de taras ou tenham tido casos problemáticos, mas quanto às vítimas , o silêncio é total.

Ainda estou indignada com o caso de S. Maria de Belém - escuteiro que abusava dos Lobitos a seu cargo - e ao ver este programa, pergunto-me como é que os media calam estes escândalos, como é que não há manifestações e frente ao Vaticano?

Leio na Wiki :

Em janeiro de 2014, o Vaticano anunciou a expulsão de 400 padres por denúncias de pedofilia. Segundo Federico Lombardi, porta-voz da Santa Sé, em 2012 foram por volta de 100, enquanto em 2011 foram cerca de 300.

Mas continuo a perguntar: E as vítimas?

Nova triagem

Hoje dediquei-me ao meu atelier que estava um caos. Fiz arrumação de livros e tirei uns tantos para dar. Os outros ficaram muito mais à vontade.

É bom arrumar porque, por vezes, nem sabemos os livros que temos em casa. A minha filha tem muitos em inglês e em português, há outros repetidos ( Les Misérables, por ex). Outros há que nem sequer foram lidos nem nunca seriam...

Os CDs são mais aborrecidos, pois as capas estão sem os conteúdos, e nem sei o que lhes fazer...já em tempos arrumei a musica clássica toda por ordem alfabética, mas entretanto o meu filho pediu-me para guardar os dele, de modo que tenho as estantes estreitinhas cheias. Já passei alguns para o i'Tunes pois posso ouvir directamente pelo iPad, já que o meu querido i'Pod ficou estragado na praia da Califórna...é o que mais falta me faz. Gosto de ouvir música clássica na fisioterapia, mas agora estou condenada a ouvir pimba!!!

Nunca tive uma biblioteca decente, daquelas que dá gosto olhar,
cheias de livros de alto a baixo e com uma escadinha para se poderem ir buscar os mais altos!! As minhas estantes foram sempre das mais baratas da Interforma e da Conforama. No atelier tenho muitas estantes, mas estão cheias de materiais de pintura, que comprei quando andava no atelier e tinha verdadeira loucura por esse hobby. Os quadros tb estão por lá, a monte!! :)

Soube entretanto que vai haver uma colectiva no Vivacidade e pediram-me dois quadros para expôr. Já escolhi um deles que nunca esteve em nenhuma expo, mas ainda não sei qual vai ser o segundo...talvez este das papoilas....



É bom saber que ainda há quem os aprecie....

quarta-feira, 19 de novembro de 2014

Triagem

Resolvi fazer uma triagem aos livros que se acumulam nas estantes da minha casa - apesar de ter deixado muitos na minha antiga casa.
Enchi 3 caixotes que a minha empregada levou para uma associação onde precisam duma biblioteca.
Eram livros que ninguém lê, alguns em duplicado, todos em português. Ainda fiquei com muitos em inglês e outros de literaturas várias que quero conservar.
A maioria dos livros que me oferecem no Natal são para dar, começo a ler e não passo das primeiras páginas. Detesto ter livros só por ter...

Vou fazer o mesmo com CDs de música que me enchem 4 estantes estreitas. Tudo isso já está n iTunes e posso ouvi-los quando me apetece no Spotify, no Mezzo e nem uso o leitor de CDs tradicional.

É espantosa a evolução das tecnologias e o desperdício que acabamos por ter em casa ao fim de pouco tempo.

As estantes ficaram mais leves. limpam-se melhor e os livros podem vir a ser úteis na associação.

Não sou saudosista quanto aos objectos, a não ser que tenham sido dos meus Pais ou Avós ou algo que estimo mesmo. Bric-a -brac não é comigo! E mesmo os meus quadros estão nalgumas paredes, mas não as encho totalmente como vejo algumas pessoas fazer...mudo-os de vez em quando para variar de cores :)

Gosto de ter ar para respirar, espaço e paredes sem nada....são tão necessários como o silêncio.

terça-feira, 18 de novembro de 2014

Os três tenores e as memórias do meu Avô

Oiço pela n...ésima vez o concerto dos Três Tenores, que tão popular tem sido ao longo dos anos.

Não posso deixar de recordar o meu Avô e a minha Mãe, apaixonados do bel canto, que adoravam estas canções napolitanas e árias de ópera. A minha bisavó materna era italiana, nascida em Ventimiglia, perto de Milão.

os meus Avós no dia do seu casamento após a boda
A minha Mãe dominava o italiano na perfeição, o meu Avô
como historiador e antropólogo, fez pesquisas até encontrar todos os nosso familiares italianos. O encontro entre famílias ocorreu nos anos 60. Desde então nunca mais deixaram de comunicar uns com os outros, vários primos e descendentes da família Piacentini, nome da minha Avó.

O meu Avô ia por vezes almoçar a nossa casa. Depois do almoço, sentava-se no sofá e pedia a uma de nós ( havia sempre netas à disposição) que lhe fosse colocando discos de vinil no gira-discos. A música era sempre italiana e, quase sempre, canções e árias conhecidas que ele entoava, feliz. Nunca vi ninguém tão apaixonado pela Itália como ele. Morreu sem ter terminado o livro sobre esse país que escrevia nessa altura.

Estes programas enchem-me de nostalgia, não só porque tudo faz parte duma adolescência feliz que já passou, mas também porque era um tempo de calma, felicidade e relativa paz. A guerra no Ultramar que nos levou um cunhado, marido da minha irmã mais velha em 1974, era lá longe....
Torna a Sorriento , Cuore Ingrato, O Sole Mio, Granada, 

E Lucevan le Stelle, árias de partir o coração... que nos lembram um tempo que se esfuma na espuma do dias....

Pavarotti, Carreras, Placido Domingo no seu melhor. Não haverá outros iguais.

Como não haverá outro igual ao meu querido Avô...ao qual dedico este vídeo, esteja ele onde estiver.....





segunda-feira, 17 de novembro de 2014

Aquelas janelas viradas para o mar

É assim que se chama um site do Facebook dum Amigo meu do Woophy, José Soares.
https://www.facebook.com/groups/675409252525963/?fref=ts

Nele podem-se ver todo o tipo de janelas portuguesas dos mais variados locais e estilos. Ontem achei graça à ideia e resolvi ver as minhas fotos de janelas.

Encontrei muitas, algumas delas verdadeiras pérolas em prédios antigos da Foz do Douro, outras de zonas do Porto mais características. Ficam aqui algumas dessas fotos e um poeminha relacionado com janelas.

Creio que não conseguiria viver numa casa sem janelas amplas e sem luz.

Sofri bastante quando mudei para o Porto e estive em casa da minha sogra durante um ano. Aí as janelas eram pequenas e com os reposteiros ( que odeio) e as portadas não se via o céu. Em dias de chuva tinha de se abrir a luz logo de manhã.

Felizmente em 1980 mudámos para um apartamento com horizontes ainda que citadinos.





Na Foz, entretenho-me a fotografar não só mar, mas também aspectos arquitectónicos muito típicos do princípio do século ou mesmo anteriores. Não sei se gostaria de viver nestas casas, mas aprecio a sua beleza antiga, os azulejos, as cornijas e detalhes.

O amor é grande e cabe 
nesta janela sobre o mar. 
O mar é grande e cabe na cama e no colchão de amar.
 O amor é grande e cabe no breve espaço de beijar.



Hoje faz 41 anos que me casei.

A esta hora já estava terminada a festa e partimos rumo a uma vida diferente.

Foi já há tanto tempo...


Anexo aqui um vídeo que a minha amiga Regina me enviou com janelas de Lisboa e um poema espectacular de António Gedeão que se pode ler no vídeo. Obrigada, Regina!