Aos vinte anos, o meu M. dizia que eu vivia a sonhar.
Antes e depois de casarmos, mas sobretudo nos primeiros anos de namoro, em que o futuro nos parecia estar no "cabo do mundo", vivia de sonhos.
Mal eu sabia que esse cabo existia aqui não muito longe do Porto!!
Sempre fui uma lírica, segundo ele, e muitas vezes não conseguia pôr os pés assentes na terra, encarar a realidade friamente.
É verdade , vivia de esperança e só de quando em vez, desesperava perante os factos, a ausência constante, as complicações e as dificuldades da vida.
A verdade é que esses sonhos me mantinham a Fé, algo que já perdi há muito. Ou então era a Fé que me alimentava os sonhos. Não sei. Endureci em poucos anos, deixei de ser menina para me tornar Mulher e como tal, enfrentei o Adamastor, sem medos. Nunca me faltou coragem. Faltaram-me talvez apoios.
Nunca teria sido quem sou agora, senão tivesse descido à terra. Por força das circunstâncias, durante quase 30 anos, tive mesmo de pensar na minha vida e nas dos meus filhos sem sonhos, aguentando o peso da realidade que, às vezes, era grotesca e insuportável.
Não estou arrependida das decisões que tomei, mas tenho pena. Pena de ter perdido aquela pureza de sentir, aquela persistência no optimismo, aquela centelha que me fazia andar pra frente contra tudo e contra todos. Cada dia era uma aventura e gostava da adrenalina depois de dar aulas ou de apresentar manuais, o desconhecido que surgia de não se sabe onde, a descoberta dum mundo novo, a certeza de que poderia vencer apesar de tudo...mantive esse espírito até bem tarde. Um Amigo meu dizia que eu não parava e que tinha um restless mind, uma inquietação permanente.
Hoje, depois do almoço, fui para o jardim da Casa das Artes.
Um oásis verde nesta cidade cada vez mais embetumada. Esta zona é a mais linda da cidade e sinto-me feliz de poder passear em locais como este, a dois passos de casa.
Acredito que nunca mais mudarei de casa depois de ter feito dez mudanças ou mais em quarenta e cinco anos.
Olhar pela janela da minha sala e ver dezenas de cambiantes de verde enche-me a alma.
Os áceres estão na sua máxima pujança, o jacarandá do botânico lindíssimo, os nenúfares incólumes depois da chuvada, as buganvílias magníficas. O tulipeiro da Casa das Artes parece uma escultura com os seus ramos entrelaçados em posições inimagináveis.
Ainda hoje levei os meus netos ao Botânico para eles verem o jacarandá em flor.
Perante toda esta beleza e pujança da Natureza, eis que, sem dar por isso, recomeço a sonhar...
I will run, I will climb, I will soar
I'm undefeated
Jumping out of my skin, pull the chord
Yeah I'd believe it
The past, is everything we were, don't make us who we are
So I'll dream, until I make it real, and all I see is stars
It's not until you fall that you fly
[Chorus]
When your dreams come alive you're unstoppable
Take the shot, chase the sun, find the beautiful
We will glow in the dark turning dust to gold
And we'll dream it possible
I'm undefeated
Jumping out of my skin, pull the chord
Yeah I'd believe it
The past, is everything we were, don't make us who we are
So I'll dream, until I make it real, and all I see is stars
It's not until you fall that you fly
[Chorus]
When your dreams come alive you're unstoppable
Take the shot, chase the sun, find the beautiful
We will glow in the dark turning dust to gold
And we'll dream it possible
Belas fotos, texto realista e sonhador, com uma música capaz de nos proporcionar um óptimo dia!
ResponderEliminarEstamos sempre em aprendizagem. Estou a aprender a não me julgar, a não me arrepender de nada e sobretudo a aprender a ter momentos felizes, perante algo de bom que ainda existe e existirá. Obrigada pelo seu post. Tenho a acompanhado e admiro a sua inteligente lucidez. Fique bem. Júlia Sobrinho
Querida Júlia,
ResponderEliminarNem sabe como me soube bem ler a sua mensagem. Hoje em dia escrevo mais para mim que para os meus leitores, pois ando numa fase introspectiva e sobrecarrego o blogue de considerações íntimas que nem sempre agradam a todos. Ando a escrever um diário desde que o meu marido marreu, baseado nas nossas cartas que li durante estes meses, mas essas cogitações são mesmo só para mim e para os filhos, se um dia, quiserem saber mais do pai e da mãe. Concordo consigo. O Presente tem de ser vivido o melhor possível e na nossa idade com aquele sabor de liberdade, que já merecemos!
Bjinho
Talvez essa centelha, esse espírito possam voltar. Estas imagens são tão bonitas. Fiquei com vontade de ir passear por aí.
ResponderEliminarum beijinho
Gábi
Bem gostaria, mas creio que já não tenho stamina para voltar a comprometer-me. Prezo demasiado a minha independência e liberdade para me atirar de cabeça nalguma actividade. E a obrigação de horários ou de marcações prévias tira-me completamente a vontade de dizer sim. Só me sinto bem na Foz, onde convivo com os estrangeiros no Bar dos Ingleses....
ResponderEliminarbjinho
A vida é fase e é dura.
ResponderEliminarAntes fazes o que sentes
Depois tu plantas sementes
De luz futura e segura.
A vida se transfigura.
Olhas por diversas lentes
O teu caminho às frentes
Diversas, sempre a procura
Do gozo, do amor, do bem
E se a felicidade vem
Por um ou outro caminho
Que não achasses e tem
De ser caminho que além
De ter amor, ter carinho.
Belíssima postagem com excelente crônica de prosa poética. Parabéns! Grande abraço. Laerte.
Obrigada. Lido às 2 da manhã, sabe bem.
ResponderEliminarNão te te conheço, mas amei este post.
Abraço
Tenha um bom fim de semana. Continue a chamar nos a atenção para a beleza. Até para nos apercebermos dela é preciso ter espaço interior, senão os olhos e a alma não captam. É bom sinal. Sentir se mais leve.Temos de ir fazendo tantos deletes quantos os necessários e possíveis.
ResponderEliminarBeijinho da julia
Muito bonita a sua intervenção hoje. É mesmo assim. Acho que só esta semana comecei ainteriorizar a ideia de que o M. faleceu. A Natureza tem um poder vivificador e só nela consigo encontrar conforto.
ResponderEliminarBjinho