quinta-feira, 29 de outubro de 2015

Ver Serralves....e morrer

Dantes dizia-se : Voir Venice et crever....eu digo : Ver Serralves e morrer...



Serralves é um mundo aparte. Vir ao Porto e não visitar este lugar magnífico é um pecado capital. Porque Serralves é único, é um santuário, uma simbiose entre Arte e Natureza nunca visto. Não vou lá muito, deveria ir muito mais, mas de cada vez que lá vou é um encantamento.

Hoje fui ver as exposições, How to (...) things that don't exist, que veio da 31ªBienal de S. Paulo e outra, My work is my body, my body is my work,  que me interessou porque conheci  a pintora/fotógrafa pessoalmente quando era adolescente.



No folheto sobre a primeira, vem em inglês:

Things that don't exist are both the values that the system imposes on us, and the alternative possibilities that artists are trying to invent. To recognise that none of those systems - legal, plotical, economic, religious, artistic - exist in a tangible form is to acquire power over them and the capacity to make changes that would otherwise seem impossible.

No site de Serralves lê-se:

A investigação que a exposição faz do potencial revelador da arte está a ser reconfigurada de acordo com o contexto físico, social e cultural da cidade do Porto e do Museu de Serralves. As obras de arte selecionadas, desde pinturas e esculturas até vídeos e instalações, condensam as ideias da exposição brasileira e centram-se no modo como a arte pode alterar formas de pensar o mundo. Imaginando modelos de vida e sociedade que são diferentes ou (ainda) não existem, as obras de arte questionam a autoridade da religião, da história e dos sistemas de controlo e apontam de que modo ela poderia ser diferente. O título da exposição está, ele próprio, em constante transformação, com o verbo mutante a sugerir alguns dos muitos e diferentes tipos de experiência da arte enquanto processo de devir. 


Impressionaram-me duas instalações fabulosas, só por elas vale a pena ir ao Museu. Poderia ficar a vê-las e a estudá-las durante horas, tal o impacto que geraram em mim. Fotografei-as de vários ângulos, mas há pouca informação em folhetos ou livros e o manancial informativo e artístico é imenso.

Por vezes prefiro não saber o significado das obras e absorver as sensações que elas despertam em mim, foi o que me aconteceu desta vez. Não havia guia, limitei-me a ver com os meus olhos e a interiorizar com os meus sentidos, algo que é novo e espectacular no verdadeiro sentido da palavra. 

As fotos falam por si.

A exposição de Helena Almeida não tem nada de muito especial, mas esta pintora, que aqui surge como fotógrafa de si própria, surpreende-nos com um modo original de se fotografar.
Diríamos que é uma colecção de selfies sui generis.

Conheci a Helena desde sempre, ela é filha do Mestre Leopoldo Almeida que criou o Padrão dos Descobrimentos de Belém. Moravam na casa ao lado da minha na Avenida do Restelo. Íamos lá visitá-los muitas vezes, ela era  12 anos mais velha do que eu, de modo que não havia muita proximidade, mas o Pai era uma pessoa encantadora, um Avô para nós, tratava-nos muito bem, mostrava-nos o que andava a fazer e espalhava charme e simpatia.

O Museu de Serralves é um local aprazível e mesmo em dias de chuva, como hoje, está-se lá bem. A cafetaria tem croissants excelentes à francesa. Tomámos lá um café a olhar para a vista das janelas que sempre me deslumbrou. Cada janela é um quadro em si mesma.


Depois fomos para o parque.

Entrámos no Paraíso, no Outono do nosso contentamento,


respirámos o ar húmido e cheirámos a terra molhada...passeámos durante uma hora e tal, olhando embevecidas para as folhas , os troncos, as filigranas lá no alto, as catedrais de plátanos e áceres, as áleas e caminhos atapetados de folhas de todas as cores.

Na Casa de Chá, bebemos o dito com uma fatia de bolo de chocolate que estava divinal. A glicínea ainda não estava dourada, como eu gosto , mas o sítio é bucólico, lindo de morrer.
 

Qualquer pintor ficaria inspirado num sítio destes. Quem preservou este parque e quem  abriu este património ao público deve estar no céu ou tem com certeza um lugar para si reservado.

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