segunda-feira, 30 de novembro de 2015

Fernando Pessoa- 80 anos da sua morte


Fernando Pessoa tinha apenas 47 anos quando morreu, em 1935.


A sua doença teria sido facilmente atacada se ele vivesse agora. Na altura, não havia operações ao pâncreas. Nem curas para cirroses. Em três dias, desapareceu um vulto maior das Letras Portuguesas.

No Observador online, pode ler-se uma entrevista interessante com uma sobrinha do poeta,  Maria Manuela, agora com 90 anos;  recorda bem o tio, um homem engraçado, meigo, amigo de crianças...vale a pena lê-la:

http://observador.pt/especiais/pessoa-o-meu-tio-fernando-era-a-pessoa-a-que-eu-achava-mais-graca-no-mundo/

Fernando Pessoa foi um homem tão notável que é dificil imaginá-lo na sua rotina normal e vida familiar. Imaginamo-lo sempre como um homem só, observador do real, crítico  e instropectivo. Mas não seria assim.

A sua obra permanece um enigma, apesar das centenas de páginas escritas sobre ela.

Ficam aqui algumas das suas frases mais carismáticas e um poema recitado por Maria Betânia:





domingo, 29 de novembro de 2015

Fotos abstractas

Pertenço a um grupo de fotografia abstracta.

Fazem lembrar quadros, mas são fotos que, por acaso, ficam menos nítidas.

A sua beleza provém das formas que não se definem e permitem especulações.

Tenho tirado algumas cujos efeitos me agradam....

vidraça d marquise

círculos água


anémona- matosinhos

fonte em Westminster

água do mar



sábado, 28 de novembro de 2015

Os nenúfares


É uma das plantas mais queridas da pintura impressionista.
Monet sabia-o bem e pintou-os como ninguém.

Também me apaixonei por eles quando vim viver para o Campo Alegre e descobri o jardim Botânico. Nele há cinco lagos todos eles diferentes, um maior , outros mais reduzidos, todos com nenúfares em grandes manchas.

Agora estão em hibernação, sem flores e enterradas na água.

Os tons das folhas mudam todos os dias e a todas a horas, poder-se-ia dizer que são infinitas as nuances e tonalidades conforme a luz, o tempo, a estação do ano e o vento....



Todo o ambiente à volta se reflecte nestes lagos - céu, árvores, arbustos, escadinhas, muretes -  e o ângulo donde se olha permite admirar novos coloridos e formas.
É como um caleidoscópio.

Em latim chamam-se nymphae, que soa mais belo ainda. Em inglês waterlilies, lírios da água...





Já fotografei nenúfares em todas as épocas do ano, a todas as horas e com todo o tipo de tempo atmosférico.
É um prazer ir até ao local, sentar-me nos muretes cobertos de musgo e ouvir os pássaros...

Gostava de fazer um livro só com fotos destas. Vamos a ver se tenho coragem.....

Monet pintou-as como ninguém. Aqui ficam alguns dos seus quadros mais carismáticos e um dos poemas de Miguel Torga. A foto do meu neto combina bem com o tom da poesia.




Livre não sou, que nem a própria vida
Mo consente.
Mas a minha aguerrida
Teimosia
É quebrar dia a dia
Um grilhão da corrente.

Livre não sou, mas quero a liberdade.
Trago-a dentro de mim como um destino.
E vão lá desdizer o sonho do menino
Que se afogou e flutua
Entre nenúfares de serenidade
Depois de ter a lua!

Miguel Torga,
in 'Cântico do Homem'


terça-feira, 24 de novembro de 2015

O Outono continua aí.


A minha rua
Diziam que ia ficar muito frio. Abaixo de zero.

Aqui na minha sala estão 22º sem aquecimento, o sol entra por aqui adentro e lá fora está uma dia de sol lindissimo, não há vento, nem chuva.

através dos vidros


Somos um país abençoado e mesmo quando lá fora, o terror espalha sinais de grande tumulto e sofrimento, nós cá tudo bem... até as sempre vivas continuam vivíssimas :)

jardim botânico visto da varanda
Sempre senti que este país tinha protecção especial contra grandes dramas e por isso se inventavam outros dramazinhos politiqueiros para animar as TVs e agitar as águas.

Hoje finalmente soubémos que vai ser indigitado o novo 1º Ministro.
Não fiquei excitada, nem sequer feliz. Vai ser a mesma guerrilha de sempre, como dizem os analistas, há muita crispação. E tem de haver. Quem não se sente, não é filho de boa gente.

Vou falar de política, o que é contra os meus princípios bloguistas. Mas tem de ser.

O que António Costa fez, não é digno de comentário sequer.
Considero-o um dos políticos mais dúbios, sonsos e gananciosos destes 40 anos. E tenho pena porque é oriundo de Goa,  onde o meu Pai nasceu e onde tenho ainda muitos familiares.

Rotunda da Boavista
Nunca gostei do PS como partido porque é arrogante e falso ou incoerente, não se define, joga para todos os lados, como se viu nestes 50 dias passados. Os governantes já deram muitas vezes provas de corrupção, amiguismos, anti-patriotismo e mesmo duplicidade. Alguns colegas do PS que conheci eram o que os ingleses chamam "sleazy", mesmo na Escola actuavam sem lisura, com compadrios e sem grande sentido de responsabilidade.

vista da varanda
Não acredito que levem este país a bom porto. Vamos entrar no período dos reembolsos, das promessas, dos beijinhos na cara, das benesses para o povo.
Não sei onde vão buscar o dinheiro, nem me interessa. Sei que uns ou outros são maus gestores e que este país precisa de uma grande volta...

Só espero que na sequência do grande ministro Mariano Gago, uma excepção à regra,  continuem a financiar a investigação científica e as universidades, sem as quais este país nunca irá a lado nenhum.


sábado, 21 de novembro de 2015

60 anos depois


Quando tinha nove anos, os meus Pais contrataram uma espécie de "au pair" - chamavam-se Mademoiselles na altura -  para tomar conta do meu irmão mais novo que tinha nascido em 1955 e era o oitavo da família.

A minha Mãe tinha muito que fazer com uma casa enorme e tantos filhos e ainda a acompanhar os meu Pai na sua carreira de pediatria.
Vivíamos bem e esta foi uma experiência muito rica para todos nós miúdos.
Em certos aspectos faz-me lembrar a Família Trapp, embora a nossa Nelly Annaheim, suiça de 23 anos, não cantasse senão canções de embalar para o meu irmão adormecer.
Quando veio para Lisboa, a sua intenção era aprender português e concorrer a hospedeira de bordo, mas acabou por ficar connosco dois anos, voltando para a sua terra, Selzach na Suiça, ao fim desse tempo. Criámos uma amizade enorme com ela, aprendemos a falar Francês na perfeição e ainda tricots e trabalhos de mãos, num ambiente de respeito e carinho que nunca seria possível se ela fosse portuguesa.

Em 1958, a Nelly desapareceu das nossas vidas e nunca mais soubémos dela. Não havia telemóveis, nem Internet e as nossas viagens não passaram pela Suiça, a não ser numa ocasião em que o meu Pai foi a um congresso e a visitou na sua terra.

Há dias , uma das minhas irmãs recebeu através do FB um email duma senhora chamada Doris Eastermann, que se dizia filha da Nelly e andava à procura da nossa família por causa da sua Mãe.
Foi uma surpresa total. Enviava fotos da família já grandinha e  duas nossas em pequenas com a  nossa Amiga que agora tem 83 anos e  que, segundo ela, nunca nos esquecera e relembrava com saudades "os dois anos mais felizes da sua vida".

Como sei alemão, resolvi escrever um email à Doris nessa língua, pois o inglês dela não era muito bom e pelos vistos, ela não gostava muito de francês. Mandei-lhe umas fotos da minha família chegada.

Dias depois recebi a resposta feliz dela e enviei mais fotos da família mais alargada e outras antigas. A Doris imprimiu todas as fotos e levou à Nelly, que ficou muito, muito feliz.

Combinámos então que eles virão a Portugal em Abril próximo e trarão a Mãe que está ansiosa por nos voltar a ver. Continua muito bonita e doce, como nós a recordávamos.

Sessenta anos das nossas vidas.....e de repente, cai do céu ou do baú das memórias um pedaço do nosso passado comum.



sexta-feira, 13 de novembro de 2015

O Outono está a acabar....


Folhas, folhas, folhas pelo chão, atapetando tudo o que existe no jardim botânico: muros, escadinhas, pedras cheias de musgo, bancos, lagos, fontes e chão.





As árvores já estão a ficar com aspecto descarnado, os troncos despidos e as folhas ressequidas. 


Os nenúfares estão já em hibernação, enterrados ou à superfície muito frágeis e rodeados de folhas mortas. Na água reflectem-se as árvores e arbustos ainda alaranjados, fazendo efeitos magníficos. Não se ouvem os pássaros, mas sim os carros que rolam na VCI. Uma pena.




Há poucas flores, uma buganvília que parecia viçosa, algumas estrelícias e pouco mais. Vi um cogumelo vermelho, espécies raras aqui no jardim.



Hoje tirei fotos diferentes, curiosas sob certo aspectos. Há sempre surpresas neste local e é sempre um regalo passear sozinha pelas áleas cheias de sol. Um estilhaço num vidro da estufa dá uma foto abstracta fenomenal!

quinta-feira, 12 de novembro de 2015

É preciso desanuviar


E nada melhor do que o humor para nos evadirmos desta intricada crise....

Este relato da 5ª Sinfonia de Beethoven com legendas em português talvez ajude. Fez-me rir  à gargalhada quando ouvi pela 1ª vez há alguns anos. Agora está no Youtube. Enjoy!!



terça-feira, 10 de novembro de 2015

Paz e beleza

Não há nada melhor para a saúde espiritual e para combater o stress político do que sairmos num dia lindo de outono e respirarmos o ar puro do parque da Cidade, a melhor conquista da população portuense neste século.



Saiba que o Parque da Cidade é o maior parque urbano do país, com uma superfície de 83 ha de áreas verdes que se estendem até ao Oceano Atlântico, fato que lhe confere uma particularidade rara a nível mundial. Projetado pelo arquiteto paisagista Sidónio Pardal, foi inaugurado em 1993 (1ª fase). Em 2000, foi selecionado pela Ordem dos Engenheiros com uma das “100 obras mais notáveis construídas do século XX em Portugal”. Ao longo do Parque é possível percorrer uma longa rede de caminhos, cerca de 11 km, intervalados por diversas estadias.

Jornal Etc. & Tal

O parque é incrível...numa cidade pequena, ele ocupa um espaço enorme, como se toda a cidade o envolvesse. E não bastando isso, o mar surge lá ao fundo como epílogo.






É a Natureza feita espaço urbano, o verde a substituir o betão e a acariciar os meninos, as bolas, as bicicletas, os pares de namorados, os desportos, os patos, gansos e gaivotas....

É tudo tão belo que não consigo suster o desejo de fotografar.

O Outono com dias de sol é maravilhoso, muito mais bonito esteticamente que um dia quente de verão.




"Autumn Leaves"

The falling leaves
Drift by my window
The falling leaves
Of red and gold

I see your lips
The summer kisses
The sunburned hands
I used to hold

Since you went away
The days grow long
And soon I'll hear
Old winter's song

But I miss you most of all
My darling
When autumn leaves
Start to fall

Since you went away
The days grow long
And soon I'll hear
Old winter's song

But I miss you most of all
My darling
When autumn leaves
Start to fall


Frank Sinatra



sábado, 7 de novembro de 2015

as Artes na Natureza

Chamar a uma casa senhorial Casa das Artes
pressupôe uma vida artística intensa, exposições, cinema, fotografia, teatro. Há uns resquícios disto tudo a conta-gotas. Má divulgação e pouco desejo de inovar mantém a Arte em lume brando na sua Casa.

O mesmo não se pode dizer do belo jardim, que é pura Arte, conjugando aquilo que restou duma vida familiar e social com a criação natural. Todos os dias nasce e renasce Arte nos recantos do jardim e é só procurá-la com os nossos olhos.

Os diospireiros com a sua folha avemelhada,

 laranja e amarela confundem-nos de tão belos. Os frutos acumulam-se nas árvores ou caem para o chão onde morrem com as folhas, numa sintonia perfeita.

Os bancos de azulejo, já um pouco degradados, mas sempre bonitos, ajudam-nos a parar e a sentarmo-nos por minutos, contemplando o cenário à volta e respirando o ar puro, sem ouvir mais
que os pássaros e as vozes de crianças.

No lago reflecte-se a casa que um dia viu gente. Sabe todos os segredos da família Allen. Nós nada sabemos, mas especulamos...

Na parte de baixo do jardim, fica a sala de visitas, com o seu tulipeiro gigante, abraçando todo o mundo. Uma das árvores mais lindas que conheço,
incluindo as sequóias da Califórnia. Um monumento nacional que deveria ser visitado por toda a gente nesta época outonal. Ficaria ali muda durante horas, tal é o respeito que sinto por árvores como esta.

Um casal de ingleses admiram as pequenas esculturas espalhadas pelo jardim.

Encontro um cogumelo gigante mesmo junto ao auditório. Felizmente ninguém o pisou ou cortou. Está ali bem vivo e direito, junto à sua árvore mãe.

Saio pelo portão para a Rua Ruben A. Venho mais rica. Tenho o estojo da máquina fotográfica cheio de folhas, que usarei no Natal para enfeitar o presépio.



quinta-feira, 5 de novembro de 2015

A Baixa

Hoje tive de ir à Baixa para uma consulta.

A minha médica de há 35 anos vai-se reformar do consultório no fim do ano e isso causou-me tristeza, pois é uma senhora única, à antiga portuguesa, sem computadores, escreve tudo - mas mesmo tudo - à mão e leva o tempo que for preciso a observar-nos , a conversar connosco, a rir e a falar da vida. Vai-me fazer muita falta...

O consultório fica mesmo no coração da Baixa num prédio lindo da Rua do Bolhão. Não tem elevador, de modo que me custou subir os dois lanços de escada. Mas não esperei nada, nem paguei, pois era só para mostrar os exames que tinha feito em Setembro. Estava tudo óptimo, o que me animou, já me bastam os problemas ósseos. Saí de lá um pouco triste....há 35 anos nasceu o meu filho Zé e ela assistiu ao parto. Foram horas difíceis e desde então nunca mais deixei de lá ir.

Tomei um carioca de limão no belo café que abriu há pouco tempo mesmo no prédio do consultório. É lindo e moderno, não deve ter muita gente...o que é pena, pois merecia.



 

A Baixa é um local tristonho nos dias de chuva. A Casa dos Linhos, habitualmente tão cheia de senhoras "chatas" estava vazia. As empregadas muito sorridentes, a loja cheia de lãs e linhas, panos e paninhos, convidativa para quem ainda faz trabalhos de mão, que é o meu caso, graças a Deus. Adoro lojas antigas. Comprei uma quadrinho para a minha filha bordar, pois ando a ensinar-lhe vários pontos e ela está entusiasmada. Apetecia-me comprar tudo, mas hoje em dia já nem vale a pena fazer camisolas de lã, não há frio e os miudos não acham graça.


Poderia ainda ter passeado um pouco mais e até ido à casa Chinesa que tem tudo para cozinha exótica, mas ameaçava chover , de modo que meti-me num taxi para vir para casa.

Em uma hora fiz tudo.

O Porto é assim. Pequeno e cosy.