Quando tinha nove anos, os meus Pais contrataram uma espécie de "au pair" - chamavam-se Mademoiselles na altura - para tomar conta do meu irmão mais novo que tinha nascido em 1955 e era o oitavo da família.
A minha Mãe tinha muito que fazer com uma casa enorme e tantos filhos e ainda a acompanhar os meu Pai na sua carreira de pediatria.
Vivíamos bem e esta foi uma experiência muito rica para todos nós miúdos.
Em certos aspectos faz-me lembrar a Família Trapp, embora a nossa Nelly Annaheim, suiça de 23 anos, não cantasse senão canções de embalar para o meu irmão adormecer.
Quando veio para Lisboa, a sua intenção era aprender português e concorrer a hospedeira de bordo, mas acabou por ficar connosco dois anos, voltando para a sua terra, Selzach na Suiça, ao fim desse tempo. Criámos uma amizade enorme com ela, aprendemos a falar Francês na perfeição e ainda tricots e trabalhos de mãos, num ambiente de respeito e carinho que nunca seria possível se ela fosse portuguesa.
Em 1958, a Nelly desapareceu das nossas vidas e nunca mais soubémos dela. Não havia telemóveis, nem Internet e as nossas viagens não passaram pela Suiça, a não ser numa ocasião em que o meu Pai foi a um congresso e a visitou na sua terra.
Há dias , uma das minhas irmãs recebeu através do FB um email duma senhora chamada Doris Eastermann, que se dizia filha da Nelly e andava à procura da nossa família por causa da sua Mãe.
Foi uma surpresa total. Enviava fotos da família já grandinha e duas nossas em pequenas com a nossa Amiga que agora tem 83 anos e que, segundo ela, nunca nos esquecera e relembrava com saudades "os dois anos mais felizes da sua vida".
Como sei alemão, resolvi escrever um email à Doris nessa língua, pois o inglês dela não era muito bom e pelos vistos, ela não gostava muito de francês. Mandei-lhe umas fotos da minha família chegada.
Dias depois recebi a resposta feliz dela e enviei mais fotos da família mais alargada e outras antigas. A Doris imprimiu todas as fotos e levou à Nelly, que ficou muito, muito feliz.
Combinámos então que eles virão a Portugal em Abril próximo e trarão a Mãe que está ansiosa por nos voltar a ver. Continua muito bonita e doce, como nós a recordávamos.
Sessenta anos das nossas vidas.....e de repente, cai do céu ou do baú das memórias um pedaço do nosso passado comum.
Veja lá, Virginia, se as redes sociais não nos trazem este rebobinar de vida. Comigo acontece contactar com pessoas emigradas na América do Norte que já não as vejo desde a juventude...Tem o lado bom e o menos bom. Este último é como se tivesse em como estes anos todos , salvo seja! De repente acordo e vejo pessoas modificadas pela idade e já com netos. Na minha cabeça ainda as vejo novinhas...Depois passa, mas é assim.
ResponderEliminarQue interessante o seu relato. Ora cá está um começo para contar as suas memórias sem entrar em grandes intimidades públicas...Tenho certeza que tem muito para contar .
Fiquei mesmo siderada com esta história e resolvi contá-la aqui pois andei toda a semana a pensar nesses anos em que a nossa infância era repleta de pequenas alegrias e afecto. Esta é uma história estranha, mas que me deixa feliz. Também me acontece o mesmo com as pessoas que não vejo há muito e que aparecem ou postam fotos no FB.
EliminarBjinho
Errata: no meu comentário onde se lê como é coma...Foi um lapso.
ResponderEliminarVirginia, fiquei emocionada com esta história de reencontros e lembranças. Que história tão bonita. E que maravilha essa possibilidade de se voltarem a encontrar. As pessoas especiais nunca saem da nossa vida.
ResponderEliminarUm beijinho :)
Ainda bem. Esta é uma história verídica e há pormenores que omiti, contei-a com a maior simplicidade possível :)
EliminarQue história bonita. Tal como a Madalena acho que devias escrever as tuas memórias.
ResponderEliminarAb
Regina
O meu irmão acha que eu devia fazer uma expoisção de fotografia, vcs acham que deveria escrever as minhas memórias. Estão a sobrevalorizar-me. Não sou assim tão capaz :)
ResponderEliminarMas obrigada pelo elogio. Vindo de quem vem é uma honra!!
Bjinhos
Nós não tivemos a mesma sorte com o Rodolfo que vindo da Áustria dp da guerra pois a barreira da língua fez- nos perder o contacto. Se fosse hoje não seria assim já que a minha irmã sempre fez a sua vida profissional em alemão!
ResponderEliminarP.s. Parece que o mal se foi!
Nós tb tivémos mais ligações com estrangeiros, intercâmbios e amizades que não vingaram. Duraram enquanto houve contacto, depois perdeu-se. Não havia redes , nem blogues!!!
ResponderEliminarEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderEliminarVoltei a ler este seu post porque é este o tipo dos que gosto de ler... Pedaços de vidas, pedaços de tempo, tempos de hoje ou de há longos anos! Detesto os posts que só debitam vaidades, posts narcisistas, que só refletem a vaidade de quem os escreve!
ResponderEliminarClaro que também só os lê quem quer, dirão.
Este é um momento num passado que me soube bem ler!
Também fujo dos blogs que só exaltam o ego! Leio muito poucos e alguns já me cansam, nem sequer consigo ler tudo, são logos ou repetitivos. Hoe em dia com o FB, muito do que se diz nos blogues é redundante, mesmo as fotos que ponho aqui são as mesmas que tenho nos inumeros grupos a que pertenço ( mais de 10). As reflexões é que nunca vão para o FB, não gosto muito de me expor nas redes sociais...
ResponderEliminarUm bom domingo!
errata: longos
EliminarDetesto o Facebook precisamente porque é uma feira de vaidades e futilidades, nunca um lugar de reflexão! Por isso não uso.
EliminarNão concordo. Adorpertencer a grupos d fotografia e trabalhos manuais, aprendo imenso com as fotos que vejo de amigos meus conceituados, encontro pessoas que não via há anos e comento algumas peças curtas que aparecem todos os dias. Estou em contacto com a família ( que é enorme), recordamos momentos passados, exponho alguns quadros e fotos de que gosto. Pode ser um pouco narcísico, mas não é de modo nenhum feira de vaidades.....pelo menos para mim.
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