terça-feira, 10 de março de 2015

A Primavera em casa


É um cliché dizer-se que a Primavera chegou.

Mas a realidade é essa, não há que negar . E até em casa podemos ter um vislumbre dessa transformação.

No jardim junto à minha casa, ontem às 3 da manhã, quando me deitei, ouviam-se passarinhos a cantar ao desafio com o gorgolejar da pequena fonte que os meus vizinhos pôem a funcionar de noite. Estive de janela aberta, contemplando as silhuetas esguias das árvores em frente, o esqueleto ainda esquálido da grande tília que anseio por ver florescer, o suave latido dos cães a grande distância. As flores já apareceram, os canteiros do meu vizinho encheram-se de pelargónios de todas as cores. E até os nossos canteiros mais pobrezinhos já estão com cachos rosa.

Os pores do sol prometem a continuação do tempo estival, ainda que umas nuvens comecem a ensombrar o horizonte.

Na minha sala, oiço no Brava a sinfonia nº 4 de Beethoven, menos conhecida, mas tão beethoveniana quanto as outras. Parece que estou numa sala de concertos rodeada da primavera por todos os lados.

caixinha pintada


Estou só, mas tão acompanhada!
Mal escrevo isto, soa o skype. É a minha Luisa com o seu sorriso contagiante. Todos os dias nos encontramos nesta sala a esta hora e quase sempre oiço música ao mesmo tempo. Está feliz....e isso é o que mais me importa. Também me fala da primavera em Leeds e do parque onde os estudantes se encontram para gozar do sol, jogar à bola, conversar e até dormir...que saudades dos momentos em que fomos felizes as duas.

Os sopros continuam trinitroar, oboés, clarinetes, trompas, flautas sobrevoam os violinos e violoncelos que, numa fúria, atacam ferozmente uns acordes, para se calar logo a seguir.

Isto é Beethoven. Na minha sala...

segue-se Dvorak e o maravilhoso Truls Mork ao violoncelo. Um dos meus concertos de eleição, que ouvi em Praga com os meus Pais em 1971. Les sanglots des violons....et des cellos como diria Verlaine.

A primavera sem música não teria alma.

8 comentários:

  1. Sou amante de clássica e jazz.
    Acontece, chegando a primavera, é no jazz que encontro a simbiose , que conjuga a estação do ano com a música.
    Os solos de piano de Keith Jarrett , são um hino à primavera.

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  2. Nunca fui amante de jazz a não ser ao vivo em pubs ou cafés. Ouvir jazz aqui não me passa pela cabeça e quando experimento ouvir no Mezzo, não me sinto atraída pela música ...
    Boa semana!

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  3. No primeiro fim de semana deste mês fui a Trás-os-Montes. Estava um tempo primaveril (ao contrário do que aconteceu aqui). Na viagem, como sempre a ouvir a antena 2, passou a iniciação à dança de Weber, que já não ouvia há muito tempo. Tive também essa sensação fantástica de associar a primavera à música.
    Bjs
    Regina

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    1. Invitation a la valse. Toquei-a no piano quando era adolescente. Nunca mais me esqueci.

      Bjo

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  4. Ouvir jazz na rua , em Nova Orleães, é uma experiência inolvidável que nada tem a ver com o que se ouve por aí! Gostava, digo bem, gostava, mas é lá tão longe! E então agora que $1 é = a 1€! Quando lá fui 1€ era = a $1.40 ! Faz alguma diferença!

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    1. Infelizmente não ouvi música nenhuma nos States, nem sequer em San Francisco. Só ouvios meus filhos e netos a tocarem e a cantarem na Missa, o que me comoveu entremente. Tb adoro música na rua, em Munique era em todo o lado....

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  5. Falando em experiência inolvidável, com jazz ao vivo, temos os fins de tarde/noite, lá mais para o verão, nos jardins de Serralves. A não perder.

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  6. Já uma vez ouvi um concerto lá na Primavera e gostei bastante.

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