terça-feira, 28 de fevereiro de 2023

Língua universal



 Nunca percebi a aversão das pessoas aos estrangeiros que nao falam Português, tanto quanto odeio a subserviência ignorante, que notei em muitos lados, sobretudo no Algarve. 
A mentalidade já mudou bastante e ultimamente, tenho reparado que há um esforço em aprender Inglês.  Ninguém sabe o que o futuro nos reserva e nos somos a minoria. O patriotismo foleiro não nos serve numa Europa cada vez mais global.
Nao passa pela cabeça de ninguém aprender noruegues ou sueco para ir numa viagem turistica a Escandinavia. Como nao queremos aprender romeno ou esloveno para visitar os paises de Leste. Isso equivale a dizer que precisamos doutras ferramentas para comunicar.
Quando fui a Hungria  nos anos 90, ninguem falava inglês.  Tive de falar alemao para me informar sobre coisas minimas.
Todos os turistas gostam do Porto porque, mesmo quando não sabemos línguas, esforçamo-nos por entender o que nos dizem. Ja ajudei turistas em muitas situacoes.  É uma cidade acolhedora com pessoas empaticas, o que nao acontecia em Lisboa quando la vivia.
Encontrei há tempos um ex aluno que me disse: Ah se eu soubesse , tinha estudado mais inglês. Trabalho numa loja de moda e faz me imensa falta. Pois!

Saber comunicar é uma mais valia, nunca elitismo ou snobeira. Gostava de saber Italiano, mas é  um pouco tarde para comecar.  Compreendo alguma coisa, mas nao falo nada, embora a minha bisavo materna fosse italiana.

O video acima dum dos melhores  linguistas ingleses, David Crystal, é  muito elucidativo  sobre o futuro das linguas universais. 



Quem o compreender, tera prazer em consultar tambem o blog speakenglishcenter.com.



segunda-feira, 27 de fevereiro de 2023

Stand-by

  Estou numa fase muito esquisita em que não posso planear nada, nem queixar-me da vida. Não tenho dores, nem mal estar grandes, só pequenos males na boca, nariz e intestinos. Nada de grave. 

De vez em quando lembro-me que um cancro me roi o estômago, mas tenho esperança de que já esteja reduzido e que mo tirem depressa. Não estou ansiosa, se não já tinha morrido de ansiedade. 



Na realidade, tive um mês de sossego, nada aconteceu de suspeito, faço o que quero, ando a pé, vou ao cinema, vou as compras, passeio no botânico ou na Casa das Artes, está sol, tudo corre bem e , como diria Fernando Pessoa, tudo está como deve estar.

Hoje no Botânico, alguém tinha resolvido pôr camélias no lago dos nenúfares. Brincadeira de crianças ao Domingo. O efeito era espectacular.















Debaixo das tilias despidas, diverti me a olhar para cima. É algo que faço muitas vezes. Parece que saio do solo, pairo por momentos num espaço etéreo, meio zonza...



Estive no jardim pouco tempo, mas foi o suficiente para me reciclar. Acordo sempre mal disposta ; estes passeios são uma terapia.

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2023

Waiting


 Já há três semanas que espero sem notícias. Nem sei se estou pior , se melhor. O cancro do fígado diminuiu com a quimio, mas pode ter se desenvolvido noutro lado do corpo. Este silêncio é assustador e preciso de muita serenidade para continuar com a minha vida quotidiana, sem grandes alterações. 

Não tenho problemas físicos de maior, a não ser um agravamento ligeiro da artrose, que julgo dever se mais ao tempo do que ao cancro. Doem me as costas e os joelhos, mas continuo a sair todos os dias, a fazer tricot, a tratar da casa, etc. Nada há de diferente.


Hoje reparei que a clínica aqui em baixo fechou para obras. Faz falta numa emergência e também para massagens ou fisio. Andei lá muitos anos.

Fecha tudo, dá impressão de que nada é para durar.. 

e nós também somos descartáveis?


Respiro, logo existo.

 Nem sempre me apetece ir ao Botânico, mas cada vez que lá vou, dia sim dia não, fico maravilhada com o que contemplo. É sempre diferente, sempre belo. Um jardim pequeno com tudo o que necessito para regenerar a alma...

Eis algumas fotos que tirei hoje. Estava um dia excelente para fotografar.A luminosidade no inverno é  melhor que no verao.









terça-feira, 21 de fevereiro de 2023

A preto e branco

 Terça feira de Carnaval. Cinzento e tristonho. Este céu monocordico tem o condão de me pôr depressiva. Não se vê uma discordância de cor, nem um risco, nenhum cambiante a destoar. 

É tudo igual. 

E se for á Foz, o mar imita o céu na sua monocordica atitude, só a espuma branca é que revela alguma revolta e espanto.

 Dias de espera, sem saber quando terei a minha operação, como vai ser, se durará muito tempo, se a recuperação será difícil, nada...

Dantes adorava ter uma tarde sem nada para fazer de especial, poder dedicar me as minhas artes, ao tricot, a pintura,


a ler ou ver alguma série. Agora, a não obrigação de fazer alguma coisa deprime me. É que só me apetece fechar os olhos, agarrar a almofada e ignorar que existo. 

Hoje tive um sonho esquisito. Estava a festejar o Carnaval sozinha, mas com ânsias de encontrar alguém amigo ou simpático. Encontrei uma rapariga, metemo -nos num comboio e depois já não sei o que aconteceu. Sei que fui feliz durante uns minutos.

Nunca gostei de feriados. Só gostava de não ter aulas, mas o resto era demasiado pouco. Aborrecia me. Nada havia para fazer, não tinha carro, não podia ir com três crianças para a rua, embora fosse muitas vezes até a Rotunda, só para eles correrem um pouco. Estive anos sem ir a Foz pois o M. detestava andar a procura de lugar para estacionar o ccarro.E eu nao tinha dinheiro para taxis.

Não me lembro de passeios em familia a não ser á Boa Nova



em Leça. 

Subiamos até a Capela  e respirávamos o ar do mar . Havia sempre vento e estava frio, mas era lindo e fresco. Os miúdos andavam á solta, corriam, subiam pelas rochas, riam, felizes.  

Mas eram raros os domingos assim. 

Os processos foram sempre mais importantes que os lazeres. O trabalho de ambos era demasiado stressante. As crianças foram crescendo e entretinham se sozinhas ou com os vizinhos do lado. Não  ficaram traumatizados e aprenderam bastante com o nosso exemplo.



O poeta é que sabe



 ... Nem tudo é dias de sol,

E a chuva, quando falta muito, pede-se

-Por isso tomo a infelicidade com a felicidade

Naturalmente, como quem não estranha

Que haja montanhas e planícies

E quando haja rochedos e erva...

O que é preciso é ser-se natural e calmo

Na felicidade ou na infelicidade,

Sentir como quem olha,

Pensar como quem anda,

E quando se vai morrer, lembrar-se de que o dia morre,

E que o poente é belo e é bela a noite que fica...

Assim é e assim seja...


Alberto Caeiro





segunda-feira, 20 de fevereiro de 2023

Les beaux esprits





Sei que me limito a copiar um texto que hoje li e me deu  prazer. É raro encontrar tal harmonia noutras mentes.

O texto é de Mário Augusto, jornalista e especialista em cinema.


                                           "O que me apetece fazer....

Nos tempos livres, há quem goste de andar no ginásio, goste de correr, de jogar às cartas, de ir ao futebol, esturricar na areia quente logo que o sol chega. Respeito a agitação de uns quantos fiéis da balança, ou os aceleras do tempo que corre sempre mais do que eles. O que eu adoro mesmo é praticar e exercitar o sossego. Quando muito, umas caminhadas para falar cá com os meus botões, altura em que ligo o piloto automático e aproveito para o jogo do pensamento.

Se desligo, consigo manter-me quase num estado letárgico, num


silêncio com mil sons e cores que me inundam o cérebro a transbordar de ideias soltas. São pensamentos só meus e por minha conta, muitos não dão em nada, mas outros já nasceram assim de ideia feita que ganha forma a seguir, mais na frente dos dias. É como se tivesse uma mão-cheia daqueles glutões do “Presto” (para os que ainda se lembras desses gulosos verdes do anúncio): lanço-os e correm para os neurónios, não para os deslavar, mas para que se avivem as cores da imaginação. 


É tão bom chegar lá. Não ter que pagar bilhete, não ter que sair do lugar, apenas exercitar o pensamento e fazer aquele jogo do “e se? isto ou aquilo.

O cinema que para mim é mesmo uma paixão das grandes dá-me sempre isso, projeta-me o sonho para além da luz. Eu sou dos que entram facilmente no filme – talvez por isso não gosto do género de terror. Por que haveria de querer assustar-me às escuras?!...

Ler e escrever são a minha palavra-chave para abrir o meu ginásio do pensamento nessas viagens sem rumo certo.

Tenho um outro prazer na leitura e no vasculhar das histórias. Gosto de saber História, devoro livros que relatam o passado, os que contam a história das coisas, os que adocicam os feitos de outrora. Tenho para mim que a melhor forma de fazer uma viagem é ter um olho sempre focado no retrovisor, saber o que ficou para trás e aprender com isso.

Quem conhece bem o caminho feito está mais bem preparado para a estrada ainda por fazer. Pelo menos, tem obrigação de saber de onde vem, mesmo não sabendo até onde irá chegar. É aí que entra a escrita, uma nota solta que se desprende sem compromisso, uma ideia que pode custar a arrancar, mas mal afina corre atrás da narrativa.


Quem escreve e gosta, começa por ser um devorador de palavras de outros, leitura e mais leitura para perceber mundos imaginários que nos puxam para dentro. Isso não é de todos os autores nem de todos os livros, só os melhores. 

Nesse sossego dos dias, gostava eu de poder estar mais, como quem procura a ideia plena da história que nunca foi escrita.  Nem lhes digo o que me vai na cabeça, mas quando experimentar, já sei que vai ser como puxar o fio da meada e deixar-me levar até ao fim, como quando se juntam as letrinhas que fazem o bailarico das palavras.

Um bom domingo e deixem-se levar pela colorida imaginação já que a realidade anda sem cor nem emoção.

Mário Augusto



(...)

Depois de ler este depoimento fiquei mais calma. 

Nem todos andam por aí travestidos de parvos!!! E o Carnaval já era.

Tédio



 2a feira dum dia sem sol. Ausência de calor, de beleza e de paz. Ansiedade e receio. Há dias assim. 

Acordo com um peso enorme nos olhos, na cabeça e nas articulações. Só me apetece deitar de novo e fechar me para a vida. Ela que se desenrasque. Não precisa de mim para nada. 

As árvores continuam a crescer, as máquinas de cortar relva a fazer um barulho irritante, as ambulâncias do INEM a correr que nem loucas, os miúdos das excursões a gritar no Botânico, as gaivotas e galos esfomeados aos pios. 



Nada mudou. a Botânica continua a oferecer bolinhos de bacalhau e arroz de feijão, que nem são maus, o jardim ainda não tem flores, as glicínias foram decepadas, os cogumelos abundam, está tudo em stand by e eu também.

Não vos desejo mal nenhum.

Vivam as vossas vidas sem mim, como sempre viveram. Respiraram sempre sem mim, cresceram sem mim, choraram sem mim.


Eu precisei mais de vós. Mas neste momento, quero vos felizes sem mim.

I'm done, you see?

domingo, 19 de fevereiro de 2023

Envelhecer

 Todos envelhecemos. Melhor ou pior. 

A saúde, bem precioso, falha nos quando menos se espera. Começa pelos ossos, que se recusam ao esforço, músculos que doem ao fim do dia, depois há os invisíveis, os nervos, a tensão arterial, o colesterol, a glicemia, as vitaminas, o ferro, tudo o que torna esta estrutura capaz de funcionar no dia a dia.

Olho para as árvores do meu Botânico e vejo que as cortam quase completamente a meio do inverno. Cruelmente. Parece que nunca mais florirao. Mas eis que chega a Primavera e os brotinhos começam a aparecer, primeiro envoltos num manto verde ou castanho, depois cada vez mais abertos até que, dum dia para o outro, a flor se liberta esplendorosa.





O nosso corpo devia ser assim. Cortava se para renascer. Como o cabelo ou as unhas. 

Mas a maior parte dos nossos órgãos são insubstituíveis e se danificados não voltam ao início. 

Hoje já há muitas formas de corrigir os erros - nossos - genéticos ou acidentais.

Tenho um cancro no fígado. Estou calma, aguardando os resultados da quimio e a operação de Março. Pode ser que resulte e que consiga superar o mal. Mas também pode ser que ele volte, esse monstro que aterroriza a todos.


Dos

A vida é curta ou longa. Temos de nos convencer disso. O sol nasce e morre todos os dias.

Não podemos adivinhar o que nos espera. Temos de confiar. E  aproveitar as benesses que nos concedem.

A Fé é a nossa única solução.

Mesmo quando se não é crente. 

Domingo de Carnaval

 

Texto escrito em 17/2/23



O Manel faria hoje 77 anos. Já partiu há seis anos. Nunca o esqueci. 

Foi se naquela manhã de Fevereiro e as magnólias ficaram repletas com as minhas lágrimas. 

Era o Pai dos meus filhos lindos. 



Este era o seu poema favorito quando nos enamoramos em 65. 
Ofereceu me o livro Toi ET Moi de Paul Geraldy, dizendo que era um retrato realista da vida .  E foi.


 

O fim era triste. Como foi o nosso. A vida separou nos, os outros separaram nos, as profissões enguliram nos.

 O desejo de independencia era mais forte do que eu. Decidi partir aos 29 anos de casados e nunca me arrependi. Tinha 56 anos e queria viver. Sentia me claustrofobica naquela casa com a minha sogra a entrar de hora a hora. Os filhos estavam no estrangeiro e com o M. naquela casa imensa, estava mesmo só. 

Nunca deixamos de nos amar, apesar de vivermos separados. 

  Até ao último dia.

Sinto a sua falta muitas vezes.

Foi o Homem da minha vida. O único.


 Toi ET Moi. 


          RIP, Manel.

sábado, 18 de fevereiro de 2023

Ha tanto tempo

 Nao escrevo neste blogue ha meses. Desisti dele numa fase de fastio, em que a ausencia de feedback e de inspiracao me deixaram sem palavras. O FB preencheu os espacos em que precisava de comunicar com amigos. 

Em outubro tive o maior choque da minha vida ao saber que tinha um cancro no colon, algo que ja receava ha muito. Os indicios eram flagrantes e andei a fugir a colonoscopia,exame que todos me afirmavam ser chato e moroso. Mais valia te lo feito ha anos quando mo recomendaram.


A partir dai tenho sido outra pessoa. Mais positiva, realista, certa de que o meu prazo de validade esta a terminar e que devo aproveitar ao maximo as hipoteses que os tratamentos me vao dando.

Nao ligo muito aos efeitos da quimio, supero o meu desconforto com coisas que me dao prazer como ler, ir ao cinema,passear no Botanico, ir a Foz ou a Matosinhos ver o mar. Tudo isso é  maravilhoso e enche me a alma. 



Os meus filhos e netos continuam a sua vida,sem grandes alteracoes e isso é  talvez a  minha maior alegria. Ser independente é  ser feliz. 

Nas sessoes de quimio,  levo tudo na brincadeira e encontrei em mim uma paciencia que desconhecia. Ate me deu para  escrever textos. O ambiente ajuda. Admiro muito todo o pessoal que trabalha na oncologia.

Escrevo no  meu  tablet e nem sei ainda como se metem fotos aqui. Não  ligo o laptop ha mais de um mes. Mas vou conseguir.


Até  breve.