Sei que me limito a copiar um texto que hoje li e me deu prazer. É raro encontrar tal harmonia noutras mentes.
O texto é de Mário Augusto, jornalista e especialista em cinema.
"O que me apetece fazer....
Nos tempos livres, há quem goste de andar no ginásio, goste de correr, de jogar às cartas, de ir ao futebol, esturricar na areia quente logo que o sol chega. Respeito a agitação de uns quantos fiéis da balança, ou os aceleras do tempo que corre sempre mais do que eles. O que eu adoro mesmo é praticar e exercitar o sossego. Quando muito, umas caminhadas para falar cá com os meus botões, altura em que ligo o piloto automático e aproveito para o jogo do pensamento.
Se desligo, consigo manter-me quase num estado letárgico, num
silêncio com mil sons e cores que me inundam o cérebro a transbordar de ideias soltas. São pensamentos só meus e por minha conta, muitos não dão em nada, mas outros já nasceram assim de ideia feita que ganha forma a seguir, mais na frente dos dias. É como se tivesse uma mão-cheia daqueles glutões do “Presto” (para os que ainda se lembras desses gulosos verdes do anúncio): lanço-os e correm para os neurónios, não para os deslavar, mas para que se avivem as cores da imaginação.
É tão bom chegar lá. Não ter que pagar bilhete, não ter que sair do lugar, apenas exercitar o pensamento e fazer aquele jogo do “e se? isto ou aquilo.
O cinema que para mim é mesmo uma paixão das grandes dá-me sempre isso, projeta-me o sonho para além da luz. Eu sou dos que entram facilmente no filme – talvez por isso não gosto do género de terror. Por que haveria de querer assustar-me às escuras?!...
Ler e escrever são a minha palavra-chave para abrir o meu ginásio do pensamento nessas viagens sem rumo certo.
Tenho um outro prazer na leitura e no vasculhar das histórias. Gosto de saber História, devoro livros que relatam o passado, os que contam a história das coisas, os que adocicam os feitos de outrora. Tenho para mim que a melhor forma de fazer uma viagem é ter um olho sempre focado no retrovisor, saber o que ficou para trás e aprender com isso.
Quem conhece bem o caminho feito está mais bem preparado para a estrada ainda por fazer. Pelo menos, tem obrigação de saber de onde vem, mesmo não sabendo até onde irá chegar. É aí que entra a escrita, uma nota solta que se desprende sem compromisso, uma ideia que pode custar a arrancar, mas mal afina corre atrás da narrativa.
Quem escreve e gosta, começa por ser um devorador de palavras de outros, leitura e mais leitura para perceber mundos imaginários que nos puxam para dentro. Isso não é de todos os autores nem de todos os livros, só os melhores.
Nesse sossego dos dias, gostava eu de poder estar mais, como quem procura a ideia plena da história que nunca foi escrita. Nem lhes digo o que me vai na cabeça, mas quando experimentar, já sei que vai ser como puxar o fio da meada e deixar-me levar até ao fim, como quando se juntam as letrinhas que fazem o bailarico das palavras.
Um bom domingo e deixem-se levar pela colorida imaginação já que a realidade anda sem cor nem emoção.
Mário Augusto
(...)
Depois de ler este depoimento fiquei mais calma.
Nem todos andam por aí travestidos de parvos!!! E o Carnaval já era.