terça-feira, 21 de fevereiro de 2023

A preto e branco

 Terça feira de Carnaval. Cinzento e tristonho. Este céu monocordico tem o condão de me pôr depressiva. Não se vê uma discordância de cor, nem um risco, nenhum cambiante a destoar. 

É tudo igual. 

E se for á Foz, o mar imita o céu na sua monocordica atitude, só a espuma branca é que revela alguma revolta e espanto.

 Dias de espera, sem saber quando terei a minha operação, como vai ser, se durará muito tempo, se a recuperação será difícil, nada...

Dantes adorava ter uma tarde sem nada para fazer de especial, poder dedicar me as minhas artes, ao tricot, a pintura,


a ler ou ver alguma série. Agora, a não obrigação de fazer alguma coisa deprime me. É que só me apetece fechar os olhos, agarrar a almofada e ignorar que existo. 

Hoje tive um sonho esquisito. Estava a festejar o Carnaval sozinha, mas com ânsias de encontrar alguém amigo ou simpático. Encontrei uma rapariga, metemo -nos num comboio e depois já não sei o que aconteceu. Sei que fui feliz durante uns minutos.

Nunca gostei de feriados. Só gostava de não ter aulas, mas o resto era demasiado pouco. Aborrecia me. Nada havia para fazer, não tinha carro, não podia ir com três crianças para a rua, embora fosse muitas vezes até a Rotunda, só para eles correrem um pouco. Estive anos sem ir a Foz pois o M. detestava andar a procura de lugar para estacionar o ccarro.E eu nao tinha dinheiro para taxis.

Não me lembro de passeios em familia a não ser á Boa Nova



em Leça. 

Subiamos até a Capela  e respirávamos o ar do mar . Havia sempre vento e estava frio, mas era lindo e fresco. Os miúdos andavam á solta, corriam, subiam pelas rochas, riam, felizes.  

Mas eram raros os domingos assim. 

Os processos foram sempre mais importantes que os lazeres. O trabalho de ambos era demasiado stressante. As crianças foram crescendo e entretinham se sozinhas ou com os vizinhos do lado. Não  ficaram traumatizados e aprenderam bastante com o nosso exemplo.



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