quarta-feira, 27 de março de 2013

Antes que chova




... porque ia chover. Estava certa disso quando resolvi ir ao meu jardim.

Tinha estado a ver mais um episódio de Brideshead Revisited no youtube ( está lá todo tal qual o vi há 30 anos) e relido essa parte no romance de Evelyn Waugh ( também todo ele na net à disposição),  e não me contive.Tinha de ir ao Botânico.
E fui, mas quando já lá estava, dei-me conta de que tinha levado a máquina sem o cartão, que ainda estava inserido no laptop. Voltei a casa para o buscar e regressei. Para meu gáudio.

A parte do romance que me fez lá ir hoje foi a seguinte:


The others left  soon after him. I  rose to go with them, but Sebastian
said: "Have some more Cointreau," so I 
stayed and later he said, "I  must go
to the Botanical Gardens."
     "Why?"   
   "To see the ivy."
     - It seemed a good enough reason and I went with him. He took my arm as
we walked under the walls of Merton.
     "I've never been to the Botanical Gardens," 
I said.
     "Oh,  Charles, what a lot you have  to learn! There's a  beautiful arch
there and more different kinds  of ivy than  I  knew  existed. I don't  know
where I should be without the Botanical Gardens."
Poderia ter sido escrito por mim, se eu escrevesse romances...:)

Já chove.As plantas do jardim estavam maravilhosas waiting for Spring to happen
Já havia flores, muitas flores, camélias juncadas na terra molhada, 
alinhadas como se dançassem num baile vitoriano daqueles em que as raparigas ficam todas dum lado e os rapazes do outro à espera que a orquestra comece a tocar.
Até já havia glicíneas e narcisos, junto à estátua solitária de Sophia, cujos olhos pareciam lacrimejar.
No Brava, oiço o Concerto nº 5 de Beethoven- o segundo andamento, uma das mais belas peças que conheço nota a nota, trilo a trilo. A orquestra majestosa contrace-na com o piano, todo ele ceremonioso, as trompas acompanham, os oboés ecoam, o 

piano torna-se cada vez mais forte, mais único, mais belo, mais sonoro...não escolheria melhor música para acompanhar o que escrevo da alma.
Beethoven é solene como a série de que falo, como a chuva que cai lá fora nesta Páscoa sem perdão.


No jardim o verde sobressaía, a hera enrolava-se por tudo quanto é sítio, os líquenes 
pareciam mexer-se, as gotas de água nos nenúfares irisdeciam em tons que nenhuma paleta 
conseguiria igualar. Tirei 78 fotografias das quais puz aqui algumas. 

Teria ficado ali mais uma hora, não fora ter a certeza de que ia chover a cântaros, como acontece 
neste preciso momento em que escrevo já no quentinho da minha sala. 
O meu neto descobriu no outro dia que eu sabia prever o passado ( já tinha lido os resultados do futebol e disse-lhe:"eles ainda vão meter outro golo que eu sei!"),
Também sei prever o futuro , sobretudo quando se trata de metereologia. 

Sinto a chuva antes que ela aconteça.

3 comentários:

  1. Chuva, chuva e mais chuva!!! E estamos quase em Abril, o mês mais lindo do ano. Será que a meteorologia o compreenderá?

    Um abraço.

    ResponderEliminar
  2. Belíssimo texto acompanhado por excelentes fotos.
    Ivy... oh God!, so beautiful and green, and sometimes also so blue...

    (Já vi qual é o seu Brideshead :))

    Bjos

    ResponderEliminar
  3. Eu adoro hera...tenho-a na minha varanda a marinhar pelas paredes, por vezes com bicho, outras vezes mais fresca e clara. Neste momento no botanico a hera está luxuriante com a chuva que tem caído. Aqui hoje está melhor, daqui da casa do meu filho vê-se o mar de ponta a ponta e até se distinguem bem as ondas lá longe...

    Bjo

    ResponderEliminar