Nasci eu.
Com o calor, as tardes longas, parece que nasci pelas 8.30 da noite, ainda havia sol.
A minha mãe comeu cerejas, que ela adorava. Deram-me o seu nome, que tinha três iis e era difícil de escrever correctamente.
A guerra tinha acabado, havia um perfume de paz no ambiente.
Chamaram aos bébés desses anos os baby-boomers, nascidos no pós guerra e em grande número, sobretudo nos países que tinham estado envolvidos.
Já era a quarta filha, ou antes a terceira, visto que o meu irmão mais velho nasceu antes das meninas. Depois vieram mais quatro, eu estava no meio da sanduíche.
Sempre desejei ser rapaz, fazia tudo por parecê-lo, até afrontava o meu Pai em momentos infelizes.
Fui uma miúda feliz, apesar da concorrência constante, sobretudo na adolescência, em que comecei a querer encontrar o meu lugar ao sol e havia demasiada sombra.
Na adolescência passei por maus momentos, mal adaptada ao liceu, péssima a Matemática e a Física, toda virada para as letras, que me apaixonavam. Só respirei fundo no 6º ano quando me dediquei de alma e coração às línguas e literaturas.
Os meus aniversários eram sempre acompanhados de festas e exames. Quase todos tínhamos exames, mas no meio vinham os meus anos e volta e meia, havia festas dos "santos" em casa, apesar deles não fazerem milagres. :)
Havia fogueira, balões, cravos com quadras, caldo verde e chouriço...eram os meus anos. " C'est ma fête, je fais ce qui me plait!". A música dos anos 60 entusiasmava-nos. Eram os Beatles, os Rolling Stones, os franceses românticos...e o rock n'Roll.
Dizem que foram anos bons. Maus não foram, comparados com as crises que nos assolam. Mas havia a guerra em África e em 1974, um cunhado meu morreu em África deixando a minha irmã viuva com duas filhinhas pequeninas. Nunca mais a minha família foi igual, embora a vida continuasse...
Casei em 1973 e a partir daí, a minha vida deu uma volta de 180º. Deixei Lisboa para sempre em 75 e para trás a família, os amigos, a cidade onde me sentia bem, e também um pouco a minha identidade.
Custou-me tanto deixar tudo que tive de sublimar a ausência da família e amigos com o desvelo pelos meus alunos e pela minha profissão de professora na província remota aliado à minha paixão cada vez maior pela Natureza e pela Música.
A partir de 1976, sublimei tudo com a dedicação e amor incomensurável que nutria pelos meus filhos.
Nunca mais o meu eu se sobrepôs ao deles até eles serem adultos. Mas houve momentos dramáticos, que tentei sempre superar com a esperança de dias melhores.
E aqui estou eu com 70 anos, três netos e uma felicidade sempre presa por cordéis ao quotidiano.
Cada dia que passa é mais um num percurso que penso ter sido bem realizado.
Tudo o que vier a mais....é mais uma vela acesa na minha Vida.
Happiness is looking forward to