Dia da Criança

Sempre tive na família nuclear pediatras - médicos especializados em doenças e saúde das crianças - e coincidência das coincidências, a minha sogra e cunhada por afinidade também o eram.
A criança foi sempre um centro de atenção na minha família.

A minha Avó da Índia teve oito filhos, 32 netos e não sei quantos bisnetos. Os meus Pais teriam 21 netos e 28 bisnetos, se estivessem vivos neste momento.

Só tenho três netos, mas sei o que valem e como me fazem felizes.

Para comemorar o Dia, fica aqui um texto do meu Irmão Mário que considero muito original e já foi escrito há meses para o Jornal I:

O melhor manual do mundo da criança

Dos numerosos livros sobre psicologia e pedagogia infantil, existe um que considero indispensável para entender o funcionamento das crianças e o seu pensamento.

É a banda desenhada de Calvin & Hobbes, uma das melhores de sempre, criada, escrita e ilustrada por Bill Watterson.

Publicada em tirinhas, durou dez anos e o seu autor nunca permitiu que as imagens fossem usadas para fins comerciais, embora se possam ver muitas T-shirts e outros objetos de consumo com as inconfundíveis figuras, mas todos clandestinos e fabricados sem autorização do próprio.

Calvin, o nosso menino (ou o de Bill Watterson), tem seis anos, odeia a escola, fantasia e sonha, protesta e exige, mas acaba por ter de aceitar algumas coisas, designadamente comer sopa, revelando inocência e ausência de malícia. No fundo, gosta da ordem e das regras tanto como por vezes as odeia (não somos nós todos um bocadinho assim?). Provoca, experimenta o risco até ao limite, adora televisão e tem os medos normais de um miúdo desta idade. A sua visão do mundo dos adultos é um tratado de psicologia infantil, apontando as nossas incoerências e inconsistências, e testando-nos no nosso quotidiano. Os seus comentários são sarcásticos e o humor de Watterson é difícil de imitar, de tão refinado, irónico e de qualidade.

Hobbes, por seu lado, é um tigre sábio e sardónico que consegue saltar de peluche para animal real, desafiador, conhecedor dos comportamentos, reflexivo. Quase como um alter ego de Calvin, mas que não o é porque não resiste, bastas vezes, a alinhar com o seu amigo humano. É um amigo imaginário, solidário, brincalhão, mas que atua também como uma consciência de Calvin, fazendo-lhe ver a dimensão ética da vida ao mesmo tempo que disputa o lugar de protagonista nas várias tiras da série.

As fantasias e divagações de Calvin são a maneira como as crianças desta idade enfrentam os desafios do crescimento e o conhecimento do mundo e da realidade externa. À vontade de crescer opõe-se a regressão; ao desejo do risco e à atração do abismo opõe-se o medo e a necessidade de encontrar espaços, locais e pessoas securizantes e enquadradoras, mesmo que seja um boneco de peluche que se transforma num tigre imaginário.

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Recomendo a todos os que se interessam por crianças ou que tenham de lidar com estes “pequeninos monstros”. Assim compreenderemos melhor as suas fragilidades, medos, sinais, raciocínios e argumentos, atuando melhor e de modo mais eficiente. E poderemos amá-los ainda mais, porque desenvolveremos ainda mais, também, a nossa empatia e entendimento de um mundo que já está muito para trás no nosso percurso de vida, mas bem presente no inconsciente… e no dia a dia dos nossos filhos e netos.

http://ionline.sapo.pt/artigo/492877/o-melhor-manual-do-mundo-da-crianca?seccao=Opiniao_i