surgem imprevistos, há um acidente, hospital, incapacidade e necessidade de auxílio.
Todos achamos que somos invencíveis, dispensamos as preocupações alheias, não educamos os nossos filhos para tratarem de nós quando envelhecemos, como dizia um artigo muito interessante que li no FB. O artigo é demasiado negro, de modo que só transcrevo aqui a tese, que é verdadeira.
É costume dizer-se que nada nos prepara para sermos pais, que são os filhos que nos ensinam a ser pais. Mas o que não nos ensinam mesmo é a sermos filhos de pais envelhecidos. Queremos salvá-los deles próprios, impedir que o corpo ceda mais rápido que a cabeça, ou que a cabeça ceda mais rápido que o corpo, mas não há como.
Os meus filhos insistem muito em que eu trate de mim, mas não consideram prioridade - pelo menos para já - saber se eu estou a 100%.
Confiam no meu bom senso em não me deixar abater pelo envelhecimento, adoram dizer-me que não pareço nada a idade que tenho na realidade, mas quando me vou abaixo, ficam um pouco perplexos como se tivéssemos a obrigação de durar eternamente, manter a adrenalina dos 30 anos, viver a vida com um enorme prazer, ajudando-os no que necessitam, olhar pelos netos, transmitir esperança, elogiá-los e apagarmo-nos perante os seus sucessos e vitórias.
Este fim de semana, o meu ex-marido teve um acidente que poderia ter sido muito grave. Felizmente, conseguiu ligar para uma sobrinha que o levou ao hospital onde esperou 5 horas para que lhe fizessem os exames da praxe. Ontem estive em sua casa - que era a minha quando vivíamos juntos - onde não ia há uns 5 anos. Levei-lhe o almoço, tudo feito por mim e ao seu gosto. Nunca vi uma pessoa comer com tanto prazer! Trouxe para casa toda a roupa suja que lá havia - a empregada está de férias e recusou-se a ir lá no fim de semana - , fiz-lhe a cama de lavado, deixei-lhe sopa e salada de frutas no frigorífico. Hoje a minha empregada que é uma jóia, passou oito camisas, três pijamas, 10 lenços e dois pares de calças a ferro. Paguei-lhe extra porque ela foi duma generosidade total. Levámos a roupa toda impecável lá a casa, apesar dos protestos dele !
Escusado será dizer que nenhum dos meus filhos seria capaz de fazer isto tudo. Não sabem como fazer. Nunca lidaram com a velhice.
Já foram fantásticos noutras ocasiões e quando eu fui operada o meu filho veio de Bragança passar a noite só para me ver. O meu filho mais velho também marcou as reuniões noutros dias e esteve lá na clínica durante a minha operação. Também já deram provas de solidariedade para com a irmã quando ela precisou de ajuda.
Pessoalmente, não tenho razão de queixa. Mas às vezes pergunto: Até quando?
Todos achamos que somos invencíveis, dispensamos as preocupações alheias, não educamos os nossos filhos para tratarem de nós quando envelhecemos, como dizia um artigo muito interessante que li no FB. O artigo é demasiado negro, de modo que só transcrevo aqui a tese, que é verdadeira.
É costume dizer-se que nada nos prepara para sermos pais, que são os filhos que nos ensinam a ser pais. Mas o que não nos ensinam mesmo é a sermos filhos de pais envelhecidos. Queremos salvá-los deles próprios, impedir que o corpo ceda mais rápido que a cabeça, ou que a cabeça ceda mais rápido que o corpo, mas não há como.
Os meus filhos insistem muito em que eu trate de mim, mas não consideram prioridade - pelo menos para já - saber se eu estou a 100%.
Confiam no meu bom senso em não me deixar abater pelo envelhecimento, adoram dizer-me que não pareço nada a idade que tenho na realidade, mas quando me vou abaixo, ficam um pouco perplexos como se tivéssemos a obrigação de durar eternamente, manter a adrenalina dos 30 anos, viver a vida com um enorme prazer, ajudando-os no que necessitam, olhar pelos netos, transmitir esperança, elogiá-los e apagarmo-nos perante os seus sucessos e vitórias.
Este fim de semana, o meu ex-marido teve um acidente que poderia ter sido muito grave. Felizmente, conseguiu ligar para uma sobrinha que o levou ao hospital onde esperou 5 horas para que lhe fizessem os exames da praxe. Ontem estive em sua casa - que era a minha quando vivíamos juntos - onde não ia há uns 5 anos. Levei-lhe o almoço, tudo feito por mim e ao seu gosto. Nunca vi uma pessoa comer com tanto prazer! Trouxe para casa toda a roupa suja que lá havia - a empregada está de férias e recusou-se a ir lá no fim de semana - , fiz-lhe a cama de lavado, deixei-lhe sopa e salada de frutas no frigorífico. Hoje a minha empregada que é uma jóia, passou oito camisas, três pijamas, 10 lenços e dois pares de calças a ferro. Paguei-lhe extra porque ela foi duma generosidade total. Levámos a roupa toda impecável lá a casa, apesar dos protestos dele !
Escusado será dizer que nenhum dos meus filhos seria capaz de fazer isto tudo. Não sabem como fazer. Nunca lidaram com a velhice.
Já foram fantásticos noutras ocasiões e quando eu fui operada o meu filho veio de Bragança passar a noite só para me ver. O meu filho mais velho também marcou as reuniões noutros dias e esteve lá na clínica durante a minha operação. Também já deram provas de solidariedade para com a irmã quando ela precisou de ajuda.
Pessoalmente, não tenho razão de queixa. Mas às vezes pergunto: Até quando?
Gininhamiga
ResponderEliminarÉ triste - mas é verdade. Ou, pelo menos, quase verdade. Como sabes vou a caminho dos 75 e a tua prima Raquel já fez 76. Temos três filhos óptimos que nos trouxeram as três filhas que nunca tivemos e que são porreiras. Os quatro netos e a neta tratam-nos nas palminhas são nossos cúmplices - mas como tu perguntas - até quando?
Isto não quer dizer que sejamos infelizes: bem pelo contrário! Mas recordo sempre a frase calina do João Pinto (FCP) - "Prognósticos? Só no fim do jogo..."
Tudo o que fizeste pelo teu ex - só prova que és bem formada. E, quiçá, um niquinho de saudade?...
-__________
Como sabes estiu metido numa grande alhada... Aqui resumo o que se passa. Na semana passada fui à minha médica de família que, depois de me ter observado cuidadosa e minuciosamente, disse-me que eu poderia ter Parkinson. Como deves compreender, fiquei muito abananado, quase perdi a cabeça, enchi-me de medo e até pensei em abandonar a escrita – o que para mim seria fatal!
Até escrevi um imeile à Maltamiga sem mencionar o nome da doença, o que motivou centenas – exactamente centenas – de resposta desejando-me as melhoras e solidarizando-se comigo. Malta bué da fixe!!!!
Entretanto, com a ajuda de dois médicos meus amigos durante os primeiros cinco anos do Camões que trataram de me acalmar pois com os novos medicamentos que entretanto apareceram eu iria passar muito bem. E indicaram-me neurologistas, para tirar dúvidas.
Marquei já uma consulta para um deles que os meus amigos disseram-me que era competentíssimo. Depois do diagnóstico final, vou comunicar-te o resultado.
Aproveito o ensejo para agradecer do fundo do coração a todas e todos que me manifestaram a sua preocupação, o seu apoio e a sua amizade, deixo aqui um muitíssimo obrigado!
Meu querido Primo,
EliminarVamos envelhecendo é verdade...e vamos descobrindo as nossas falhas ou vulnerabilidades quando menos esperamos. O mundo deu muitas voltas , a Medicina evoluiu duma maneira espantosa e já há muitas maneiras de compensar algumas doenças que há décadas pareciam fatais. Tenho a experiência pessoal para o comprovar. A minha filha aparentemente venceu uma doença que muitos consideravam irreversível. Há anos que vive bem com a medicação regular e uma vida calma. Não quer dizer que não possa ter uma crise, mas isso todos estamos sujeitos a acidentes...
Espero que consigas superar também o que te aflige. Calculo que os teus filhos estejam preocupados também. Mas acredito na evolução da medicina, vais conseguir, Primo. Vai dando notícias, por favor. Um grande beijinho.
Gininhamiga
EliminarDesculpa-me voltar ao tema, mas as coisas estão cada vez mais difíceis.
O meu irmão Braz - que julgo que conheces do Restelo - está nos emirados e tem um cancro na próstata com metástases no fígado e nos rins. E não posso ajuda-lo pois os €€€€€ não são muitos...
Por outro lado o meu primogénito Miguel aos 52 anos foi despedido de director financeiro e administrativo da AVIS onde foi considerado durante mais de 26 anos como o melhor da Europa. Vieram os americanos que a compraram e junto com os espanhóis que o invejavam - olho da rua! O caso já está no Tribunal de trabalho e ele anda à procura de emprego; mas com os tais 52 anos é considerado "velho". Estamos a Raquel e eu (e toda a família) muito em baixo...
Bjs da Raquel e qjs do Henrique o Leãozão
Respondendo à tua pergunta: ATÉ SEMPRE!
ResponderEliminarBeijinhos
Filipe
Inch'Allah!
EliminarTens uma grande filha que não merece nada do que eu aqui escrevi :)
Beijinhos.
Biquinhas. Vou ser breve, como o foi o Filipe.
ResponderEliminar1º - as rápidas melhoras do Manel (pelo que li, felizmente foi maior o susto do que a realidade)
2º - fizeste muito bem e foste um exemplo do que é a empatia e a solidariedade. tiro-te o chapéu, porque por mais que se diga que há coisas que são "obrigação moral", não o são. São actos de vontade própria e dignos (não esperava outra coisa, devo dizer...)
3º - creio ser impossível dizer se os filhos "sim" ou se os filhos "não". Mais, a determinada altura, creio que se deve contar com o apoio de alguém, ams que não têm de ser necessariamente os filhos, assim como estes - como aqui tenho escrito tantas vezes - também devem ter os seus percursos de vida autónomos.
4º - os filhos de pais separados, salvo excepções, tendem a apoiar mais um progenitor do que o outro, seja porque razão for, ou pelo menos a serem complacentes com um e "ferozes" com o outro. Mais tarde, quando crescem, alguns entendem que não se trata de fidelidades ou de partidos, mas muitas vezes, mesmo "velhos", não o entendem - é por isso que é bom ter vários apoios, designadamente amigos, cujos apoios valem tanto - acho - do que o dos filhos. Como sabes, não vejo grande matéria "física" nos chamados "laços de sangue" (é mais poético e politicamente correcto do que outra coisa...). Há respeito, amizade, solidariedade, lealdade e empatia... ou, por vezes, não há...
As melhoras do Manel e beijinhos
Não relatei o caso aqui para que me elogiem, mas agradeço o vosso "aplauso". Sabe sempre bem, sobretudo quando os actos são espontâneos e mais não fazemos porque a "vítima", ou antes, o acidentado, o não permite. O Zé já ia a caminho de casa do Pai para dormir lá no dia em que ele caiu, mas recebeu um telefonema (aos berros) para o dissuadir. Felizmente, no dia seguinte as coisas mudaram completamente. Preocupo-me bastante com ele por todas as razões e mais algumas. Não conheço mais ninguém que tenha vivido comigo 29 anos, que seja pai dos meus filhos e avô dos meus netos!!! È natural que não lhe queira mal nenhum e que vele pelo seu bem estar. Nada demais.
EliminarFelizmente o Manel é muito querido pelos seus familiares, sobrinhas Paula e Rita, ambas excepcionais em termos de responsabilidade e competência e, ainda pelos primos direitos que vivem aqui perto. Nunca estará só, penso eu.
Mesmo sabendo que a atitude dos meus filhos em relação a mim é o oposto da que têm com o Pai, chamo-os muitas vezes à razão e procuro que esqueçam o passado para que o presente seja mais risonho e as relações não azedem. Mas é difícil lidar com velhos - que se deixam levar pela depressão e o isolamento.
Devo dizer que o Manel foi à Rússia há duas semanas e a Paris há 4 meses ( de carro com um amigo) e se não fossem os problemas de saúde, seria diferente.
Bjo e obrigada.
Eu lidei com a velhice...e com o seu fim...
ResponderEliminarA vida cedo me tirou os meus pais e rapidamente alterou a minha vida, da mãe do meu pai, fez a minha mãe. Quando retornou de Angola fez de tudo para cumprir com um pedido do meu pai que com um tumor de rim pede para cuidarem de nós.
Foi a minha mãe durante uma vida cheia e tortuosa.
Assim vivi, no inicio sem perceber o que era a maravilha de ter uma família, pai, mãe, tios, avós, primos... porque a infância era mística tal como os anos 70.
Depois percebi e nuca liguei, era a minha mãe que no final era todas as criaturas familiares.
Quando terminei o 12º ano e sem meios para ir para uma faculdade dei-me como voluntário para o Exercito. 5 anos e 4 meses. Entre o Campo Militar de Santa Margarida e a Brigada da Nato, ainda estive em Espanha, Alemanha e norte de Itália durante 6 meses no inicio da Guerra da Jugoslávia. Além destas voltas ainda estudei Engenharia Eletrotécnica... mas os fins de semana em casa eram uma dor ao chegar a noite de domingo e a hora de ir embora.
Um dia ao conversar com outro oficial resolvi sair e ficar ele no meu lugar. Como eu gostava do mundo militar, mas tive que fazer uma grande escolha de vida, tal como ela fez por mim.
Assim iniciei outra fase na minha vida.
Em 1997 depois de umas férias em Londres, dizia que tinha umas picadas nos intestinos... talvez alguma coisa picante do restaurante indiano... em 3 dias ficou com barriga de grávida e só poderia ser um tumor. Foi operação complicada para uma pessoa de 85 anos e um recobro muito difícil, ao ponto de em conversa com os médicos assinar um termo e a trazer para casa. Fui o seu enfermeiro particular.
Para o estoma e sacos de colostomia fui à cirurgia do HSM e ensinado como proceder. Tinha de me virar...
Foi possível realizar posteriormente nova cirurgia para reversão e no dia dos meus anos e como ela queria veio para casa para festejar.
Na porta do Bloco Cirúrgico, o mesmo onde nasceu o meu filho, o cirurgião me diz que não vale a pena fazer tratamentos oncológicos devido ao peso e idade dela, mais depressa ela iria e que lhe daria 1 ano de vida.
Fiz do seu quarto um pequeno posto médico, tive muitos médicos amigos. Medicamento para subir, medicamento para descer, medicamento para etc... por várias vezes a recuperei e bem.
O que retiro é o olhar dela quando me pedia para a tratar. O drama humano da decadência e o inicio da falta de tudo e ficar dependente de alguém.
Viveu quase 5 anos mais e faleceu na sua cama, na sua casa e em calma.
Na noite anterior, ela adormeceu enquanto eu me despedia de visitas apenas lhe disse já venho mãe...
Poderia ter feito mais? Para mim mais poderia ter feito... e ai reside a dor do que não se fez...
Do futuro, do meu fim neste planeta, não sei como será o meu, mas que seja rápido. Viver com qualidade é bom, agora quando se perde...
Do meu filho João terei a amizade e carinho, pois como criança com Necessidades Especiais mais não lhe posso pedir quando necessitar dele.
Da minha filha Clara espero que tenha uma vida Feliz e Realizada. Nos sonhos da mãe ela é uma adulta perfeita e equilibrada e de bem com a vida.
Agora tem uma grande cumplicidade com o irmão e não vive um sem o outro.
Que tenha algum tempo para os pais e irmão nesse futuro próximo, mas sem stress :)
Assim é a vida em poucas palavras...
Bjos minha querida Gi, que muito me ajudou nesta minha passagem...
Miguel
Querido Miguel,
EliminarTranscrevi o teu longo comentário aqui como anónimo assinado. Espero que não te importes.
Tiveste e tens uma vida difícil, mas és um exemplo para mim. Sempre foste, mal te conheci. Não me quero alongar, mas sabes quão importante és na minha vida. Sei que posso contar com a tua amizade sempre. Tu também podes contar comigo, embora eu não seja tão generosa.
Ainda vais ter surpresas com o teu filho João. A vida dá muitas voltas. Desejo-te o melhor no futuro, a tua Mulher é uma heroína e a pequenina Clara uma jóia.
Um grande beijo