Transcrevo aqui a entrada de hoje do blogue Notas de Chá, por achar pertinente a questão abordada e concordar em absoluto com o que aqui é referido.
Presunções
Sinto sempre um aperto no coração quando ouço vaticínios sobre a vida de alguém.
Ele vai ter um fim triste. Aposto que ainda vai acabar sozinho…
Aparentemente, há quem tenha nascido no princípio do mundo e saiba ver o futuro dos outros com a clareza do vidro. No meio da vasta escuridão estrelada do universo, do mistério intricado que caracteriza qualquer vida, há quem não se coíba de desfiar a sua cartilha de verdades autorreferenciais e de predizer, sem pudor, futuros alheios que, de um modo geral, são sempre pouco abonatórios. Talvez a fraqueza que pressentem na vida dos outros os faça crer que a própria vida é uma marcha contínua de acertos e glórias. Talvez seja isso. Mas eu acho que essas pessoas de tanto acreditarem nas suas palavras acabam por perder a capacidade de ver. Definir o futuro de alguém é recusar a radical mutabilidade das coisas, negar o vasto emaranhado de estradas que compõe o mapa de cada vida. E quem é que já não se perdeu em atalhos? Quem é que não se enganou nas coordenadas? O caminho certo está sempre para além da linha do horizonte. Que olhar consegue abarcar a extensão e a profundidade de uma vida a acontecer por dentro, qual semente a romper a terra? O mundo pula e avança, ergue-se do peso das coisas e é nos desacertos que as pessoas se reinventam. Para viver, não é preciso pedir licença a ninguém.
Quanto ao fim propriamente dito, aquele que é inerente a todos os destinos humanos e ao qual ninguém consegue fugir, esse é sobejamente conhecido. Estamos todos no mesmo barco e nenhuma vida acaba bem. E esta mera evidência deveria ser razão suficiente para sermos mais solidários uns com os outros.
Fico contente por saber que a Virginia concorda com o escrevi.
ResponderEliminarFico tão revoltada quando ouço este tipo de "profecias"!
Um beijinho e obrigada :)
Obrigada, eu!
ResponderEliminarGostei imenso deste texto até porque neste momento estou a sentir na pele a angústia perante a doença e a morte. Lido com ela todos os dias. Adoro os seus textos e como agora não pede comentários, resolvi transcrever aqui as suas palavras sábias!
Beijinho
Que mania têm as pessoas de falar da vida dos outros! E então quando se trata de vaticinar, é com elas...
ResponderEliminarCada pessoa tem já a sua vida, sempre mais ou menos complicada ou complexa que seria suficiente para não se "meterem" na dos outros, acho eu.
Bjs
Seria óptimo se se metessem nas vidas dos outros para ajudar, partilhar, consolar...mas não querem é descobrir os podres, os defeitos e falhas alheias, comprazem-se nessa pesquisa!!
EliminarNestas últimas semanas tenho descoberto como é bom ser altruista e fazer o impossível para amenizar uma situação penosa. Sinto-me renascer e encontrar uma verdadeira razão de viver aos 70 anos.
bjinho
Gosto muito do que a Miss Smile escreve.
ResponderEliminarTento não fazer vaticínios negativos...
Consigo sentir pena deste tipo de pessoas, aliás, "pessoínhas". Provavelmente com vidas tão vazias, com falta de tudo (e não me refiro a bens materiais), que precisam de se imiscuir na vida dos outros para poderem sentir-se vivas.
ResponderEliminarGostei muito do texto.
Obrigada a autora e obrigada tia por partilhar aqui.
Beijinhos.
Só quando estamos em contacto com a morte é que realizamos que todos precisamos de alguém para poder viver. No man is an island...
ResponderEliminarBjinhos