sábado, 26 de janeiro de 2013

Meio-dia no jardim do Bem


Há um filme do Clint Eastwood, um dos melhores dele, que se chama : Meia Noite no Jardim do Bem e do Mal, é um filme negro, de crime e de sorrisos, com uma interpretação fabulosa de Kevin Spacey e John Cusack, que já vi várias vezes. Hoje o título da minha entrada refere-se a esse filme fabuloso.

Oiço no Brava um dos concertos que mais me emocionam já desde miúda, quando o ouvi pela primeira vez nos Concursos Viana de Mota de saudosa memória, dias e dias de música grátis na Aula Magna da UCL: o nº 2 de Saint-Saens. As teclas bailam na minha memória e sinto aquele nó na garganta que teima em regressar de cada vez que oiço os concertos da minha vida, este e muitos outros...



Hoje fui visitar o "meu" jardim ao meio dia.

Levantei-me tarde, mas não me apetecia nada começar logo a rever provas - centenas de páginas a conferir - e resolvi ir tomar o pequeno almoço ao cafe japonês do Jardim Botânico.




Estava uma manhã de sol luminoso e quente e como tinha chovido ontem todo o dia, as áleas estavam escorregadias - por um triz não caí ao tirar um foto mais arrojada - as folhas cobertas de gotas de água, todo o solo verde, as pedras cobertas de musgo, como só vi em Inglaterra e em Sintra, troncos cobertos de líquenes e um pântano tão verde quanto um campo de golfe. Atirei um ramito para ver o efeito e ele ali ficou estático, tal a densidade da água lodosa.



Acabado o concerto, segue-se o divinal Kissin a tocar Chopin. E o nó na garganta aperta-se mais...a minha Mãe tocava Chopin em tempos, há quase tanto tempo....que já nem há lágrimas que resistam.




As árvores continuavam esqueléticas em contra-luz,mas já havia pequenos brotos de folhas nos troncos cortados pelo machado. Também encontrei muitos troncos caídos, partidos e abandonados.

Mas as palmeiras erguiam-se lindas contra a fachada da casa rosa.

Este jardim encanta-me porque descubro sempre recantos, herança das famílias que cá viveram, espólio que se manteve intacto, desde as torneiras entupidas até às janelas enferrujadas, vidros completamente foscos do tempo, portões empanados, vestígios do passado ao lado das plantas vivas, que, também elas nos falam duma época que já não volta.



No portão, o insecto perdeu as asas...com o vento ou com vandalismo? Nunca saberei....mas ele lá está, mais réptil do que insecto. 
Simbolicamente, associo-o a nós todos, que, sem darmos por isso, vamos perdendo as nossas asas...


No Brava, ouve-se agora o último andamento da Sinfonia do Novo Mundo, de Dvorak, aquela que apresenta os constrastes entre o mundo eslavo e o ocidental, aquela peça que o meu pai se recusava a chamar de "novo mundo", pois, segundo ele, toda ela expressava a beleza do mundo antigo.

E agora...agora, choro mesmo sem querer como o grande maestro da Berliner Philarmonie.

O que nos vale é o canto dos passarinhos e o insondável mistério deste jardim aqui plantado.



2 comentários:

  1. Bom, isto parece duas narrativas confluentes, um madley de sensações e humores (?) que também não reconheço em si, Amiga. Será que deveria conhecê-la melhor...? :)) Ahahah... esta é a paga da que me deixou lá no Céu e Terra :)

    Quantos hectares é que terá o Jardim Botânico? É que deve conhecer todas as árvores e plantas que por lá vivem, ou não, cada dia vê coisas novas...?

    Bjos

    ResponderEliminar
  2. Nunca ouvist falar na corrente do pensamento. Virginia Woolf, minha homónima, escrevia livros seguindo o que lhe ia na alma...e no cérebro. presente e passado confundem-se como nos filmes com flashbacks.

    Mas si, conheces-me bem....sou de moods e luas...
    Conheces-me melhor do que eu conheço o Jardim....ainda não descobri tudo no paraíso:)).

    Bjo

    Medley é com e, não é???? Hahaha, deformação profissional:)

    ResponderEliminar