Como é possível gostar-se tanto do calor, andar a pedir aos céus que o sol venha em catadupas, a praia, o mar, as viagens, as idas cansativas até à costa e as vindas ainda piores?
Já estou na cidade há quinze dias e estou farta de sol. Apanhei suficiente nos dias em que estive de férias, embora só numa das semanas a água estivesse a uma temperatura sofrível. Houve nortada, tardes frescas, mas pelo menos respirava-se. Nunca gostei de água quente para banhos de mar. Não revitalizam, nem refrescam...
Hoje andei pela cidade de autocarro para ir buscar os meus exames radiológicos à Boavista - são 10 minutos de autocarro e outro tanto a pé e fiquei alagada. Dentro do hospital estava uma temperatura maravilhosa, no autocarro havia ar condicionado, em minha casa estão 24º, mas sinto-me sempre a suar, a suar, a suar. Só me apetecia estar dentro dum tanque frio.....
Confesso que o Verão para mim é longo demais...e depois faz-me impressão ver as plantas quase mortas, cheias de sede, a estiolar....as buganvílias já murcharam , os agapantos estão de luto, as dálias completamente secas....não é justo.
Venha a chuva, por favor, dois diazinhos de bom chover para apagar esses fogos malditos e limpar as poeiras. Sinto-me como as plantas, choro como elas.
Fica a qui o poema de Florbela Espanca, que me fez arrancar um 16 no exame de Teoria da Literatura, uma das melhores notas que tive na FLUL. Inspirador!
Árvores do Alentejo
Horas mortas... Curvada aos pés do Monte
A planície é um brasido... e, torturadas,
As árvores sangrentas, revoltadas,
Gritam a Deus a bênção duma fonte!
E quando, manhã alta, o sol posponte
A oiro a giesta, a arder, pelas estradas,
Esfíngicas, recortam desgrenhadas
Os trágicos perfis no horizonte!
Árvores! Corações, almas que choram,
Almas iguais à minha, almas que imploram
Em vão remédio para tanta mágoa!
Árvores! Não choreis! Olhai e vede:
- Também ando a gritar, morta de sede,
Pedindo a Deus a minha gota de água!
Florbela Espanca, in "Charneca em Flor"
Tema(s): Natureza Ler outros poemas de Florbela Espanca
Já estou na cidade há quinze dias e estou farta de sol. Apanhei suficiente nos dias em que estive de férias, embora só numa das semanas a água estivesse a uma temperatura sofrível. Houve nortada, tardes frescas, mas pelo menos respirava-se. Nunca gostei de água quente para banhos de mar. Não revitalizam, nem refrescam...
Hoje andei pela cidade de autocarro para ir buscar os meus exames radiológicos à Boavista - são 10 minutos de autocarro e outro tanto a pé e fiquei alagada. Dentro do hospital estava uma temperatura maravilhosa, no autocarro havia ar condicionado, em minha casa estão 24º, mas sinto-me sempre a suar, a suar, a suar. Só me apetecia estar dentro dum tanque frio.....
Confesso que o Verão para mim é longo demais...e depois faz-me impressão ver as plantas quase mortas, cheias de sede, a estiolar....as buganvílias já murcharam , os agapantos estão de luto, as dálias completamente secas....não é justo.
Venha a chuva, por favor, dois diazinhos de bom chover para apagar esses fogos malditos e limpar as poeiras. Sinto-me como as plantas, choro como elas.
Fica a qui o poema de Florbela Espanca, que me fez arrancar um 16 no exame de Teoria da Literatura, uma das melhores notas que tive na FLUL. Inspirador!
Árvores do Alentejo
Horas mortas... Curvada aos pés do Monte
A planície é um brasido... e, torturadas,
As árvores sangrentas, revoltadas,
Gritam a Deus a bênção duma fonte!
E quando, manhã alta, o sol posponte
A oiro a giesta, a arder, pelas estradas,
Esfíngicas, recortam desgrenhadas
Os trágicos perfis no horizonte!
Árvores! Corações, almas que choram,
Almas iguais à minha, almas que imploram
Em vão remédio para tanta mágoa!
Árvores! Não choreis! Olhai e vede:
- Também ando a gritar, morta de sede,
Pedindo a Deus a minha gota de água!
Florbela Espanca, in "Charneca em Flor"
Eu gosto do calor . Não gosto é dos incêndios que toldam o Sol e nos roubam o oxigénio indispensável à vida. Os incêndios são terríveis e levam a vida de tantos heróis, os bombeiros. Este ano já são 6. É uma autêntica calamidade. E uma pergunta se impõe. PORQUÊ???
ResponderEliminarUm abraço.
Também me custa pensar nesses homens e mulheres dedicados a uma causa que não os recompensa de modo nenhum e ainda ceifa vidas jovens. Vivi na Sertã que era um autêntico braseiro quando havia fogos. O meu marido ainda prendeu alguns rapazes acusados de fogo posto, mas as penas são curtas e nunca há certezas....não me admira que os actos de desespero ou mesmo alcoolismo levem a deitar fogo à floresta, é uma questão de vigilância e infelizmente a nossa é privada, nas mãos de pessoas pobres, sem meios para manterem os terrenos limpos......e o calor ajuda!!
ResponderEliminarBjinho