Pois é, elas fogem do mar quando ele está bravo, sobem para cima duma rocha, dum poste ou candeeiro, longe das ondas, longe dos homens e daí contemplam os céus e os céus contemplam-nas a elas...as nuvens descem, descem até se unirem à linha do horizonte, deixando uma fímbria de luz incandescente...
As gaivotas sabem que o mar é perigoso e não obedecem a praxes nem se expôem aos perigos inúteis por bravata até porque não são estúpidas como os homens.
Li hoje a notícia de que os jovens que pereceram na praia do Meco foram obrigados a entrar no mar pelo veterano da praxe e que já iam preparados para esse ritual, sem telemóveis e com a capa e batina.
Lemos isto nos jornais e mais parece a cena macabra duma seita americana qualquer num filme de Hollywood.
Mas não: passou-se cá bem perto, os jovens eram portugueses, os pais estão desesperados e o jovem sobrevivente estará cá e vai ter de contar a história da morte dos seus colegas indefesos.
Nunca pude com praxes, felizmente em Lisboa não as havia no meu tempo - agora é que instituíram essa estupidez a que chamam praxe académica. Os meus filhos tiveram de a fazer, tanto um como outro contrariados, a minha filha, felizmente, não aderiu e nunca teve qualquer represália...nem diploma de praxada..
Estava triste quando cheguei à Foz para almoçar no Tavi, um restaurante na Rua Sra da Luz, em cima da marginal e com uma vista esplendorosa do mar e do farol.
A Foz estava, como sempre, lindíssima, apesar do frio cá fora. Ainda aguentámos uma hora na varanda do Café dos Ingleses, o único junto à praia que não sofreu estragos aquando do Hércules, que varreu a costa e destruiu bares como o do Ourigo e da Praia da Luz do Porto.
Estive ali perdida a olhar para as nuvens - um céu inglês daqueles que eu adoro ver na paisagem britânica - e o mar em constante mutação de cinzentos prata, ouro ou chumbo. Um regalo para a vista cansada do Campo Alegre, por belo que seja.
Ouvi Leonard Cohen, um cantor de quem nunca me canso e que deixo aqui para os leitores do blogue neste domingo com sol....
Como uma ave no arame
como um bébado num coro de meia-noite
tentei, à minha maneira, ser livre
Como uma minhoca no anzol,
Como um cavaleiro dum livro de histórias antiquado,
tentei, à minha maneira, ser livre....
Leonard Cohen – Bird On The Wire ( London 2008)
Like a bird on the wire,
Like a drunk in a midnight choir
I have tried in my way to be free.
Like a worm on a hook,
Like a knight from some old fashioned book
I have saved all my ribbons for thee.
If I, if I have been unkind,
I hope that you can just let it go by.
If I, if I have been untrue
I hope you know it was never to you.
Like a baby, stillborn,
Like a beast with his horn
I have torn everyone who reached out for me.
But I swear by this song
And by all that I have done wrong
I will make it all up to thee.
I saw a beggar leaning on his wooden crutch,
He said to me, "You must not ask for so much."
And a pretty woman leaning in her darkened door,
She cried to me, "Hey, why not ask for more?"
Oh like a bird on the wire,
Like a drunk in a midnight choir
I have tried in my way to be free.
Paz aos jovens que, crendo ser livres, ficaram presos nos arames da praxe académica e enredados nas ondas do mar violento.
As gaivotas sabem que o mar é perigoso e não obedecem a praxes nem se expôem aos perigos inúteis por bravata até porque não são estúpidas como os homens.
Li hoje a notícia de que os jovens que pereceram na praia do Meco foram obrigados a entrar no mar pelo veterano da praxe e que já iam preparados para esse ritual, sem telemóveis e com a capa e batina.
Lemos isto nos jornais e mais parece a cena macabra duma seita americana qualquer num filme de Hollywood.
Mas não: passou-se cá bem perto, os jovens eram portugueses, os pais estão desesperados e o jovem sobrevivente estará cá e vai ter de contar a história da morte dos seus colegas indefesos.
Nunca pude com praxes, felizmente em Lisboa não as havia no meu tempo - agora é que instituíram essa estupidez a que chamam praxe académica. Os meus filhos tiveram de a fazer, tanto um como outro contrariados, a minha filha, felizmente, não aderiu e nunca teve qualquer represália...nem diploma de praxada..
Estava triste quando cheguei à Foz para almoçar no Tavi, um restaurante na Rua Sra da Luz, em cima da marginal e com uma vista esplendorosa do mar e do farol.
A Foz estava, como sempre, lindíssima, apesar do frio cá fora. Ainda aguentámos uma hora na varanda do Café dos Ingleses, o único junto à praia que não sofreu estragos aquando do Hércules, que varreu a costa e destruiu bares como o do Ourigo e da Praia da Luz do Porto.
Estive ali perdida a olhar para as nuvens - um céu inglês daqueles que eu adoro ver na paisagem britânica - e o mar em constante mutação de cinzentos prata, ouro ou chumbo. Um regalo para a vista cansada do Campo Alegre, por belo que seja.
Ouvi Leonard Cohen, um cantor de quem nunca me canso e que deixo aqui para os leitores do blogue neste domingo com sol....
Como uma ave no arame
como um bébado num coro de meia-noite
tentei, à minha maneira, ser livre
Como uma minhoca no anzol,
Como um cavaleiro dum livro de histórias antiquado,
tentei, à minha maneira, ser livre....
Leonard Cohen – Bird On The Wire ( London 2008)
Like a bird on the wire,
Like a drunk in a midnight choir
I have tried in my way to be free.
Like a worm on a hook,
Like a knight from some old fashioned book
I have saved all my ribbons for thee.
If I, if I have been unkind,
I hope that you can just let it go by.
If I, if I have been untrue
I hope you know it was never to you.
Like a baby, stillborn,
Like a beast with his horn
I have torn everyone who reached out for me.
But I swear by this song
And by all that I have done wrong
I will make it all up to thee.
I saw a beggar leaning on his wooden crutch,
He said to me, "You must not ask for so much."
And a pretty woman leaning in her darkened door,
She cried to me, "Hey, why not ask for more?"
Oh like a bird on the wire,
Like a drunk in a midnight choir
I have tried in my way to be free.
Paz aos jovens que, crendo ser livres, ficaram presos nos arames da praxe académica e enredados nas ondas do mar violento.
Sou absolutamente contra as praxes! É de gente parva, infantil, prepotente! Os meus filhos aguentaram isso, infelizmente e as recordações foram tão más que nunca quiseram comprar ou usar traje. O que contribui isso para o desenvolvimento pessoal de um jovem? Não percebo. Será que o enxovalhar, o ridicularizar e humilhar faz bem? Por favor...
ResponderEliminarQuando é que as Universidades e seus Conselhos Directivos tomam medidas? Quando acabam com isso e os põem nas aulas em vez de perderem dias da semana nestas fantochadas?
Desculpe Virgínia este desabafo, mas já chega. E algumas praxes tiveram tristes desenlaces...
Beijinhos e obrigada por ter abordado este assunto.
Maria Eugénia
Os meus filhos tb nunca usaram trajes - assim como o meu ex- que estudou em Coimbra, onde os anti-praxes eram ridicularizados e sofriam na mesma. O João levava a flauta para as aulas e dizia que tinha aula no Consevratório para o deixarem sair mais cedo. O Zé tb sofreu horrores em Braga, mas só o vi uma vez que lá fui por acaso.
ResponderEliminarSou como tu contra esta fantochada e acho incrível que os reitores permitam que elas existam. Em Leeds fazem uma semana de acolhimento aos caloiros com festas, visita guiada às instalações, apoio nas inscrições das atividades extracurriculares, expoisções, etc. Aqui o que é cultural fica de lado, o que interessa e amesquinhar, bully, torturar os jovens até à medula. Vejo-os passar aqui no Campo Alegre a altas horas da noite a cantar que nem desalmados….uma vergonha.
Ainda estou chocada com as notícias e só penso nos pobres pais, felizes por terem os filhos na universidade….
Bjinho
Há bocado com a história das praxes, esqueci-me de lhe falar na Tavi. Conheço a Confeitaria Tavi há mais de 50 anos! Vivi a minha infância na Foz, mais concretamente na Avenida Brasil, mas muito perto da rua S.ra da Luz. Os meus Pais faziam lá as compras de doces e outras coisas. O dono era amigo do meu Pai ( era seu conterrâneo) e tinha sempre um detalhe no Natal, quando fazia o nosso bolo-rei. Como sabia que eramos 4 meninas, punha sempre 4 brindes no bolo-rei! Era uma alegria sabermos que todas seriam contempladas. Guardo ainda um, desse tempo: uma palhota de madeira com palha no telhado e um negrinho à porta, tudo muito pequenino, claro. Tinha um fecho para espetar no casaco. Mais tarde e por razões de saúde de uma mana, saímos de lá e viemos morar para perto da Igreja da Lapa. Mas desde essa altura até hoje o bolo-rei é Tavi, claro!( mas agora sem brinde :-) )O dono já não é o mesmo, a decoração diferente, mas adoro ir lá para a esplanada. É um " conforto" que sinto, memórias boas...
ResponderEliminarBeijinhos da M. Eugénia
No meu Facebook puz há pouco uma foto do prato que a minha Luisa comeu hoje, salada de camembert, é lindo. Nunca lá tinha almoçado porque em geral, fico cá fora na esplanada dos Ingleses, mas vou lá comprar o pão - a regueifa é uma maravilha, acabei de comer há minutos uma fatia com queijo e estava fresquinha....
ResponderEliminarBoa semana, Geninha!!
Acolhimento aos novos alunos é uma coisa. Praxe é outra, tenebrosa.Sou radicalmente contra as praxes, que considero vexatórias e dão uma imagem muito negativa dessa juventude que a tudo se submete para, nos anos seguintes, ocupar a posição dos carrascos.
ResponderEliminarTambém gosto da Confeitaria Távi, desde há muito tempo.
Um beijo.
Nunca percebi como é que há quem simpatize com as praxes e ache óptimo para ambientar os alunos. Penso que é o contrário, distrai-os do essencial e pode mesmo traumatizá-los. Em Coimbra era um horror, as horas de saída, as pessoas com que saíam, tudo era controlado.
ResponderEliminarUma boa semana!