quarta-feira, 30 de abril de 2014

Descontentamento genético

Raras vezes falo de políticas ou discuto as minhas opiniões sobre o que vai sucedendo a esse nível.

Hoje, porém, após ouvir a Ministra das Finanças e Co., congratulo-me com a abolição da CES, que me roubava cerca de 200 euros todos os meses. Nunca concordei com ela e sempre achei que obrigar os funcionários publicos que já trabalharam 37 anos a pagar uma taxa de solidariedade é um abuso. E já durou três anos, já foram milhares de euros para os cofres do Estado para solidariedade à nossa custa. Se quiser doar o meu dinheiro, dôo para quem eu quero e sei precisar desse dinheiro, mas não aceito a imposição deste tipo de imposto. Porque é um imposto camuflado.


Sobe o IVA, pois sobe, mas ainda há muitos produtos que são dispensáveis ou não essenciais: tabaco, bebidas alcoolicas, restaurantes, carros, obras em casa, alimentação luxuosa ( vejam os pratos que são divulgados no Facebook e nos programas de gastronomia), férias, hotéis, spas e cuidados de beleza, operações estéticas, etc.
Há muitos portugueses que vivem como se não houvesse austeridade. Os jovens continuam a ir aos concertos, jogos de futebol, festas e discotecas. Não se vê nenhuma contenção nesse capítulo. Nem sei onde vão buscar o dinheiro.

Pergunto-me muitas vezes como é que ainda há tanta gente a viver bem e a queixar-se constantemente das políticas do governo. O Facebook é um chorrilho de piadolas e comentários destrutivos, videos e cartoons sem gosto nem bom senso. Nunca há sugestões construtivas. É a política da negatividade. Muito prática para quem não governa.

A verdade é que o país tem dívidas….há que pagá-las. Por nós todos.

terça-feira, 29 de abril de 2014

Dia Mundial da Dança


Nunca fui muito de assistir a espectáculos de dança só pela dança. Gosto da música mais do que das coreografias e sempre achei que , em Portugal, se dançava mal. Lembro-me de ver os Carmina Burana muito mal dançados pelo Ballet Gulbenkian em Lisboa. Os passos eram pesados e as bailarinas algo toscas.
Em contrapartida sempre gostei de filmes sobre dança, como o Isadora, que retrata a vida de Isadora Duncan, bailarina que introduziu coreografias libertas das regras clássicas que presidiam à maior parte das escolas de bailado e que tornavam a modalidade algo rígida e monótona. Também adorei o filme Pina, sobre Pina Bausch um dos melhores filmes que vi em toda a minha vida e cujo trailer podem ver aqui. 
Vi o Lago dos Cisnes no Coliseu de Lisboa e fiquei rendida à maravilha da sincronização de corpos e gestos ao sabor da maravilhosa música de Tchaikowsky. A história trágica dos dois amantes também contribuiu para esse encantamento.

Fico pasmada com a capacidade dos jovens - os meus netos inclusivé -  em gesticularem e mesmo praticarem a dança na rua, nas escolas, nos pátios e nos mais variados espectáculos de música que são transmitidos pela TV. Parece que já nascem dotados de uma apetência especial para dançar, o que não acontecia no nosso tempo, os nossos movimentos e gestos eram pautados por uma rigidez absoluta, havendo poucas pessoas que aceitassem a dança como uma catarse, uma maneira de fugir ao stress, uma libertação do corpo e do espírito. Felizmente hoje tudo se permite.

Amanhã vai haver um espectáculo de dança - com 150 bailarinos - na Avenida dos Aliados introduzindo a exposição Street Art Axa, no edifício AXA. Hoje será uma sessão de vídeos alusivo ao Dia da Dança.

Entretanto já se fizeram cartazes na estação do metropolitano dos Aliados, como se pode ver neste vídeo que aqui menciono, mas que não consegui introduzir.

http://youtu.be/vw39tJNuhsI


Viva a dança!





segunda-feira, 28 de abril de 2014

Soneto do amor e da morte - VASCO GRAÇA MOURA






soneto do amor e da morte

quando eu morrer murmura esta canção 
que escrevo para ti. quando eu morrer 
fica junto de mim, não queiras ver 
as aves pardas do anoitecer 
a revoar na minha solidão. 

quando eu morrer segura a minha mão, 
põe os olhos nos meus se puder ser, 
se inda neles a luz esmorecer, 
e diz do nosso amor como se não 

tivesse de acabar, sempre a doer, 
sempre a doer de tanta perfeição 
que ao deixar de bater-me o coração 
fique por nós o teu inda a bater, 
quando eu morrer segura a minha mão. 

Vasco Graça Moura, in "Antologia dos Sessenta Anos"


sábado, 26 de abril de 2014

Meditação

Tenho andado a praticar a meditação já há alguns dias - apenas uns 15m por dia - pois li em várias fontes que é um modo de chegar à paz interior e de nos sentirmos melhor.

A minha filha pratica-a regularmente e nunca falha. Já me explicou como faz para expulsar da mente todos os pensamentos e concentrar-se num foco apenas.

Hoje descobri que tenho dois sítios na casa onde posso facilmente meditar: na minha varanda, sentada na espreguiçadeira, olhando o céu. No meu atelier, sentada na cadeira de secretária, contemplando as árvores e o céu em frente.
 Hoje olhei para o céu durante uns minutos largos. As nuvens muito baixas deslizavam suavemente ao sabor do vento de oeste, da esquerda para a direita, acotovelando-se ao de leve. Por vezes um farrapo soltava-se e lá seguia na mesma direcção atrás dos outros flocos como se de um rebanho se tratasse. Também havia farrapos que se fundiam uns nos outros, como um casal em pleno acto de amor.
Jactos cruzavam os céus a uma velocidade vertiginosa, preparando-se para aterrar. Gaivotas - poucas - faziam os seus võos rasantes em liberdade.

Não pensei em nada enquanto olhava os céus. Só senti bem estar e paz. Nem o barulho dos carros me incomodava, não os ouvia...a minha mente estava completamente ausente.....

A meditação costuma ser definida das seguintes maneiras:

  • um estado que é vivenciado quando a mente se torna vazia e sem pensamentos;
  • prática de focar a mente em um único objeto (por exemplo: em uma estátua religiosa, na própria respiração, em um mantra);
  • uma abertura mental para o divino, invocando a orientação de um poder mais alto.

sexta-feira, 25 de abril de 2014

Dia da Liberdade


Que dizer neste dia em que todos dizem tudo, em que se repetem à exaustão os chavões de há 40 anos?


Ontem fui ao concerto da FEUP, que mais uma vez foi um êxito enorme. O auditório estava cheio e as suites foram tocadas com alma. Foi um óptimo começo de comemorações do 25 de Abril com a Arlesienne de Bizet e o Quebra Nozes de Tchaikowski. Ovações de pé. É fantástico haver uma orquestra académica.



Hoje fui a uma missa de funeral do irmão dum cunhado meu, que morava aqui bem perto e que eu conhecera aos 20 anos. Levou-o um cancro maldito. A missa foi linda, com cânticos muito apropriados e bem cantados e os depoimentos dos netos que, à vez ,vieram dizer o seu adeus pessoal ao Avô, falecido aos 70 e picos. Impressionou-me muito, pois para lá caminho.
O meu filho, que foi comigo, também fez os seus comentários, dizendo que a frase mais bela que ouviu  e que gostaria fosse o seu epitáfio, foi: Tudo o que fez, fê-lo com alma."  É verdade.
Mais tarde soube da morte do preparador desportivo do FCP, professor Hernâni Gonçalves que foi professor dos meus filhos no Colégio Alemão e que por coincidência, morava também aqui perto.   Fui falar com ele várias vezes ao colégio no dia da recepção aos pais. Era uma pessoa especial, muito portuense, embora nascido em Bragança.Desta vez não foi o cancro, foi coração. Mas também tinha 73 anos apenas.
Foto do site : Porto cidade que nos une ( liberdade)

Receio a morte prematura e cada vez penso mais nela, não sei porquê.

Hoje 25 de Abril, Dia da Liberdade, considero-me mais e menos livre. Posso fazer o que quero literalmente, mas fisicamente cada vez me sinto mais tolhida. Os sonhos ficam por terra.

Mas, pelo menos , enquanto aqui andar, quero fazer coisas com alma. Sejam elas quais forem.


quarta-feira, 23 de abril de 2014

Dia Mundial do Livro



Todos dizem aos quatro ventos que o livro é vital para o desenvolvimento intelectual das crianças e adolescentes, que enriquecem a sua imaginação e permitem võos mais altos. Cultura sem livros não existe.

Concordo. Não compreendo como é que se pode deixar uma criança crescer, entrar na escola, prosseguir estudos sem ter ouvido os pais ou avós a contar histórias, sem ter folheado uns livros em casa ou na biblioteca, sem olhar para as ilustrações, sem qualquer evasão.

Não compreendo que se ponham computadores nas mãos das crianças sem elas saberem ler bem e já terem lido sozinhas histórias próprias para a sua idade.

Os meus netos tiveram sempre uma convivência natural com os livros. Desde pequeninos que a leitura duma história antes de dormir era sagrada. Enrolavam-se na cama dos pais com um deles ou comigo e ouviam silenciosos a história escolhida por eles. Isso contribuiu para que, até aos seis anos, o livro fosse o brinquedo preferencial. Sem TV em casa, as ilustrações eram um mundo novo para eles... e ainda agora gostam de ler.

Como sempre li, não só em criança, mas também como adulta, na universidade e mesmo depois, considero que é criminoso descurar essa missão. É uma das coisas melhores do mundo....



Ficam aqui algumas citações sobre o tema:

Nunca viajo sem o meu diário. É preciso ter sempre algo extraordinário para ler no comboio.

Oscar Wilde

Um livro é uma janela pela qual nos evadimos.

Julien Green

O livro é uma extensão da memória e da imaginação.

Jorge Borges


terça-feira, 22 de abril de 2014

Earth Day - O Dia da Terra - 22 de Abril




O DIA da TERRA devia ser um dia ainda mais importante do que o Dia da Árvore, pois que o planeta Terra é a nossa casa, aquele onde vivemos, nós os humanos, onde somos felizes ou infelizes, onde respiramos, onde sofremos, onde festejamos as nossas vitórias e choramos as nossas derrotas, o único local que vamos conhecer em vida, aquele que devemos amar acima de tudo, respeitar e preservar sempre!

Escolhi algumas das minhas fotos mais belas para ilustrar o que escrevo. E uma canção que é um hino à Terra e um apelo para a sua preservação!












Novo concerto da Orquestra da FEUP


A orquestra sinfonica da FEUP vai realizar novo concerto no dia 24 às 9.30. O programa é aliciante e como vos disse já há meses, a orquestra toca maravilhosamente. Não percam! Os bilhetes tem de ser levantados com antecedência, como diz no cartaz!



sexta-feira, 18 de abril de 2014

Cem anos de solidão- Gabriel Garcia Marquez


Mudei de visual


Não resisti a colocar uma das fotos mais bonitas que tirei ultimamente como cabeçalho do blogue.
Ela é a expressão máxima da cor - a combinação dos azuis e verdes é indescritível - e da beleza da Natureza.

Atingimos os 45.000 visitantes, é boa altura de mudar, tanto mais que a foto anterior não foi muito apreciada....

Desejo a todos uma Páscoa com paz.

Apesar da chuva.....

terça-feira, 15 de abril de 2014

Crianças no parque romântico

É impressionante a energia das crianças.

Quase que dói quando nos sentimos alquebrados, tolhidos, incapazes de dar passos livremente sem medo de tropeçar.Canso-me facilmente, fico ansiosa e com saudades da minha juventude.

Hoje senti isso no passeio que dei pelo Palácio de Cristal na companhia dos meus netos. Eles correm, eles trepam, jogam à bola, escondem-se, saltam muros, tudo numa alegria contagiante que se apodera de nós. Por isso é bom estar com eles, embora nos sintamos cada vez mais velhos.


O Palácio é dos jardins mais belos que conheço. Tem árvores magníficas, antigas, áleas muito bem desenhadas, espaços luminosos, vista maravilhosa sobre o rio Douro.
É um local privilegiado, com pouca gente, romântico, um paraíso no centro desta cidade.



Está muito bem tratado e limpíssimo, apesar das gaivotas que competem com os pombos na procura das migalhas de pão que os visitantes deixam cair. Dantes levava sempre pão quando lá ia , desta feita nada levei.
Mas recebi um prémio, que até hoje em 30 anos nunca tinha visto. Um pavão abriu a cauda e posou para a fotografia. Por detrás e pela frente, autêntico modelo na passerelle. Os meus netos não queriam que eu me aproximasse, mas não resisti e consegui a foto da minha vida.

A vista do rio prateado por entre as árvores em contra-luz é um petisco para qualquer fotógrafo. Aqui estão as que tirei hoje.

Arvoredo







Antes de Nós

Antes de nós nos mesmos arvoredos
Passou o vento, quando havia vento,
E as folhas não falavam
De outro modo do que hoje.
Passamos e agitamo-nos debalde.
Não fazemos mais ruído no que existe
Do que as folhas das árvores
Ou os passos do vento.

Ricardo Reis

segunda-feira, 14 de abril de 2014

A cidade

Não há dúvida que sair para o meio do barulho da cidade faz, por vezes, bem à psique.
Tendo a fugir dos carros, das pessoas, das lojas e do barulho por vezes ensurdecedor dos autocarros e ambulâncias. Oiço-os quase inconscientemente a descer aqui o Campo Alegre e fazem-me companhia enquanto me sento na sala a tricotar, a ler ou a ver TV. Já quase nem dou por eles a não ser que tenha a janela aberta no verão.


Hoje resolvi ir à Baixa nos transportes públicos e contei o tempo que leva uma deslocação destas. Levei precisamente 20m para chegar daqui, de autocarro, ao Bolhão que fica no coração da cidade e 30m para voltar, tomando o metro+autocarro. Quase poderia ter usado o mesmo bilhete para as viagens todas. Só estive a fazer compras durante uma meia hora, pois tinha fisioterapia às 13.30. Tomei um pingo no café, dirigi-me à Casa dos Linhos - uma das lojas mais antigas do Porto - e à Casa Rocha, uma retrosaria que vende lãs e linhas, à antiga portuguesa.

Lembrei-me da minha Mãe que adorava ir aos retroseiros na Rua da Conceição, onde passávamos um bom bocado a comprar linhas para ela bordar, tecidos, fitas, elásticos, etc.
As idas à Baixa sempre foram uma aventura íntima entre nós e a nossa Mãe, acabando com um lanchinho na Expresso ou na Ferrari ( onde se bebiam uns batidos de morangos como nunca mais bebi na vida). Íamos de autocarro - o 43 - que parava na Praça da Figueira e passava na Av- do Restelo, não muito longe da nossa casa. Bons tempos em que pequeninas coisas como estas nos davam um prazer imenso....eram as papelarias, os armazéns do Chiado ou Grandella, o Ramiro Leão ou o Paris em Lisboa onde comprei o tecido para o meu vestido de casamento. Penso que já não existem...

Ainda hoje gosto de lojas pequenas e detesto hipermercados , onde temos de andar kms para encontrar o que desejamos, embora reconheça que é mais prático, apesar de tudo. Adoro lojinhas com empregados antigos, que nos conhecem e sorriem....cada vez há menos, mas não há nada como ser bem tratado.

Cheguei à conclusão de que ir para o meio do barulho faz bem à alma, quase tanto como estarmos no silêncio dos parques ou a ouvir as ondas do mar...

domingo, 13 de abril de 2014

Ontem

Foi um dia bom, no fim desta semana. No entanto, continuo com aquela angústia do avenir ( futuro nebuloso).
Almocei com o meu filho regressado de São João por 24 horas. Achei-o muito cansado e sobretudo, desmotivado para o trabalho da comarca que ele descreve como desumano. Diz que raras vezes almoça, por vezes sai pelas 5 para comer alguma coisa e volta para o tribunal, onde fica até tarde. Preocupo-me bastante porque o sinto mal fisicamente, a fumar muito e com necessidade de sono. Estivémos juntos umas duas horas, fui a casa dele arranjar-lhe um problema da caldeira ( as mães ainda são úteis) e depois vim-me embora, certa de que ele ia dormir uma sesta prolongada. Apeteceu-me deitá-lo, aconchegá-lo e fazer-lhe festas no cabelo como fazia quando ele era pequenino....mas enguli todos esses desejos, pois ele tem 33 anos e os gestos como as palavras têm de ser comedidos.

À tardinha fui jantar com a minha filha à Máscara. O sol estava a pôr-se, nem por isso muito belo, a neblina ofuscava o brilho do astro-rei. A lua ainda em crescente já assomava do outro lado. A paz era intensa, não se via muita gente, embora a noite estivesse quente , quase de verão, sem pinga de vento. O jantar estava divinal, resolvemos experimentar gambas em fondue e valeu a pena, os molhos estavam consistentes e os acompanhamentos muito bons. O sol morria no horizonte e ouviam-se músicas dos anos 80, que a minha filha reconhecia.

Sei que sou uma privilegiada, pois posso gozar destes prazeres da vida, que cada vez faltam mais a muitas pessoas. Também não me concedo nenhuns luxos, nem gasto quase nada em roupas , concertos ou objectos supérfluos. As minhas despesas são estas, uma vez por semana comer fora num local familiar, onde me sinto sempre bem.

O futuro ainda está longe, mas pergunto-me: o que farei para o ano, quando todos os meus estiverem fora? Estas duas máscaras retratam bem os meus estados de espírito.


quinta-feira, 10 de abril de 2014

O último

Hoje tenho a sensação de que fui a um velório.

Foi a despedida dos meus co-projectos editoriais.
O nosso projecto para o 11º ano Start-Up 11  foi apresentado com pompa e circunstância no Hotel Porto Palácio a uma centena de professores. Já tinha sido apresentado em Braga e na Póvoa. Amanhã segue-se Lisboa...e resto do país. Só irei a este, dado que não me sinto em forma para apresentar nada!

A minha colega Vanessa é que fez a festa com os vários elementos do projecto usando  Powerpoint e ligações tecnológicas adequadas dum forma brilhante, como é habitual nela, mas eu fiquei com uma sensação esquisita, a de que estava num "caixão" ao lado, a ouvir alguém a falar por mim pela última vez. :)


Estou a dramatizar, é claro, a minha filha gostou da sessão e não ficou nada com esta ideia.

Vim para casa triste, depois de ter falado com a gerente-mor da PE ( senhora já com 80 e tal anos) durante alguns minutos.
Não espero grandes resultados nas adopções, o marketing destes materiais é demasiado agressivo e manipulador  e muito pouco esclarecedor. Os professores são uma classe desconfiada e que não se deixa manipular facilmente, graças a Deus. Há pelo menos dez projectos de outras editoras para o mesmo ano, eles escolherão o melhor.

Sinto-me feliz por ainda ser do tempo em que os manuais não traziam as soluções ao lado, deixavam o professor usar toda a sua criatividade, não impunham os materiais audiovisuais a não ser que o próprio professor os quisesse usar, eram simples ferramentas, não uma panóplia de livros e CDs com oferta de fichas, testes, planos, etc.
Ainda bem que sou do tempo em que não havia Livro do Professor, explicando tintinportintin como se deve dar a aula e quais os objectivos da mesma. Tudo estava implícito e nós, professores e autores, éramos senhores do nosso tempo lectivo.

Sinto-me feliz, por, ao fim de 30 anos ( faz agora em Junho que saiu o meu primeiro manual), poder dizer que trabalhei muito e sempre dei o melhor que podia para que os professores tivessem ao seu dispôr os melhores ingredientes para as suas aulas. Houve alturas em que adorei o que fazia, outras em que foi um sacrifício colossal.

Mas agora basta, é tempo de me retirar.

Felizmente há memórias que ficam connosco e que nos recompensam de tudo o mais.
Talvez venha um dia a escrever um livro com recordações da sala de aula e do trabalho editorial....tenho tantas por onde escolher...

Hoje uma colega veio ter comigo e disse-me : o meu filho foi seu aluno no 12º ano. Chama-se Manuel Melo. ( Recordo-me bem dele, baixinho e muito esperto). Sabe que ele ainda hoje fala de si. Disse-me  que foi a melhor professora que teve na vida! (sic)

Será que valeu a pena, apesar de tudo? I wonder.....

terça-feira, 8 de abril de 2014

Cansaço

Hoje está um dia lindo.


Cheio de sol, céu limpo, com apenas algumas nuvenzinhas baixas. O sol é quente.

Não sei se por espirito de contradição, o meu corpo hoje ressentiu-se e muito com a mudança de tempo. Propositadamente, saí, fui até ao café, comi lá e dirigi-me depois ao Jardim Botânico para andar a pé durante uma hora. O ambiente era de paz, não havia quase ninguém, apenas um jardineiro, plantando uns malmequeres lindíssimos junto à fontezinha verde. Com o sol brilhante as flores do chorão sorriam para nós.





O meu corpo parecia que me pesava toneladas...doíam-me as costas, a nuca, as ancas e até a cabeça. Estava meio estonteada, não sei se seria a tensão, se outra coisa qualquer.

 Sentei-me junto ao jardim dos nenúfares, onde gosto de descansar e depois, de novo, no banco de azulejos, que no ano passado estava cheio de glicíneas em cachos e agora está quase vazio.

Não me sentia descansada...seria o barulho da VCI, que abafava o canto dos passarinhos, seria o facto do jardim estar meio fechado , com obras, nada aliciante, ou seriam as esculturas espalhadas pelo parque, quanto a mim ridiculamente colocadas nos meios dos canteiros ou penduradas nas árvores?


As flores bem querem crescer, mas o jardim está desalinhado, abandonado, triste. Só vi um homem a tratar das flores, pergunto-me porque não arranjam equipas de voluntários para trabalharem aqui? Já fiz esta pergunta há sete anos quando para aqui vim....seria fácil pedirem a estudantes de botânica e não só que se dedicassem a revitalizar partes do jardim mais carenciadas. Sei que isso se faz em Lisboa.

Restam-me as fotografias para meu consolo....


segunda-feira, 7 de abril de 2014

Já há muito

que queria pintar um quadro bucólico, que me recordasse a bela região onde o meu filho trabalha: São João da Pesqueira, em pleno Douro vinhateiro.

Fiquei apaixonada pela terra quando lá fui em Novembro. Nunca mais voltei, pois o trabalho da comarca é tanto que só iria importunar o meu filho....mas conto ir num cruzeiro quando o tempo estiver melhor.

As imagens ficaram-me aqui dentro....nunca mais me esqueço daquele miradouro S. Salvador do Mundo.

Ontem pintei este quadro. A foto não ficou famosa....mas gosto dela.


domingo, 6 de abril de 2014

Manuel Forjaz partiu

Tinha escrito há semanas sobre este Homem, que conheci através dum programa da TVI 24.

Hoje soube que faleceu, há umas horas. Senti a sua morte como se o conhecesse há muito, tal era a presença dele nas nossas vidas, através da sua mensagem, dos programas, do seu livro que li de fio a pavio em Leeds, da sua página de Facebook. Era uma Luz, mesmo sem o saber. Infelizmente o maldito cancro de que se ria, levou-o.

Fica aqui a minha homenagem a um Homem muito especial.


Funeral Blues

Stop all the clocks, cut off the telephone,
Prevent the dog from barking with a juicy bone,
Silence the pianos and with muffled drum
Bring out the coffin, let the mourners come.

Let aeroplanes circle moaning overhead
Scribbling on the sky the message 'He is Dead'.
Put crepe bows round the white necks of the public doves,
Let the traffic policemen wear black cotton gloves.

He was my North, my South, my East and West,
My working week and my Sunday rest,
My noon, my midnight, my talk, my song;
I thought that love would last forever: I was wrong.

The stars are not wanted now; put out every one,
Pack up the moon and dismantle the sun,
Pour away the ocean and sweep up the wood;
For nothing now can ever come to any good.

sábado, 5 de abril de 2014

Nem consigo acreditar

Hoje cheguei às 400 visitas até agora.

Cada vez mais, será que é engano?

No meu primeiro blogue tinha 500 por dia, mas neste eram uns cem. Nunca pensei que aumentasse assim de repente, tanto mais que nada faço para o publicitar a não ser por a referência no Facebook só para amigos.

Estou bem contente, pois estas coisas animam-me numa altura em que sentia o mundo a desabar....

Hoje fiz este quadro. A foto não está muito boa....ficou com reflexos, mas gosto do produto final.


Chove sem parar, mas as plantas estão viçosas e a primavera vibra em todos os cantos desta cidade.

Hoje vi imensos caracois a subirem pelos muros das casas aqui da António Cardoso. Nunca tinha visto coisa parecida aqui. Em Esposende, onde vivi, a humidade era de 100% todos os dias  e eu deixava apanhar os caracóis do jardim da casa dos magistrados quando me pediam.

Bem sei que faz falta o sol a muita gente, inclusivé eu. Mas ver as plantas cheias de gotinhas, as árvores viçosas à luz dos candeeiros aqui da rua e a a natureza toda resplandecente é lindo!

sexta-feira, 4 de abril de 2014

quinta-feira, 3 de abril de 2014

Down memory lane II - A Porto Editora


Voltei à Baixa para buscar os documentos do IRS, que a minha contabilista Teresa tinha guardado.

Ao receber aquele "espólio" de mais de dez anos de colaboração, senti como é penosa a perda duma pessoa como ela.
Falei longamente com o irmão, meu amigo também, poderíamos ter ficado ali a recordar tempos idos, tempos esquecidos, memórias do trabalho editorial na Porto Editora, o casamento do meu filho que ele fotografou.  Conheci-o na PE, era um fotógrafo exímio e uma pessoa muito inteligente com um elevado sentido de humor, que é das coisas que mais aprecio nos homens.
Houve tempos em que as equipas de autores trabalhavam em uníssono com todos os outros elementos: designers, coordenadores, fotógrafos, ilustradores. Até promovíamos jantares todos os anos para festejarmos os bons resultados das adopções. Éramos amigos. Um dia gostava de voltar a reunir todas essas pessoas que contribuíram para o meu/nosso sucesso e que nunca mais esquecerei.
Hoje em dia, tudo é impessoal e extremamente constrangedor, a comunicação faz-se por emails e raros são os encontros. Não sabemos quem é o/a designer, não falamos com quem grava os textos, praticamente não há contacto físico ou visual. Deixou de ser um trabalho entusiasmante...parecemos robots, formatados pela editora segundo padrões muito duvidosos e, usando meios de marketing que ultrapassam tudo o que se possa imaginar...e que eu rejeito liminarmente.

Este ano faz 30 anos que foi publicado o meu primeiro manual. Chamava-se WORK IT OUTe saiu em 1984. Era o primeiro manual tamanho A4, proposta que fizémos ao Dr. Vasco Teixeira ( pai do gerente actual). Isso encareceu o manual pois saía do tamanho standard, mas, em contrapartida,  privilegiava as fotografias que considerávamos essenciais para a compreensão dos textos. O manual teve um sucesso enorme e manteve-se bestseller durante mais de dez anos.
Muitos outros se sucederam, trabalhei em manuais do 5º ao 12º ano durante muitos anos sempre com enorme entusiasmo, mesmo quando o ministério resolvia modificar os programas e tínhamos de cancelar todo o trabalho feito.
Nunca me lembro de estar sem fazer nada, comprava materiais variados, revistas inglesas, CDs de música, livros na Livraria Britânica. lá encontrava tudo o que precisava, não havia internet, essa só apareceu nos anos 90 quando elaborávamos o manual Prime Time 12, que também obteve enorme sucesso. Na altura, não sabíamos as percentagens de adopções, nada nos era revelado, só sabíamos que muitas escolas os usavam. E até familiares e amigos.

Hoje tudo isso me veio à memória. Sem saudades. Foi um tempo muito difícil da minha vida, em que trabalhava 12 horas por dia ou mais, com três filhos pequenos, quase exclusivamente a meu cargo...o meu ex-, que trabalhava durante todo o dia no tribunal, não concordava com as minhas opções, embora eu soubesse que ele lia os manuais de fio a pavio quando saíam e até sugerisse por vezes textos que eu poderia usar. No fundo, achava o meu trabalho capaz.

Este ano tudo vai terminar, decidi que não farei mais manuais ou algo parecido.
Os métodos da Editora modificaram-se muito, a grande prioridade é o marketing e não os conteúdos. Não me adapto, nem consigo pactuar com certas decisões que só servem para nivelar por baixo e tornar os alunos cada vez menos aptos, mais aculturais.

Também tenho necessidade de tempo e espaço para mim e sobretudo, de não ter que obedecer a prazos.
Preciso de, finalmente,  viver a minha VIDA!