soneto do amor e da morte
quando eu morrer murmura esta canção
que escrevo para ti. quando eu morrer
fica junto de mim, não queiras ver
as aves pardas do anoitecer
a revoar na minha solidão.
quando eu morrer segura a minha mão,
põe os olhos nos meus se puder ser,
se inda neles a luz esmorecer,
e diz do nosso amor como se não
tivesse de acabar, sempre a doer,
sempre a doer de tanta perfeição
que ao deixar de bater-me o coração
fique por nós o teu inda a bater,
quando eu morrer segura a minha mão.
Vasco Graça Moura, in "Antologia dos Sessenta Anos"
Perde-se um grande poeta.
ResponderEliminarComo pessoa, não nutria por ele grande consideração.A sua última entrevista à Visão reforçou esta minha ideia.
Ab
Regina
Era uma pessoa que vivia noutra era. Muito intransigente e elitista. Mas como homem de letras, não posso deixar de o admirar, tinha uma inteligência acima da média e uma capacidade de trabalho espantosa. O Porto perde um intelectual de primeira água.
ResponderEliminarBjo
Concordo plenamente
ResponderEliminarAb
Regina
Também o admiro como homem de cultura. escritor, poeta, tradutor. Bastante diversificado mas sempre bom.
ResponderEliminarUm beijo.
Que coincidência publicarmos este lindísimo Soneto ao mesmo tempo, tu aqui e eu no FaceBook!..
ResponderEliminarProva que ambos admirávamos o VGM.
Politicamente divergíamos em muitos temas mas, no que diz respeito às Letras, e à sua intransigente defesa da verdadeira Língua Portuguesa e não a de um Acordo patético, admirava-o quse sem restrições.
Pena que os Portuguese deste calibre vão rareando a uma velocidade assustadora, e não se vislumbrem 'substitutos' do mesmo nível intelectual.
Olá, Mano
ResponderEliminarRealmente é interessante esta coincidência, mas gosto muito que estejamos em uníssono. Vasco Graça Moura era único, embora tenha conhecidos várias pessoas parecidas na FLUL: João Flor, o meu mentor, Yvette Centeno, minha porfessora, Vitorino Nemésio, etc. Duvido é que vão surgir muitos mais, dado que as Humanidades estão pela hora da morte e o que mais há é escritores de meia-tigela. Todos escrevem, mas a sua escrita é meramente comercial ou desinteressante. E quanto à tradução, não conheço ninguém que se disponha a traduzir clássicos como ele o fez. Até porque não há subsídios e as pessoas não vivem do ar.....nem das letras.
Sim, ele era muito conservador e intransigente, mas coerente nas suas ideias, que é um traço admirável.