Nos anos 60, era louca por praia.
Se podia metia-me num carro com os meus pais, irmãos, amigos e ia até à Linha, às vezes até ao Guincho que foi sempre para mim a praia mais linda daquela zona. O ar era selvagem, as dunas cobriam grande parte do areal, em miúdas jogávamos às escondidinhas por ali ou à apanhada, o que era mais difícil pois os pés enterravam-se na areia. Cascais ficava a 25 km de distância, mas o passeio valia a pena. Também havia o comboio que ia rente ao mar.
Sempre fui apaixonada do mar e nem sei como vivi 5 anos da minha vida - de 75 a 79 - em locais afastados 200km da costa. Mesmo assim, sempre que vinha ao Porto íamos até à Boa Nova em passeio.
Depois de vir para o Porto fiquei anos sem ir ver o mar aos fins de semana, o meu marido tinha muitos processos, eu tinha pontos para corrigir ou manuais para elaborar. Os meus filhos brincavam ali na rua ou na Boavista, pouco saíamos em família, o que matou muito o espírito e a união entre o pai e os filhos. Habituaram-se a vê-lo sempre com trabalho ou a ir visitar a Mãe aos domingos. Os miúdos também passavam tardes a ver TV em vez de apanhar ar.
Nas férias desforrava-me indo para a Praia da Luz quase todos os anos para grande alegria dos miudos, que lá encontravam primos e amigos de longa data. Eram dias felizes para eles e para mim, que desde 1966 passava férias nesse local e conhecia tudo.
O meu marido não gostava do Algarve. Já quando nos namorávamos, dizia que esse iria ser pomo de discórdia entre nós, pois estava habituado a ir para as termas com os pais e não aguentava o mar. Dizia que eu tinha uma energia inesgotável e que ele ficava derreado. Verdade seja que durante os anos de Coimbra, ele depauperou muitíssimo e a sua saúde era muito frágil. Estava magríssimo quando acabou o curso e recusava-se a ir para a praia, o que aliás não foi problema até casarmos em 1973. Passámos sempre as férias separados, como acontecia durante o ano, e escrevíamo-nos cartas longuíssimas, relatando o nosso dia a dia tão contrastante( Por vezes ele dizia que eu nem me lembrava dele na Luz, o que era completamente errado, pois lá tinha mesmo saudades dele!
De 1975 até 1993 fomos indo quase todos os anos, os miúdos eram pequenos e lá não pagávamos nada pois a casa era da família. A viagem era maçadora e longa, passávamos por Lisboa para ver a minha Mãe e seguíamos no dia seguinte, perdiam-se 4 dias na viagem. Lá estávamos bem, mesmo sem empregada e comigo a ter de fazer tudo. Sacrificava-me para eles estarem felizes, eu também gozava do ar de mar e da beleza que aquelas férias proporcionavam. O meu marido, porém, sentia-se sempre frustrado, não tinha a Mãe ao pé e não havia telefone, ao fim duns dias já tinha lido todos os livros das estantes - ainda lá há alguns sublinhados por ele - e as estradas eram más, de modo que nem passeávamos de carro. Começou a haver atritos.
Em 1993, decidimos passar férias separadas, ele ia para as termas com a Mãe e eu para o Algarve com os filhos. Penso que naqueles anos experimentámos todos os meios de transportes possíveis - até o avião que ficava caríssimo - mas nenhum era confortável e ainda tínhamos de apanhar taxis para a Luz. Eu fazia aquilo tudo por eles, tenho fotos de nós todos sentados no chão da estação de Tunes à espera do comboio para Lagos. As vezes íamos de camioneta do Porto toda a noite, mas esta levava 11 horas!! Em Valparaíso esperava-se uma hora às 8.30 da manhã e depois levávamos 2 horas até Lagos. Uma verdadeira aventura. Mas eu sentia-me jovem e feliz.
Uma vez, a minha filha e eu fomos de comboio à noite e enganámo-nos na estação de saída. Ficámos no meio do Alentejo às 6 da manhã sem transporte, nem telefones. Um horror!
O que vale é que tudo isso se esquece e quando chegava aquele paraíso terrestre que é a Luz esquecia-me das agruras para lá chegar.
Durante alguns anos, levámos amigos estrangeiros dos meus filhos que alinhavam connosco e eram interessantes. Lembro com saudades esses momentos.
Depois de me separar, comecei a ir para férias de avião na Ryanair com os meus filhos mais novos e tudo se tornou bem mais agradável. Ainda este ano, fui, em Junho, por esse meio. Leva-se 45m daqui até Faro e depois outros 45m de taxi até à Luz. Se não fosse o tempo de espera nos aeroportos, era fantástico.
A praia foi sempre para mim um escape à cidade. Verifico , hoje, que é o melhor antídoto para a depressão que me tem invadido nestes últimos meses. Às vezes , como hoje, nem saio com a ideia de lá ir, mas acabo por decidir na rua que é mesmo o que me apetece.
Basta apanhar o autocarro aqui no Campo Alegre e em 15m estou na Rua do Farol, onde saio. Em 5m estou na esplanada da Praia dos Ingleses, a minha favorita. Os empregados já me conhecem e sinto-me como peixe na água, mesmo em dias de nevoeiro.
Adoro aquela praia, as rochas de cores variegadas, os repuxos da maré cheia, as pessoas que se estendem ao sol com os seus piqueniques, as crianças a subir às rochas, os casais de namorados, todos felizes.Diverte-me tirar fotos como estas que aqui podem ver.
Oiço música, faço vídeos, contemplo o mar e acredito que ainda há coisas pelas quais vale a pena viver!
Se podia metia-me num carro com os meus pais, irmãos, amigos e ia até à Linha, às vezes até ao Guincho que foi sempre para mim a praia mais linda daquela zona. O ar era selvagem, as dunas cobriam grande parte do areal, em miúdas jogávamos às escondidinhas por ali ou à apanhada, o que era mais difícil pois os pés enterravam-se na areia. Cascais ficava a 25 km de distância, mas o passeio valia a pena. Também havia o comboio que ia rente ao mar.
Sempre fui apaixonada do mar e nem sei como vivi 5 anos da minha vida - de 75 a 79 - em locais afastados 200km da costa. Mesmo assim, sempre que vinha ao Porto íamos até à Boa Nova em passeio.
Depois de vir para o Porto fiquei anos sem ir ver o mar aos fins de semana, o meu marido tinha muitos processos, eu tinha pontos para corrigir ou manuais para elaborar. Os meus filhos brincavam ali na rua ou na Boavista, pouco saíamos em família, o que matou muito o espírito e a união entre o pai e os filhos. Habituaram-se a vê-lo sempre com trabalho ou a ir visitar a Mãe aos domingos. Os miúdos também passavam tardes a ver TV em vez de apanhar ar.
Nas férias desforrava-me indo para a Praia da Luz quase todos os anos para grande alegria dos miudos, que lá encontravam primos e amigos de longa data. Eram dias felizes para eles e para mim, que desde 1966 passava férias nesse local e conhecia tudo.
O meu marido não gostava do Algarve. Já quando nos namorávamos, dizia que esse iria ser pomo de discórdia entre nós, pois estava habituado a ir para as termas com os pais e não aguentava o mar. Dizia que eu tinha uma energia inesgotável e que ele ficava derreado. Verdade seja que durante os anos de Coimbra, ele depauperou muitíssimo e a sua saúde era muito frágil. Estava magríssimo quando acabou o curso e recusava-se a ir para a praia, o que aliás não foi problema até casarmos em 1973. Passámos sempre as férias separados, como acontecia durante o ano, e escrevíamo-nos cartas longuíssimas, relatando o nosso dia a dia tão contrastante( Por vezes ele dizia que eu nem me lembrava dele na Luz, o que era completamente errado, pois lá tinha mesmo saudades dele!
De 1975 até 1993 fomos indo quase todos os anos, os miúdos eram pequenos e lá não pagávamos nada pois a casa era da família. A viagem era maçadora e longa, passávamos por Lisboa para ver a minha Mãe e seguíamos no dia seguinte, perdiam-se 4 dias na viagem. Lá estávamos bem, mesmo sem empregada e comigo a ter de fazer tudo. Sacrificava-me para eles estarem felizes, eu também gozava do ar de mar e da beleza que aquelas férias proporcionavam. O meu marido, porém, sentia-se sempre frustrado, não tinha a Mãe ao pé e não havia telefone, ao fim duns dias já tinha lido todos os livros das estantes - ainda lá há alguns sublinhados por ele - e as estradas eram más, de modo que nem passeávamos de carro. Começou a haver atritos.
Em 1993, decidimos passar férias separadas, ele ia para as termas com a Mãe e eu para o Algarve com os filhos. Penso que naqueles anos experimentámos todos os meios de transportes possíveis - até o avião que ficava caríssimo - mas nenhum era confortável e ainda tínhamos de apanhar taxis para a Luz. Eu fazia aquilo tudo por eles, tenho fotos de nós todos sentados no chão da estação de Tunes à espera do comboio para Lagos. As vezes íamos de camioneta do Porto toda a noite, mas esta levava 11 horas!! Em Valparaíso esperava-se uma hora às 8.30 da manhã e depois levávamos 2 horas até Lagos. Uma verdadeira aventura. Mas eu sentia-me jovem e feliz.
Uma vez, a minha filha e eu fomos de comboio à noite e enganámo-nos na estação de saída. Ficámos no meio do Alentejo às 6 da manhã sem transporte, nem telefones. Um horror!
O que vale é que tudo isso se esquece e quando chegava aquele paraíso terrestre que é a Luz esquecia-me das agruras para lá chegar.
Durante alguns anos, levámos amigos estrangeiros dos meus filhos que alinhavam connosco e eram interessantes. Lembro com saudades esses momentos.
Depois de me separar, comecei a ir para férias de avião na Ryanair com os meus filhos mais novos e tudo se tornou bem mais agradável. Ainda este ano, fui, em Junho, por esse meio. Leva-se 45m daqui até Faro e depois outros 45m de taxi até à Luz. Se não fosse o tempo de espera nos aeroportos, era fantástico.
A praia foi sempre para mim um escape à cidade. Verifico , hoje, que é o melhor antídoto para a depressão que me tem invadido nestes últimos meses. Às vezes , como hoje, nem saio com a ideia de lá ir, mas acabo por decidir na rua que é mesmo o que me apetece.
Basta apanhar o autocarro aqui no Campo Alegre e em 15m estou na Rua do Farol, onde saio. Em 5m estou na esplanada da Praia dos Ingleses, a minha favorita. Os empregados já me conhecem e sinto-me como peixe na água, mesmo em dias de nevoeiro.
Adoro aquela praia, as rochas de cores variegadas, os repuxos da maré cheia, as pessoas que se estendem ao sol com os seus piqueniques, as crianças a subir às rochas, os casais de namorados, todos felizes.Diverte-me tirar fotos como estas que aqui podem ver.
Oiço música, faço vídeos, contemplo o mar e acredito que ainda há coisas pelas quais vale a pena viver!
Ora viva! Só hoje tive paz para a ler e ver as belas fotos. A minha gente, a canalhada como dizem no Porto debandou para as suas casas e países! Casa lotada com eles e alguns amigos, já poucos, porque também estão fora, e agora um silêncio interrompido pelas gargalhadas deles que ficaram como eco. Quando estamos juntos somos bem estridentes. O meu genro polaco vai se habituando, e já consegue rir das parvoeiras em que as histórias das férias, documentadas nos álbuns, de ano para ano vão sendo aumentadas e refinadas no humor. Já compreende os nossos estrilhos e o Algarve está presente em todos os nossos verões. Tudo para lhe dizer, que bom termos tido bons tempos,! A sorte que tivemos, ou a "competência que tivemos"de fazer com a ausência paterna, férias a valer com os filhos, e a energia que tínhamos! Valeu a pena. Os nossos maridos é que perderam, porque no meu caso, ele raramente consta nos retratos.
ResponderEliminarValeu a pena. Ao lê la, ri-me .Disse aos meus filhos para lerem o seu post.E os campeonatos do prego na areia, e os jogos de monopólio? Nestas férias, ainda fizemos um joguito, enquanto a minha neta brincava com o tablet. Com a rapidez da informação, as tecnologias que hoje não dispensamos, se avariam, sofremos como se fosse avaria na máquina de lavar roupa ou louça, eu só penso o que seria os nossos familiares que se foram, verem está realidade. Confesso que tenho pena de não poder ver o ar de espanto! É que os meus pais quando partiram, nem luz eléctrica havia na nossa aldeia. Admirável mundo novo! Um bom verão, e há ainda tanta coisa para vermos. Por causa do meu filho, sou uma fã da robótica. Nestas férias tive uns bons workshops... desculpe a extensão, mas não resisti. Um beijinho
Oh Julia, que bem me soube este post tão extenso. Há muito que tenho a sensação de estar sozinha no blogue. As pessoas lêem mais o FB, andam animadas, trocam fotos e mensagens e os blogues são chatos, já não há surpresas. De vez em quando apetece-me recordar cenas da minha vida. Tenho tantas, tantas recordações. Com a morte do M. veio tudo ao de cima, todos os dias descubro mais coisas sobre nós e analiso tudo, auto-analiso-me também e chego a conclusões que às vezes me elevam o ego, outras vezes me fazem perguntar porquê. Não se encontram respostas e fica-se depressivo. Ando assim há meses numa busca de mim própria. Obrigada pela sua partilha das férias com juventude. É tão bom estar com os filhos....
ResponderEliminarBjinho
Gostei muito das fotografias - gosto muito de praia, embora mais quando era criança, eu e as minhas irmãs íamos com a minha mãe - o meu pai muitas vezes ficava a trabalhar e não vinha connosco.
ResponderEliminarum beijinho
Os homens não são grandes amantes de praia salvo raras excepções. Os meus filhos gostam daquela casa porque é em frente ao mar e só se tem de descer umas rochas para tomar banho na prainha em baixo. Não troco as férias ali por nada deste mundo, este ano fui em Junho, mas vou voltar no dia 16 de agosto com dois netos. Obrigada pela tua mensagem. Bjinho.
ResponderEliminarOlá
ResponderEliminarFico contente por ver que, em boa hora, transferi a minha quinzena para "boas mãos". Sempre gostei de praia e se estou uns dias sem ver o mar começo a sentir frenesim - fácil: metememo-nos no carro e vamos dar uma volta até ao Guincho ou, na Lourinhã, até à Areia Branca ou a Peniche.
A energia do mar é-me necessária e não me imagino a viver (salvo por uma temporada curta) em Madrid ou no meio da Europa.
Aliás, não foi por acaso que escrevemos - eu e você - aquele livro sobre o mar. Ainda conservo a minha cópia, bem guardadinha!
O mar, aliás, é como o céu ou como as lareiras - sempre diferentes, sempre fascinantes - a mim não me causa ansiedade, pelo contrário, causa quanto muito nostalgia e energia criativa e contemplativa.
Nunca mais fui á Luz, mas não tenho grande vontade. Revejo as fotografias, "ressinto" as vivências, sobretudo quando ia com os pais, até fora de época, mas depois, para mim, as coisas descambaram. Não me arrependo, mesmo tendo sido alvo de muitos comentários "fraternais" irónicos e negativos, de, durante quase 20 anos, ter ido sempre para lá (durante quase 20 anos) com a nossa Mãe, em Junho ou Julho - fazia companhia, não se intrometia, respeitava os espaços e muito conversámos nós. Idem com os avós da Isabel. Agora a Luz, para mim, é um postal plurifacetado aqui na estante e tudo o que de bom e de menos bom aí aconteceu, mas sobretudo uma sensação de grande libertação de um jugo de um modelo infanto-juvenil que surge quando os irmãos não sabem crescer, sobretudo depois da morte dos Pais, e, por outro lado, de que "há mais mar para além da Luz"... e tenho descoberto-o em "n" lugares.
Muitos erros ortográficos e gramaticais de escrever "ao correr do teclado". Sorry...
ResponderEliminarTambém não morria se não fosse para a Luz todos os anos.
ResponderEliminarMorria, sim, se não pudesse fazer o que faço agora, ir à Foz e estar lá umas três horas em cima do mar, passear pelas passerelles, ir até ao farol, ver gente civilizada, etc.
A Luz foi sempre um escape para mim quando vivia amarrada ao Porto, trabalhava que nem uma moura e queria ver-me livre da minha sogra!! Recordo essas férias com nostalgia, mas não com muita saudade. Os miudos é que aproveitavam mais, eu cansava-me muito e volta e meia ficava depressiva. Mas ao ler as cartas - dezenas que escrevi lá nos anos 60, tenho a noção exacta do que aquilo representava para mim em jovem e que agora se avivou ainda mais com os pormenores que descrevia ao M. Hoje em dia gosto de ir para lá,mas só com pouca família. A ideia de ter a casa cheia não me é nada prazenteira, não cozinho, tomo pequenos almoços onde me apetece, janto fora, faço literalmente o que me dá na gana. Na realidade até gosto mais de Ofir para passar uns dias, pois tem piscina, tem restaurantes, tem uma praia lindíssima, tem pores do sol no mar, noites estreladas e está a 45km do Porto. A Luz será boa enquanto puder ir para lá com os netos ou a Luisa e o Zé. De resto ao fim de dez dias fico satisfeita....
Obrigada.
Uma boa noite! Retive a sua frase"há muito que estou sozinha no blogue", e ocorreu me o seguinte: toda a vida escrevi em cadernitos que iam para todo o lado. Era uma forma de descrever o que via mas sobretudo o que sentia. Com a chegada dos filhos, a escrita foi direcionada para documentar fotos deles e ao mesmo tempo dar lhes informação e crítica do que estava a acontecer com eles mas também o que se passava no país ou no mundo, uma vez que eles não tinham consciência mas, iriam gostar de ler quando crescessem. Eles têm quase um diário das duas vidas, até saída de casa para as faculdades. Quando se deu o divórcio, senti uma necessidade compulsiva de escrever. Estava só, eles só vinham a casa de quinze em quinze dias, funcionou como catarse, sem necessidade de recorrer a ajuda clínica. Acredite que foi sofrido, quase não comia, quando me deparei com tantos cadernos manuscritos, alguns de letra ilegível e passar tudo para o computador. Uma trabalheira, em que às tantas eu não pensava de acordo com o que tinha escrito, mas resisti a passar tudo. Claro que este trabalho demorou dois anos, numa frenética ansiedade de acabar, só pode ser feito quando me reformei da escola. Quantas vezes a tecla delete me pôs á beira dum ataque de nervos. Escrever, documentar e analisar sentimentos é muito doloroso. Entreguei um livro a cada filho, ficando a filha encarregue da parte de ilustração. É, ficou o assunto arrumado. A minha neta tem um e-mail desde que nasceu, irá lê los quando fizer 14 anos, e eu escrevo lhe vários, porque já serei bem idosa quando isso acontecer e ficarão muitas coisas para lhe dizer. Este meu cuidado de transmitir lhes opiniões e afectos, deve se ao facto de eu saber muito pouco dos meus familiares e criou se um vazio na minha adolescência. O que diriam se estivessem cá e o que eu seria se...os eternos If.
ResponderEliminarOs blogues só por uma sorte é que chegamos a eles. Eu só cheguei ao seu, porque apreciava o Miguel Portas, com quem tive contato político, após a morte soube do que a mãe escrevia e um dia adorei uma descasca sua ,muito bem dada a um comentário. Foi assim que cheguei a si.
Atrevo me a perguntar lhe, dirá se entender, até tem liberdade de não publicar e dizer me em messenger privado: por acaso o que escreveu ao longo dos anos após o divórcio, não foi mais libertador do que o que escreve agora, com mais intermitências, após a partida do seu marido? Quando se divorciou não fez grandes mudanças não digo no sentir mas na forma de estar na vida? Que bom ter tido hipóteses de se sentir amada! Mas...a vida embora um pouco louca, ainda tem muitas coisas para nos dar e já estamos em contagem muito decrescente, entre o que ainda queremos é o que irá ser possível.
Quem tem o seu sentido estético, música na alma e olhos com matizes de cores, não pode sentir se baixo,nem sózinha, quando muito, respirar fundo, porque já teve e ainda quer ser, mesmo que já não tenha.
Tente conseguir fazer reciclagem mental, a tal tecla Delete..
Beijinho da Júlia
Tem gralhas nos acertos mas penso que não vai alterar muito.
ResponderEliminarTenha um bom dia amanhã.
O seu post que só li agora fez-me chorar...
ResponderEliminarHoje sinto-me muito em baixo porque vou estar só nestes dias. Os filhos vão estar todos longe. Já estive um ano inteiro aqui no Porto com os filhos todos longe, mas não me lembro de sentir solidaõ como agora. Verdade seja que tinha o meu ex-marido vivo e ele nunca deixava o Porto, estava sempre cá. Quando eu fui operada mo ano passado, ele foi-me ver ao hospital e ajudou-me no que pôde. Mal eu sabia que um ano depois iria ser ele a estar tão mal.
Depois do meu divórcio, Júlia, não escrevi nada de nada. Estive sete anos sem escrever senão mails a amigos e livros para a editora. Tb tive problemas gravíssimos com a minha filha, que felizmente foram suplantados. Só comecei a escrever o blogue em 2009. Mas não gosto de escrever coisas muito intimas por causa dos meus filhos, eles têm muita relutância em le-los.
No mês de Março comecei a escrever um diário, como se fossem cartas para o meu marido, e já escrevi 170 páginas. Reli as cartas todas e fui fazendo comentários ao que nelas escrevíamos ou sobre o que fazíamos. Descobri muitas coisas sobre as nossas personalidades, os nossos sonhos, os nossos problemas e atritos. Foi como se visse filmes da nossa juventude, cinco anos em cartas. Os meus filhos não estão interessados em ler nada disto. Ainda estão chocados com a morte do Pai e não querem relembrar o passado.
Há momentos em que sinto uma vontade de viver enorme e mato todos os fantasmas que me perseguem. Outros em que me parece tudo negro e sem futuro.
Obrigada pelo seu apoio. É precioso nesta altura.
Beijinho
Como vai a reciclagem mental por essas bandas? Reciclar, no sentido de deitar fóra, não de transformar. Esvaziar mesmo, para deixar espaço na cabeça e no coração para o devir.
ResponderEliminarEstou a tentar compreende la, no que chama e sente de solidão. Não Imagino. Ou tenho tudo deturpado entre o que passou e está arrumado, com poucas hipóteses de sair, porque tal como os meus arquivos do computador, estão todos na nuvem da Google.
Ofereci em tempos idos, as minhas cartas de namoro á minha filha, a emotiva, porque ela já não é do tempo das cartas ridículas, como dizia o Pessoa. As relações dela já foram via NET. E... assunto arrumado. Se quiserem fazer uma noitada com um bom vinho, quando eu virar poeira, irão soltar gargalhadas. Estou a lembrar me do filme"As pontes de Madison', com a Meryl Streep...Se conseguir, pense nos relógios, nunca andam para trás. Se conseguir, vai sentir uma paz e rir se de si própria. Isto tudo, a nossa breve passagem, não é para ser levada muito a sério.
Vou até Moncorvo, por uns dias, estar com a minha sogra, com 95 anos, muito delilitada e já a querer desistir. Foi e é uma pessoa fantástica, que durante 25 anos que saí da família, nunca se esqueceu do meu aniversário, natal, Páscoa e de me fazer chegar através dos meus filhos, ou do meu ex ,de pequenas coisas que sabia eu gostar. Não sendo ela a dar mas, eu nunca mais as veria. Pequenos mimos. Vou ter um choque, porque só nos temos visto via Skype, com a ajuda do meu ex marido que a põe em contato connosco, sempre que vou ter com eles, embora falemos semanalmente.
Eu termos de sogra, fui recompensada.
Ao longo de todos estes anos, chegou me sempre a Peniche, o azeite, as alheiras, o presunto e muito carinho. Soube pela empregada que está bastante mal. Oxalá ainda consiga dar lhe uma tênue alegria.
Um beijinho para si, digo lhe, para mim é tão bom ter momentos de silêncio e paz.Se calhar...como em tempos me disseram, sou feliz com pouco. Será?
A ser verdade, ainda bem, porque valorizo tudo , esforço me para ser feliz e sinto me bem, com uma pena incrível de isto tudo estar a ser tão rápido...
Um beijinho para si.
Reciclo-me todos s dias, mas volta e meia caio na nostalgia e na ilusão. Fui sempre pessoas de sentimentos mais do que de razão, já o M. mo dizia. Daí que não consigo desligar a máquina do coração, tudo me toca nas cordas sensíveis, é a mºusica, são fotografias, são imagens, comentários, recordações. Durante 14 anos vivi sem o M. e não sentia a falta dele se não esporadicamente. Falávamo-nos regularmente, mas mais para dar noticias boas do que para conversarmos. Em tempo gravei-lhe 4 CDs com as nossas músicas e agora encontrei-os lá com comentários feitos por ele nas margens das listas que lhe dei. Tudo isto mexe comigo. Não há dúvida de que vivemos um grande, enorme amor. Hoje vi um filme muito belo sobre este tema: A História do Amor, vale a pena ver.
ResponderEliminarboa viagem até Moncorvo, é longe, o meu filho trabalha em Bragança. Também me apetecia viajar, mas não apanhar calor. Bjinho
Muito obrigada.Nao sei se vou ter net em algum café..a ver. Beijinho
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