quinta-feira, 13 de julho de 2017

O tricot e a nostalgia

Há muitas terapias para combater a depressão.

Uma é ir para junto do mar e contemplar o vai e vem das ondas, respirando o cheiro da maresia e deixando-se banhar pelos raios solares. É uma das que mais uso quando estou em baixo e este ano é dia sim, dia sim....ou quase.



Outra é fazer tricot e ouvir música clássica no Mezzo ou no Spotify, deixando que a melodia em consonância com o clique das agulhas me elevem a mente.

Quando era jovem, aprendi a tricotar com a minha Mãe, que tinha aprendido com a sua Avó. O método era diferente do da minha Avó materna que tricotava com a lã passada pelo pescoço ou presa num alfinete no peito. A minha Mãe usava as mãos para fazer tudo e foi assim que eu aprendi. Os dedos mexiam-se com uma rapidez tal que as pessoas ficavam a olhar para mim no autocarro ( nas longas viagens em Lisboa), na praia ou até no liceu. Eu adorava tricotar e fiz camisolas para a família inteira, até para o meu Pai.
Aos 20 anos resolvi oferecer uma ao meu namorado. Estava entusiasmada, comprei eu a lã branca e muito macia e levei-a para a praia da Luz, onde íamos passar férias pela primeira vez. Lá, apesar da vida animada que levava, tricotei grande parte da camisola pelas medidas que a minha sogra tinha tirado.  O M. não foi connosco , de modo que não pude provar-lha. Infelizmente, ou o M. emagreceu - na altura pesava 58kg e estava muito magro - ou as medidas não estavam correctas, a camisola ficou larguíssima, o decote em bico mal feito, enfim, foi um desgosto para os dois. Durante anos nunca mais tricotei para ele, embora continuasse a produzir modelos para os sobrinhos que não paravam de nascer e até para mim própria.
Quando estávamos em Chaves, em 1978, o frio era tanto que resolvi fazer um casaco para o M. com lã grossa. As camisolas de lambswool que ele tinha eram demasiado finas e não aqueciam nada. Comprei-a numa lojinha em frente ao tribunal, era fibra e lã e tinha uma textura fantástica. Também era dum azul inglês lindíssimo com uma leve mescla. Tricotei o casaco num ponto bastante complicado e com bolsos, o que fazia um efeito selecto.
O casaco ficou mesmo uma perfeição ( não estou aqui a gabar-me) e o M. usou-o durante mais de 30 anos.  Entretanto trouxe-lhe outros de York, onde havia shetlands magníficos, mas aquele era o seu casaco favorito. Já velhinho usava-o em casa para trabalhar.
Anteontem fui lá à nossa casa para procurar uns documentos e dei com o casaquinho pendurado num cabide no quarto dele, como se ele o tivesse usado na véspera. Vieram-me as lágrimas aos olhos...

Entretanto nasceram filhos e netos e já fiz dezenas de pulovers para eles todos.


Neste momento estou a tricotar uma camisola para a minha filha, que adora vesti-las em Leeds onde faz mais frio que cá. Oiço o concerto para violino de Beethoven, que podem ouvir no vídeo acima, tocado magistralmente no Mezzo.
Foi este o primeiro concerto a que assisti na minha vida. Tinha 10 anos e foi no Coliseu dos Recreios. Nunca mais me esqueci.

Saudades, nostalgia...impossível não querer regressar ao passado.

2 comentários:

  1. Aprendi com a minha avó só um pouco como tricotar, comecei um cachecol que depois não quis terminar, deve ser bom ser capaz de criar peças bonitas assim que depois são prendas muito especiais
    Lembro-me quando passei por uma perda que doía-me lembrar momentos bons que tinha partilhado, e que depois com o tempo voltei a sentir a felicidade de os ter vivido
    Espero que venham aí muitos dias bons
    um beijinho

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  2. Adoro tricotar e também fazer crochet, coisas simples. Se fosse a contar todas as peças que fiz na vida, não conseguia :)
    Os pulovers dos meus netos agora passam para os primos, é engraçado!!

    Bjinho

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