quinta-feira, 11 de abril de 2013

A expectativa

Tenho andado muito arredada do blogue por razões profissionais e também por falta de

inspiração.

Este tempo sempre a ameaçar chuva, com ventanias serôdias e destemperadas, o céu recusando-se ao sol e ao calor, pôe-me neura, inquieta e muito expectante. Espero uma primavera que não chega, sofro com a ideia de ter de enfrentar um grupo de professores e apresentar-lhes mais do mesmo ( ou não?), temo falhar no Powerpoint, faltar-me o tempo ou ainda sentir-me cansada e envelhecida após estes anos todos a trabalhar na editora.

Já fui à Guarda, hoje vou a Guimarães, sempre entusiasmada com o projecto, mas ciente de que esperam sempre muito de mim e nem sempre correspondo. A concorrência é enorme - deve have uns oito projectos para o 10º ano ( incluindo os britânicos da Oxford e da Longman e os espanhois da Santillana) e mesmo na editora há dois projectos paralelos que acabam por se complementar.

Este deve ser o último projecto que faço para o secundário e gostava de ter sucesso, não só porque investimos muitíssimo, trabalhámos horas a fio, sugerimos estratégias eficazes e acreditamos num ensino equilibrado.
Mas quem sabe o futuro? E quem sabe o que os professores querem, na realidade?


Ontem disseram-me que muitos colegas se estão a reformar com 50 e tal anos, pois já tem 36 de serviço e preferem uma pensão penalizada a continuar.

Fica uma geração a quem se pede um enorme esforço cada vez pior recompensado. Trabalha-se para a avaliação pessoal e para a reforma,  e não para os alunos,  numa concorrência desenfreada.

Vai longe o tempo em que os projectos se faziam por amor à arte, os passeios por carolice, as horas a mais por amor aos miúdos...a escola era um lugar simpático, ameno, acolhedor. Ser professor era uma vocação.

Agora a Escola é, para mim,  um lugar estranho, tudo "para inglês ( ou Ministério) ver"... e, quase sempre, para os professores subirem as suas notas... e alcançarem o almejado tecto. Os alunos são , apenas, um meio para alcançar os fins.

15 comentários:

  1. muitos colegas se estão a reformar com 50 e tal anos, pois já tem 36 de serviço

    Foi o meu caso, Virgínia, e não estu arrependido - posso ter perdido agum convívio e contacto social, mas sabe-me bem ser totalmente senhor de mim próprio, do meu tempo, das minhas opções, sem prestar contas, mesmo tendo a bolsa mais magra como tenho.

    Boa sorte em Guimarães, e em geral com o seu manual, que é certamente uma primeira escolha.

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  2. Não o censuro, aliás, compreendo que hoje em dia, nas condições em que se trabalha, deixou de ser uma carreira aliciante, é um peso e um sacrifício dar aulas. A começar pelas de 90 minutos, intragáveis....

    Infelizmente , e dado que fiz tese de licenciatura, só me pude aposentar com 62 anos e com 37 de serviço....mas gostei de ensinar e ainda lá estaria se não fossem as reformas horrendas operadas nos últimos anos.

    Ter o tempo livre é bom.....

    Abº

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    1. Virgínia:
      Vejo-a sempre assim, entre o desânimo e a angústia, cada vez que tem que fazer uma apresentação do seu projecto. Tal e qual como o artista antes do palco. É mesmo assim; faz parte do processo.
      Mas, apesar de não o conhecer, só pela maneira como fala nele e pelo amor que pôs no modo como o fez, tenho a certeza que o projecto vai ter o maior sucesso.
      Quanto ao que diz sobre a escola e a educação e sendo verdade que a situação não está nada fácil, também é verdade que ainda há coisas boas nos alunos, nos professores e nas escolas. Digo eu, que sou uma optimista!...
      E anime-se, que o sol já vem aí ;)

      Tudo a correr bem!

      Beijinho
      Isabel

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  3. Os agrupamentos, mega-agrupamentos e agora giga-agrupamentos foram a maior subversão da "minha" escola, a escolinha onde podia haver até algum investimento afectivo.

    Tal como as esquadras :(, defendi sempre "escolas de proximidade", de pequenas comunidades, nas aldeias inclusive.

    Hélas.

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  4. Isabel,


    Mal seria se não houvesse coisas boas nos alunos ( sempre houve e haverá, creio bem mais nos jovens do que nos adultos) e nos professores. Mas como diz o Mário houve uma subversão do sistema e a escola é cada vez menos autónoma quando devia ser o contrário. Para economizar os meios, deturpou-se a vertente pedagógica, a ideia de família, de centro decisório. Sei que trabalha na DREL e sabe que quase tudo passa por aí, quando devia era ficar e ser resolvido na Escola pelos agentes que lá trabalham. Na minha era tudo dependente da DREN, era a palavra que mais se pronunciava nos Conselhos Pedagógicos de má memória. A DREN ignorava o cerne do problema, mas tomava as decisões todas e algumas mesmo aberrantes, como o caso do meu colega Charrua, que deu brado nos media, ainda eu estava a lecionar.
    Detesto o sistema escolar nacional....desculpe! Há anos que se luta pela autonomia das escolas e cada vez se aperta mais o cerco às mesmas!

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    1. Tem razão, em geral, mas também há quanto a mim algum exagero no seu ponto de vista, porque no fundo tudo tem um lado bom e mau. A DREN e a DREL são, apesar de tudo muito diferentes. Defendo alguma autonomia para as escolas, mas não sei se elas a querem, na verdade!
      Agora que estou deste lado apercebo-me de muitas coisas que quem está numa escola só não tem noção. Se eu lhe fosse a contar as perguntas que as escolas nos fazem... Na verdade, mesmo a pouca autonomia que lhes é dada, em geral não a querem, porque é muito mais simples remeter todas as decisões para "instâncias superiores" e esperar que as soluções sejam impostas em vez de pensadas.
      O mal do ensino hoje são muitos males e o principal não é para mim a falta de autonomia das escolas, mas, sobretudo a extrema mediocridade da maior parte dos que as dirigem.

      Enfim, esta é uma conversa imensa e interminável, quem sabe um dia talvez possamos falar mais e melhor de tudo isto...

      Um beijinho :)

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  5. Olá Virgínia
    Essa angústia é bem compreensível. É o tempo e são os tempos. Todos andamos nervosos, ansiosos, sem saber o que virá amanhã e isso cria muito "stress". Mas acredito no bom êxito do seu trabalho, pelas suas excelentes qualidades e o seu grande empenho.E, mesmo sem a devida compensação, ainda há professores, cientistas, alunos, jovens, trabalhadores de uma maneira geral, muito bons,que trabalham por amor e que não deixarão morrer este País.E isso dá-nos algum ânimo.

    Um beijo e maior êxito para o seu projeto.

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  6. Habituei-me a olhar para as DR com bastante desconfiança. Na realidade eram o tipo de funcionários públicos que decidem , mas não dão o corpo ao manifesto. Nunca olhei para eles com simpatia e irritava-me com decisões que vinham de cima, eram impostas e complicavam imenso os processos. As escolas não tinham nenhuma autonomia, Isabel, NADA! Como dizia o director da minha, pessoa com uma classe aparte: "Temos a autonomia da miséria, podemos decidir o que não comprar, o que não fazer, o que limitar.....". Para se dividir uma turma em dois por indisciplina e dificuldades de ensino, era preciso pedir licença à DREN que dizia logo que não. Assisti a cenas incríveis nos processos disciplinares, eivados de uma burocracia idiota, que nos era imposta pelo ministério e que retardava as soluções até à última. Não, Isabel, as escolas habituaram-se a não usar da autonomia por força das circunstâncias:)) e...talvez por não quererem assumir responsabilidades também, acredito.

    Não a consuro por trabalhar para a DREL, mas desconfio sempre dos professores destacados para esse tipo de lugares....não são professores, são meros funcionários do Estado.

    Bjo

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    1. Eu trabalho na DREL (que agora se chama DGESTE) há três anos, Virgínia e não deixei de ser professora. No fundo, isto é para mim como uma "licença sabática", que aconteceu numa altura em que a minha escola mudou de direcção e se afundou completamente. Durante um ano vivi num inferno e fui profundamente infeliz. Por tudo, mas principalmente por ver destruído em poucos meses um trabalho que tinha levado anos a fazer e que consistia em tornar aquela escola um lugar de referência com um projecto consistente, pensado e feito com paixão. Quando surgiu a possibilidade de me ir embora, não pensei duas vezes. Mas lembro-me de ter chorado a tarde toda na véspera de me apresentar na DREL. Hoje, acho que foi a melhor coisa que fiz. Porque precisava desta pausa que me fez abrir os horizontes e ter uma perspectiva muito mais abrangente da educação. Mas continua a ser à sala de aula que eu pertenço e para onde vou voltar. E para os serviços do Ministério da Educação, como a DREL, também é bom ter lá pessoas como eu, que têm a visão do que é a escola vivida por dentro e muitos anos de experiência no "terreno", que é como se diz. As coisas não são todas más de um lado e boas do outro, no fundo era isto que queria explicar, e dos lados há muita gente a querer melhorar o estado a que chegou a educação. Por mais difícil que seja...

      Peço desculpa de me ter alongado tanto e deixo-lhe um grande beijinho
      Isabel

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  7. Muito boa noite!
    Em primeiro lugar, espero que o seu projecto tenha sucesso merecido! Imagino a sua ansiedade...não deve ser fácil...
    Quanto à questão das reformas antecipadas e a forma como hoje se olha para a escola, acho que é uma loucura! Indirectamente sei mais ou menos o que se passa, porque sou casada com professor que lecciona há 35 anos e há mais ou menos meia dúzia de anos é só confusões.Nunca o vi trabalhar tanto para o boneco. permita-me a expressão!
    Beijinho.

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  8. Sim o seu marido deve sofrer muito com estas alterações sucessivas e ridículas que o Ministério tem imposto as escolas. Aposentei-me em 2008, quando se começavam a ver os resultados desastrosos das medidas de MLR. Se havia falhas, melhor não ficou. Os professores passaram a ser "burros de carga", com responsabilidades acrescidas, presos a um sistema complicadíssimo.

    Muito obrigada pelo seu comentário.

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  9. Isabel, peço desculpa pela minha indelicadeza, levada ainda pela adrenalina da sessão que fiz em Guimarães. Ainda estou um pouco alterada depois de ter falado com colegas que já estudaram pelos meus livros, que dão aulas com eles e que me acarinharam duma maneira especial. Desculpe a minha falta de tacto ao falar tão friamente da sua posição. Não conheço ninguém nas DR, não se justifica esta minha atitude.

    Desculpe e não precisa de se justificar.

    Um beijo e boa noite.

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    1. A Virgínia não foi indelicada, apenas defendeu com demasiada veemência um ponto de vista que me pareceu excessivamente maniqueísta e foi isso que me fez reagir, na tentativa de explicar que não há de um lado o ministério, muito mau, e do outro as escolas e os professores, muito bons. E que o estado a que isto chegou se deve a políticas educativas sucessivamente erradas, mas também ao laxismo, à mediocridade e à incompetência de muitas escolas e de muitos professores, embora haja naturalmente no ensino, como em todas as outras áreas, excelentes profissionais.
      Não tem que pedir desculpa de nada, encerremos pois o assunto e olhe, eu gosto imenso de si!...

      Beijinho :)

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  10. Quanto a este seu post, só lhe desejo bons périplos Portugal fora, pois quanto ao vosso trabalho não tenho a menos dúvida que vos saiu do corpo, do talento e do coração!

    Beijos!

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  11. Vou ao Açores de 5ª a domingo. Não me queres dar umas dicas do que posso ver em duas manhãs e uma tarde?

    Telegráfico, claro. Vou andar de taxi, mas espero poder ir a sítios maravilhosos.....

    Bjo

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