sexta-feira, 31 de maio de 2013

Baffled expectations


Fui ver Great Expectations, como não podia deixar de ser. Filme inglês produzido pela BBC não me escaparia.

Mas foram esperanças vãs de ver algo de novo que me tocasse fundo ou se assemelhasse àquela maravilhosa tela matizada de humanidade, solidariedade e crueldade que Dickens expressa em toda a sua obra.

É um dos meus romancistas preferidos de todos os tempos . Li praticamente todos os seus livros desde miúda. Tremi de horror diante de Fagin como o pequeno Oliver, sonhei nos meus pesadelos que o homem terrível me vinha buscar. Chorei ao vê-lo a ser troçado pelos miúdos do orfanato e ri-me com David Copperfield ao chegar a casa da sua Tia Miss Trotwood, uma das personagens mais encantadoras e realistas da história do romance.
Sofri com os amores e desamores românticos e desesperados de todas as personagens femininas.
Vi os filmes e séries extraídas das suas obras, Hard Times, My Mutual Friend, A Christmas Carol, David Copperfield e mesmo esta obra Great Expectations.
Todos eles me fizeram estar pregada ao écran da RTP2, no tempo em que havia televisão em Portugal.

O filme é lindo cenicamente, bem interpretado, quase perfeito, mas falta-lhe alma e tem erros de casting monumentais, como a de Helen Bonham-Carter, que mais parece um desenho animado do seu marido Tim Burton do que a senhora abandonada em jovem no dia do seu casamento. A actriz que faz de Estella é completamente inexpressiva e repete tantas vezes que no lugar do seu coração tem uma pedra, que até acreditamos que houve transplante avant la lettre.



Os actores masculinos são excelentes, todos eles. Mas a história é atabalhoada, sobretudo para o fim, parecendo mais uma telenovela desbobinada numa época distante com actores muito sec XXI, demasiado inexpressivos e vazios.

Ultimamente, os filmes que vejo desiludem-me poucas horas passadas de os ver. Reajo ao retardador, talvez porque a música me embala sempre do princípio ao fim. Saio do cinema ainda sob o efeito do celuloide, mas depois de beber um café e conversar com a minha filha e de desabafar, passar a ponte d'Arrábida e chegar a casa, sinto sempre que, em vez de grandes esperanças tenho, afinal,  uma grande... desilusão.

quinta-feira, 30 de maio de 2013

As pontes de Porto County


Foto das pontes D. Maria  e de Dom Henrique, tiradas com o Ipod do comboio à entrada no Porto
As pontes do Porto são algo de inexplicável, que mexe connosco, muito mais do que pode parecer.

Vi nascer e crescer a ponte 25 de Abril em Lisboa nos anos 60, mas nunca me encantou, por ser igual à de S. Francisco e sobretudo, porque os acessos eram complicadíssimos, morosos e chatos em Agosto quando íamos para a Luz, feíssimos junto à Alcântara - zona onde tive de passar  e esperar pelo autocarro 38 centenas de vezes - o Largo do Calvário, nome bem aplicado a uma coisa que nem largo é, deprimente q.b.

A ponte Vasco da Gama é um monumento, lindíssima, mas quanto a mim já nem faz parte de Lisboa,  pertence ao concelho de Loures, assim como a Expo e não tem a ligação com a cidade que outras pontes têm.

Dantes , quando vinha da província ou de Lisboa e atravessava a ponte para entrar no Porto, sentia um certo calafrio, odiava os fins de semana em casa da minha sogra, a viagem cansativa, nada me seduzia aqui.
Agora após 33 anos a viver na cidade , a minha visão é completamente diferente, Aprendi a amá-la e é nela que me sinto em casa.
O tempo tem destas coisas e só quem não vive a sério é que não muda.
 pontes de D. Luis e de D. Henrique  vistas do rio

As pontes aqui no Porto são parte integrante da cidade e há fotografias delas, centenas, senão milhares, de dia, de noite, por baixo, por cima,  no FB, no Woophy, no FlickR, etc., sempre em sintonia com um rio de curvas sinuosas, azul, verde, espelhado em dias calmos, roxo ao final do dia, maravilhoso a qualquer momento...e romântico acima de tudo.

Hoje e, porque soube que a ponte da Arrábida vai fazer 50 anos e o seu autor, Edgar Cardoso,  faria 100 na mesma data, resolvi pôr aqui as minhas fotos desta ponte e de outras tão carismáticas como esta, uma homenagem aos locais que encantam qualquer um nesta cidade.

A ponte é algo de simbólico para nós, é a certeza de que há um outro lado, o traço de união, o chegar e o partir, o saudar o que é nosso e o despedirmo-nos com a certeza de voltar.

As pontes são essenciais aqui nesta cidade, sem elas ficaríamos presos numa ínfima parte do país, que é grande em termos de nobreza, mas diminuta como área ou região.

A ponte da Arrábida vista do Museu Romântico, ao fim da tarde


E não poderia deixar de lembrar o poema lindíssimo de Carlos T:



Quem vem e atravessa o rio

Junto à serra do Pilar

Vê um velho casario

Que se estende ate ao mar

Quem te vê ao vir da ponte

És cascata, são-joanina

Erigida sobre o monte

No meio da neblina.

Por ruelas e calçadas

Da Ribeira até à Foz

Por pedras sujas e gastas

E lampiões tristes e sós.

E esse teu ar grave e sério

Dum rosto e cantaria

Que nos oculta o mistério

Dessa luz bela e sombria

[refrão]

Ver-te assim abandonada

Nesse timbre pardacento

Nesse teu jeito fechado

De quem mói um sentimento

E é sempre a primeira vez

Em cada regresso a casa

Rever-te nessa altivez

De milhafre ferido na asa


quarta-feira, 29 de maio de 2013

A conquista do Everest

Faz hoje 60 anos.

Nunca esquecerei. Por várias razões.

A primeira é o facto de ter sido nesse dia que fiz a minha primeira comunhão. Tinha seis anos e o meu colégio ( inglês) preparava-nos para a cerimónia que se realizava na igreja dos Irlandeses do Corpo Santo. Não envergávamos nenhum vestidinho branco com lacinhos, apenas a farda do colégio vermelha escura e o chapéu de feltro com o emblema da rosa. Sentia-me muito especial naquele dia, pois era um momento solene na nossa infância.

Nesse mesmo dia, a escola esteve em festa, pois soube-se, entretanto,  que os dois exploradores Sir Edmund Hillary e o seu amigo sherpa Tenzing tinham atingido o cume do Everest pela primeira vez registada na História.
Desse evento foi feito um documentário, a Conquista do Everest, que vi no Tivoli pouco tempo depois e que me fascinou do princípio ao fim. Para mim, pequenita,  foi quase tão entusiasmante como a chegada do Homem à Lua em 1969. Os riscos eram enormes e não havia os meios , nem o apoio que há agora para aos milhares de aventureiros que se atrevem a subir sem oxigénio todos os anos.

Hoje comecei a pensar nisto tudo e senti-me feliz porque estou viva sessenta anos depois.

São as conquistas que nos fazem gostar da Vida.

 Como disse Hillary na altura: 

Nobody climbs mountains for scientific reasons. Science is used to raise money for the expeditions, but you really climb for the hell of it.

People do not decide to become extraordinary. They decide to accomplish extraordinary things.






terça-feira, 28 de maio de 2013

Em stand-by

Tenho andado um pouco longe do blogue, ainda que todos os dias venha cá ver os blogues amigos.

Não me apetece escrever, não tenho nada de novo para dizer, ando um pouco saturada de tudo, inclusivé dos livros que leio neste momento e que nada me trazem de novo.

O tempo está incerto, vejo as árvores aqui à volta sempre a esbracejar, cansadas de tanto vento, mas mais verdes que nunca. Hoje choveu à noite e apeteceu-me ir lá para fora dançar na chuva!!

Ontem comprei uma planta que ofereci à minha filha. É uma alfazema, bem grande. Plantei-a na floreira para ela cuidar. Cheira bem....e é linda. A hera também tem crescido e parece saudável.

Estou a trabalhar imenso no projecto do 11º, embora ainda nada saiba das adopções do 10º. Brevemente saberemos, mas custa esperar!


Ontem tive cá o meu neto mais novinho. Uma delícia de miúdo. Tudo nele é vivo, interessado, crítico e sincero. Adora conversar, fazer puzzles, lanchar, passear, ver bonecos do Ruca, que é parecido com ele. Apetecia-me que não crescesse, que ficasse assim...frase tão cliché, mas tão verdadeira.

A vida tem sido igual todos os dias...parece que o tempo parou, sim,  mas só para mim.



sábado, 25 de maio de 2013

Noites de verão

Ontem estava uma tarde quase de verão, embora fresquinha ,junto ao mar.

Repeti o que já faço há muito com a minha filha.
Fomos jantar à Máscara - onde se come uma fondue - num restaurante muito sui generis, cheio de máscaras, qual delas mais assustadora.


Os fins de tarde nesta época do ano são maravilhosos. O sol tarda em desaparecer e mesmo em dias sem história, é sempre  belo vê-lo desmaiar, quase diluir no horizonte cheio de bruma e dar lugar a uma lua  cheia que, mais tarde, surge quase do seu tamanho, brilhante e misteriosa...

Ficam aqui umas fotos que tirei....para recordar mais uma tarde de paz.

 Quando voltámos reparei que as luzes da Casa Andresen estavam acesas. Há agora uma exposição que é a da própria Casa, aberta ao público até às 22 horas.
Vale a pena....é das mansões mais bonitas que conheço em Art Nouveau, duma simplicidade e grandiosidade enormes.



sexta-feira, 24 de maio de 2013

Feira do Livro

Sempre adorei ir à Feira do Livro, desde miúda com o meu Avô, que me comprava um livro dos Cinco, comentando que era demasiado barato (13$00) e depois me oferecia um gelado no Casulo, até depois, mais tarde, nos tempos da universidade, em que conseguia pechinchas literárias em inglês ou francês por 2$50.
Gostava da Feira na Avenida da Liberdade, pertinho do Goethe Institut , onde andei durante três anos e que ficava por cima da Smarta ( ainda existe?), antes de passar para o Campo Santana.
Percorria aquela avenida para cima e para baixo e ficava feliz.

Depois de vir para o Porto, não perdia uma feira, quer chovesse, quer fizesse sol. Dantes era na Rotunda da Boavista, onde os meus filhos adoravam ir brincar, subir à estátua ou sentar-se na relva a folhear os novos livros. Ir à Feira era uma paródia, antes do S. João. Comprava livros para eles e muitos de BD para o meu ex-, que era um apaixonado do Corto Maltese ou BD belga e francesa. Não comprava muitos para mim, pois havia poucos em inglês e preferia ir à Livraria Britânica apetrechar-me.
Mais tarde a Feira passou para dentro de portas no Palácio. Confesso que senti a mudança, fechar os livros num local tão abafado foi um erro. Depressa mudou para os Aliados, onde fui umas duas vezes, sem grande entusiasmo.

Este ano resolveram não organizar a Feira. Pelos vistos os editores preferem os leitores de Lisboa, os outros não merecem tal.
Não me conformo e como vai haver uma feirinha simbólica num sítio adequado, convido-vos a irem lá. Pode ser que haja mais escolha!!


terça-feira, 21 de maio de 2013

É bom pintar

Nestes dias , nas horas vagas, pintei um quadrinho sui generis.

Comprei uma tábua de queijo redonda e resolvi pintá-la. Usei impasto para lhe dar mais volume e relevo. Depois foi só pintar com cores frias que são as que gosto mais....

Ei-lo.

domingo, 19 de maio de 2013

10.000 visitas

Sabia que ao mudar o visual do blogue iria atingir as 10.000 visitas.

Era uma premonição. :)

Segundo o meu neto mais velho ( 9 anos), consigo prever o passado!! Esta observação deriva de eu muitas vezes já saber os resultados do futebol à 2ª feira quando ele, coitado vê os resumos dos jogos do fim de semana, muitos deles desconhecidos, pois não tem TV em casa.

Não, infelizmente só revejo, não prevejo o passado e antevejo muito menos o futuro.

Quando recomecei o blogue no dia 1 de Janeiro de 2013, estava destroçada pela perda do antigo, apagado do mapa depois duma discussão familiar que nada teve de belo e teve muito de mesquinho.

Escrevi nessa altura:
A Lua vista aqui da minha varanda em dia de nevoeiro


Tenho aqui páginas que imprimi do meu blogue anterior. Inspiro-me nelas para recomeçar, pois parar é morrer....e eu espero viver ainda alguns anos aqui no ciberespaço, onde encontrei tantos leitores fieis, amigos e alguma (pouca) familia. Sobra-me vontade de recomeçar.

Continuo com a mesma garra. Dia sem blogue é um dia menos realizado.

Foto que foi postada ontem por um Amigo , Alexandre Matos, no meu FB.
Fica aqui um vídeo lindíssimo sobre o universo e  as galáxias com música dos MUSE, uma banda que vou ter o prazer de ouvir ao vivo no dia 10 de Junho no Estádio do Dragão. Já comprei bilhetes há meses.
Como no eclipse do sol ou da lua, que podemos ver aqui, a nossa mente e a nossa vontade acabam por se escapar da escuridão que nos impôem e abrir-se para a LUZ e para a VERDADE, quer os outros queiram, quer não.

É essa a definição de LIBERDADE!


Obrigada por estarem aqui.  I LOVE YOU!

Salvé a Primavera

Há muitas pessoas a queixarem-se desta primavera, que está fria, inconstante, chuvosa, desagradável e outros epítetos mais negativos.

Este ano estou a adorar esta estação do ano. Hoje cheguei à conclusão de que sou como as plantas ( mas não de estufa, detesto calor), preciso de todas as nuances


da época: o fresco pela noite, sol durante o dia, chuvisco pela manhã, contrastes de luz, nuvens com fímbrias prateadas - sinal dum futuro risonho - o arco~iris e vento temperado. E necessito de ver as árvores dum verde quase irreal que enchem a minha rua e encobrem as casas todas.

No ano passado, a minha filha esteve muito doente e foi internada durante um mês e meio de 15 de Abril a 2 de Junho em Inglaterra. Sofri muito, todos os dias ouvia a sua vozinha do outro lado do Canal da Mancha, todos os dias eu chorava e esperava pelo milagre como o Leonard Cohen, que coloco aqui em memória desses dias. Nem dei pela Primavera, confesso. Podia chover ou fazer sol. Só queria que a minha menina voltasse ao que era e viesse para casa.

Hoje ela está feliz, canta, dança, faz musculação, corre, ouve música, vê filmes e trabalha comigo. Somos quase insepararáveis e já nem consigo imaginar o que seria viver sozinha.

A p. da vida é linda. O MEC tem razão.

Arrumei-lhe hoje as dezenas de livros que vai comprando e pôe no chão do quarto empilhados porque já não cabem na estante que ainda no ano passado comprámos para o seu quarto. Passei todos os livros para o meu atelier, que estava mal arrumado com muito desperdício de espaço e couberam lá todos. Ficou lindo. Os meus quadros podem agora enveredar pela leitura séria, ja´que nada fazem encostados às paredes ou arrumados em prateleiras.

Hoje foi um dia calmo mas feliz. Por isso mudei o visual do blogue com a ajuda do meu Amigo Paulo que me reduziu a fotografia. Esta foto também ela é quase um milagre, pois as folhas e flores estavam colocadas assim pelo vento no lago junto ao rapaz de bronze, a fonte que inspirou Sophia a escrever o seu conto.

Há quem acredite em milagres. Na redenção humana.
No ano passado, confesso que acreditei.

Este ano venha a Primavera com todas as suas benções. Eu mereço.

sábado, 18 de maio de 2013

O verbo DAR

Durante toda a minha vida profissional - professora de Línguas materna e estrangeiras, com prevalência do Inglês, visto que fui também orientadora pedagógica durante quase vinte anos, ouvi e usei o verbo DAR centenas de vezes.

Diálogos frequentes na sala de professores ou na escola, onde quase só se falava das aulas:

1.
A- O que vais fazer agora?
B. Vou dar aulas até às 13.30. Ao 9ºB e 9ºC.

2.
A. Já deste os Lusíadas este ano?
B. Não, mas detesto dar os clássicos a miúdos que detestam ler. Só os dou pela rama e mesmo assim....

3.
A. Dei agora um teste aos alunos do 10º e foi um desastre. Dei-lhes a matéria toda que els tinham de estudar e mesmo assim...
B. Deixa lá, depois dás-lhes as notas que eles merecem.

4.
A. Estou chateada porque não consigo dar o programa todo. É impossível.
B. Dás o que puderes e depois escreves na acta que não deste estas rubricas por falta de bases dos alunos. É fácil.

5. Há quantos anos estás a dar Inglês? Nunca deste Alemão?
Sim, dei Alemão há uns anos, mas depois deixei de dar e agora é difícil.

6. Aluno A.  Ó Setora, nós não démos nada disso no ano passado.
Professora: Têm a certeza. Vou verificar se deram ou não.

7. A. Ainda ontem lhes dei o Present Perfect e hoje já vou ter de dar o Conditional. Este programa é só gramática!

Estes são apenas exemplo do uso do verbo DAR na Escola.

Em Inglaterra não se usa GIVE a toda a hora ( embora se use por vezes, em give tests/marks, por exemplo) e em França DONNER está fora de questão. Na Alemanha não me consta que se use GEBEN em tarefas pedagógicas. Os professores não dão nada de nada nesses países. :)

DAR é um verbo cujos significados e exemplos são múltiplos, segundo um dicionário online:

1.oferecer

2. dar um pontapé/um murro/ uma estalada -
3. dar /prazer/ medo - causar 
dar problemas - causar problemas 
dar fome/sede - causar 
dar uma festa /um passeio - fazer
4. dar parabéns/cumprimentos/ pêsames - apresentar
5. produzir
6. dar um berro - gritar
7. dar as boas noites - dizer

Oferecer e Produzir são os únicos verdadeiramente positivos nesta lista de exemplos.

Dar em sentido pedagógico nem está aqui contemplado. Mas é aquele que mais se usa na gíria professoral. Sem grande sentido, como podemos ver:

  • não se dá um teste - Submetem-se os alunos a uma avaliação e atribuem-se notas depois.
  • não se dá o programa - ensinam-se as rubricas obrigatórias, procurando que os alunos os interiorizem, pratiquem e assimilem.
  • não se dá aulas - uma aula não é uma festa...e nela tanto o professor como os alunos trabalham, aprendem e adquirem conhecimentos.
  • não se dá uma língua - ensina-se uma língua, materna ou estrangeira.
  • não se dá notas - atribuem-se notas ou níveis segundo o mérito dos alunos, não por caridade do professor.
Era bom que se oferecesse muito e sobretudo que se produzisse ainda mais. Seria bom dar menos ( se é que se dá alguma coisa) e  conseguir melhores resultados.
É maravilhoso semear, ver as plantas a crescer e a dar frutos.



( não levem muito a sério o que escrevi, foi apenas um exercício de semântica para me entreter num sábado com muito sol e céu azul)

Bom fim de semana a todos!

E já agora um conselho aos colegas quase no fim do ano lectivo:

PROFESSORES, DÊEM TUDO POR TUDO PARA QUE OS VOSSOS ALUNOS DÊEM O SEU MELHOR!





quinta-feira, 16 de maio de 2013

A leitura dos "clássicos"

Tenho andado em picardias com a autora do blogue Isto e Aquilo, Isabel Mouzinho, por causa dum artigo de Vasco Graça Moura  sobre a leitura dos clássicos nas Escolas e a necessidade imperiosa de manter a sua obrigatoriedade para que os alunos aprendam a ler, a falar e a escrever correctamente.
Embora tenha sido uma leitora compulsiva até aos meus 17 anos - não havia dia em que não lesse romance, poesia, revistas ou jornais em português, francês e inglês ( para mim línguas completamente acessíveis pois andei num colégio inglês até aos 10 anos e tivémos uma rapariga suiça a viver connosco durante dois anos, que só falava francês), não creio que se incentive a leitura forçando os alunos a ler clássicos.
Fui uma privilegiada, sem dúvida, mas os meus pais preferiam gastar na nossa educação do que em grande luxos, aquilo a que chamo supérfluo, como roupa cara, produtos e cuidados de beleza, iguarias ou mesmo objectos que, hoje em dia, as pessoas "ricas" ou novas-ricas consideram indispensáveis. Na minha casa, porém,  não faltavam livros.
Havia livros em tudo o que é quarto ou sala ( e até na casa de banho) e a minha Mãe queixava-se dos "molhos de couves" que encontrava abandonados em todos os cantos, depois de terem sido lidos e relidos por nós oito.
Colecção Azul, Livros dos Cinco, Berthe Bernage,




Virgínia de Castro e Almeida ( autora de Céu Aberto e Em pleno Azul), Clássicos para crianças e jovens, biografias da colecção de Adolfo Simões Muller, Pearl Buck, Somerset Maugham, Erico Veríssimo e Jorge Amado, Livres de Poche e Penguins, sem falar de todos os clássicos portugueses, que estavam encadernados no escritório do meu Pai, João de Barros, Eças, Camilos e até os Discursos de Salazar!! 
Era um nunca acabar de obras,  que tínhamos sempre à disposição. Não me lembro de não ler.

Aos 18 entrei para a FLUL e aí tive mesmo de o fazer por obrigatoriedade. Todas as cadeiras nos obrigavam a ler, até em alemão com apenas dois anos de aprendizagem dessa língua. Fiz cadeiras de literatura, lendo clássicos, medievais e modernos. Li treze peças de Shakespeare por um calhamaço em papel bíblico com letra minúscula que tinha comprado muito barato na Livraria Universitária e ainda o tenho anotado por mim, com remissões aos temas e personagens. À quoi bon, diriam os franceses. What for, os ingleses!!


Pergunto-me para quê tanta exigência se, depois de fazer a tese de licenciatura sobre treze obras de Graham Greene e de acabar o curso com uma média alta, fui dar aulas a alunos de 12 a 17 anos que não conseguiam ler nenhuma obra literária em português ou em língua estrangeira, nem sequer perceber extractos de muitas delas?
Na Sertã, onde estive dois anos e ensinei Português, foi um castigo para lerem Constantino Guardador de Vacas e de Sonhos no agora 7º ano ou Esteiros de Soeiro Pereira Gomes, em Chaves. Até fizémos uma peça para eles compreenderem alguma coisa do que estavam a ler. Será que valeu a pena? Os miúdos eram resineiros ou lavradores e só andavam na escola até ao agora 9º ano. Queriam era saber de mecânica ou de culinária para se safarem no futuro.

Também nunca compreendi como é que se aprende inglês lendo os clássicos.

Para aprender inglês bem, é necessário falar, falar, ouvir, ouvir, ler de tudo e sobretudo, escrever. Os modelos - textos - têm de ser em inglês global, comunicativo, moderno, contemporâneo, é uma língua em constante mutação e muito mais difícil do que parece porque é idiomático e improvisado, sem grande lógica ou regras. Para alem de ter um vocabulário riquíssimo.
Ninguém escreve como Shakespeare, nem Goethe. Isso é para intelectuais, que traduzem ou escrevem monografias sobre os mesmos, que ninguém lê. Não para jovens em idade escolar de todas as origens com necessidades pragmáticas, específicas e sobretudo comunicativas.

Hoje comprei o último livro de Miguel Esteves Cardoso e li umas páginas na Leitura. O Miguel não escreve bem, nem fala bem. Diz muitos "não sei quê" e faz gestos, sorri e usa meias palavras para responder.  Pode-se ver isso bem na entrevista que deu na RTP recentemente.

Mas é um óptimo cronista e comunicador, um caso raro de simplicidade aliada a uma inteligência e sensatez enormes.

O seu livro vai fazer bem a muita gente e pode ser lido por qualquer um, o que para mim, é a máxima virtude.

quarta-feira, 15 de maio de 2013

Dia Mundial da Família

Nunca deveria ser um dia de semana.

As famílias querem-se livres do trabalho e da escola para poderem celebrar o Dia a que têm direito por inerência do cargo.


Ser família, hoje em dia, exige muito. Exige que Pai e Mãe se amem e se entendam. Exige que filhos respeitem os Pais e os Pais compreendam os Filhos. Exige que haja Avós e Avôs por perto.
É muita coisa.

Não sei bem o que é uma Família. Mas sinto que tenho uma, que sempre a tive, mesmo quando os três filhos estavam fora de casa - uma década quase - e vivíamos numa espécie de ilha, eu e o meu ex-. A Família existia.

Os meus filhos não são obrigados a nada. Como eu não sou obrigada a ser Mãe ou Avó. Faço-o por gosto e não me cansa... porque sempre pude optar.

Nunca quis ser Avó ao serviço, à disposição, full-time,  sem vida pessoal, nem desejos meus.

Sempre tive vida própria e quero tê-la enquanto puder.

Hoje os meus três netos vêm cá depois da Escola. Calhou bem. Vou-lhes pedir que desenhem ou pintem a Família. Cada um deles pintará a sua. Com acrilico, com pastel, com lápis de cor ou aguarelas. A escolha é livre.

Só lhes ponho uma condição: não vai haver TV para ninguém;-)

Sete da manhã

Céu rosado.

Cornijas bem definidas na skyline da minha varanda.

Árvores farfalhudas agitando ao  vento, que, segundo dizem, vem de norte.

Veículos descendo a estrada outrora alegre.





Que aconteceu aos pássaros, que saltitavam aqui na rua

Que é das gaivotas que à paisagem chamavam sua?


Tudo pára na cidade ou entra na rotina,

Tudo se cala ou se faz buzina.




domingo, 12 de maio de 2013

To the wonder III - ALBERTO CARNEIRO - ARTE/VIDA



Ando em maré de extasiamento perante a primavera e esta cidade.

Com os sentidos à flor da pele - a música do filme ainda vibra aqui no meu cérebro e não me canso de a ouvir - e um desejo de evasão cada vez maior, nada como sair e ir até Serralves num dia esplendoroso como este.
Quisera que todos pudessem fazer o mesmo. Não acredito que se possa usufruir de espaços mais belos do que este,  unindo a estética, a cultura e a natureza . A primavera no seu esplendor, este ano, mais bela do que nunca.

Botânico ontem encantou-me com a sua floração intensa e não me canso de olhar para as fotografias que lá tirei. Hoje, Serralves foi o corolário desta evasão to the wonder .

Exposição de Alberto CarneiroArte e Vida.  Já conhecia parte da sua obra desde que a Utopia organizou uma visita guiada à sua exposição em S. Tirso; escultor original, usa a madeira em bruto, troncos de laranjeiras, oliveiras, bambus e videiras, folhas e espelhos para montar as suas instalações com textos sempre originais. Uma maravilha para quem gosta de árvores, como eu.

" Eu e a arte não sabemos ao certo quem somos mas temos a certeza de sermos um do outro e isto é tudo de que precisamos para a vida."

Serralves tem tudo o que é preciso para montar uma exposição destas, que exige enorme espaço, desenhos de luz, sombras. Contemplam-se as obras de longe, como devem ser observadas e as sensações que despertam em nós são múltiplas e quase tácteis. As janelas a dar para o parque são elas próprias obras de arte com as árvores vivas a "assistir" à performance dos troncos já mortos.

Fotografei tanto e de tal modo que, quando cheguei a meio do passeio pelo parque, a bateria não colaborou mais e deixou-me órfã...

Já há muito que não via uma exposição tão boa em Serralves, as últimas têm-me desanimado. Esta foi completa, não só porque estava alguma gente, o suficiente para compôr um ambiente humano espectacular, mas também porque a minha disposição era propícia depois de ver um filme eminentemente estético, que pode não ser bom para os críticos, mas que se entranha em nós duma forma invulgar ( falo de mim e da minha filha, que é em quase tudo como eu).







Ir a Serralves é sempre como entrar numa catedral, uma experiência panteísta, mística, retorno à belle époque das crianças felizes e livres,  que olham extasiadas para as gaivotas e para os aviões,  época das famílias unidas,  entrada no mundo dos turistas que sorriem para nós rendidos ás maravilhas desta cidade,  para mim a mais people friendly,  romântica e apetecível das que conheço no país.



Perto da fonte, deitámo-nos na relva por baixo duns cedros - lembro-me de ver os frutos redondos e castanhos -  iguais aqueles com que brincávamos no nosso grande jardim - nas árvores por cima da minha cabeça.
Onde estávamos ouvia-se a água da fonte a gorgolejar, os passarinhos ao desafio, vozes esparsas e um ou outro avião que sobrevoam o parque, já quase a aterrar.
Sinto-me nas nuvens e só me apetece dançar como aquela actriz francesa do filme To the Wonder.
Estarei a ser piegas e delicodoce? Infantil e inconsciente? Escrevo uma prosa feita de clichés? Oiço Mozart e vibro com Rossini?

Seja,

mas como diz Alberto Carneiro : " Isto é tudo o que preciso para a vida".



























To the wonder - II

Ontem depois de chegar a casa ainda meio intoxicada pelo filme de Terrence Malik, resolvi ir até ao Botânico em busca da tal maravilha ou magia com que se poderia ter traduzido bem melhor o título. "A essência do amor" não me diz nada, é um chavão.


Procurei a magia no meu local de culto, onde já não ia há mais dum mês. Com as viagens às ilhas e de trabalho, pouco tempo me resta para passeios e o tempo às vezes não ajuda.


Mas hoje apeteceu-me muito sair para o ar livre....ver algo de belo, mesmo sem a música...

E parecia que num mês o jardim se tinha transfigurado. Já vira algumas fotos no blogue do Mário, que tb é amante deste local, mas nunca pensei que a primavera estivesse tão fulgurante, tão visível e colorida.


Por todo o lado havia flores lindas, as árvores estavam repletas de cachos de folhas, flores ou frutos. Parecia que uma varinha de condão tinha passado por aqui....e afinal foi apenas a chuva farta deste inverno que conseguiu este milagre. Esta primavera não está a ser igual as anteriores, as plantas cresceram, revigoraram e aí estão mais belas que nunca, indiferentes as crises que se apregoam, ao desemprego ou aos cortes nas pensões.


O jardim agora está sempre cheio ao sabado e domingo e até serve de local para festinhas de anos, o que acho encantador, faz-me lembrar os livros da Condessa de Segur, que li na infância e em que as meninas iam comemorar os anos no Jardin du Luxembourg.

Escusado será dizer que não resisti às fotos. Sophia deveria estar feliz rodeada de pétalas por todos os lados. Esta foto foi a que mais me agradou. As plantas estavam assim, tal qual,na água.