Hoje dei um giro pela minha cidade, este Porto que todos amamos, mesmo aqueles que não são de cá, mas já fazem parte da "mobília". Tinha de ir ao notário e depois ao correio, à Porto Editora, andei bastante, entre chuvadas de granizo e sol radiante, de autocarro, a pé ou de taxi. Fez-me bem. A cidade com pouca gente é maravilhosa, faz-se tudo com calma e sem esperas.
Quando comecei a namorar o meu ex-, tínhamos ambos 19 anos. Conhecemo-nos numa viagem de estudantes organizada pelo CADC de Coimbra e o Técnico. Quase todos os participantes eram estudantes de Coimbra e foi assim que fiquei ligada a essa cidade, não só porque o meu futuro marido estudava lá, mas também porque uma das minhas irmãs acabou por casar com outro rapaz, mais velho dois anos, que era mesmo natural da cidade. Fui lá muito como namorada, frequentei as latadas, as queimas todas e vivi tudo intensamente, pois era-nos muito difícil namorar a 200 kms de distância.
O meu ex- era um portuense ferrenho, nascido em S. Ildefonso no coração da cidade do Porto. Não tinha muito sotaque , mas tinha um feitio e sentido de humor muito característico das gentes do norte. Apaixonámo-nos um pelo outro e começámos namoro nessa viagem que foi de Lisboa até à Suécia em 1965, passando pelas capitais de todos os países por onde viajámos. Foram uns 20 dias cansativos, mas que me mudaram a vida por completo.
Se tivesse sabido na Cidade-Luz que aquele rapaz franzino, magrinho de camisola de gola alta preta, iria transformar por completo a minha vida, talvez não tivesse dado o passo que dei naquele ferry de Amsterdam, onde lhe peguei na mão ou ele na minha, instintivamente, sabendo que me estava a comprometer com ele e sem sequer prever que seria quase para o resto da vida....
Poupo-vos a nossa história longa e cheia de peripécias, que foi linda em certos momentos, triste noutros, inquietante em muitos, terrível em vários, mas sempre uma ternurenta história de amor na minha memória....dela resultaram três filhos e três netos que são a razão da minha existência. Só por isso valeu a pena.
Um dia uma amiga minha de Lisboa disse-me por carta: És a lisboeta mais nortenha que conheço! A frase ficou-me cravada como uma tatuagem. É verdade.
Saí de Lisboa em 1975 e nunca mais lá voltei a não ser por dois, três dias. Os meus Pais faleceram ambos e cada vez tive menos vontade de regressar. Saudades? Nenhumas. O facto de ter saído obrigou-me a recalcar saudades, apego aos locais e até obsessões familiares, próprias duma família grande demais.
Acabei relativamente sozinha, numa terra estranha, mas que adoptei como minha, sem nunca rejeitar origens, mas reconhecendo que aqui se vive melhor, há gente melhor, há mais horizontes de mar, o rio é dourado e cheio de curvas.....
Adoro o Porto. Nunca sairia daqui a não ser para outro país europeu, onde tivesse alguém de família comigo. É uma cidade cheia de charme, muito romântica, com recantos perto de nós, conseguimos calcorreá-la , sem nos perdermos, há sempre alguém que ajuda e sorri.
É uma cidade com História, com garra, com orgulho e também com recalcamentos e com inveja, mas com um enorme carácter.
O PORTO é único!
Eu nasci e vivi sempre no Porto.
ResponderEliminarGosto da cidade, apesar do triste estado de degradação em que se encontra . Não passeio muito pela cidade propriamente dita e não tenho grandes ligações afetivas a ela.
Portanto sou uma tripeira assim um pouco convicta, embora goste imenso de apreciar a cidade do lado da Ribeira de Gaia. Vou muitas vezes almoçar com as amigas ao "Ar de Rio" para apreciarmos a cidade do Porto. É linda.
Um beijo.
É do lado de Gaia que se pode apreciar melhor a cidade Invicta. A vista varia de cores e de aspecto conforme as horas do dia e os perfis das igrejas tomam mais ou menos forma de acordo do a luz do sol ou a falta dele. É uma cidade de contrastes, sem dúvida, zonas muito degradadas e mesmo decadentes, mas com charme e calor humano. Mesmo quando digo mal do Porto é porque tenho necessidade de espaço, mas nunca sairia de cá. Vivo bem e numa zona da cidade que é das mais bonitas talvez. Sou uma pessoa com sorte.
ResponderEliminarE tenho leitoras fiéis como a Graciete. Apetecei-me dar-lhe um beijinho neste momento. Bom feriado!
Apetecia-me, claro! Ai estas gralhas!
ResponderEliminarOlá Virgínia, também ADORO o Porto! Não nasci cá, mas desde os 6 anos que aqui vivo. E tenho um orgulho grande dos meus filhos serem tripeiros ( nasceram os dois, com um intervalo de 8 anos, na Ordem da Lapa). De facto, é uma cidade de contrastes, um pouco degradada e abandonada, mas com uma mistica inexistente noutros lugares. Acolhedora e com gente boa. Diz que tem recalcamentos e invejas, mas quais as que não têm? As cidades além das paisagens são sobretudo as suas gentes e as pessoas são mesmo assim...
ResponderEliminarBjs da M. Eugénia
Olá Geninha,
ResponderEliminarOs recalcamentos e inveja são mais do que justificados, perante a atitude dos governos a olhar para o umbigo lisboeta! Como lisboeta vejo desde os meus 19 anos - através do meu ex- aquilo que os demais lisboetas não vêem. O Porto nunca conseguiu o lugar que merece por causa da megalomania da capital. As verbas são sempre canalizadas para os projectos de Lisboa ....até me admira como é que se fez uma Casa da Música e um aeroporto que se revelou um dos melhores da Europa. Deve ter havido alguém que se esqueceu de lixar o Porto....:))
Bjo
É bonito o seu texto, na forma um pouco ternurenta como conta o seu percurso de vida. Percebo que goste muto do (seu) Porto, mas não entendo a sua aversão a Lisboa, que é para mim uma cidade linda, clara, luminosa, apaixonante.
ResponderEliminarAcho que devia esquecer as más recordações que tem de Lisboa, as mágoas do passado e voltar a Lisboa com tempo e com os olhos limpos para ver a cidade como se a visse pela primeira vez. Por mim está convidada a vir (re)visitar a nossa Lisboa. Há sítios maravilhosos, pequenos recantos surpreendentes, locais belíssimos e essa maravilhosa relação de amor que Lisboa tem com o Tejo. Lisboa estánà sua espera... :))
Beijinho
Peço desculpa pelas gralhas "muito"; "está"- É do adiantado da hora! :D
EliminarOlhe, Isabel, conheço Lisboa como a palma da mão. Durante 29 anos vividos nessa cidade percorria ruas da cidade com o meu Pai a ver doentes, de autocarro até ao MªAmália - desde o Restelo até ao Marquês de Pombal por sítios horrendos como Alcântara ou a Rua Maria Pia, depois foram seis anos a ir para a Faculdade do outro lado da cidade 13kms percorridos de autocarros - 12 e 38 - ou de carro com o meu Pai, pela Buraca e 2ª circular, foram anos de desperdício total no que concerne ver Lisboa. Vi-a bem e vi-a toda. Quando vinham turistas nossos amigos, era sempre a mesma coisa, a Torre de Belém e os Jerónimos, a capelinha, o Munumento, o Bairro Alto e a Alfama. Nada que se parecesse com a Ribeira, a vista do Porto, a Baixa do Porto, os recantos desta cidade. Objectivamente, Lisboa é mais grandiosa e espaventosa, sem dúvida. Também Madrid será mais monumental do que Barcelona, mas não se comparam, são grandezas diferentes.
ResponderEliminarNão gosto da Lisboa actual e fui lá muitas vezes para regressar no mesmo dia pois não me apetecia lá ficar. Tenho saudades dos meus Pais, dos meus Avós e não do resto. Não gosytei de viver no Restelo, só aprendi a gostar de jardins e árvores com o meu Pai. Lisboa nada me deu e roubou-me muito da minha juventude. Fez-m bem ensinar na provincia remota, foi aí que percebi o que se passava em relação à capital. E mais não digo, Isabel.....
Prefiro passar dias em Paris ou em Londres, em NY ou no Rio....
Bjinho
O Porto "tem mais encanto" visto do sul. De Vila Nova de Gaia, por exemplo, e de Lisboa também. O melhor do Porto são as pessoas; o pior o provincianismo. Falo com tanto à-vontade quanto tenho descendência toda nortenha. A Virgínia fala da centralidade de Lisboa, ora bolas, mas as maiores fortunas não estiveram sempre no Norte? Muitas à custa de ordenados miseráveis? Que fizeram pelas suas cidades? Retiraram proveito financeiro, político e fama! Quer exemplos? E não compare o Porto com Barcelona. Esta é imponente, mas feia e suja manchados por interesses dúplices catalães. Alí há sangue lesa-pátria! Porto é Portugal em todo o seu explendor e em todo o seu mais cabisbaixo provincianismo em relação à toda poderosa Europa.
ResponderEliminarBjos,
Jesus! Este meu comentário está pejado de erros e gralhas... sorry!
EliminarFoi por isso que não lhe respondi...eu nunca faço gralhas......)
ResponderEliminarQue dizer de tão reles visão da cidade linda que é o Porto? Quem vê a árvore, não vê a floresta....as cidades vivem-se , não se vêem,nem visitam. Leeds é uma cidade feia, onde passei momentos terríveis e , no entanto, dava tudo para lá voltar....ao Yorkshire...gente quente, delicada, ambiente jovem....uma das cidades da minha vida....
Não culpo ninguém pela decadência do Porto, senão a Lei das Rendas miserável que temos e que , mesmo depois de mudada continua a ser desrespeitada!
Os prédios a cair devem-se à miserável atitude dos politicos que nunca foram capazes de dar direitos aos senhorios...sei-o por experiência conjugal.
Bjo
Isabel, só mais um pormenor....essa relação de Lisboa com o Tejo é tudo menos amorosa. Sempre se disse que Lisboa vivia de costas para o Tejo e é verdade.
ResponderEliminarComparada com a ligação do Porto ao Douro, meu Deus, são anos-luz de distância. O Douro é o Porto, o Porto não vive sem o Douro e sem o mar. São uma e só entidade ou pacto de amor de raízes históricas e culturais. O Tejo nada tem a ver com Lisboa, é apenas uma entrada para navios de grande porte - passávamos o tempo a contar os barcos da varanda da nossa casa - de resto, o Tejo só servia para os desgraçados virem de ferry da Outra Banda ( toda ela feíssima) trabalhar para a cidade. Nunca achei o Tejo bonito, desculpe. É largo, sem curvas, sujo....e o mar, então, está a 30 kms de distância...
Os lisboetas só preferem Lisboa ao Porto porque não conhecem, nem reconhecem, mais nenhuma cidade portuguesa. Vivem centrados - ou a correr dum lado para o outro - numa cidade extremamente hostil, onde se vive mal. A minha família vive toda fora de Lisboa.....
Bjo