terça-feira, 31 de janeiro de 2017

Sonhando com aguarelas

As aguarelas sempre me fascinaram, mas nunca fui aguarelista, sempre achei ser uma técnica extremamente difícil. Tive um colega na Paleta que só fazia aguarelas e até lhe comprei uma de que gosto muito em vários cambiantes de verde. O senhor em questão tinha uma quinta em Resende e só pintava as paisagens que avistava nas suas terras. Trazia-nos cerejas no verão e dizia que a sua terra era a mais bela do país. Gostava mesmo de pintar ao pé dele.

Quadros em aguarela são para mim como música relaxante, aquela que estou a ouvir neste momento no Spotify: The relaxing flute of Wendy Quinlan. Ainda estou sob a influência do reencontro com esta pessoa maravilhosa, que se atravessou por acaso no meu caminho e iluminou um pouco a minha vida numa altura conturbada. Quando oiço esta música entro em modo Zen. É como a flauta de Pan.

Ando a ler um livro que o meu ex-marido me ofereceu em tempos quando ainda passeávamos os dois pelos alfarrabistas do Porto numa zona que era mais conhecida dele, desde miúdo.  Ficava junto à Livraria Britânica, que eu frequentava muitas vezes. Enquanto jovem, ele  percorria todos os alfarrabistas do Porto em busca de BD barata, de que era fã incondicional.


 Este livro lindíssimo foi publicado aquando do Centenário do nascimento de António Cruz,
considerado o maior aguarelista do Porto.


É quase desconhecido dos portugueses, mas talvez um dos expoentes máximo da pintura portuense. Dizem que foi prejudicado pelo facto de a sua pintura se parecer demasiado com a de Turner. É verdade que tem um estilo semelhante, mas os temas e quadros são muito variados e especiais.





Nunca vi os quadros ao vivo, embora tenha havido uma exposição na Gulbenkian em 2015 promovida pela Árvore.

A propósito escreveu o Director da Cooperativa:

“António Cruz é o grande aguarelista português do séc. XX. É um artista de uma mestria extraordinária. Além de pintor talentoso soube tirar partido das neblinas, da luz, o granítico das sombras, as pontes e o rio. Só um Homem que viveu intensamente a cidade seria capaz de a mostrar com este olhar sensível."

Agustina Bessa Luís escreveu num dos prefácios do livro referindo-se ao Porto:

As Aguarelas de António Cruz...dão a luz da cidade, a luz violeta e dourada do Paris de Outono. O requinte desta cidade negociadora vem da luz, diferente da de Lisboa, que é africana, loira e seca. Aqui os nevoeiros derramam aquela água verde que parece açucarada...a luz inventa, descreve, realiza, elabora e não termina...






                                     





É quase impossível ficar indiferente a este tipo de pintura. Ela sente-se pelo olhar, entra em nós e fascina-nos. 

O mesmo acontece com a flauta de Wendy.









segunda-feira, 30 de janeiro de 2017

Aguarela multifacetada

Ontem fiz uma nova experiência em aguarela.

Encontrei esta moldura numa loja chinesa e pareceu-me muito sugestiva para pintura, embora seja destinada a fotografias.

Tinha  feito m tempos um quadro enorme com pinceladas de aguarela magenta e azul, com muita água para fazer misturas interessantes Parecia um arco-íris gigante só com duas cores em tonalidades e texturas diferentes.
Gostava dele, mas achei que dividido em quadrinhos teria mais interesse e leveza.


Cortei os rectângulos de acordo com a página onde se deviam colocar as fotos. Colei-as com a nova cola Mod Podge, que é miraculosa porque não mancha, não se cola às mãos , nem deixa fios. Primeiro cobre-se a superfície onde se deve colar a aguarela e depois aplicam-se os pedaços com jeito para ficarem direitinhos. Aplica-se depois outra camada de cola por cima tipo verniz e deixa-se secar. O efeito é lindo, embora na moldura não se consiga ver bem devido ao vidro.

Um quadro destes multifacetado pode-se virar na posição que se quer, vertical ou horizontal e permite escolher a que mais nos agrada, dado que é puramente abstracto.

Gosto dele...lembra-me dança, flauta, acordes suaves...

Oiçam um video maravilhoso tocado por uma amiga de longa data, ex-flautista da Orquestra do Porto, Wendy Quinlan. Ela veio de visita ao Porto com a Ruth Watson oboeista e estivémos juntos em casa do meu filho, a recordar velhos tempos e a tocar. Foi uma experiência extraordinária.

a minha familia com a Wendy e a Ruth, que já não via há 15 anos




terça-feira, 24 de janeiro de 2017

Andar na cidade



Gosto de sair e deambular pela cidade.

Hoje tive de ir renovar o meu cartão de cidadão. Tencionava ir à Loja do Cidadão do Arrábida shopping, mas aconselharam-me a Conservatória de Registo Civil no Capitólio. Foi o melhor conselho que me poderiam ter dado. Cheguei lá e só tive que esperar 5 minutos até o cliente ser atendido. A seguir fui eu, tirei a foto, impressões digitais ( complicado!!), assinar um papel e estava feito. Uma maravilha, nunca um cartão de cidadão foi tão fácil de arranjar.

Saí de lá e sentei-me num café na Av. de França, que se orgulhava de ter os melhores croissants do Porto ( não fazia a coisa por menos). Resolvi beber um chá verde e comer um. Era bom, mas demasiado doce, gosto mais dos croissants à francesa, que cá quase não se vêem.

Depois resolvi ir à NOS pois tinha um Hotspot que não me servia para nada. Comprei-o em Julho quando fui para a Praia da Luz, onde me asseguraram haver sinal para wi-fi. Não só não havia, como não mo aceitaram de volta e cobraram-me 15 euros todos os meses até agora, dizendo que a fidelização era de um ano. Mentira, no papel dizia que podia cancelar em qualquer altura. Uma vergonha. Depois de esperar 45m barafustei e acabaram por me cancelar a porcaria do contrato. Detesto as aldrabices das operadoras, deviam ter um livro de reclamações.


Por fim, fui pelo shopping Brasília para o Parque Itália. Há muito que lá não ia e fez-me tristeza. Era tão bom aquele shopping nos anos 80 passeava por lá muitas vezes, havia livrarias, lojas de CDs, sapatarias, bricolages, tudo. Agora é um deserto, mas descobri uma lojinha interessantíssima com artigos para trabalhos manuais. Curiosamente ontem a Suzi Dennis tinha-me informado pelo Messenger que usava uma cola especial nas suas colagens. Pensei que só existisse nos EU e encomendei um boião pela Amazon. Não é que hoje vejo a mesma cola nessa loja despercebida? Era barata de modo que comprei mais um boião. Vou experimentá-la nas minhas colagens.


colagem de Suzi Dennis

Ainda passei pelo meu chinês de estimação na Rua Júlio Dinis. Tinham recebido novas molduras de madeira das que eu gosto. Comprei seis!! Apetece-me mesmo fazer aguarelas.

Continuo com uma gripe terrível e não há meio de a tosse passar. Tomo um Ben-uron todas as manhãs para me aguentar e fazer coisas, mas não há meio de debelar este estado permanente.

Todos os males sejam estes.

O céu azul ajuda a respirar melhor...

sábado, 21 de janeiro de 2017

Aguarela


Numa folha qualquer eu desenho um sol amarelo
E com cinco ou seis retas é fácil fazer um castelo
Corro o lápis em torno da mão e me dou uma luva
E se faço chover, com dois riscos tenho um guarda-chuva
Se um pinguinho de tinta cai num pedacinho azul do papel
Num instante imagino uma linda gaivota a voar no céu

Vai voando, contornando a imensa curva norte-sul
Vou com ela viajando Havaí, Pequim ou Istambul
Pinto um barco a vela branco navegando
É tanto céu e mar num beijo azul

Entre as nuvens vem surgindo um lindo avião rosa e grená
Tudo em volta colorindo, com suas luzes a piscar
Basta imaginar e ele está partindo, sereno e lindo
E se a gente quiser ele vai pousar

Numa folha qualquer eu desenho um navio de partida
Com alguns bons amigos bebendo de bem com a vida
De uma América a outra consigo passar num segundo
Giro um simples compasso e num círculo eu faço o mundo

Um menino caminha e caminhando chega no muro
E ali logo em frente a esperar pela gente o futuro está
E o futuro é uma astronave que tentamos pilotar
Não tem tempo nem piedade nem tem hora de chegar
Sem pedir licença muda nossa vida
Depois convida a rir ou chorar

Nessa estrada não nos cabe conhecer ou ver o que virá
O fim dela ninguém sabe bem ao certo onde vai dar
Vamos todos numa linda passarela
De uma aquarela que um dia enfim
Descolorirá

Numa folha qualquer eu desenho um sol amarelo
Que descolorirá
E com cinco ou seis retas é fácil fazer um castelo
Que descolorirá
Giro um simples compasso e num círculo eu faço o mundo
Que descolorirá

VINICIUS DE MORAIS

terça-feira, 17 de janeiro de 2017

Way to Blue





Quadro pintado em 2012 - Underworld



Don't you have a word to show what may be done
Have you never heard a way to find the sun
Tell me all that you may know
Show me what you have to show
Won't you come and say
If you know the way to blue
Have you seen the land living by the breeze
Can you understand a light among the trees
Tell me all that you may know
Show me what you have to show
Tell us all today
If you know the way to blue
Look through time and find your rhyme
Tell us what you find
We will wait at your gate
Hoping like the blind
Can you now recall all that you have known
Will you never fall when the light has flown
Tell me all that you may know
Show me what you have to show
Won't you come and say
If you know the way to blu
e



Read more: Nick Drake - Way To Blue Lyrics | MetroLyrics 

domingo, 15 de janeiro de 2017

Cascatas






Eu não tenho filosofia: tenho sentidos... 
Se falo na Natureza não é porque saiba o que ela é. 
Mas porque a amo, e amo-a por isso, 
Porque quem ama nunca sabe o que ama 
Nem por que ama, nem o que é amar...
Alberto Caeiro










quarta-feira, 11 de janeiro de 2017

Família ???


Há alturas em que o facto de pertencer a uma família enorme me enche o saco.







Devia ignorar a opinião de irmãos e sobrinhos quando me aborrecem e são muito discordantes da minha, mas o FB não me deixa. Já fechei a conta de vários membros da família, que pura e simplesmente ignoram a minha vida, não apreciam o que eu faço, desprezam as minhas opiniões e acham que pelo facto de discordar, já estou chéché ou sou do contra.

Nunca gostei de unanimidade. Assumo que tomo posições que não são politicamente correctas e que me insurjo contra a hipocrisia no FB. É preferível não conhecer bem as pessoas com quem travamos diálogo, pois muito do que se posta é falso ou mero blablabla. E as pessoas só querem elogios, aplausos, likes, yess e adulação.


Se estou ainda nas redes sociais é por causa de primos afastados, amigos estrangeiros que conheço bem, grupos vários de fotografia que me apaixonam e notícias que vou lendo e me pôem a par do que se passa. A família nunca me faria inscrever-me numa rede social, conheço-os bem demais e sei que se regem todos pela mesma bitola, pondo likes nas personas gratas e ignorando as outras.

Já me aconteceu mais duma vez e ainda me choca.





Hoje meditei nisto tudo enquanto passeava no meu quarteirão tão belo.

 O inverno chegou, mas os dias têm estado tão bons que até as flores já começam a brotar nos rododendros, as camélias já estão todas floridas, há trevos todos amarelos e o outono ainda nem sequer desapareceu, como constatei nos áceres da Rua Ruben A.


Na Casa Allen, as árvores que há meses me fizeram sonhar estão agora completamente despidas, mas deixam entrever a sua profunda cumplicidade. Os ramos estão entrelaçados e destacam-se no azul do céu.

Era tão bom que as pessoas fossem como as plantas. Caladas, honestas e vigorosas. 

segunda-feira, 9 de janeiro de 2017

Adeus , Mário Soares





Não conseguindo escrever um post tão certeiro e tão equilibrado como este que vos sugiro ler, remeto-vos para o blogue O Livro na Areia.

https://olivrodaareia.blogspot.pt/2017/01/a-mario-soares-sem-muito-rancor-nem.html




sábado, 7 de janeiro de 2017

A sorte que temos

Hoje acordei com optimismo.

Sentia-me bem, apetecia-me ver o mar, ir à Foz, andar, ver pessoas...




Foi o que fiz. Meti-me no autocarro pelas 12.30 e cheguei à Foz 15m depois.

O sol iluminava o casario da Rua de Diu e ao fundo, lá estava aquela mancha azul, que me atrai desde sempre.




Havia um calor de primavera, o sol era quentíssimo e a esplanada estava cheia, mas arranjei uma daquelas cadeiras super confortáveis e ali estive a almoçar um bife à inglesa e a olhar para os barcos à vela - dezenas que vogavam no horizonte.



Era uma tamanha paz e um ambiente tão agradável - um bar que não tem música em altos berros é um oásis - que poderia ali estar durante horas.


Ouvi música clássica, tirei fotos, li. Para mim, uma tarde na Foz é um dia ganho.

A Tavi abriu uma nova secção que vende pão e tem mesas, muito gira e bem cheirosa. Gostei.

Vim de autocarro, como sempre. Sentia-me leve e feliz.

quinta-feira, 5 de janeiro de 2017

Nostalgia

Há dias em que me levanto com dificuldade.

Não me apetece acordar....nem sair da cama....nem enfrentar o vazio....nem viver mais do que o necessário e o necessário é demais....

Não é depressão, é cansaço da rotina, um ansiar por outra coisa, uma nostalgia de momentos vividos noutros lugares.

Evadir-me é a palavra de ordem. Seja passeio, seja mar, seja cinema. Hoje será pintura. E cinema.

Só posso evadir-me levantando-me, de modo que lá me ergo e ponho decente. Bebo um descafeinado e como dois pãezinhos com manteiga. Já estou mais humana.

Vou ao quarto da minha filha, olho para tudo à volta e fico feliz por ainda ter aquele espaço para estar com ela virtualmente. O Buda olha para mim com ar bondoso. O cartaz do Hobbit leva-me para um mundo ao qual não pertenço. Os sonhos da minha filha estão ali todos...mas não são exactamente os meus.

Passo ao atelier e aí já entro no meu mundo.
Quadros de todos os géneros, com ou sem moldura, aguardam um destino...não sei qual é, nunca pintei para vender...prefiro oferecer...mas só a quem aprecie.

Pego no papel de aguarela canson. Encho-o de água meio suja do copo onde estão alguns pincéis. Deito pequenas porções de tinta acrílica sobre o papel molhado.  Verde clarinho, azul prússia, amarelo, laranja, roxo, e branco muito branco. Passo os dedos por cima da tinta, é suave, sedosa, agradável ao tacto. Espalho as cores muito pálidas por zonas específicas do papel e imagino os campos, os vales, os céus, os sonhos...tudo meio nublado e onírico...

Deixo secar.

Ficou assim...


terça-feira, 3 de janeiro de 2017

Los Arboles de la Vida




O meu Irmão Mário Cordeiro publicou recentemente um livro de poemas em Espanha e na América do Sul intitulado Los Arboles de la Vida.

Coloco aqui um dos poemas de que mais gosto : Pedido






Entretanto produzi mais três quadrinhos bucólicos, tipo aguarela. São os primeiros de 2017.