domingo, 22 de dezembro de 2013

As inevitáveis prendas de Natal

Sempre adorei dar prendas.
Fora do Natal, quando me apetece, quando vejo algo que me atrai, algo que vai dar alegria a netos ou a filhos, algo que eles necessitam...

Sempre odiei o ofício de dar prendas no Natal porque sim, porque é obrigatório. Durante alguns anos fazia eu prendas, camisolas, toalhas, naperons, bonecos, cachecois, quadros, caixas, etc. Ainda tenho aqui algumas.
Mas as pessoas - meus irmãos, por exemplo - exigem mais. Ficam aborrecidos quando recebem mais um quadro meu - noto-o nos olhos - ou quando não é nada de especial, mais um livro ou bibelot.

A verdade é que este ano nem tenho capacidade para ir às compras. Dou dois passos como hoje e fico paralisada, com a perna a latejar, uma dor percorre-me o corpo desde a ponta do pé até ao pescoço. Já me aconteceu na 5ª feira e hoje voltou a acontecer. Felizmente a minha filha estava comigo e trouxe os sacos. Só descansei quando me sentei aqui no sofá e mesmo assim, continua a doer...

Fui ao Bom Sucesso, que estava cheio pois havia um grupo de jovens raparigas a cantar música popular de cancioneiro com simplicidade e muito boas vozes. Nem sei quem eram, mas o público estava a gostar. Também fui ao mercado, que é lindo de se ver, embora já sem a patine de antigamente, nem vendedeiras a chamar-nos "minha linda" ou "venha cá riquinha"...é um mercado completo com tudo o que é bom, mas sem a graça rural das plantas acabadas de apanhar, flores a eito, confusão e alguma porcaria...

O edifício é lindo com a sua abóbada imensa, cheio de luz...mas só vendem comes e bebes requintados....não há lojas de quinquilharias, nem chineses, nem as habituais zaras...é demasiado sanitized para meu gosto. Mas tem a Leitaria da Quinta do Paço com os seus bolos de chatilli, os melhores que comi em toda a minha vida.


E é perto do Cidade do Porto, que tem mais lojas interessantes ainda que poucas. Lá consegui encontrar um puzzle de 250 peças da Disney para o meu neto mais novo que é um puzzlemaníaco ( com 4 anos) e uma Barbie para a minha filha, que anda há muito, saudosa dos brinquedos que deixou em casa do Pai.

Depois tive de me vir embora, tais eram as dores que me assolavam. Meti-me num taxi e aqui estou.
Não vi o Natal consumista....nem o quero ver.


sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

Música sinfónica na FEUP





Há muito tempo que um concerto sinfónico não me emocionava tanto.

É a primeira vez que uma Faculdade portuguesa, a Faculdade de Engenharia do Porto, apresenta uma orquestra de música clássica - sinfónica - constituída por estudantes, professores, pessoal administrativo e outros, tocando no auditório com proficiência, gosto, prazer e alto sentido cultural.

O programa era aliciante: Handel, Bizet e Lord of the Dance, uma paleta do barroco com watermusic à música celta, passando pelo romantismo de Carmen, uma suite composta a partir da ópera bem conhecida. 

A orquestra tocou muito bem, os intervenientes que falaram para o público tocaram os nossos corações com simplicidade e grande emoção, o público estava com os músicos e eles connosco.

Gravei todas as peças e já as ouvi várias vezes. Deixo-vos aqui  o último "encore" a pedido e com a colaboração da plateia entusiasmada.  

ENCORE!!!

terça-feira, 17 de dezembro de 2013

O calor

Estava há três dias sem aquecimento porque o meu termostato avariou. Tive mais uma vez de chamar o funcionário da Roca para cá vir, mas desta vez, como estava em casa, ia trabalhando e tratando da casa. Hoje lavei e passei quatro camisas do meu filho e ficaram impecáveis, estou contente com o meu estatuto de Olívia empregada. Não há nada como sermos nós a fazer as coisas...

É impressionante verificar como o calor nos faz bem à alma. Não gosto do frio dentro de casa e durante anos, vivi sem aquecimento central em casas frias, grandes e geladas.
Estava habituada a viver em Lisboa e foi o que mais estranhei, aquele frio cortante na Sertã e em Chaves. Ainda hoje me pergunto como aguentei aqueles quatro invernos terríveis.
Mesmo no Porto está frio quando a temperatura desce, um frio húmido que faz mal aos ossos.

Sinto-me privilegiada por ter aquecimento central, é das mordomias que não dispenso. Depois do funcionário da Roca sair daqui, sentia-se aquele calor a subir pelas paredes e a envolver-nos, como se duma lareira se tratasse. Tenho uma, a que se vê na foto, mas só a acendo esporadicamente e este ano, talvez porque tenho tido muito trabalho, ainda nem a acendi.

Deve ser terrível viver em casas velhas, sem aquecimento, onde chove e tudo se avaria. Todos nós deveríamos ter direito a um mínimo de conforto porque é isso que também nos traz felicidade...

domingo, 15 de dezembro de 2013

DEUS existe


Ontem tive a prova da existência de Deus na Música de Bach. Ainda ressoam aos meus ouvidos as trompas e as trompetes que anunciam o nascimento de Cristo. Jauchzet frolocket! 

Ontem passei o serão a ouvir música interpretada ao piano por uma das mais extraordinárias pianistas da atualidade, Gabriela Montero, que não se limita a tocar música clássica tradicional, mas também improvisa sobre qualquer tema sugerido pela plateia, das mais díspares, e compôe trechos musicais  a partir do leitmotiv. Ontem ouvi o Gone with the Wind, que aqui vos deixo para se deleitarem com a virtuosidade desta pianista venezuelana.

Hoje passei três horas na Foz.

E mais uma vez estive com Deus,  o Criador da Natureza. O mar é uma prova viva de que Deus existe. Forte e altaneiro, tremendo de força, branca espuma que se espalha pela praia, ondas possantes que não sabemos onde vão rebentar....encerra um mistério e uma imprevisibilidade sem igual...

Contemplação dum panorama destes numa tarde de sol esplendoroso é como ir à Missa. É a união com Deus mais perfeita que conheço, a certeza de que o Homem não é se não um elemento da natureza a quem se deu um privilégio imenso, o de poder admirar e viver num mundo espantosamente belo.






Sinto-me comovida e grata, não sei o que dizer quando a benesse é tão sublime. Sei que sofro bastante para andar até à praia dos Ingleses e depois para cima até à paragem do autocarro, mas é sofrimento que se justifica perante uma esmola tão valiosa.

Aqui ficam imagens sublimes do mar da Foz.

O Porto só pode agradecer aos céus esta dádiva.

sábado, 14 de dezembro de 2013

Oratória de Natal


Não sei se foi a melhor Oratória de Natal que já ouvi. Quase de certeza não foi. Ouvi-a várias vezes em Munique, na universidade, em igrejas.
Ouvi-a na Igreja da Lapa num concerto memorável com o Coro da Sé e a ainda Regie Symphonie, que se transformou em Orquestra do Porto.

Não sei qual foi a melhor, em qual me comovi mais, em qual rejubilei mais, em qual acreditei mais e melhor em Deus, no Deus da música que habita em Bach e me leva aos céus.

Mas hoje, ao ouvi-la na última fila da sala Suggia com aquele povo todos aos meus pés :) , a sala cheia, a minha filha radiante, aquele coro maravilhoso, a orquestra afinada, os metais vibrantes e um silêncio do outro mundo nos intervalos entre as diversas partes, pareceu-me que estava no céu.

"Jauchzet Frohlocket" é assim que começa. Alegrai-vos eleitos! Porque está aí o Salvador.


quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

O frio

Tenho estado no apartamento do meu filho mais novo à espera dum senhor que vem arranjar a caldeira Roca, há mais de quatro horas. Combinou vir à tarde das 3 às 6, mas já são 6.30 e ainda não apareceu.
Felizmente trouxe o laptop e para alem das várias coisas que aqui vim fazer, ainda deu para trabalhar um pouco no meu projecto.
Escrever planos de aulas, tintinportintin é coisa que não lembra ao diabo, mas que se tornou obrigatório para os autores. Confesso que tinha jurado a mim mesma nunca o fazer - e este é o primeiro projeto ( já fiz mais de dez) em que o pesadelo se tornou realidade.
O chamado Teacher's File é um dossier recheado de acepipes para os professores com a planificação para o ano inteiro, 70 planos de aula detalhados, com objectivos, conteudos, materiais a usar, avaliação e estratégias a utilizar. Até o TPC é indicado.
Parece que os profs são mentecaptos e incapazes de se desembrulhar nos mais ínfimos pormenores. E mesmo assim, todos dizem que os profs são menos capazes agora do que eram no nosso tempo...
Lembro-me dum professor da faculdade que dizia: O bom professor é o que faz maravilhas com o giz e o quadro!

Não exageremos, mas a panóplia de objectos que o professor tem de trazer para a aula deve encher duas mochilas.
Escrever planos é imaginar a aula de fio a pavio com todos os pormenores, o que é totalmente irrealista se formos a pensar nas contingências de cada uma. Nunca fui capaz de obedecer a planos, nem sequer os escrevia quando era orientadora de estágio. Os meus estagiários sabiam que tinham de os apresentar, mas que importante era dar uma aula como deve ser, com princípio, meio e fim....
Estão 12º aqui no apartamento, pois o aquecimento não funciona sem a caldeira e esta bloqueou por desuso. O meu filho só muito raramente aqui vem e nestes dois meses só veio duas vezes, se tanto. resultado, o frio é intenso, a sala é enorme e em geral tem sol, mas hoje nem isso. Estou de kispo vestido e até me sabe bem escrever, se não as mão gelariam.
Estou tão habituada ao aquecimento, que há sete anos que não sei o que é ter frio em casa....
Hoje sinto frio na alma...não é só na pele....saudades de não sei o quê...e desejo de libertação. Já propuz à editora despedir-me, mas eles não foram nisso!!

quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

Na ausência das palavras, vozes celestiais


Sempre adorei cânticos de Natal.
Em qualquer altura, mesmo quando dá azar, como me disseram - ralharam - na Alemanha, em 1969, quando resolvi ouvir música de Natal em pleno Agosto.

Desde o meu colégio em que cantávamos a plenos pulmões o Adeste Fideles - O Come all ye faithful - , o Silent Night, o Christmas Tree, Away in a manger, The First Noel e outros que ainda me fazem lágrimas nos olhos.

Depois os meus filhos trouxeram-me as Lieder alemãs, todas elas lindíssimas com vozes e coros magníficos.

Nunca gostei dos carols americanos, música de Natal pimba e pop. À exceção de White Christmas, todas as outras são horríveis...mesmo na voz do Bing Crosby.

Ando tão cheia de trabalho que olhar para a árvore de Natal acalma-me os nervos, sobretudo quando a minha filha pôe a tocar cânticos do King's Choir de Cambridge ou dos Pequenos Cantores de Viena.

Há dias descobri na Internet uma das canções mais lindas que existe: The Little Drummer Boy. A minha Mãe adorava esta canção, não sei porquê e quando a oiço lembro-me sempre dela.
Em sua memória aqui fica um interpretação sem instrumentos - a Capella - que nos pôe arrepiados. Música celestial que nos eleva.

Fica aqui a letra em português a pedido:


Venha me disseram, pa rum pum pum pum
Um novo rei nascido para ver, pa rum pum pum pum
Nossos melhores presentes nós trazemos, pa rum pum pum pum
Para colocar diante do rei, pa rum pum pum pum
Rum pum pum pum, rum pum pum pum

Então, para homenageá-lo, pa rum pum pum pum
Quando chegamos

Bebê pequeno, pa rum pum pum pum
Eu sou um menino pobre também, pa rum pum pum pum
Eu não tenho presente para trazer, pa rum pum pum pum
Isso é apto a dar ao rei, pa rum pum pum pum
Rum pum pum pum, rum pum pum pum

Devo tocar para você, pa rum pum pum pum
Em meu tambor?

Mary assentiu, pa rum pum pum pum
O boi e cordeiro mantido tempo, pa rum pum pum pum
Joguei meu tambor para ele, pa rum pum pum pum
eu joguei o meu melhor para ele, pa rum pum pum pum
Rum pum pum pum, rum pum pum pum

Então, ele sorriu para mim, pa rum pum pum pum
Eu e meu tambor


Link: http://www.vagalume.com.br/theocracy/little-drummer-boy-traducao.html#ixzz2nDnDANUJ

sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

Mandela


Como não falar de MANDELA no dia de hoje?

Faleceu ontem, precisamente no mesmo dia do meu Pai, com 33 anos de diferença - 5 de Dezembro.

Se há Santos na Terra, este Homem foi um deles.

Exemplos como este não há muitos e inspiram-nos para ser melhores, nós que falhamos tanto e tantas vezes.

Viver 95 anos com os outros a para os outros, mesmo nos 28 anos que passou nas prisões da África do Sul, sair e tornar-se um pacifista, governante num país triturado por guerras tribais e imbuído de racismo, ser unanimemente chorado e admirado, não é para todos.

Bem hajas , MANDELA!

Eis o poema que te fez aguentar o sofrimento da prisão - INVICTUS do poeta inglês William Ernest Henley e um outro que parece ter sido escrito para ti por outro poeta inglês há mais de cem anos - IF.



Se

Se és capaz de manter a tua calma quando
Todo o mundo ao teu redor já a perdeu e te culpa;
De crer em ti quando estão todos duvidando,
E para esses no entanto achar uma desculpa;
Se és capaz de esperar sem te desesperares,
Ou, enganado, não mentir ao mentiroso,
Ou, sendo odiado, sempre ao ódio te esquivares,
E não parecer bom demais, nem pretensioso;

Se és capaz de pensar --sem que a isso só te atires,
De sonhar --sem fazer dos sonhos teus senhores.
Se encontrando a desgraça e o triunfo conseguires
Tratar da mesma forma a esses dois impostores;
Se és capaz de sofrer a dor de ver mudadas
Em armadilhas as verdades que disseste,
E as coisas, por que deste a vida, estraçalhadas,
E refazê-las com o bem pouco que te reste;

Se és capaz de arriscar numa única parada
Tudo quanto ganhaste em toda a tua vida,
E perder e, ao perder, sem nunca dizer nada,
Resignado, tornar ao ponto de partida;
De forçar coração, nervos, músculos, tudo
A dar seja o que for que neles ainda existe,
E a persistir assim quando, exaustos, contudo
Resta a vontade em ti que ainda ordena: "Persiste!";

Se és capaz de, entre a plebe, não te corromperes
E, entre reis, não perder a naturalidade,
E de amigos, quer bons, quer maus, te defenderes,
Se a todos podes ser de alguma utilidade,
E se és capaz de dar, segundo por segundo,
Ao minuto fatal todo o valor e brilho,
Tua é a terra com tudo o que existe no mundo
E o que mais --tu serás um homem, ó meu filho!
Rudyard Kipling

quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

Já é quase Natal

Este ano comecei muito cedo a enfeitar a casa para o Natal.

Acho que foi a necessidade imperiosa de sair deste ambiente de trabalho em que me afundo de há quase três anos para cá. Trabalhar em projectos escolares já foi bom e era uma tarefa que eu adorava, apesar da pressão e da família. Muitas horas passei agarrada à máquina de escrever elétrica e depois ao computador - que ia abaixo ao menor esforço -. Ainda me lembro da impressora com rolos e rolos de papel que se iam enchendo de texto :)

Hoje em dia os materiais são tantos que é um nunca acabar de recursos, qual deles mais apelativo e  mais criativo. Exige-se aos autores que quase dêem as aulas pelos professores, colmatando todas as falhas, procurando adivinhar problemas, motivando os alunos com temas interessantes. Há videos do Youtube em todas as aulas, audiovisuais, Powerpoint , filmes e textos simpáticos. Como é que é possível não ensinar bem? I wonder...

Mas o Natal começou bem cedo também por causa da minha filha, que é apaixonada desta época do ano, o que só prova que, na minha casa, desde sempre,  houve um ambiente festivo e feliz, mesmo quando os problemas se avolumavam.
A consoada foi lá durante mais de 25 anos, celebrando nós, depois, o Dia de Natal em Lisboa com a minha família, o que nos obrigava a um stress extra. Tive várias crises de choro durante os Natais por excesso de trabalho, de viagens para lá e para cá com tres crianças pequenas,  dormidas péssimas, discussões, prendas, bolos, rabanadas, bacalhau e ....o diabo a 4.

nem me quero lembrar.....
Apesar de tudo, era uma época feliz para a minha família de cá, cheia de problemas crónicos, mas que por umas horas tinham a ilusão de felicidade...
e as idas a Lisboa eram uma desilusão para mim, sobretduo depois da morte de meu Pai, pois já nada era igual ao que eu conhecera e as minhas expetativas e carências cresciam de ano para ano.

Eu própria quase não me reconhecia na minha cidade natal, onde fora feliz durante quase trinta anos.

terça-feira, 3 de dezembro de 2013

Acabem com a música!


Ouvi hoje nas notícias da SIC que o governo espanhol obrigou os músicos ambulantes das calles do país a apresentarem-se para audições com júri, de modo a obterem licenças para tocar publicamente. Quase não conseguia acreditar no que os meus ouvidos me faziam chegar ao cérebro.

Onde vai chegar a estupidez das pessoas?

Lembrei-me do encanto que constituíam as praças e ruas de Munique nesta época do advento com os seus mercados de Natal e grupos musicais a tocar e a cantar e a encher o nosso coração de calor humano. Tenho saudades do advento nessa cidade, onde passei alguns dias durante sete anos da minha vida. Todos os transeuntes paravam para ouvir, davam moedas aos executantes, que poderiam ser de música clássica ou ligeira. Todos podiam tocar nas ruas.

Também me lembrei imediatamente do meu neto Daniel, que este ano, tocou violino  de moto próprio durante 45 minutos ao fim da tarde na praia da Luz em cinco dias alternados, conseguindo angariar algum dinheiro para comprar o telemóvel dos seus sonhos. A alegria com que o fazia, a expressão facial dos ouvintes que passavam ao vê-lo, a popularidade que foi grangeando, tudo isso foi tão espontâneo e compensador, que me ficará na memória para sempre.

Se acabam com a música, também deviam acabar com os pedintes. Um dos entrevistados espanhois dizia que os músicos desempregados só têm essa possibilidade para sobreviver, tocar para o público anónimo. E que é uma alegria no dia a dia dos transeuntes que entram e saem dos seus empregos.

Fica aqui um video esclarecedor da importância da música na cultura urbana. Uma orquestra que surpreendeu os utentes dum grande centro comercial e os encheu de música.

domingo, 1 de dezembro de 2013

Advento

Não sou religiosa, mas o maior encanto que encontro no Natal é precisamente o significado religioso da festa.
Em minha casa, éramos todos profundamente tradicionais no que à fé dizia respeito e muito menos tradicionais em relação à gastronomia e às prendas.

Lembro-me de, até aos 13-14 anos, só receber três prendas, uma dos pais, outra dos avós e uma do Tio Aleixo, o meu tio padre que vivia em Lisboa. Mais tarde começámos a dar-nos prendas mutuamente, mas isso só aconteceu quando já tínhamos algum dinheiro para poder comprar pequenas coisas.


Íamos sempre à Missa do Galo nos Jerónimos, a nossa igreja paroquial ou a S. Mamede, onde o meu tio celebrava. A ceia era um chocolate quente com bolo-rei e broas, na sala paroquial de S. Mamede ou em nossa casa já tarde.

As prendas só se viam no Dia de Natal, logo que acordávamos. Ficávamos felizes com prendas como estojos para a escola, gabardines, livros ou jogos.
Não me lembro de escrever ao Pai Natal, nem de mostrar descontentamento por alguma prenda menos excitante, embora os livros escolhidos pelo nosso Tio fossem às vezes um pouco maçudos :).

Quando um primo meu veio da Índia para viver connosco, começámos a receber prendas espectaculares, em geral, para recortar ou pintar, sempre entusiasmantes. Ele escolhia-as a dedo. Viveu cerca de oito anos connosco, depois foi dois anos para a guerra em Angola. Era médico e nós gostávamos dele como dum irmão mais velho.

Passávamos o dia a brincar com essas prendas e éramos felizes. A lareira estava acesa, havia música no ar e à noite um grande jantar em nossa casa com muitas coisas boas, perú e batata palha, bolos vários e muitos chocolates.  Também havia champagne.
Nunca comi bacalhau na minha casa.

Por vezes encenávamos uma peça para o serão ou então tocávamos piano e cantávamos cânticos de Natal, sendo o Adeste Fideles obrigatórios, assim como o Gloria, que o meu tio entoava com a sua voz de tenor.

Tenho saudades desses tempos pela simplicidade de que se revestia o Natal. Não andávamos nas correrias das compras, nem sequer tínhamos dinheiro para isso. A decoração era simples, um presépio tradicional e uma árvore de Natal, um pinheiro que o meu pai trazia da quinta ou comprava em Monsanto.

Hoje fiz a minha Adventskranz, tradição que adoptei dos alemães, dado que os meus filhos andaram no colégio alemão e lá todo o período do Advento era celebrado com pompa e circunstância. Os meus netos já andam a cantar Advent, Advent ein Lichtlein brennt há dias. Por eles e para eles, fica aqui música tradicional alemã de Natal...


sábado, 30 de novembro de 2013

Fim de tarde no campo alegre

Está a cair a tarde de mais um dia, o último de Novembro, um dos meus meses preferidos. Amanhã já será Natal :)

Oiço a Clair de Lune de Debussy através duma playlist chamada Spotify, que descarreguei há momentos.

A música arrebatou-me em segundos e olhei lá para fora. O céu estava rosa escuro, as silhuetas das árvores negras num fundo indescritível.

Dizem que o céu vermelho é promessa dum dia seguinte igualmente belo.


Este outono - que para mim tem sido de trabalho intenso -  revela-se-me nestes fins de tarde, em que tudo fica quase irreal.

Oiço agora o Canon dePachelbel, que os meus 4 filho, nora e netos tocam juntos. Maravilhoso.

No facebook do meu filho mais novo surgiu uma foto dum amigo dele tirada há momentos na Ferradosa, esse lugar místico que já aqui descrevi. Alegra-me a ideia de que ele está acompanhado este fim de semana, mais um em que não pode vir ao Porto por ter processos acumulados e à espera de resposta. Sinto-me mais feliz por ele.

O meu filho mais velho manifesta-se no FB pela música, colocou o tal spotify para que todos possamos aceder a listas de música clássica e não só. Deleito-me a ouvir.

A minha filha foi ao Bazar do Colégio Alemão - tradição que se perpetua há mais de 30 anos. Daqui a pouco trará mais umas coisinhas engraçadas para encher a casa de espírito natalício.

Daqui a duas horas virá, então , o meu neto Daniel para ver comigo o jogo do Porto-Académica. Oxalá o FCP ganhe, senão temos lágrimas...

A vida é bela. estou só... mas tão acompanhada!
Oiçam e sintam-se em Paz.

quinta-feira, 28 de novembro de 2013

La Vie d'Adéle


Mais um filme falado em francês que vejo este ano.

Escrevo-o com grande prazer e sem qualquer espécie de pejo, já que na sua maioria, os filmes que vi me têm agradado muitíssimo.
Fui vê-lo sem ter lido absolutamente nada sobre o filme, o que é desde já excelente, pois colocados diante do écran numa sala quase vazia, estamos vazios de preconceitos, de ideias alheias ou de elogios fátuos. Estamos virgens perante as imagens e elas tocam-nos pela primeira vez.

O filme impressionou-me do princípio ao fim e considero-o um dos melhores que vi este ano a par de Moliére em Bicicleta e Dans la Maison, que também me encheram as medidas.
Ver filmes que não metem telemóveis nem cidades poluídas, que tratam gente como gente, na profundidade do seu carácter e no dramatismo das suas emoções, é sempre um prazer, ainda para mais adoçados com a bela língua de Vitor Hugo.
La Vie d'Adéle, com 179 minutos, poderia ser insuportável, não fora a delicadeza da realização e as interpretações magistrais das duas actrizes principais, que nos comovem do princípio ao fim. Com cenas explícitas de sexo talvez um pouco prolongadas para meu gosto, o filme é esteticamente belo como o rosto da adolescente, que cresce, ama, sofre e se torna mulher.

É um filme francês de drama, dirigido por Abdellatif Kechiche. Ganhou a Palma de Ouro no Festival de Cannes de 2013
Baseado no romance gráfico Le Bleu est une couleur chaude de Julie Maroh. Narra a história de amor entre Adèle (Adele Exarchopoulos) e Emma (Lea Seydoux).

Fui com a minha filha pelas 3 e depois jantámos no restaurante Serra da Estrela, antes das  7, um belo bacalhau com natas e um cheesecake de comer e chorar por mais. Há momentos felizes.

Fica aqui o trailer para quem tiver curiosidade:





segunda-feira, 25 de novembro de 2013

OUTONO

RUÍNAS

Se é sempre Outono o rir das primaveras,
Castelos, um a um, deixa-os cair...
Que a vida é um constante derruir
De palácios do Reino das Quimeras!

E deixa sobre as ruínas crescer heras.
Deixa-as beijar as pedras e florir!
Que a vida é um contínuo destruir
De palácios do Reino de Quimeras!

Deixa tombar meus rútilos castelos!
Tenho ainda mais sonhos para erguê-los
Mais altos do que as águias pelo ar!

Sonhos que tombam! Derrocada louca!
São como os beijos duma linda boca!
Sonhos!... Deixa-os tombar... deixa-os tombar...
Florbela Espanca

sexta-feira, 22 de novembro de 2013

O Quinto Poder

O Quinto Poder é a Internet, que, hoje em dia, representa uma força social espantosa.



Nem nós imaginamos como este écran pequeno, que contém o mundo inteiro de um forma acessível a quase todos, nos pode tornar vítimas, dependentes ou mesmo "bullies".
Tudo é possível porque os homens já perderam o controlo da net há muito e todos temos esqueletos nos armários...

Fui ver o filme porque as relações da net me interessam muitíssimo desde há muito. Começou nos foruns, onde descobri a maldade que está por detrás de pessoas anónimas, nicks infernais que se divertem a perseguir-nos só por gozo. Essas pessoas anónimas são gente como nós com um poder enorme que lhes vem do anonimato. Podia dar exemplos, mas contenho-me.

O filme trata do caso verídico chamado "Wikileaks" e do papel do australiano Julian Assange, que ousou publicar na Internet documentos privados dos serviços secretos americanos sobre as guerras do Afganistão e do Iraque, crendo que seriam do interesse público e que estaria a salvo pelo facto de ser estrangeiro. Enganou-se e vive neste momento na Embaixada do Equador em Londres, onde pediu asilo político para não ser extraditado para a América.


O filme não tem grandes críticas, mas é interessante e oferece uma panorâmica vertiginosa da evolução do fenómeno que é a net. Faz lembrar A Rede Social, que também se centrava num geek, que, com boas intenções, acabava mal.

O filme levanta questões fulcrais sobre a liberdade de imprensa - neste caso da net - e o que é permitido ou não publicar e que segurança oferece a quem ousa revelar os segredos e políticas dos manda-chuvas deste mundo. Os Americanos que se consideram a democracia mais "democrática" do mundo alarmaram-se com a "coragem" dum indivíduo e temeram a repetição em bola de neve. Prometeram vingar-se, mostrando quem é que manda no planeta, procurando os culpados e condenando o soldado que vendeu a informação considerada altamente secreta. Mas ainda não conseguiram apanhar o divulgador de toda essa informação.

Assange nunca mais vai saber o que é viver em liberdade.


Fica aqui o trailer para quem estiver interessado.


terça-feira, 19 de novembro de 2013

As Artes

Hoje resolvi dar a chamada volta ao quarteirão para apanhar uma réstea de sol neste dia lindo mas frio e admirar como sempre estas ruas que ladeiam a do Campo Alegre - António Cardoso e Ruben A - ruas de outros tempos, que nos lembram também personalidades carismáticas, como Sophia e seu primo, que ainda conheci na FLUL e cujo filho foi meu aluno no Liceu Pedro Nunes.

As casas são bonitas, apalaçadas,  rodeadas de jardins com muros cada vez mais altos e alarmes,
árvores centenárias, trepadeiras, ramos retorcidos,  portões de ferro forjado, janelas altas, sotãos misteriosos...em que se imaginam vidas...

Fico sempre a pensar quem terá sonhado nestas casas, como era o dia-dia nesse tempo, o que resta da burguesia do Porto. Cada vez há mais gente a emigrar daqui para a Foz ou para zonas mais protegidas, mas enquanto mantiverem algumas destas casas, teremos a ilusão de que se não perdeu tudo e que a crise não afecta todos.



Há cerca dum mês, abriram a Casa das Artes ao público e voltei lá hoje.O sol já baixo incidia na parte cimeira da casa e iluminava os frescos e as janelas. O lago  do lado sul, que nunca tinha visto com água, reflectia tudo o que o rodeia: a casa e as inúmeras árvores - seis ou sete laranjeiras carregadas de frutos - indiferente às folhas que caíam e ficavam a flutuar à tona, numa espécie de paz zen, que durará até chover.



Já me tinha esquecido que as árvores deste jardim eram tão especiais. Datam da mesma época das do Jardim Botânico, mas


parece estarem ali para uma boda, numa sala de visitas atapetada a dourado. Os banquinhos de azulejo rimam na perfeição com este quadro. É um jardim maravilhoso...e fica a 5 minutos a pé da minha casa.

O cinema-estúdio, construído por Souto Moura e galardoado com o Prémio Sécil, permanece e está aberto ao público. O congresso sobre o património começará daqui a dias. Será que tudo vai renascer?

Vim depois à volta pela Rua da Venezuela, já mais urbana e menos residencial, passando pelo BB Gourmet, onde me deliciei com um creme de camarão ( às 4 da tarde) e li o Público, como se fora na biblioteca....

A isto chama-se qualidade de vida. Apesar de, neste mês, me terem espoliado em mais de dois mil euros, só em taxas e IRS. Um verdadeiro roubo.

Mas tudo isso não chega para me tirar a paz e a certeza de que enquanto puder gozar destes pequenos prazeres, sou FELIZ.


Fica aqui um texto sobre a Casa das Artes escrita em 2005, quando ainda se entrava pelo portão do fundo, que depois foi fechado durante este últimos anos. O site tem fotografias lindíssimas do jardim e vale a pena visitar.

A Casa das Artes fica situada na Rua António Cardoso, no seio da que foi, e ainda é, uma das zonas mais selectas do Porto no virar do Século XIX para o XX e onde as mais abastadas e influentes famílias portuenses tinham as suas residências. Entre essas famílias os nomes mais sonantes são os Andresen, os Allen e os Burmester e as casas eram à data Quintas nos arredores do Porto.

A Casa das Artes era pertença dos Allen, que tal como os outros eram grandes interessados em coleccionismo botânico e graças aos quais temos hoje no Porto diversas colecções sem par no panorama português. A casa dos Andresen, a título de curiosidade, é hoje o Jardim Botânico da Faculdade de Ciências do Porto.

Esta casa, foi nos anos 90 pertença da Secretaria de Estado da Cultura, tendo o Souto Moura construído nos terrenos da casa um Centro Cultural premiado em 1992 com o Prémio Secil de Arquitectura.

Nos últimos anos, a SEC saíu do local passando o mesmo para posse da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional - Norte, que à boa maneira portuguesa, "tomou posse" e fechou o jardim ao Público. 


No entanto, aparentemente, "alguém" abriu o portão das traseiras pois encontra-se aberto e sem vigilância, logo à mercê do vandalismo... A casa, fechada, mostra já sinais evidentes de degradação. O futuro do espaço é portanto uma incógnita o que é uma pena já que tanto a casa como o jardim, conhecido por possuir um dos maiores Tulipeiros (Liriodendron tulipifera) do país são merecedores de uma visita atenta.

http://www.skyscrapercity.com/showthread.php?t=505451


domingo, 17 de novembro de 2013

O outono das nossas vidas em Serralves

Mal refeita do banho de beleza que me foi oferecido nas 4 e 5ªfeira passadas, hoje tive o privilégio de ir a Serralves com o meu ex- e a nossa filha depois dum almoço buffet com a família toda no Hotel Ipanema Park , onde se come maravilhosamente.


Serralves não existe. 

É daqueles lugares, onde tudo é tão superiormente belo e acabado que os nossos olhos quase não acreditam no que vêem.

O equilíbrio, a luz, as sombras, os gestos, os silêncios têm sempre espaço em Serralves.

Não se acredita que estamos no meio da cidade, não se percebe como é que um espaço daqueles é nosso por um euro e meio ( seniores).

O contraste entre  serralves e um parque público qualquer está no modo como as pessoas se moldam ao civismo, à cultura e ao respeito pelo que é bonito. Anda-se durante horas sem ver um papel no chão, uma lata abandonada, papeis de rebuçados ou pontas de cigarro. E é domingo, dia das famílias, com entrada grátis até as 13 horas! Não entram cães, nem gatos....mas há borboletas,  cisnes , bois, carneiros e outros exemplares, em zona própria e com cuidados próprios.
Serralves é belo.

Serralves é o mundo das árvores, é difícil encontrar tanta espécie arbórea diferente em áreas relativamente pequenas.

Neste momento há vários painéis na alameda dos plátanos, contando a história de Serralves com fotografias e texto sobre a evolução do espaço. Muito interessante e um motivo de orgulho para os tripeiros.

Não posso andar muito, de modo que me fiquei pela zona superior, onde havia pouca gente e o silêncio era realidade.
Apetecia-me deitar na relva verde, como fiz no verão com a minha filha e ficar ali a olhar para o céu ou para a copa das árvores que se curvam e beijam em catedral. Mas a relva estava húmida e o tapete dourado de folhas não se podia desmanchar.

Foi bom celebrar o nosso aniversário assim...as recordações são imensas, a nostalgia tridimensional, mas a ternura subsiste e o amor também. E o que é, afinal, o amor sem a liberdade?


You shall be together when the white wings 
of death scatter your days. 


Aye, you shall be together even in the 
silent memory of God. 



But let there be spaces in your togetherness, 


And let the winds of the heavens dance between you.

Love one another, but make not a bond of love. 

Let it rather be a moving sea between 
the shores of your souls. 



Fill each other's cup but drink not from one cup. 


Give one another of your bread but eat not from the same loaf. 



Sing and dance together and be joyous, 
but let each of you be alone, 



Even as the strings of a lute are alone 
though they quiver with the same music. 



Give your hearts, but not into each other's keeping. 
For only the hand of Life can contain your hearts. 



And stand together, yet not too near together. 


For the pillars of the temple stand apart, 



And the oak tree and the cypress 
grow not in each other's shadow


Kahlil Gibran - The Prophet
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