terça-feira, 30 de abril de 2013

Agradecimento

ao meu amigo Paulo de Abreu e Lima por me ter arranjado o cabeçalho que estava com a foto larga demais e com demasiado pixeis. Isto provou que no ciberespaço há solidariedade....para não falar de longas amizades.

Obrigada, Paulo, está muito melhor, bem hajas.

Ainda as belezas açoreanas

O meu Amigo Paulo publicou no seu blogue Assim na Terra como no Céu, umas fotos de cascatas absolutamente deslumbrantes do Portugal desconhecido para muita gente, gente essa que se limita ao litoral e não procura, em geral,  as belezas mais remotas deste país.

Neste caso, gostaria de vos remeter para o blogue Do Caos ao Cosmos, assinalado na lista à direitada minha Amiga Regina, que é natural de Alfândega da Fé, e preserva os tesouros da região, partilhando todas as suas recordações, tradições e eventos a par de poemas seus dedicados ao nordeste transmontano, que tanto ama.


Embalada pelas cascatas do Paulo, resolvi postar aqui mais umas fotos dos Açores que tirei na semana passada,  entre as quais umas cascatas muito simples, que fomos vendo pelo caminho, e que me encantaram pelo murmúrio da água a cair, sempre belo e sempre imparável. Não se comparam com as do Paulo, muito mais sumptuosas e misteriosas, para além de fotografias impares.




Todas as fotos foram tiradas no nordeste da ilha junto ao um velho moinho de água que ainda funciona. A zona é rural, mas parque protegido. Ficaria ali horas a fio.....


segunda-feira, 29 de abril de 2013

Tarde romântica

Ontem fui pela primeira vez ao Museu Romântico do Porto, um local do outro mundo, que pareceria mais adaptado a Sintra ou ao Buçaco do que ao coração desta cidade, ainda que nela, haja muitos mais recantos igualmente belos e preservados, como só encontrava dantes em Coimbra ou em Viseu.

O museu fica na denominada Rota do Romântico, um roteiro para os que buscam raizes do passado cultural romântico da cidade, dos tempos de Garrett e dos concertos senhoriais em salões de famílias nobres, que, às vezes, vemos recreados nas séries inglesas da BBC e também nalgumas portuguesas de época.

O caminho para lá é sinuoso com ruas estreitas e rampas de calçada a partir do Palácio de Cristal, onde o autocarro nos deixou.
Entra-se num mundo diferente, todo feito de musgo e muros de granito, casas antigas, árvores seculares, fontinhas e trepadeiras. Não fossem os malditos carros e estaríamos perante um cenário de filme da época. A tarde de sol pleno realçava mais ainda os contrastes e as sombras.
Locais como estes deveriam ser conservados como se de jóias se tratassem, pois são eles que nos fazem identificar esta cidade com o seu passado histórico, literário e cultural.
A vista da Ponte da Arrábida, muito embora mais recente, enquadra-se bem neste cenário em contra-luz, o rio Douro vestiu-se de prata, contornando as margens da cidade.
Fiquei ali uns minutos, extasiada, antes de entrar para o museu, onde ia decorrer o Recital da Pauta. As crianças que iam tocar já se encontravam lá dentro e ouviam-se instrumentos vários, numa cacofonia agradável, que não estragava o ambiente.



A sala lindíssima ostentava à frente um enorme espelho, 

que reflectia a audiência, enquanto os intérpretes vinham à vez tocar a sua peça em violino ou violoncelo acompanhados ao piano. O meu neto saiu-se muito bem, tocando o Concerto Húngaro de O. Rieding, uma peça menos conhecida , mas lindíssima, uma toada eslava com o seu ritmo de dança cigana.
Foi-me possivel  gravar tudo, sem interrupções, apesar dos meus dois netos mais novos estarem junto a mim, mexendo-se e deixando cair os programas ou bonecos que traziam na mão :))




Os jovens da Pauta tocam bem e , sobretudo, empolgam a plateia pela sua simplicidade, técnica , arrojo e no modo como enfrentam as famílias e amigos que aparecem sempre a apoiá-los em grande número.


No fim do concerto, ainda houve tempo para estar no jardim um pouco a admirar o fim da tarde sobre o Douro.


A minha filha e eu fomos depois jantar à Mascara na Foz e passeámos junto ao mar, enquanto o restaurante não abria. Estava frio, mas aquele passeio abriu-nos o apetite e a refeição soube-nos pela vida. Os meus netos foram para casa, pois hoje tinham colégio e ao domingo vai-se cedo para a cama:)

Já em casa ouvi mais de 4 vezes o vídeo que fiz. Enviei-o ao meu filho e aos Avós. É comovente ver uma criança de 9 anos tocar com tanto sentimento e técnica. Todo ele vibra com a música - desta vez húngara, cigana - e toca com sensibilidade dum adulto. Não sou uma Avó babada,  sou bastante crítica, mas verifico desde miúdo que ele é dotado para a Música, como o Pai e a Mãe.

Amei - como agora se diz - todos os minutos da tarde de ontem. Esta cidade é um espanto, cada vez gosto mais de cá viver e de descobrir as maravilhas que por aqui se escondem. Não chegariam os anos que me faltam viver para a conhecer toda. É uma cidade com património, com História, com identidade, patriótica e Invicta.    Houvesse muitas assim.....















domingo, 28 de abril de 2013

Viver não custa

Há muito que deixei de beber café puro, como eu gosto, expresso, curtinho e que nos enche de adrenalina.

Há pouco fui almoçar com a minha filha ao BB Gourmet, onde só comemos uma sopa de camarão, mas que foi pretexto para sairmos de casa neste dia ventoso  mas duma luminosidade que até cansa. O céu está teimosamente azul, já aparecem umas nuvens tipo simpson, cinzentas e brancas, as árvores estão excessivamente verdes, as glicíneas trepam pelas grades e até pelos troncos das árvores vizinhas, as azáleas regurgitam de flor de tal modo que nem se vêem os pedúnculos, os castanheiros do Japão ostentam os seu cachos branco e rosa, a natureza aqui onde eu moro venceu a corrida contra a poluição do tráfego e, ao domingo, sente-se o odor do jasmim, das rosas de S. Teresinha e da glicínea, num misto de perfumes intensos que me inebriam.

Hoje, não sei porquê acordei as 5.30 da manhã e não consegui dormir até as 7. Estive aqui a trabalhar no meu novo manual, num tema que me é querido: imigração. Tenho dois textos, um sobre multiculturalismo, outro sobre um cantor que emigrou da Polónia para os EU em 1920.

Adoro didactizar estes textos, puxar pela cabeça dos alunos, explorar o seu "critical thinking" ( agora muito na moda), testar as minhas próprias capacidades de ainda criar algo de novo. Senti-me inspirada, cheia de vigor e com desejos de ir mais e mais longe...


Hoje à tarde vou a um recital no Museu Romântico ( nome lindo), em que o meu neto vai tocar a solo um concerto húngaro para violino e já estou expectante, pois toque ele bem ou mal, " eu sei que vou te amar por toda a minha vida"...

Domingo de sol, um pouco triste porque o meu filho partiu para os EU mais uma vez, mas com certezas de que a vida para mim ainda não acabou.

Ainda não me sinto "une vieille" na definição de Jacques Brel que tão deprimente é :


Les vieux ne rêvent plus, 
leurs livres s'ensommeillent, 
leurs pianos sont fermés,
Le petit chat est mort. 
Le muscat du dimanche 
ne les fait plus chanter,
Les vieux ne bougent plus, 
leurs gestes ont trop de rides, 
leur monde est trop petit,
Du lit à la fenêtre, 
puis du lit au fauteuil, 
et puis du lit au lit
(...)

Recuso esta versão pouco animadora da velhice. Recuso-me à sedentarização. Quero emigrar para outros mundos, outros horizontes, com ganas de vencer, com esperança de me realizar. Não consigo baixar os braços, ou como dizia o meu ex-, "bater a bola baixinho". Bebi um café , hoje, e soube-me pela vida. Logo vou ter insónias pela certa.

Mas para já, desculpem lá,  vou ainda dormir uma sestazinha....:)



sexta-feira, 26 de abril de 2013

Monsieur Lazahr

Fui ver o filme, de que já vira o trailer, candidato a Óscar de Melhor Filme Estrangeiro em 2012, filme canadiano sobre uma temática que sempre me interessou: a escola.

Como sempre, não estava quase ninguém na sala às 2-15 e o silêncio ajudou a impregnar-me do ambiente dramático em que se desenrola a história, a ouvir bem a música de piano que o acompanha e, sobretudo, sentir a pulsação das personagens que interpretam magistralmente os seus papeis: o professor argelino que "cai de paraquedas" numa escola de Montreal, as crianças simples e naturais de 11- 12 anos, pré-adolescentes traumatizados por um acontecimento funesto ocorrido dias antes.

É um filme belo e contrariamente ao que esperava, verifico que os nossos críticos - o Sr. Vasco Câmara, por exemplo, que dá 1 estrela ao filme - continuam a receber o vencimento sem ter a mínima noção do que um filme contém em termos de sensibilidade, interesse humano, originalidade dentro do tema, tratamento delicado do mesmo, sobriedade, complexidade ou beleza.

Naquelas duas horas revivi a minha vida de professora e senti aquela ansiedade e nervoso miudinho que se apoderava de mim todas as manhãs ao entrar na sala de aula. Nunca sabia ao certo como os alunos iriam reagir ao tópico escolhido, não sabia o que se tinha passado na aula antes, o que acontecera nas suas casas, quais os estados de alma com que vinham para a escola. Tinha de fazer tábua rasa de tudo o que me preocupava a mim também: filhos, casa, saúde, acidentes, discussões, perdas e até alegrias tinham de desaparecer naquele momento.



A sala de aula sempre foi para mim como um palco, um teatro. Este filme foi extraído duma peça de Evelyne de la Cheneliere,  "Bashid Lazhar", e contém  sobriedade teatral,  que não perpassa para as interpretações, nem para a técnica de filmagem, muito equilibrada e contida, mas diversa e atraente. O filme não tem momentos mortos, é sempre interessante.


Consigo imaginar o que seria este filme realizado por americanos, a "xaropada", o drama, as intervenções estereotipadas dos agentes escolares, dos pais e até dos miúdos, que aqui são exemplares e dão lições de bem representar a muitos actores adultos. Também imagino como seria o filme feito cá, com jovens ordinários, péssimos actores, mas com físicos de modelos e atletas:)))

Não conto nada do enredo propositadamente. Penso que não estraguei o vosso suspense, nem me anticipei ao visionamento da película.
O mesmo não acontece com as críticas que já li e que repudio vivamente. O Público, jornal de referência (?), está a pagar a pseudo-críticos para nos desmotivarem de ir ao cinema e de apreciarmos com os nossos próprios olhos realizações quase perfeitas.

Basta dizer que no site Rotten Tomatoes, que é o que sigo quase sempre o filme está cotado com quatro estrelas e 97% dos espectadores gostaram dele.

Deixo-vos com imagens e a banda sonora muito bela deste filme singular.


quinta-feira, 25 de abril de 2013

8.000 visitas

O blogue vai fazer 4 meses no dia 1 de Maio.

Nunca pensei chegar às 200 visitas por dia, como ontem aconteceu. Perdi o meu outro blogue em Dezembro e com ele alguns contactos, pois já tinha 500 visitas por dia, muitas do Brasil e EUA!
Não baixei os braços e felizmente renasci das cinzas, com sofrimento, incertezas, algumas lágrimas e vontade de desistir.


Em boa hora consegui erguer um novo espaço, mais bonito - ainda que com defeitos de formatagem - onde continuo a sonhar convosco num convívio saudável, que me traz alegria e Paz.

Hoje mudei o visual para uma das minhas pinturas, feita há um ano e de que gosto especialmente porque tem muito de impressionista, faz-me lembrar ( com todos os descontos ) umas telas do Renoir e até de Van Gogh. Será presunção, mas os "verdadeiros artistas" não têm consciência daquilo que dizem e vivem na ilusão de que são bons.....é o meu caso!!:)

Obrigada pela vossa presença assídua, cada vez gosto mais do ciberespaço e como diz a minha amiga Isabel Mouzinho, cujo blogue Isto e Aquilo recomendo, descobrimos aqui pessoas que nos enriquecem e nos dão razões para acreditar em mais e melhor.

Fica aqui mais uma foto da Lagoa das 7 cidades, a mais conhecida de S. Miguel.




S. Miguel - Ermida de Nossa Senhora da Paz - Vila Franca do Campo

É um local espiritual.

Como disse noutro post, quem não é religioso, sente o misticismo que advém daquilo que, em geral, ultrapassa o vulgar, o urbano, o bonito. É algo que nos eleva, como as vistas no cimo dos Alpes cobertas de neve, os campos e montes escarpados do Yorkshire, os verdes que circundam o Lake District, os oásis da Tunísia ou a maravilha arquitectónica de Petra, para me cingir a algumas das que vi e me ficaram na memória.


Esta ermida está colocada num local espantoso e emerge como um facho nos campos verdejantes, onde as vaquinhas pastam sossegadamente. É idílico. De lá avista-se toda a costa sul da ilha.

Vai aqui um pequeno texto sobre ela tirado da Wiki:


A lenda da ermida



Nos montes ao redor de Vila Franca do Campo trabalhavam muitos pastores. Num certo dia, alguns deles recolheram-se a uma das grutas ali existentes, para se abrigarem do mau tempo, encontrando uma imagem de Nossa Senhora. Admirados com o achado, levaram-na para a Igreja Matriz, onde a entregaram ao pároco.

 No dia seguinte, os pastores encontraram novamente a imagem, na mesma gruta. Reconduzida à Matriz, o fenómeno repetiu-se por alguns dias, até que o povo compreendeu que a imagem desejava ter uma ermida naquele sítio. Os materiais de construção começaram a ser transportados para um local mais abaixo da gruta, lugar mais abrigado dos ventos fortes, iniciando-se os trabalhos. No dia seguinte, entretanto, quando os trabalhadores chegaram para iniciar o dia de trabalho, encontraram o local revirado, e as pedras colocadas no local onde a imagem fora encontrada pela primeira vez. Nesse sítio, então, foi erguida a Ermida de Nossa Senhora da Paz, com o Menino Jesus ao colo, tendo na mão um ramo de oliveira.


Podemos acreditar ou não na lenda, mas a beleza do local permanece intacta. 







As cerejeiras do Porto / especial para o PAeL)

Há dias houve quem duvidasse de que aqui no Porto também se pudessem fotografar cerejeiras....alguém que foi ao Fundão e as mostrou orgulhoso no seu blogue ;-).

Logo nesse dia, ao ir buscar os meus netos ao Colégio Alemão, reparei numa árvore espectacular que estava toda em flor. Era única e por isso ainda me pareceu mais bela. Infelizmente não tinha meios para a fotografar, mas prometi a mim própria que o faria na semana seguinte a vir dos Açores ( esta). Só que a Primavera me trocou as voltas e algumas flores já tinham virado folhas e a árvore já não estava tão linda como a vira.

Mas para que não fiquem dúvidas - e especialmente para esse meu grande Amigo ( das cerejeiras e não só), aqui ficam as fotos que tirei no pátio do colégio para espanto dos miudos que por ali andavam.....

Cerejeiras há muitas tanto no norte como no sul:)))  E não, o Picasa ainda não fabrica cerejeiras a pedido!!



quarta-feira, 24 de abril de 2013

Um chá nos Açores



Nada sabia sobre o chá dos Açores....como provavelmente a maioria das pessoas que lá não foram. Resolvi , portanto, pôr aqui um texto um pouco longo extraído do site assinalado, que conta a história completa desta preciosidade de S. Miguel, que anda por todo o mundo e que nós, portugueses, quase ignoramos.


Visitei-a em dia feriado pelo que não vi as máquinas a trabalhar, mas estava vazio e podia-se lá ficar tempos infindos, fazer perguntas, comprar saquinhos e saquinhos e contemplar as plantações dum verde amarelado magnífico, quase irreal...


Portugal parece ter ainda tesouros por descobrir. Um deles, do qual muitos portugueses nunca ouviram falar, é o Chá Gorreana. Esta apreciada bebida cultivada cá, mais concretamente na ilha de S. Miguel, nos Açores, foi durante muitos anos a única plantação de chá da Europa. Na actualidade, a fábrica Gorreana  continua a produzir, apesar das muitas dificuldades (sempre ultrapassadas). A história da introdução do chá em S. Miguel, confunde-se com a da vida das  famílias micaelenses.

O chá teve produções significativas nas primeiras décadas deste século. Na ordem das 700 toneladas por ano. No entanto, as restrições às trocas com o exterior, durante as duas grandes guerras, fizeram com que houvesse um maior investimento noutras culturas mais necessárias à subsistência . E o declínio da produção de chá foi inevitável. Dos anos 80 até há bem pouco tempo, a Gorreana era a única fábrica de chá da Europa. Mas em tempos houve cerca de 15 em S. Miguel.

A plantação tem 32 hectares e, actualmente, a produção anda à volta das 33 toneladas por ano (mas tem capacidade para 40). Este ano o objectivo é chegar às 35. A maior fatia da produção destina-se ao consumo da Região, mas há ainda uma parcela de duas toneladas para o Continente, quatro para a Alemanha (o país da Europa onde o consumo de chá tem aumentado mais per capita), cerca de para os EUA e Canadá, e ainda perto de seiscentos quilos para a Áustria.









     É preciso ter em conta que para os EUA e para o Canadá vai muito mais chá, que é levado pelos micaelenses, depois de passarem as suas férias na terra natal.  O clima dos Açores ajuda a planta do chá – Camellia sinensis – porque lhe dá a água que ela precisa. “Temos chuvas bem distribuídas ao longo do ano. O chá precisa de pelo menos, 30 milímetros de água por mês. Felizmente não temos geadas, que queimam as folhas e o sol não é demasiado intenso, há sempre umas nuvens”, explica o proprietário.


 http://www.portais.ws/chagorreana/

Bebi um chá verde ( há duas qualidades de preto e uma de verde). Soube-me pela vida....

( Todas as fotos são minhas.....:)


O nordeste - a região mais linda de S. Miguel






A concha

A minha casa é concha. Como os bichos
Segreguei-a de mim com paciência:
Fechada de marés, a sonhos e a lixos,
O horto e os muros só areia e ausência.

Minha casa sou eu e os meus caprichos.
O orgulho carregado de inocência
Se às vezes dá uma varanda, vence-a
O sal que os santos esboroou nos nichos.

E telhadosa de vidro, e escadarias
Frágeis, cobertas de hera, oh bronze falso!
Lareira aberta pelo vento, as salas frias.

A minha casa... Mas é outra a história:
Sou eu ao vento e à chuva, aqui descalço,
Sentado numa pedra de memória.

Vitorino Nemésio







terça-feira, 23 de abril de 2013

23 Abril - Dia Mundial do Livro


"Um romance é como um arco de violino, a caixa que produz os sons é a alma do leitor."
Stendhal

"A leitura é uma fonte inesgotável de prazer mas por incrível que pareça, a quase totalidade não sente esta sede."

Carlos Drummond de Andrade

"Há os livros que antes de lidos já estão lidos. Há os que se lêem todos e ficam logo lidos todos. E há os que nos regateiam a leitura e que pedimos humildemente que se deixem ler todos e não deixam e vão largando uma parte de si pelas gerações e jamais se deixam ler de uma vez para sempre."

Vergílio Ferreira

Há Mais de Meia Hora
Há mais de meia hora 
Que estou sentado à secretária 
Com o único intuito 
De olhar para ela. 
(Estes versos estão fora do meu ritmo. 
Eu também estou fora do meu ritmo.) 
Tinteiro grande à frente. 
Canetas com aparos novos à frente. 
Mais para cá papel muito limpo. 
Ao lado esquerdo um volume da "Enciclopédia Britânica". 
Ao lado direito — 
Ah, ao lado direito 
A faca de papel com que ontem 
Não tive paciência para abrir completamente 
O livro que me interessava e não lerei. 

Quem pudesse sintonizar tudo isto! 

Álvaro de Campos, in "Poemas" 



Lagoa do Fogo










Ali, onde gigantes residiram,
Os cumes das montanhas que explodiram,
Tornados em lagoas de beleza,

Relembram aos herdeiros dos atlantes
Que até já os primeiros navegantes
Sabiam respeitar a Natureza.




Vítor Cintra

segunda-feira, 22 de abril de 2013

Um grande espaço de tempo








Estás velha, hem? ...      ― Velha, não; mas enfim ... o tempo não passa só para quem viajou muito como o tio. Quem me dera! ...      ― Viajar ou envelhecer?      ― Talvez as duas coisas ...      Sentiu sede de se abrir toda ao tio, explicar aqueles dois pontos que ele isolara tão bem a rasto da recordação do seu dia de anos no Pico; mas não achou palavras sensatas, ou pelo menos capazes de serem ditas ali de selim selim, nos campos tão bonitos. As culturas começavam a cobrir-se das primeiras flores singelas; os olhinhos das árvores abotoavam discretamente. O verde-negro dos pastos, o verde dos Açores, quente e húmido, emborralhava-se até longe. Os cavalos seguiam de cabeça comprida, fazendo vibrar de vez em quando as ventas.      ... Envelhecer não seria; mas era deixar passar um grande espaço de tempo, como um troço de filme em branco, fechar os olhos ao peso daquela doçura da volta, tapar os ouvidos como quem teve um mau dia e chora ao meter-se na cama, moída, gasta ... Na manhã seguinte acordar, mas passados uns anos, longe do Faial, ou noutro Faial só com o caminho à roda, o Pico em frente ... gaivotas ... sem ninguém. 


Vitorino Nemésio - Mau Tempo no Canal

É difícil deixar o Paraíso

Compreendo o que Adão e Eva devem ter sentido quando foram expulsos do paraíso.

Senti o mesmo quando me despedi do chauffeur de taxi que nos tinha acompanhado nos 4 dias, e peguei nas malas para me dirigir ao check-in. Apetecia-me gritar, apetecia-me ficar, não queria meter-me num avião durante duas horas e nem sequer voltar já para o Porto. O aeroporto estava desértico, ainda era muito cedo e puz-me a ler os poemas do livro que comprara para prolongar um pouco mais a sensação de pertença a um dos lugares mais belos que conheci na terra.

Ontem foi um dia excepcional, saímos pelas 9 horas em direção à Lagoa do Fogo,  passando pela Ribeira Grande, sempre por estradas secundárias, lindíssimas, com as árvores em folha recém-nascida, plátanos e plátanos verdejantes, arbustos e vegetação a condizer numa paleta de verdes difíceis de pintar. Em todo o lado só apetece sair do carro e respirar aquele ar lavado dos campos, já tão difícil de encontrar nas cidades.

A Lagoa do Fogo estava envolta em nevoeiro que de vez em quando se dissipava e deixava entrever a água prateada e funda ou os retalhos esverdeados esmeralda. A vegetação era ocre e laranja em tons completamente diferentes daqueles que vira momentos antes, uma paisagem quase marciana, lembrando o filme Guerra das Estrelas, que foi filmado na Tunísia, onde estive há uns anos. Estivémos ali durante meia hora, estava um ar gélido, fantasmagórico e irreal.
Tínhamos de voltar à civilização, mas o contraste era tremendo.

Fomos para as Furnas, onde seguimos o ritual : ver os buracos, onde se faz o cozido, observar como se tiram as panelas depois de seis horas de cozedura, admirar a lagoa banhada pelo sol pleno que ali não regateava generosidade.



 Estava calor, um dia de quase verão. O cozido não desmereceu, servido num restaurante regional, muito bonito, acompanhado dum vinho de Borba - um dos meus preferidos.



Depois démos uma volta inteira pelo sueste da ilha, vendo as praias, que ainda não tínhamos contemplado de perto e a cidade de Vila Franca do Campo com a sua ermida a Nossa Sra da Paz,



local onde mesmo quem não é, se sente religioso. As praias desertas com a sua areia negra são diferentes e menos apetecíveis que as de Porto Santo, uma das praias mais belas que conheço.



Foi o dia da despedida, o nosso amigo motorista Luis estava melancólico, também ele deveria estar a pensar que nunca mais nos ia ver.....

e quem sabe?

pode ser que ainda um dia nos voltemos a encontrar....no Paraíso.