sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

PORTO - descobertas constantes

Esta cidade é um mistério para mim.

Todos os dias conheço cantos e recantos mágicos que aumentam o meu apreço - diria até amor - por esta cidade.

Ontem o Cais da Ribeira foi considerada uma das ruas a visitar antes de morrer....
Também não concebo que haja portugueses que não se interessem por conhecer esta cidade  quando viajam para os Qatars, Egiptos, Nordestes brasileiros, etc.etc.
Não que eu despreze essas regiões- serão fantásticas , mas esta cidade onde eu vivo por empréstimo há 34 anos, tem locais absolutamente originais e cativantes...é uma das cidades mais acolhedoras e românticas da Europa.

Hoje postaram no Facebook esta foto da Ribeira vista de helicóptero. É uma verdadeira poesia...uma pintura...que fica na nossa retina sem cessar. Não resisti a pô-la aqui. Pertence ao site Henrique Melo Photography, que aconselho, é uma verdadeira colecção de preciosidades fotográficas.

Escreve o autor desta foto o seguinte:

ELA
anda sempre comigo
falo e sorrio para ela em muitas situações
chuva, vento e frio e ela aguenta
enrosca-se no meu pescoço, mas gosto
somos cúmplices nestas aventuras
mas ela não fala...nem ri...mas é a minha companheira
reproduz o meu olhar, esse olhar digo eu, olhar meu
E no final do dia lá regressamos eu a minha
querida Máquina Fotográfica.


Henrique Melo



quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

Pintura.....

Já há muito que não pinto nada de jeito.
Mas hoje terminei o meu trabalho de revisão de provas e senti um vazio.

Fui para o meu atelier e descobri os últimos quadros que pintara, alguns mal conservados. Se estiverem em contacto as superfíceis colam-se umas às outras devido ao verniz e depois acabam por perder a cor nos sítios onde se colaram.
Não tenho espaço para os expor todos, de modo que estão encostados às paredes ou metidos num enorme cilindro redondo que comprei há tempos, que se destina em geral a colocar vasos com plantas, mas neste caso é um recipiente para guardar os quadros mais leves.

O meu atelier serve para tudo e também para os meus netos dormirem quando cá ficam, de modo que não quero ter o espaço desarrumado ou desagradável à vista. Mesmo assim , acho que se está lá bem, o silêncio e a vista das árvores da Casa das Artes são repousantes para variar do Campo Alegre, mais barulhento com os autocarros a subirem e a descerem a avenida a toda a hora.

Quando me sento à secretária de vidro acrílico, super-moderna,  rodeada dos meus quadros e dos meus livros mais queridos, caixas pintadas, desenhos dos meus netos, fotos da exposição que esteve patente no Vivacidade, sinto que ali estou bem...é a minha casa!

Este é um dos quadros que estive a restaurar. É um regresso ao Outono....

Oiço no Brava o Concerto nº 1 de Beethoven, tocado pelo jovem Kissin, que já está um homem, mas continua com a aparência de um menino.

Descansar faz bem....mas às vezes preferimos ter muito que fazer!!

quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

Brahms- música que nos penetra

Quando tinha aí uns dez anos, a minha professora de piano deu-me a Canção de Embalar de Brahms para tocar. A partitura era espanhola,  de modo que o que eu aprendi foi a Cancion de Cuna.

Nunca mais me esqueci, era uma das peças ( simplificadas, claro) que mais gostava de tocar para o meu Avô, a par da Aida ( Marcha do Vencedor), que ainda me faz vibrar...

Depois dos 13 anos deixei de tocar e nunca mais me atrevi, a não ser nos "martelinhos". Perdeu-se uma pianista, mas ganhou-se uma ouvinte. Não sei o que teria sido de mim se em certos momentos da minha vida não tivesse tido a música clássica como única companhia, longe da minha terra natal, longe dos meus amigos, da família e de tudo, em geral.


O meu Avô gostava pouco de música de câmara, ouvia quase sempre música sinfónica e da mais romântica. O meu Pai era mais ousado e apreciava Mahler,  Bartok ou Stravinsky com reservas.

Com o meu filho aprendi a apreciar mais a música de câmara e tenho descoberto verdadeiras pérolas de Schubert, Brahms, Beethoven ou Vivaldi. Cada vez gosto mais de ouvir quartetos, trios, quintetos ou mesmo duetos, como este que estou a ouvir agora no meu i'pod, enquanto o meu neto, que está adoentado, vê um filme na TV: sonatas para violoncelo e piano de Brahms, com os grandes Rostropovich e Rudolf Serkin.

Esta música de violoncelo, que o meu neto do meio já toca com bastante arte e gosto, é sombria , mas tão lancinante que nos empolga...vem-nos à mente imagens das mais díspares, jovens apaixonados, paisagens arrebatadoras como as do Douro que não me canso de ver no Facebook, pintura sedutora daquela que nos faz estar horas diante dum quadro na sala de um qualquer museu.

Os dois executantes estão de tal modo entrelaçados que quase não se distingue o piano do violoncelo, a música doi, doi...e enleva.

Porque será que o que é lindo é sempre triste?

segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

Nick Cave


Já há muito que não ouvia Nick Cave, um dos meus cantores preferidos há uma década atrás.


Tem uma voz e um recitar de palavras que não se compara com outro que conheça, embora haja cantores - sobretudo homens - que me levam aos céus, como Leonard Cohen ou Tom Waits para não falar de Mathew Bellamy dos Muse ou Neil Hannon dos Divine Comedy. Aprecio menos as vozes de mulheres, e para mim a Lisa Gerrard é o expoente máximo do canto feminino alternativo.

Li no Ipsilon que Nick Cave tinha publicado dois albuns recentemente e fiquei com curiosidade de os ouvir, pois o concerto que ele deu aqui no Coliseu a que fui deixou muito a desejar, o som estava péssimo e as canções escolhidas eram muito barulhentas, nada do que eu estava habituada a ouvir a a amar.
 Aliás do Nick só gosto dos slows, que ele tem produzido em grande número de há duas décadas para cá. As baladas fazem-me calafrios na espinha, mas há mais de dez que me impressionam profundamente.

Diz o Ipsilon:

O ano passado foi generoso para Nick Cave. O seu último álbum, Push The Sky Away foi amplamente elogiado, tendo figurado em inúmeras listas dos melhores de 2013. Mais do que isso: as suas performances em palco geraram unanimidade. Nos últimos anos (com os Bad Seeds, com os Grinderman), recuperou a aura de grande performer, a que não deverá ser alheio o renovado interesse em torno dos espectáculos ao vivo. 
Talvez por isso, no final do ano, Nick Cave resolveu lançar um disco ao vivo (Live From KCRW) que passou quase despercebido. Mas coisa rara: é um excelente álbum ao vivo. Os seus concertos são quase sempre um balanço entre a impetuosidade, quando se aproxima das barreiras e da assistência, provocando-a, irado, e a graciosidade, quando se senta ao piano, ou apenas quando faz uso do seu vozeirão arrebatado. 
O que é interessante em Live From KCRW é que tudo se passa de forma descontraída. Gravado em Abril último capta esse ambiente relaxado, numa interacção tranquila com o público, enquanto a banda se entrega aos temas de forma sedutora, numa listagem de canções que contempla o último álbum (Wide lovely eyes, Mermaids, Push the sky away e Higgs boson blues), e canções de sempre como The mercy seat, And no more shall we part, Jack the ripper ou People ain’t no good. 

No more shall we Part é uma das canções mais pungentes que conheço, sou capaz de a ouvir vezes e vezes sem conta, assim como " Are you the one I'm looking for", uma verdadeira canção de amor que ainda me faz vibrar depois de anos sem a ouvir.


domingo, 26 de janeiro de 2014

Golpadas americanas ou...talvez não...

Fui ver o filme de que se fala, embora o nome não me atraísse muito e o trailer ainda menos. Não quis ver a cerimónia dos óscares sem conhecer um unico dos filmes oscarizados como tem acontecido ultimamente.

Não é um barrete, vê-se bem...lembrou-me o velhinho The Sting com o saudoso Paul Newman e Robert Redford, cujo soundtrack de Scott Joplin perdurará para sempre.-

Neste filme não há uma música paradigmática, mas excertos de canções que fizeram história como Delilah de Tom Jones. O ambiente é tipicamente americano, com laivos delicodoces de Os Sopranos, aldrabices dignas de The Hustlers, que em tempos me apaixonou, actores capazes ( embora não extraordinários,, na minha opinião), enfim, uma história que nos envolve do princípio ao fim, embora saibamos que tudo não passa duma grande farsa. A única questão é saber quem vai rir por último.....

O Arrábida shopping estava mais composto do que ao dia de semana e pela primeira vez fiquei sentada ao lado de alguém no cinema para alem da minha filha. Em geral não há vivalma...

O dia hoje está morrinhento, um daqueles dias para esquecer, chuvinha de molha-tolos,  toda a santa tarde. Mesmo bom para ir ao cinema...e agora, já em casa, entreter os meus netos, que ficaram sem a bisavó materna hoje. A senhora estava muito doente e faleceu na Régua, pelo que os meninos estarão aqui até irem para a cama, amanhã é dia de aulas.
Só o soube agora... daí ter ido ao cinema.

Assim se passa um domingo de inverno...sem "golpadas" em casa....as golpadas são só no écran e, infelizmente,  na nossa politiquice rasteira.


sábado, 25 de janeiro de 2014

Sábado na Baixa

Há muito que não ia à Baixa.

A de Lisboa é linda, esteticamente perfeita.

A do Porto é toda aos altos e baixos, mas como dizia a minha sogra, uma pessoa sente-se mais aconchegada e tudo fica mais perto. É como um imenso centro comercial a céu aberto , com igrejinhas pelo meio, cafés históricos como o Majestic, teatros e cinemas já centenários, muitos posters de eventos culturais, muito tapume com grafitti, vendedores ambulantes, músicos sul-americanos, enfim, uma panóplia de gente, casas e gostos, sem o classicismo da capital, mas com patine e charme de séculos. Quando vim para cá, achava tudo feio, mas aprendi a amar esta cidade e na realidade sinto-me bem aqui e gosto de postar as minhas fotos no Facebook e de receber likes de todos os cantos do mundo. Ainda hoje postei uma foto da ponte Luiz I e outra da Ponte d'Arrábida, que aqui vêem, pois o tema do Woophy Club era "Bridges".

Infelizmente não posso andar a pé durante horas, limitei-me a almoçar - uma tosta mista com molho de francesinha, mais leve que a irmã gémea, mas igualmente saborosa - e depois fui à Fnac, onde fiquei a saber que sem o cartão, não fazem descontos embora tenham os nossos dados todos no computador.

Há lojas que me irritam! A Fnac é uma delas, mas infelizmente tem tudo o que quero em termos tecnológicos. Não encontro iPods classic em parte nenhuma. O meu já há um ano que funciona mal, depois de ter caído da esplanada dos Ingleses e se ter estatelado nas rochas ;-). Tenho o iTunes cheio de música maravilhosa e gosto de a passar para o iPod para poder ouvir nos mais diversos sítios, nos autocarros, na Foz, nos consultórios, na fisioterapia, nos comboios....descansa-me mais do que a leitura e é mais leve para transportar. Por vezes as pessoas olham para mim com surpresa por me verem com auriculares, mas confesso que nada me embaraça...prefiro isso ao telemóvel sempre a tocar e a incomodar os vizinhos.

Cheguei a casa bem cansada, mas feliz, pois andar sozinha é sempre um prazer, ver os saldos de roupa a 70%, mesmo que não compre nada de especial, ver gente, turistas e respirar o ar da cidade faz bem ao astral. E não choveu, embora ameaçasse....:)



quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

Maria João Pires

Acabei de ouvir e ver um vídeo sobre uma das maiores pianistas do mundo....para mim....

Foi no blogue Valquírio que está listado aqui ao lado, onde podem encontrá-lo facilmente.

O documentário produzido pela RTP tem rodriguinhos a mais, comentários supérfluos e música a menos, mas dá uma ideia da dimensão desta artista, que tive a honra de ver tocar em nossa casa em Lisboa aos 15 anos quando nos foi visitar com os primos gémeos, amigos do meu irmão mais velho e colegas do Colégio Nun'Alvares, vulgo, as Caldinhas.
Lembro-me de Maria João ser pequenina mas muito vivaça. Atacou o piano que estava na sala junto à janela e tocou a Dança Ritual do Fogo de Manuel de Falla. Tocou com tal ímpeto que toda a família veio ouvir, não suspeitando, nem vagamente, que ela viria a ser quem é.


Poucas vezes a ouvi tocar em público porque raramente veio ao Porto. Lembro-me de a ouvir no Rivoli a tocar o 4º concerto de Beethoven e na altura, talvez porque a sala não era grande coisa em termos acústicos, fiquei um pouco desconsolada...estava habituada a ouvir os Improvisos de Schubert interpretados por ela, na minha cozinha, enquanto fazia o jantar. Ouvi aquele CDs dezenas de vezes. Era a minha libertação.

Acompanhei sempre tudo o que é notícia sobre Maria João, é uma personalidade fascinante, uma espécie de Scarlett O'Hara da música... uma força que vem da terra, da natureza, um som do outro mundo e que ultrapassa tudo o que se possa dizer sobre o seu talento. Quando a oiço fico um pouco acima do chão, numa estratosfera qualquer, onde nada mais existe senão o som inebriante do piano.

M. João é uma das nomeadas para receber um Grammy numa cerimónia que terá lugar a 26 em Los Angeles. Torço para que ganhe, embora ela não precise desse reconhecimento para nada.
É e será sempre a intérprete de música clássica mais internacional que este país gerou...e que , como outros, teve de emigrar porque todo o apoio lhe foi retirado.




terça-feira, 21 de janeiro de 2014

Love yourself

Tratar de nós próprios faz bem.
A tudo.

Cheguei à conclusão de que a fisioterapia é mesmo a única terapêutica que altera o meu estado geral e corrige as falhas físicas de que vou padecendo cronicamente.
Nunca fui pessoa hipocondríaca, pelo contrário, tinha a mania da saúde e era raro queixar-me, talvez para contradizer o meu ex- que sofria de tudo desde miúdo e que se queixava permanentemente de todos os males e de mais algum…:). Vendia saúde, pensava eu.

Hoje está um dia daqueles em que nem apetece sair da cama: cinzento, chuvoso, ventania e frio. Tudo junto, os ingredientes ideias para a depressão.

Mas sinto-me bem depois duma hora em que fui mimada por uma fisioterapeuta aqui da Vita Clinic, que fica mesmo por baixo da minha casa: crioterapia, termo terapia, massagens ao joelho e às costas, ginástica moderada. A conversa é estimulante, a companhia sempre simpática e os resultados parecem sentir-se imediatamente. Ainda por cima, tem uma comparticipação de 80%. Já que pagamos tanto de ADSE, mais vale aproveitar as benesses.

A acupuntura, que tentei em Maio, foi uma grande desilusão, nada adiantou e deixou-me marcas no corpo que nunca mais desaparecem. Não a aconselho a ninguém, confesso que foi dinheiro mal gasto e muito embora a pessoa que ma administrou não deixe de ser meu amigo, confesso que esperava mais desse tratamento. Os resultados foram nulos e não há comparticipação, nem sequer  desconto no IRS.

Se um dia ficar sozinha aqui no Porto, passarei umas tardes num health clube ou piscina, onde trate de mim própria, coisa que nunca fiz até aos 50 anos...penso que será a melhor maneira de ir vivendo com mais alegria...e poupando preocupações aos filhos e netos.

Hoje juntei dez quadros meus que vou oferecer para serem vendidos na tal associação de que vos falei, assim como uma dúzia de peças de roupa que não uso, nem os meus filhos, um saco de DVDs e ainda alguns livros.

O meu cunhado vem buscá-los e leva-os para Coimbra. Quem me dera que ele tivesse uma camioneta, despejava metade da minha casa, fui sempre mais de dar do que de guardar.... livros, CDs, DVDs devem-se ler ou ver e dar aos outros...não temos tempo na vida para ler e reler ou ver filmes mais duma vez ( a não ser os especiais) e hoje em dia, pode-se descarregar tudo no laptop sem pagar nada... :) Ainda ontem estive a selecionar musica do meu I'Tunes, que está cheio de canções e música clássica maravilhosa...há filmes na totalidade no Youtube, para quê comprar DVDs??

Hoje reparei que as cameleiras já estão cheias de flores aqui no Botânico. Mesmo com chuva, elas brotam. Também renascem todos os anos...é sinal de revitalização,  a delas e, sem dúvida, a  nossa.

domingo, 19 de janeiro de 2014

As gaivotas sabem-na toda....não há praxes lá no ar

Pois é, elas fogem do mar quando ele está bravo, sobem para cima duma rocha, dum poste ou candeeiro, longe das ondas, longe dos homens e daí contemplam os céus e os céus contemplam-nas a elas...as nuvens descem, descem até se unirem à linha do horizonte, deixando uma fímbria de luz incandescente...
 As gaivotas sabem que o mar é perigoso e não obedecem a praxes nem se expôem aos perigos inúteis por bravata até porque não são estúpidas como os homens.

Li hoje a notícia de que os jovens que pereceram na praia do Meco foram obrigados a entrar no mar pelo veterano da praxe e que já iam preparados para esse ritual, sem telemóveis e com a capa e batina.
Lemos isto nos jornais e mais parece a cena macabra duma seita americana qualquer num filme de Hollywood.
Mas não: passou-se cá bem perto, os jovens eram portugueses, os pais estão desesperados e o jovem sobrevivente estará cá e vai ter de contar a história da morte dos seus colegas indefesos.

Nunca pude com praxes, felizmente em Lisboa não as havia no meu tempo - agora é que instituíram essa estupidez a que chamam praxe académica. Os meus filhos tiveram de a fazer, tanto um como outro contrariados, a minha filha, felizmente, não aderiu e nunca teve qualquer represália...nem diploma de praxada..
Estava triste quando cheguei à Foz para almoçar no Tavi, um restaurante na Rua Sra da Luz, em cima da marginal e com uma vista esplendorosa do mar e do farol.

A Foz estava, como sempre,  lindíssima, apesar do frio cá fora. Ainda aguentámos uma hora na varanda do Café dos Ingleses, o único junto à praia que não sofreu estragos aquando do Hércules, que varreu a costa e destruiu bares como o do Ourigo e da Praia da Luz do Porto.

Estive ali perdida a olhar para as nuvens - um céu inglês daqueles que eu adoro ver na paisagem britânica - e  o mar em constante mutação de cinzentos prata, ouro ou chumbo. Um regalo para a vista cansada do Campo Alegre, por belo que seja.

Ouvi Leonard Cohen, um cantor de quem nunca me canso e que deixo aqui para os leitores do blogue neste domingo com sol....

Como uma ave no arame
como um bébado num coro de meia-noite
tentei, à minha maneira, ser livre
Como uma minhoca no anzol,
Como um cavaleiro dum livro de histórias antiquado,
tentei, à minha maneira, ser livre....




Leonard Cohen – Bird On The Wire ( London 2008)
Like a bird on the wire,
Like a drunk in a midnight choir
I have tried in my way to be free.
Like a worm on a hook,
Like a knight from some old fashioned book
I have saved all my ribbons for thee.
If I, if I have been unkind,
I hope that you can just let it go by.
If I, if I have been untrue
I hope you know it was never to you.


Like a baby, stillborn,
Like a beast with his horn
I have torn everyone who reached out for me.
But I swear by this song
And by all that I have done wrong
I will make it all up to thee.
I saw a beggar leaning on his wooden crutch,
He said to me, "You must not ask for so much."
And a pretty woman leaning in her darkened door,
She cried to me, "Hey, why not ask for more?"

Oh like a bird on the wire,
Like a drunk in a midnight choir
I have tried in my way to be fr
ee.


Paz aos jovens que, crendo ser livres, ficaram presos nos arames da praxe académica e enredados nas ondas do mar violento.



sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

Envelhecer com estilo

Fui ver  A Ultima Paixão de Mr Morgan - tradução mal feita de "Mr Morgan's last Love".

Love não exige necessariamente que haja paixão, nem a paixão que exista amor.
E neste caso, não se trata de amor no sentido conjugal, mas de uma necessidade e empatia, uma amizade, uma presença que se torna indispensável na vida daqueles dois seres isolados.

O filme começa por uma situação banal: um professor reformado perde a sua mulher de uma vida inteira e fica, aparentemente, completamente só;  nada mais lhe interessa senão a recordação dos momentos felizes já passados.
Mas vida continua e sem ele se dar conta, a luz penetra na escuridão da sua vida quotidiana.
Os versos da bela canção de Leonard Cohen, The Future, citados por Mathew, tornam-se reais: There's a crack in every wall, there's where the light gets in.". Há uma brecha em todos os muros e é por aí que a luz entra.

Neste momento, em que vejo os filhos e netos já quase criados e auto-suficientes, sinto, por vezes, uma solidão enorme que o trabalho da editora tem ajudado a suportar. Mas esse trabalho está a terminar, mais uns dois meses e acabou mesmo. O vazio instala-se por vezes no meu espírito, sobretudo nestes dias cinzentos e custa-me a acreditar que há muito para eu fazer, se a saúde mo permitir...fico cinzenta, como este céu de chumbo.
As aulas de dança, cenas esporádicas que surgem no filme, são o único bálsamo para iluminar a cinzentude de cidade de Paris  e da casa antiga onde Mathew Morgan vive.

Entretanto, a minha irmã enviou-me um video sobre o Centro de Solidariedade João Paulo II em Coimbra, uma obra notável para a qual tenho contribuido com dinheiro, mas que seria o local ideal para eu poder trabalhar como voluntária. Duas das minhas irmãs fazem-no quando podem.
Entrevistaram uma senhora com 90 anos que ajuda no que pode e o seu sorriso iluminava a sala. Vale a pena ver o vídeo da Praça da Alegria de 2ª feira passada e falar com as pessoas que trabalham para o bem de tantos e tantos que necessitam de atenção e carinho. Fiquei tocada com o testemunho duma mãe jovem com três filhos, um dos quais deficiente, que nada tem e de tudo precisa.

Liguei o tema deste video ao filme que acabara de ver e pareceu-me uma coincidência extraordinária. A solidariedade é imprescindível, sejamos ricos ou pobres.

O filme é tocante sem ser lamechas, Michael Caine interpreta o seu papel com um á vontade extraordinário, mas a minha "paixão" vai toda para Clémence Poèsy, que conhecia da série The Tunnel, que descarreguei pela net há meses e que me entusiasmou. A actriz francesa é linda, é luminosa, tem um sorriso que nos faz bem. Se fosse adolescente, quereria ter um poster da sua cara no meu quarto. Olhar para ela faz bem à alma.

segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

Os ( bloody) testes


Quando eu andava no liceu não se falava de testes a não ser dos psicológicos ou de destreza física.
Nós fazíamos exercícios escritos ( ou pontos) e tínhamos chamadas. Os exercícios eram feitos em 50m impreterivelmente e corrigidos pelo professor na sala de aula, semanas depois, sem grandes demoras, sem perguntas e sem nós percebermos muito bem porque é que tínhamos errado. A correção era feita no caderno diário e os exercícios assinados pelo encarregado de educação ( o meu Pai). Este era o ritual. Por vezes havia testes sem aviso prévio, o que era letal para os pobres alunos.
Para uma selecção séria, todos têm de fazer o mesmo exame: subam àquela árvore!
As chamadas eram orais e regulares, a prof chamava-nos ao quadro ou à secretária e fazia-nos uma série de perguntas em frente à turma. Não sem antes olhar para nós de alto a baixo, a verificar se a bata tinha todos os botões, o cinto e o emblema bem cosido.
Morria de medo nalgumas cadeiras - Física e Matemática, sobretudo, em que não era nenhuma águia…para não dizer que rastejava bem baixinho. Só aprendi a gostar de Matemática no 5º ano quando mudei de professora e participei numa exposição de geometria que adorei. Ainda me lembro de, no 1º ano, acabada de chegar do fino Colégio Inglês para aquele antro formal,  me debulhar em lágrimas para construir os sólidos em cartolina, sem conseguir acertar com os cantos, para gozo dos meus manos, que faziam tudo bem!

No secundário, tudo mudou. Até gostava dos exercícios escritos porque me permitiam exprimir as minhas ideias e escrever, o que sempre foi uma das minhas paixões. Fui sempre uma das melhores alunas a Português, conseguindo tirar um 18 no 7º ano para espanto da minha professora, que achava que o 14 era uma boa nota para mim ;_) : Nunca mais me esqueci do tema da redação do exame: Imagine que Almeida Garrett vai almoçar com o seu amigo Alexandre Herculano na quinta de Vale de Lobos e descreva a cena. Pode usar diálogo!

Hoje em dia não há exercícios nem chamadas, mas há  testes de diagnóstico, formativos, sumativos ( e pouco apelativos para rimar). O professor tem de elaborar o teste segundo uma matriz pre-concebida com critérios de correção pormenorizadíssimos ( se faltar uma vírgula, é irrelevante; se faltar um acento desconta-se 1/2 ponto; se der erro de ortografia pode ser irrelevante ou descontar 1 ponto, tudo depende do tipo de questão). As questões são depois todas incluídas nos descritores, divididos em 5 categorias - 1-5, sendo que 5 é para as respostas mais complexas e 1 para as mais carentes :).
- Então você vem do ensino público, o que é que o sistema oferece de positivo?    Isso é uma pergunta de escolha múltipla, um verdadeiro -falso ou um completamento de espaços???-

Ah, e ainda falta a grelha de correção que se oferece aos profs já com as cotações todas colocadas nos seus devidos sítios para não haver enganos.
Alguns profs ainda fazem gráficos….mas isso não compete aos autores. Aliás, só faltava mais essa e, já agora, corrigirmos os testes dos alunos.

Tudo isto me faz uma enorme confusão. Não consigo pactuar com o eduquês ( que o nosso amigo Crato tanto censurou), nem com estas burocracias que dão cabo do trabalho pedagógico e dos miolos dum professor, tiram-lhes horas de sono ou de lazer, obrigam-no a tarefas inglórias e inúteis. Para quê?

Os editores adoram este circo. Quanto mais papelada melhor, mais caderninhos, mais agendas, mais boletins, mais livros para ajudar os menos aptos, mais páginas e páginas a render milhões de cada vez que se lança um projeto. Já não se trata dum manual único mas duma panóplia de recursos didáticos ( gostam?), que o professor e os alunos deixam em casa na maioria dos casos. E ainda temos os suportes eletrónicos, os CDs interativos, que contém Powerpoints, manual interativo, os ditos testes, ditados gravados em webinars, grelhas, fichas para alunos heterogéneos, etc. A apresentação dos projetos faz-se em hoteis de cinco estrelas, onde os professores se sentem homenageados e reconhecidos :))

Pergunto-me:
Conseguiram ler isto TUDO?  Perceberam? Ou ficaram confusos??

Se leram tudo têm 20 VALORES, mesmo que não tenham percebido ( mas só se os vossos comentários obedecerem ao acordo ortográfico. Os erros são relevantes neste blogue!!!)

domingo, 12 de janeiro de 2014

O mundo do Woophy

Em 2008 aderi a um grupo chamado Woophy, de que já falei bastante aqui.

Era um site dedicado à fotografia, nascido na Holanda, onde podíamos uploadar tudo o que quiséssemos e as fotos ficavam ali como num museu amigo, com visitantes aos milhares , vindo dos mais variados cantos do mundo e assinalados num grande mapa de cada vez que clicávamos numa foto.
Tinha lá um espólio imenso de fotos minhas, que entretanto se perderam, fotos digitalizadas de viagens que fiz e em que usei a minha Canon tradicional, montagens, fotos manipuladas ( andava louca com o Picasa e outros), etc.
Organizavam-se jogos de fotos começadas por uma letra, adivinhas sobre fotos abstratas, blogues pessoais e um forum maravilhoso onde podíamos colecionar fotos sobre temas, fazer perguntas aos mais afamados fotógrafos, combinar encontros - só em Portugal houve 3 a que fui em Aveiro, Faro e Porto, todos eles muito concorridos e dos quais ficaram fotos inesquecíveis, atribuição de prémios a fotos, exposição, almoços e jantares opíparos, passeios na Ria Formosa e na de Aveiro, compras regionais, um nunca acabar de conversas interessantes com promessas de visitas a países como a Turquia, a Polónia, à Argentina, à Holanda e a Espanha,  etc., donde vêm os mais "aguerridos" e simpáticos fotografos amadores que conheço, todos eles com profissões variadas, desde médicos conceituados, psicólogos, professores, reformados como eu e alguns jovens filhos dos mesmos.

Infelizmente o site morreu este ano, devido a falta de verbas e de disponibilidade dos administradores, que trabalhavam muito para bem de todos.

No ano passado, Jean-Paul, um fotógrafo indiano resolveu abrir o Woophy Club no Facebook, página a que podem aderir todos os fotografos que quiserem. O FB tem a vantagem de ser de fácil acesso e de podermos upload fotos de qualquer tamanho. Continuamos ali a nossa amizade e interacção fotográfica. E todos os dias podemos postar uma foto.

Este fim de semana, pediram-nos que colocássemos fotos que nos fizessem recordar momentos "woophianos" especialmente queridos, de modo que resolvi postar uma colagem que fiz em 2010 com fotos do encontro do Porto, a que vêem aqui e outras de Faro.
Surgiu entretanto, a possibilidade de se com-
 binar um encontro na Galiza que não quero perder. A minha filha também adora essas pessoas.
A internacionalização do Woophy é uma mais valia e não impede que muitos portugueses tenham formado grupos amigos, que se encontram regularmente. Foi aqui também que descobri dois primos meus, filhos duma prima , que não vira desde que saí de Lisboa, eram eles pequenos. É uma grande família....e uma experiência maravilhosa....

O WOOPHY não pode morrer....

sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

E o Sol brilhará


Só sabemos a falta que o sol nos faz quando durante alguns dias, - em Portugal nunca é mais que uma semana - ele desaparece por debaixo dum enorme manto de nuvens multicolores, que tornam o céu muito mais apelativo e dramático, mas que à la longue, nos trazem depressões e tristezas.

Ontem, quando acordei e abri a janela do meu quarto - o sol iluminava o jardim dos meus vizinhos e as árvores das casas ao lado, os prédios ao longe. O céu estava azul pálido com algumas nuvens brancas, muito altas - cirros , creio eu - as nuvens da bonança, da paz e próprias desta cidade. Fui ao Botanico e as fotos que lá tirei dizem da alegria que o sol instila em mim.

Hoje,  o sol ainda era mais forte, embora as temperaturas tenham baixado significativamente e o cachecol que levei me tenha sabido bem na paragem do autocarro, onde não esperei mais que 5m.

Nunca me canso de elogiar o serviço do supermercado mais central do Porto: o Froiz.
Fica no shopping Cidade do Porto , que em tempos era uma maravilha em termos de qualidade, localização, ambiente e oferta de lojas.
Pequeno, azul, azul, azul, lindíssimo, com 4 cinemas que praticamente só ofereciam filmes independentes, uma Livraria Leitura, apetrechada com o que de melhor se encontrava à venda, revistas e jornais que podíamos folhear à vontade ( lembram-se???), pequeno café com o nome mítico dos chocolates mais conhecidos da cidade- Arcádia - uma papelaria cheia de coisas para a pintura, a Pórtico com utilidades e artigos de todo o género para a casa, baratas e originais, os eternos Cortefiel, Springfield e Zara com preços acessíveis nos saldos, o CentroXogo onde os miudos se perdiam. ..


E o meu Froiz, supermercado com um tamanho ideal, onde podemos encontrar tudo, não andamos às voltas para comprar o tal iogurte ou o shampô habitual, o supermercado onde combinamos uma hora no próprio dia e nesse mesmo dia, tudo nos é trazido e deixado na cozinha três horas mais tarde, sem gastarmos, nem mais um cêntimo. Pontualmente.
O Sr. Paulo, está aí a chegar, e ele também acaba por ser um "sol" na minha vida. Hoje até me ajudou a tirar as compras do carrinho para a caixa, pois comecei a ter dores no joelho de tal forma que até me custava a segurar de pé. O Sr. Paulo é uma simpatia, um homem de confiança, daqueles que nos apraz conhecer.  Nunca falha, interessa-se por nós , pela nossa saúde, pergunta pelos meus netos, enfim...já não se fazem pessoas destas.
Há mais de 3 anos que uso este sistema para as compras do mês e para tudo o que se pode conservar durante duas semanas como a fruta e os legumes, congelados, produtos lácteos, carne e peixe. A minha filha vai trazendo outras coisas mais frescas durante a semana. Só tenho empregada quatro horas por semana para limpezas mais profundas, o resto é tudo feito por nós.

Escrever um post sobre tudo isto pode parecer publicidade estúpida ou falta de assunto.
Para mim não é. É a certeza de que, enquanto houver serviços destes, espanhois ou não, a nossa  qualidade de vida mantém-se intacta, apesar dos cortes...e é isso afinal que faz a nossa pequena felicidade.

"E  quando as nuvens partirem,  o céu azul ficará, e o sol brilhará.".. como cantavam os Resistência...." não sou o único, eu não sou o único,  a olhar os céus.....e o sol brlhará, o sol brilhará..."


Aqui fica esta banda portuguesa,  vibrante como  a minha memória do saudoso Cidade do Porto!

quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

Em busca da Primavera

Segundo a minha amiga Graciete, a primavera pode vir quando menos se espera.

Hoje veio o sol, não há pinga de vento, os pássaros cantam por entre os ramos esvaziados da sua folhagem habitual, não há flores, mas a Natureza parece acordada depois do temporal que abalou o norte nos ultimos dias.

Resolvi ir ao meu jardim, já há mais dum mês que não ia lá, o que diz muito da minha vida atual, do

estado do meu joelho, que se queixa intermitente, e do trabalho que tenho desenvolvido nestes últimos meses.

Fui com sacrifício, armada com a minha máquina Lumix.

Não havia vivalma, a ponto de eu ter deixado propositadamente um saco com um Ice tea gigante e uns croissants para os meus netos na escadinha à volta do lago de nenúfares, antes de ir dar uma volta pelo resto do jardim. Ninguém lhe tocou, estava lá quando voltei. È bom confiar nas pessoas....

O sol inundava, ainda que timidamente, todo o jardim, incidindo nas camélias que parecem quase de prata quando iluminadas. Os reflexos nos lagos, sarcófagos de folhas de nenúfares em hibernação. pareciam teatros com silhuetas tremelicantes.


Todo o jardim à volta se reflete naquelas águas paradas, que quase nada faz bulir.

Sentei-me num banco e ai estive a ouvir os pássaros com a orquestra de fundo da VCI. Nem isso me fez infeliz. A plenitude existe para lá dos crimes que os homens vão perpetrando...não há rosas, mas há camélias, flores de trevo, troncos iluminados pelo sol, dourados, e pássaros em pleno Janeiro, querem milagre maior?

E não, não são gaivotas assustadas com o frémito das ondas, são melros, negros, que cantam ao desafio.

Poderia morrer assim....há momentos, eu estava mais ou menos feliz....longe de tudo....



quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

30.000 visitantes





Escrevi hoje um post um pouco triste como o tempo.

Apesar disso, atingi hoje, passado um ano e oito dias desde o nascimento do blogue, os 30.000 visitantes dos mais variados locais do mundo.

Pasmo como é que há pessoas na Rússia e nos EU, no Brasil e mesmo na Europa que lêem o meu blogue ou que dão com ele neste universo tão complexo como é a blogosfera.

Orgulho-me de nunca ter tido que apagar um post e de nunca ter usado a moderação, que quanto a mim, estraga por completo o efeito "conversa" direta com quem escreve.

Agradeço a todos do coração por este feedback tão positivo. Mesmo que não comentem , guardo-vos aqui no coração.

Se escrevemos é para alguém, por alguém, não é só por nós.

Bem hajam e... continuem!!

O novo cabeçalho é-vos dedicado...foi tirado no lago de nenúfares do meu jardim..... ( Botânico).

Tempo cinza

Continua o tempo tristonho....

E a minha árvore de Natal continuará a aquecer-me o canto da sala e as noites sem sono....enquanto não vier o sol.

É tradicional desmanchar tudo depois dos Reis, mas a convenção nunca me disse nada, gosto de ouvir a Oratória de Natal fora da época, gostava que as lojas se enchessem de gente para os saldos de inverno, como em Inglaterra, animo-me com a perspectiva de tirar fotos aos ramos esguios em contraluz, no Botânico e em Serralves.

O inverno não me assusta quando tenho saúde - que não é o caso. Continuo com uma tosse cavernosa e dores no peito e o joelho não dá tréguas , nem parece querer arribar. Também tenho saído pouco e amochada no sofá com o laptop no colo... não faço exercício que chegue.

Tinha pensado ir para a piscina agora em Janeiro, mas os dias vão passando - já estamos a 8 e cada vez me apetece menos sair de casa, apanhar o autocarro, molhar o cabelo, ter de o secar lá e depois voltar e apanhar frio. Se a piscina fosse aqui em baixo, onde fica a fisioterapia, era limpinho....

Sinto-me envelhecer, a acizentar, a perder o brilho. Quase nem tenho visto os meus netos tal é a vida deles super-ocupada e a minha cheia de trabalhos estúpidos para a editora.

Isto tem de mudar....

Encontro em Pessoa o retrato do meu estado de espírito por estes dias. Nada me satisfaz....tudo me inquieta.

Pergunto-me, às vezes, o que nos leva a escolher uma vida morna; ou melhor não me pergunto, contesto. A resposta eu sei de cór, está estampada na distância e frieza dos sorrisos, na frouxidão dos abraços, na indiferença dos "Bom dia", quase que sussurrados. Sobra covardia e falta coragem até pra ser feliz. A paixão queima, o amor enlouquece, o desejo trai. Talvez esses fossem bons motivos para decidir entre a alegria e a dor, sentir o nada, mas não são. Se a virtude estivesse mesmo no meio termo, o mar não teria ondas, os dias seriam nublados e o arco-íris em tons de cinza. O nada não ilumina, não inspira, não aflige nem acalma, apenas amplia o vazio que cada um traz dentro de si.

Fernando Pessoa

segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

O fogo cá dentro

Lá fora as notícias são alarmantes ou macabras.
Carros arrastados pelas ondas no local mais sagrado da Foz - o farol de Felgueiras- onde os incautos passeiam sem saber ( ou sem se preocupar)  quão traiçoeiro é o mar; quanto mais belo, mais insidioso e cruel...

Como é possível que,  passadas duas semanas em que sete jovens morreram e mais cinco pescadores foram engulidos pelo Mostrengo, os transeuntes desta cidade ainda confiem que vão ser eles a tirar a mais bela foto do farol ou a fazer o vídeo da mais vibrante onda da costa norte?

Como é possível que se ponham os carros à beira do Douro, quando se sabe que ele ali não é para brincadeiras? E vá lá que as crianças estavam na escola às 4 da tarde...

O desafio é enorme, mas as consequências também o podem ser e não se deve brincar com a vida.

Acendi a lareira para festejar o final da primeira parte do trabalho que tinha em mãos...a partir de agora só revejo provas, o que me satisfaz bastante. É um trabalho que gosto de fazer, menos criativo, mas mais promissor...vê-se o resultado do que fizémos, melhor ou pior, está feito.


Sinto-me melhor, sinto-me em paz...a árvore de Natal continua a piscar e assim continuará até vir o sol ( promessa feita!), dando um tom quente ao cantinho da sala, onde as peças que vieram de casa dos meus pais habitam a estante embutida da parede: caixas indianas, uma salva de prata do casamento dos meus Pais, cinzeirinhos de metal indianos, dois quadrinhos da minha querida Teresa Vieira ( excepção que confirma a regra), chávenas de chá de limoges, um quadro grande abcedário a ponto de cruz, bordado pela minha irmã, duas jarras gregas avermelhadas, um elefantezinho de marfim, uma argola para guardanapos de prata e marfim, um faca de cortar papel em prata...enfim, este o rol  das minhas "possessões", como dizem os ingleses, pelas quais tenho estima desde que as conheço.

A ressaca passou. E o gosto pela vida voltou.


 Oiço o segundo andamento da 7ª sinfonia de Beethoven aqui num video com imagens do Espaço  e dedico-o, em especial, à minha Amiga Graciete, que tanto ama a Astronomia.

 Divinal....


EUSEBIO DA SILVA FERREIRA

Nome português, comum, que deve ter dado origem a muitas outras crianças de seu nome Eusébio,

sonhadores da bola, apaixonados pelo jogo e adoradores dos craques que nos enchem de alegria

nos dias baços e sombrios.

Eusébio era a seleção de Portugal e por isso foi grande.



Transcrevo para aqui um pequeno texto que escrevi no meu FB.

Já sei que vão chover posts sobre o Pantera Negra, mas não consigo deixar de expressar o que me vai na alma.
Quando penso em Eusébio, lembro-me sempre do meu Pai, médico das suas filhas, Sandra e Carla, a vir com um sorrisinho para casa quando as meninas iam ao consultório para a consulta. 
Benfiquista ferrenho, que se emocionava a ponto de termos receio de o deixar ver os jogos do Benfica, contava que Eusébio ia à consulta com a mulher e as filhas, sentava-se num cantinho da sala e nada dizia. A sua mulher, Flora, é que fazia as despesas da conversa. Ele apertava-lhe a mão e ficava calado.
Lembro-me da nossa excitação numa tarde em que ele foi à casa do lado - que, nessa altura, já tinha sido vendida para a Embaixada da Dinamarca,- a um cocktail ou qualquer festa do futebol. Estávamos no jardim e vimo-lo em carne e osso. Ficámos para morrer....:))
Hoje sou do FCP, mas para mim, Eusébio será sempre o maior de sempre, o que mais alegrias nos deu nos anos 60, o símbolo de patriotismo ( não o deixavam sair, mesmo que ele quisesse) e humildade.
Os meus pêsames aos benfiquistas, mas, em especial a todos os que gostam de futebol, como eu.


Eusébio, obrigada!

domingo, 5 de janeiro de 2014

Ressaca

Estou com a ressaca das Festas.

Acontece-me sempre nesta altura do ano e este tempo não ajuda. Não se vê o sol....as nuvens negras toldam o céu, o vento atira com as árvores de um lado para o outro, não se pode ir passear nem ao Botânico, nem à Foz, nem a lado nenhum. Para mais, com uma gripe que dura há uma semana.

Tenho trabalho até dizer basta o que é fantástico aos 40 anos, mas muito demais para a minha idade, quando apetece é estar à lareira a ouvir música ou a ler...

Há muito que não sei o que é ter um fim de semana sem nada fazer para a Peditora, estou saturada deste tipo de tarefas duma responsabilidade tremenda, com fichas e mais fichas, testes e mais testes para os professores estarem, eles, sim  sentados à lareira ou a ver TV.
Não posso deixar de me revoltar contra esta tirania das editoras, qual delas mais gananciosa, degladiando-se para conseguir mais êxito = milhões de euros.
Isto deixa de ser tarefa pedagógica para passar a ser trabalho de fábrica com publicidade gigantesca à mistura a adulterar todo o esforço e criatividade que possamos oferecer com a nossa experiência na sala de aula.

Chegou a hora de dizer: BASTA!

Durante trinta anos fiz todo este trabalho porque me dava prazer e porque era criativo q.b. Agora deixou de o ser. É preciso é agradar aos  editores gananciosos, aos professores medíocres, alunos medíocres e Ministério da Educação post-socrático, que todos os anos muda as regras, altera a linguagem de eduquês para eduquês+1,  sem dó nem piedade. Mas as editoras aplaudem.

Nem parece que o Crato escreveu um livro contra essa forma de estar na educação, nem é possível acreditar que a criatura é a mesma que falava na sua voz branda e suave sobre os malefícios do Eduquês.

Só sonho com as paisagens do Douro e o mar da Foz...

Sinto-me impotente e com uma depressão profunda. Daí não ter escrito durante dias e dias, o que não é nada o meu estilo.

Ontem resolvi ir ao cinema e vi um filme espetacular que aconselho vivamente a todos: Le Passé.
 Não faço a crítica porque me sinto esvaziada ( devoided) de qualquer ideia mais interessante ou apelativa. Mas o filme que foi cotado com 98% no site Rotten Tomatoes ( um dos mais conceituados da net), é uma obra prima de realismo, ternura, naturalidade, espontaneidade, grandeza e e mesquinhez humana.
O realizador éo mesmo de Separação, filme magnífico que ganhou o òscar de melhor filme estrangeiro no ano passado.

Foram duas horas de puro desvio....e deleite....

Fica aqui o trailer:

sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

A música e o silêncio

Há muito que não escrevo nada de jeito aqui no blogue.

A culpa é do Natal, do ano Novo, da gripe e sobretudo do trabalho que se arrasta para lá do permitido. Manter a calma é o meu primeiro mandamento, o segundo é encher-me de música, o terceiro deveria ser afastar-me de tudo o que sejam emails, facebooks, etc, mas não consigo, acabo sempre por escrever a mais.

renda de bilros feita pela Mãe da minha nora
Foram umas festas felizes este ano.

Violino que ofereci ao Daniel e agora é do Paulinho
Presépio em casa do meu Filho feito pela minha Nora e meus netos
arranjo de centro de mesa na Quinta do Outeiro em Tentugal
Com a família nuclear no seu pleno....e a família alargada um pouco desfalcada...fiz mais de cem fotos nestes dias, mas essas vão para a página do facebook restrita à família, dado que não quero expôr fotos em sítios públicos. Limito-me às que tiro dos simbolos do Natal...

Hoje constatei que um vídeo que fiz no concerto da FEUP, de que falei aqui há semanas, tinha sido transposto pelo meu filho para o Youtube. Vibrei de novo ao ouvi-lo e por isso quero compartilhaá-lo com os leitores do blogue neste início de ano. Esta orquestra, que só ensaiou as peças em tres meses, vai dar que falar, quanto mais não seja aqui, neste lugar, em que privilegio esta forma de Arte acima de tudo. Tocam aqui o segundo Encore - Lord of the Dance - com o publico entusiasmado a bater palmas a compasso. Só consegui pô-lo aqui na mensagem aparte.

Os meus filhos e netos também me presentearam com o Canon de Pachelbel, tocado por seis membros da família, os pais, três netos e o tio, o meu filho mais novo. Tocaram piano, guitarra, flauta, violinos e violoncelo. Gravei em vídeo, mas é para consumo caseiro, sorry!

Ficam aqui algumas fotos do Natal...que já nos alegraram, mas em breve desaparecerão da nossa vista, que não do nosso coração.
O tradicional cozido da nossa casa





Feup Classical Orchestra from Porto plays Lord of the Dance

quarta-feira, 1 de janeiro de 2014

Há um ano

comecei eu este blogue CORES EM MOVIMENTO depois de anterior ter sido obrigado a fechar por razões que são para esquecer.

Nessa altura escrevi

Para já o blogue está em construção. Nada é definitivo. Sobra vontade de recomeçar.
A nossa vida é 90% preenchida com a Realidade. Vivemos tudo o que se passa à nossa volta com demasiada intensidade, deixando passar o que não se vê, o que é minúsculo e menos visível aos nossos olhos, repletos de imagens que nos forçam a ver, mesmo sem querer.

O meu blogue anterior procurava esse invisível aos olhos de todos os dias, revelava fenómenos menos usuais, alguns mais intimistas, reflexões sobre a vida e sobre a Natureza, a Arte , a Música, as Crianças e tudo o que afinal, nos leva a trilhos novos, coloridos, menos baços e cinzentos.





Tudo isto já é passado. Hoje 1 de Janeiro de 2014 estou aqui de novo, prometendo continuar  a escrever aqui sempre que sentir dentro de mim alguma necessidade de comunicar.

Nem sempre isso acontece e o trabalho que tenho em mãos é urgente, Não posso mesmo perder-me em sonhos ou devaneios.

Desejo-vos a TODOS um ano diferente, mais esperançoso, mais criativo, mais inspirador que vos faça acreditar que vale a pena....

VIVA O NOVO ANO. VIVA A VIDA!