terça-feira, 27 de junho de 2023

A Amizade

 Não tenho muitos Amigos a sério. Mas tenho muitas pessoas que gostam de mim e isso tem aumentado talvez pela minha própria exposição no FB e no blogue. 

Gosto de ser Amiga a distância. Talvez tivesse jeito para influenciadora de adolescentes, que, afinal fizeram parte do meu Círculo da Vida entre 1971 e 2008.


Sempre lidei com jovens, tratando os como adultos to-be, sem paternalismos mas com afecto. Tenho a certeza de que fui uma boa professora e que deixei a minha marca nas Escolas por onde andei. 

Criei mais amizades com os professores mais novos, estagiários, do que com os antigos, talvez porque nunca deixei morrer a criança que há em mim, o meu sentido de humor nas horas amargas, a minha vontade de modificar tudo, de transformar o ensino em algo excitante e glamoroso. Muitos colegas preferiam a estagnação. Nunca gostei de compromissos afectivos e obrigacoes professionais.


Hoje saí com uma pessoa Amiga, que foi minha vizinha aqui na rua durante anos e infelizmente, saiu há semanas para outras paragens. Não mora longe e por isso encontramo-


nos e fomos a Foz almoçar com a minha filha. O bar é girissimo, encaixado no meio das rochas da Foz, com comida apetitosa e ambiente Zen. Adorei.

A amizade também


precisa de proximidade, de olhares e contactos, nao sao os emoticons que substituem um gesto, uma festa, um beijo.

Levei-a a minha casa onde nunca tinha ido antes .

Ofereci lhe dois quadros meus, que ela própria escolheu no meu atelier. Em tempos, os meus quadros tinham servido de decoracao  ao espaco onde ela trabalhava com a filha para celebrar os 3 anos de existencia.

Gosto de oferecer quadros. 

É para isso que eles existem. Não me interessa deixar um legado a ninguém em especial, mas apenas a quem aprecia aquilo que eu


faço. Muitas vezes me surpreendem com as suas escolhas. 

domingo, 25 de junho de 2023

O domingo

 Sempre detestei os domingos. Mesmo quando era o unico dia sem aulas, pois o sabado nao era sagrado, como agora. Tinhamos aulas das 8.30 ate a 1.15. A tarde é  que era para diversao, o periodo mais querido do fim de semana. A noite íamos ao cinema ou a uma discoteca quando calhava o namorado estar em Lisboa o que era raro.



O domingo era dia de missa. Eu era muito  crente e ia aos Jerónimos, a minha igreja paroquial com os meus irmãos e amigos. Depois, as vezes iamos comer um pastel de Belem. Conversavamos muito. Tinhamos um grupo fixe do qual ja morreram os meus dois irmaos mais velhos, o meu cunhado e outros amigos. Impressiona me pensar nisso.  Ja estamos na ultima fase das nossas vidas, que foram cheias de peripecias e tambem de afectos com pais tradicionais, solidariedade, amizade, algumas quezilias normais e distanciamento progressivo. Durante anos vivi no meu casulo do norte, sem falar quase com os meus irmãos. Nao havia telemoveis, nem net, nem sequer telefone as vezes. Era tudo por carta. Ainda conservo as dos meus pais e amigos.


Trabalhei sempre muito ao domingo, a ver testes, a fazer os meus manuais  da PE, a preparar aulas complicadissimas com videos e musica. Passava horas a ver cenas de fimes que os meus filhos ja sabiam de cor. Muito sucesso tiveram essas aulas nos anos em que orientei estagio. Desasseis anos quase seguidos. 

O domingo nunca foi dia de lazer, so iamos almocar fora, pois o meu ex marido gostava de fazer uma petiscaria no Barao ou na Abadia. Eu descansava dos cozinhados.

Nunca passeavamos, era raro sair. As vezes levava os meninos a Rotunda da Boavista para correrem e saltarem. Mas era muito cansativo com tres criancas. O meu marido nunca queria leva -los a passear, achava que eles se portavam mal e tinha de visitar a Mãe, que era mais importante do que tudo.



Hoje fui ao Botânico  e pensei como teria sido feliz a viver aqui no Campo Alegre durante todos esses anos. Os miudos poderiam saltar a vontade, jogar no patio, como jogam agora, ir a Foz de autocarro, ao Cidade do Porto ou ao Bessa.. 



Senti me nostalgica e com pena de mim propria. Tive uma vida dificil demais. Trabalhei muito para poder alcancar a independência.

 Felizmente consegui nestes vinte anos gozar de alguma paz e pensar em mim e naquilo que sou e quero ser. Nunca acreditei muito no futuro, aceitava o que vinha de bom, dava aos meus filhos tudo o que me parecia razoável. Eles conseguiram um futuro melhor graças a Educação que receberam no Colégio Alemão e em casa.



Só agora reflicto com tempo na minha própria vida. Que não sei quanto durará. Os netos já estão crescidos e emancipados. 

Nao sei o que ainda esta para vir


.

quarta-feira, 21 de junho de 2023

Moonlight Sonata

 São duas da manhã e estou na sala a ouvir Moonlight Melodies da CMusic. 

Não consigo dormir, nem deixar de pensar na minha Mana que partiu. Ainda me lembro de lhe fazer festas no cabelo quando ela teve uma crise de paludismo acabada de aterrar de Angola, em choque, viúva e com duas filhinhas de oito meses e dois anos.



 Viveu sempre sozinha, em Coimbra, com a ajuda da Guida e Manel, educando exímiamente as filhas que lhe deram quatro netosexemplares. 

Orgulho-me da Teresa. 

Num dos últimos posts que me escreveu dizia. "Só queria chegar aos 80."

Não chegou. 

Só me atrevo a dizer: quero chegar a amanhã. 

Esta doença é tram



ada.


Ouvir Rachmaninov a estas horas é um bálsamo. 

Experimentem e começam bem o dia se não tiverem trabalhar cedo. Bjos.

sábado, 17 de junho de 2023

A felicidade

"Há horas felizes", apregoavam dantes os vendedores de cautelas, vendendo sonhos. 
A felicidade não se compra, busca-se, procura-se e goza-se. 

Nunca acreditei num estado de permanente paz e harmonia; o conflito , o drama, as contrariedades fizeram sempre parte da minha vida quotidiana. Fui mais vezes infeliz do que o contrário. Mas não concebia a vida sem esse quê de negativo. 
As razoes sao tantas que seria difícil enumera-las:  saúde, trabalho a mais, dinheiro a menos, desentendimentos conjugais, etc.
Nunca entrei em depressão, mas poderia tê-la tido muitas vezes nestes últimos 50 anos. Nem sei como, sem psicólogos, família alargada, marido ou amigos chegados, consegui vencer os obstáculos e partidas que a vida me pregou. 
O que me valeu foi ter filhos excepcionais, que me apoiaram sempre, mesmo á   distância. Nunca me falharam.



Hoje penso que os momentos de pura felicidade surgem quando menos se espera; quando, de repente, se está sozinha numa sala a ouvir o concerto de Schumann no Mezzo e as notas do piano penetram nos nossos ouvidos e alma, conectando todos os órgãos na perfeição. 


Quantos mais momentos destes conseguirmos alcançar, mais felizes somos. 

Fujamos do dia dia. Esqueçamos o que nos destrói. Abracemos o que nos conforta.

Nao é assim tão dificil voar.


quarta-feira, 14 de junho de 2023

Parabéns, Fernando


Fizeste anos ontem.

És e foste  o meu poeta preferido. 

O único que toca fundo a minha mente, sempre que o leio. 

O que diz frases como punhos. 

O que não promete, não espera, não sonha demasiado.

O que se queda a contemplar a Natureza como se estivesse nela embebido.

O que tem certezas. Apesar das incertezas.

O que viveu sózinho, mas sempre acompanhado.

O que sabe que a Primavera virá amanhã. Tem de vir. É inevitável.

Sempre viveu, aceitando com humildade o inevitável.




sábado, 10 de junho de 2023

Depois da chuva


 O odor das plantas humedecidas pelas chuvadas da noite entra- nos nas narinas profundamente.

 Há quanto tempo o ar não estava lavado e puro, descartadas as poeiras malsas e os polens alérgicos? 


Coaxam as rãs á compita com os aviões que se ouvem mais por causa do vento oeste. Está um calor tropical, suportado pela brisa marítima. 


Ficava aqui durante horas, sem qualquer problema.A contemplar a Beleza pura.

Duas moças tiram fotos


uma à outra, um quadro do Renoir. 

Os nenufares estão a crescer, já quase parecem as flores do Mágical World. 

O sol tenta a medo re


entrar no edredão de nuvens negras . Os reflexos no lago hoje estão parados, só com leves círculos, onde a água entra e sai. 

Um pai, ou avô, passeia o neto



Mais idílicos do que este local só os meus sonhos , vulneráveis como este tronco centenário.

Bem acordados enquanto durarem.

sexta-feira, 9 de junho de 2023

Escuta


 'ESCUTA 



Escuta, escuta: tenho ainda

uma coisa a dizer.

Não é importante, eu sei, não vai

salvar o mundo, não mudará

a vida de ninguém — mas quem

é hoje capaz de salvar o mundo

ou apenas mudar o sentido

da vida de alguém?

Escuta-me, não te demoro.

É coisa pouca, como a chuvinha

que vem vindo devagar.

São três, quatro palavras, pouco

mais. Palavras que te quero confiar.

Para que não se extinga o seu lume,

o seu lume breve.



Palavras que muito amei,

que talvez ame ainda.

Elas são a casa, o sal da língua.


Eugénio de Andrade in " O Sal da Língua"

terça-feira, 6 de junho de 2023

Em paz

Vim à consulta de oncologia na Cuf. Já estou emancipada, venho e vou sozinha + Uber. No problem.



 Converso com os chofers como se fossem família, eles próprios tb me contam os seus problemas, são dez minutos de solidariedade mútua. 

Graças a Deus (?) não me sinto mal, acho que até estou muito melhor do que antes disto tudo começar em Setembro. 

Mexo-me melhor, ando bem, só não me concentro tão bem e não tenho paciência para aturar grandes paleios. Sejam eles de quem forem. Noto que respeitam os meus silêncios e não invadem o meu espaço. Obrigada.


Enquanto tiver a companhia da minha Luísa, nada me assusta de noite. 


O verão é excelente para levantar a moral, céus rosa, temperaturas suaves. Flores em todo o lado. Aprecio cada vez mais a vida quotidiana, mesmo quando ela parece monótona. Habituei me a agradecer o que me é dado , tudo mesmo.



Tenho amigos muito generosose preocupados. Este câncer veio comprová-lo. 

Bem hajam. Amigos que conheço pessoalmente, colegas, vizinhos, ex estagiários, antigos alunos, colegas da pintura, empregados dos cafés, hoteis restaurantes, do jardim botânico e não acaba aqui. 

E ainda há aqueles que conhe,,ço doutro hemisfério. O das almas gêmeas. Eles sabem quem são. O Paulo, o Jorge, o Alan, a Ezra, a Sonia, a Pureza, a Arminda, o Carlos ,a Wendy, o Hernani, a Adelaide, a Teresa, a Geninha, um nunca acabar de artistas.

Almas que elevam. 

Amo-vos. e admiro -vos.