segunda-feira, 29 de maio de 2023

Ofir

 A palavra Ofir tem para mim um significado especial, mágico. É como o nome dum pedra preciosa, opal, safira, rubi. Só meu.


Tenho vindo para cá há 30 anos ainda antes de me separar, mas nunca com o M.


 Com ele vivemos em Esposende durante seis meses numa casa de Magistrados, tinha o João um ano. Foram meses difíceis, muito só e a dar aulas no Porto de manhã e tarde. Vivia lá e só passava os fins de semana aqui. Rejubilava a 6 feira quando arrumavamos as coisas e partiamos.


Comecei a vir para este hotel nos anos 90. Os miúdos adoravam pois havia aqui tudo. Piscina, bowling, tênis, praia, buffet, etc. Adorava vê los felizes, já que no Porto era só trabalhar.

Este hotel conhece me melhor que nenhum outro. Já cá gozei de férias curtas mas sempre fantásticas, com vento, sem vento, com calor, com chuvinha, nevoeiro e até já vi um eclipse de sol no jardim.


Adoro este silêncio, os pássaros nas árvores aqui por baixo, as ondas a espraiar-se pelo areal sem gente, o céu a confundir se com o horizonte.

Dá para reflectir e aproveitar. 


No retiro do meu quarto penso



sozinha.

 A vida ainda me vai oferecendo momentos memoráveis, não se bem até quando. Nem interessa. 


Laus Deo.

domingo, 21 de maio de 2023

Wildflowers

 Look for me, in morning's light.

Look for me, among wild flowers. Look for me, during Springtime showers.

Look for me, in a sparrow's song. Look for me, forever long. For I am gone, but still right here. Just watch for signs, that I am near.


sábado, 20 de maio de 2023

Coimbra tem mais encanto


 na hora da despedida.

Isto repetia me vezes sem conta o meu Manel , enquanto namorávamos, durante a separação passageira de 68-71 e depois de nos casarmos. 

Para ele era ipsis verbis. 

Durante o curso, não encontrou encanto nenhum na cidade, na universidade, nas casas universitárias por onde passou e sofreu, na comida e fome que sentiu, nos colegas que considerava grosseiros, ignorantes e pouco cultos na sua maioria. Haveria excepções. A semana era passada a espera do fim de semana no Porto, o que nem sempre acontecia por causa dos exames.

O Manel dizia que fora procurar a mulher da vida dele (eu) fora de todo aquele ambiente que o asfixiava. 

Quisera estudar em Lisboa, mas o Pai cortou lhe as vasas. Faleceu num acidente quando ele andava no 2o ano e o filho nunca mais pôde realizar o seu sonho. 

Tenho muitas cartas em que


 ele se queixa do barulho, da desordem  , do compadrio, das bebedeiras dos colegas, das praxes idiotas, das noites sem dormir, do estudo com calor tropical,  das saudades de casa e do Porto. Só era feliz no cinema ou a ler policiais nas idas e vindas da sua cidade. As idas a Lisboa eram escassas.

Compreendo bem a sua visão agora. 

Lisboa, onde vivi, nunca teve vida academica e estudar não era problema. Não havia clãs, nem amiguismos, cunhas ou bebedeiras na Cidade Universitária. Só eventos culturais.  

Nem sequer havia queimas. Só benção das pastas na Sé.

Depois de acabar o curso com 16, o Manel poderia ter ficado a fazer a pós graduação para ser assistente na FDUC. Não quis. Preferiu a magistratura onde não dependia de bolsas, nem de favores. 

Foi colocado como Delegado em Macedo de Cavaleiros aos 23 anos, longíssimo do Porto, em 1971, sujeito às estradas diabolicas, neve, gelo, curvas, solidão e ausência de tudo.vivia numa pensão .

Entrou em depressão e o que lhe valeu foi a Mãe que nunca o abandonou. 

Eu , a 500 km de distância, ia lhe escrevendo de vez em quando e continuava ama-lo sem desfalecimento.

Só em 1973 nos reencontramos em Lisboa por um bamburrio da sorte. E aí voltou a magia. Já não havia tanto sonho, mas continuava a paixão.

Karma?


sexta-feira, 19 de maio de 2023

Monet revisitado

"Everyone discusses my art and pretends to understand, as if it were necessary to understand, 
when it is simply necessary to love." 

- Claude Monet




 

terça-feira, 16 de maio de 2023

A roda da sorte

 Tenho reflectido muito nestes últimos meses, depois que a revelação da minha doença me deixou em estado de sítio, para não dizer em pânico. 

Aos 76 anos, não se es


pera que a saúde melhore ou que, de repente, os sinais de juventude renascam. Esperamos sempre que as doenças sejam crônicas e chatas, obriguem a tratamentos contínuos mas não nos impeçam de viver uma vida mais ou menos normal sem necessidade de nos pendurarmos nos outros. 

Há quem prefira calar tudo e sofrer em silêncio. Não é o meu caso.

Quando soube que tinha cancro em Setembro, aceitei o veredito com calma, ainda que ignorasse por completo o que se seguiria. 

Desde então já passei por duas operações, inúmeros exames, análises, consultas, visitas ao hospital, indisposiçoes, queda de cabelo, incapacidade de desfrutar os prazeres simples da vida, aversão á comida, ao barulho e até saídas para o mar. Desconheço-me em certos aspectos.

Em contrapartida, nunca lutei tanto contra a adversidade com  sorrisos, ironia, ternura, empatia, desprezo pelo fatalismo e desejo de vencer. 

Quero dar a volta por cima, mesmo que seja só uma voltinha pequena. Nunca gostei de rodas gigantes, nem


montanhas russas. Basta -me um baloiço baixinho, donde se veja o horizonte ao fundo.

terça-feira, 9 de maio de 2023

Quimioterapia vs naturopatia

 Comecei ontem nova fase da quimioterapia depois de operação ao fígado há dois meses. Nada se detectou de suspeito, felizmente.



Hoje fui ao meu jardim. Estava resplandecente.

Fez me tão bem como qualquer tratamento químico ou mesmo melhor. Sinto me maravilhosamente.



Escrevi isto enquanto contemplava o cenário.

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Sentada no meu banco favorito do Jardim dos Xistos, junto aos lagos de nenufares, oiço os pássaros exultantes, os galos estridentes,


as rãs rabujentas,

uma mãe com meninos, um casal a conversar baixinho. Um grupo de jovens felizes.  Só turistas. 

O museu fechou para almoço. Tenho de voltar. 

Este jardim é um museu itself. A beleza engole- nos, absorve-nos todo o maligno e incute-nos saúde e paz. 



Conheci bem a Gulbenkian em Lisboa e lá também sentia o mesmo. Estudava mais, aqui medito e contemplo a água espelhada, com o vento a formar desenhos impressionistas em todos os verdes possíveis. 


Esqueço os carros e os aviões, só me embebo da poesia natural, que famílias abastadas ofereceram ao Porto. God bless them.


Uma boa semana cheia de ☀️ , saúde e felicidade 😘