sexta-feira, 30 de outubro de 2015

Mare Nostrum

Impossível não ir ver o mar...quando, em 5m de carro, se chega à Cova da Iria chamada Foz.
Em vez da Capelinha das Aparições, ergue-se altaneiro o farolim de Felgueiras.

Desculpem-me a blasfémia....mas até o céu é mais belo aqui que em Fátima :). Aqui não há velas senão as dos barcos e os cânticos são os das ondas altaneiras.

Da Wikipédia:

 O Farolim de Felgueiras, ou Farol de Felgueiras, ou Farolim do Molhe de Felgueiras ou Farolim Cabeça de Molhe na margem direita do Rio Douro, é um farol Português que se localiza na na ponta do molhe de mesmo nome, na freguesia da Foz do Douro, Cidade do Porto.
Trata-se de uma torre hexagonal em alvenaria de granito aparente, com dez metros de altura. Possui varandim e lanterna vermelhos, e um pequeno edifício anexo com paredes rebocadas e pintadas de branco.
A designação 'Molhe de Felgueiras' foi-lhe atribuída por ter sido construído em direcção à pedra de Felgueiras, que lhe fica fronteira a Oeste.


As ondas assustam qualquer alma mais temerosa, galgam os cais e molhes, atirando-se em cascatas junto aos passadiços. Rugem alto e lembram que já chega de banhos. O tempo é de seriedade, de grandeza e respeito.

Mare Nostrum...


Muitos mirones contemplam esta cena com uma sorriso ténue. Os bares das praias foram todos semi-destruídos há uma semana depois das marés vivas e há que nos sentarmos nos muretes da avenida ou nas escadas.

Mas a vista é soberba, a nossa adrenalina sobe com a maré. Orgulhamo-nos de ser uma cidade de mar, porto belo, o nosso Porto!

quinta-feira, 29 de outubro de 2015

Ver Serralves....e morrer

Dantes dizia-se : Voir Venice et crever....eu digo : Ver Serralves e morrer...



Serralves é um mundo aparte. Vir ao Porto e não visitar este lugar magnífico é um pecado capital. Porque Serralves é único, é um santuário, uma simbiose entre Arte e Natureza nunca visto. Não vou lá muito, deveria ir muito mais, mas de cada vez que lá vou é um encantamento.

Hoje fui ver as exposições, How to (...) things that don't exist, que veio da 31ªBienal de S. Paulo e outra, My work is my body, my body is my work,  que me interessou porque conheci  a pintora/fotógrafa pessoalmente quando era adolescente.



No folheto sobre a primeira, vem em inglês:

Things that don't exist are both the values that the system imposes on us, and the alternative possibilities that artists are trying to invent. To recognise that none of those systems - legal, plotical, economic, religious, artistic - exist in a tangible form is to acquire power over them and the capacity to make changes that would otherwise seem impossible.

No site de Serralves lê-se:

A investigação que a exposição faz do potencial revelador da arte está a ser reconfigurada de acordo com o contexto físico, social e cultural da cidade do Porto e do Museu de Serralves. As obras de arte selecionadas, desde pinturas e esculturas até vídeos e instalações, condensam as ideias da exposição brasileira e centram-se no modo como a arte pode alterar formas de pensar o mundo. Imaginando modelos de vida e sociedade que são diferentes ou (ainda) não existem, as obras de arte questionam a autoridade da religião, da história e dos sistemas de controlo e apontam de que modo ela poderia ser diferente. O título da exposição está, ele próprio, em constante transformação, com o verbo mutante a sugerir alguns dos muitos e diferentes tipos de experiência da arte enquanto processo de devir. 


Impressionaram-me duas instalações fabulosas, só por elas vale a pena ir ao Museu. Poderia ficar a vê-las e a estudá-las durante horas, tal o impacto que geraram em mim. Fotografei-as de vários ângulos, mas há pouca informação em folhetos ou livros e o manancial informativo e artístico é imenso.

Por vezes prefiro não saber o significado das obras e absorver as sensações que elas despertam em mim, foi o que me aconteceu desta vez. Não havia guia, limitei-me a ver com os meus olhos e a interiorizar com os meus sentidos, algo que é novo e espectacular no verdadeiro sentido da palavra. 

As fotos falam por si.

A exposição de Helena Almeida não tem nada de muito especial, mas esta pintora, que aqui surge como fotógrafa de si própria, surpreende-nos com um modo original de se fotografar.
Diríamos que é uma colecção de selfies sui generis.

Conheci a Helena desde sempre, ela é filha do Mestre Leopoldo Almeida que criou o Padrão dos Descobrimentos de Belém. Moravam na casa ao lado da minha na Avenida do Restelo. Íamos lá visitá-los muitas vezes, ela era  12 anos mais velha do que eu, de modo que não havia muita proximidade, mas o Pai era uma pessoa encantadora, um Avô para nós, tratava-nos muito bem, mostrava-nos o que andava a fazer e espalhava charme e simpatia.

O Museu de Serralves é um local aprazível e mesmo em dias de chuva, como hoje, está-se lá bem. A cafetaria tem croissants excelentes à francesa. Tomámos lá um café a olhar para a vista das janelas que sempre me deslumbrou. Cada janela é um quadro em si mesma.


Depois fomos para o parque.

Entrámos no Paraíso, no Outono do nosso contentamento,


respirámos o ar húmido e cheirámos a terra molhada...passeámos durante uma hora e tal, olhando embevecidas para as folhas , os troncos, as filigranas lá no alto, as catedrais de plátanos e áceres, as áleas e caminhos atapetados de folhas de todas as cores.

Na Casa de Chá, bebemos o dito com uma fatia de bolo de chocolate que estava divinal. A glicínea ainda não estava dourada, como eu gosto , mas o sítio é bucólico, lindo de morrer.
 

Qualquer pintor ficaria inspirado num sítio destes. Quem preservou este parque e quem  abriu este património ao público deve estar no céu ou tem com certeza um lugar para si reservado.

quarta-feira, 28 de outubro de 2015

Trás-os-Montes

Há muito que me interesso por Trás-os-Montes, talvez desde que vivi em Chaves, de 1977-79.

Lá, no chamado"cu de Judas", a 500 km de Lisboa, por estradas indescritíveis para quem hoje conduz nas belas auto-estradas do Norte, comecei a apreciar as qualidades dos transmontanos e  também a sua qualidade de vida em termos de Natureza e simplicidade.

A nossa casa era enorme, no tempo em que os magistrados tinham direito a casa, mas gelada no inverno. Foi terrível passar lá dois invernos. O verão, em contrapartida, era demasiado quente e nessa altura,  a piscina mais perto era a do Vidago, a 16kms de distância por uma estrada cheia de curvas.
Nem sei como me habituei àquele clima, ia dar aulas com calças, botas, casaco maxi, camisola de gola alta e cachecol....parecia um robot! Depois engravidei e então ainda parecia mais ridícula com tanta roupa em cima... :)
Beyond the mountains

Mas Trás-os-Montes seduziu-me. Sobretudo quando deixei de vir ao Porto todos os fins de semana e passava longas horas a tricotar ou a fazer costura na minha sala a dar para a rua, ouvindo o barulho da cidade, os sinos e as vozes.
A escola era óptima, comparada com a da Sertã, muito pobrezinha e gelada. Aqui tínhamos umas braseiras na sala de professores e até fazíamos tricots durante os intervalos. O nível dos alunos era razoável, sobretudo a Português, a Inglês deixavam muito a desejar....

Agora, quando penso em Trás-os-Montes, sinto nostalgia, lembro-me mais da paisagem, dos montes e campos , dos horizontes cheios de neblina, das plantas de todas as cores...foram esses que me ficaram na alma.

Foi essa imagem que tentei pintar neste quadro. Dedico- o ao meu filho mais novo que trabalha em Bragança e que conduz estrada fora todos os dias para comarcas distantes.

A foto não faz jus ao ao original, mas enfim...

É uma quadro enorme, tem 80x80 cm.

Pode ser que ele goste...

domingo, 25 de outubro de 2015

Matar saudades

Há quase uma semana que nada escrevo.

A situação política tem levado a melhor, embora me sinta bem pior.
É uma ansiedade constante, uma necessidade de expressar aquilo que penso no FB quando o que leio me acicata sobremaneira. Jurei que não falava de política aqui e por isso nem abri o blogue durante dias sem fim. Para quê chover no molhado. Diz-se tanta coisa e o seu contrário, que às tantas a berraria esbarra com um silêncio ensurdecedor.


Fui ao cinema, mas o filme era mais que banal e já nem me lembro do título. Era sobre um cozinheiro famoso que quer conquistar uma estrela Michelin à viva força e destroi a sua vida e as dos outros com a sua loucura. O Bradley Cooper não estava mal....mas o filme não deixa nenhuma memória...

Hoje resolvi ir dar um passeio pelo "departamento, jardim que fica junto à Faculdade de Ciências e que foi apelidado assim pelos meus netos que, em pequenos,  adoravam ir para lá brincar. O Pai trabalhou lá durante dois anos, antes de passar para a FEUP. Um deles tinha uma oficina por baixo dum velho caramanchão, onde coleccionava pedrinhas, musgo, cogumelos, folhas secas e outras preciosidades.



Fiquei desconsolada, pois as árvores ainda não estavam no seu auge outonal ou tinham perdido as folhas depois das ventanias sucessivas que assolaram o Porto há dias. O jardim pareceu-me triste e abandonado, comparado com o Botânico que tem sempre tantos cantinhos encantadores. Mas este espaço é amplo e por vezes, faz-me lembrar a Inglaterra, de tão verde e com árvores tão antigas.

Cortaram muitas árvores em frente à fonte das gárgulas e os troncos estão espalhados pelo chão, dando uma imagem de cemitério,  chocante para quem viu aquela álea tão bela há bem pouco tempo.

O céu estava cinzento, mas subitamente abriu um pouco, deixando passar raios de sol esbranquiçados.

Uma garça (?) contemplava a vista do cimo duma árvore, quase parecia uma escultura, mas não era, pois mudava de posição de vez em quando. Fotografei-a a contra-luz.


Algumas folhas de carvalhos cobriam o chão, recortadas e perfeitas. Apetecia guardá-las para fazer arranjos de Natal, mas não levei nenhum saco comigo.

Estes dias cinzentos são cheios de paz....domingos em que não vou à missa, mas que me trazem espiritualidade e algo de positivo, nos momentos conturbados que vivemos.

segunda-feira, 19 de outubro de 2015

Floresta


Inspirada talvez pelas paisagens americanas do filme que vi há dias, pintei este quadro.


Gosto de aplicar uma camada de impasto para formar a textura. É como se escrevesse a lápis as linhas que me vão ajudar a compor um fundo, neste caso de árvores densas, folhagens, ramos, etc.

Depois é usar cores mais diversas, desde roxo, até cobre, amarelos, laranja, vermelho e verdes....é uma miscelânea de tons outonais, que, mesmo assim, fica longe das matizes todas que vejo daqui da janela.

É um quadrado: 30x30 cm.



A minha filha disse-me que os tons eram "klimtescos"! Tem razão....

quinta-feira, 15 de outubro de 2015

A Walk in the Woods



Era o que estava a precisar, um passeio pelos bosque e florestas americanas. Paisagem sem fim, montes e riachos, árvores centenárias, céus estrelados, superação do esforço, liberdade total e até aos limites.  Uma experiência na Natureza.

Bill Bryson é um escritor fantástico, aprecio-o há mais de 20 anos e colecciono os seus livros porque, além de cultura geral sobre regiões do planeta, fala dos actos mais simples da vida com a arte e o humor mais desarmante que conheço. É um contador de histórias, de factos da vida quotidiana.

Foram inúmeros os textos de Bill Bryson que coloquei nos meus manuais escolares para despertar nos alunos a curiosidade e também a crítica literária de textos modernos e acessíveis.




O filme A Walk in the Woods é extraído do seu livro com o mesmo nome ( embora a sua personagem no filme, afirme várias vezes que não vai escrever um livro sobre a sua experiência Appalachiana).

Bill Bryson que, no filme, já está no ocaso da sua vida, sente que viveu como um cupcake, ou seja com demasiado segurança e conforto, sem nunca experimentar a verdadeira aventura.
Curiosamente, descobre que um dos trilhos mais longos, mais difíceis e mais populares nos EU, o trilho dos Appalaches, passa bem perto da sua casa no New Hampshire.

E a tentação é grande. Bill resolve vencer o medo, a incerteza, o clima, a idade e a família, acompanhado de um antigo colega de liceu e de viagens, que lhe ficou a dever 600 dólares e lhe deixou algumas recordações pouco agradáveis.

É claro que o filme vive muito das paisagens extraordinárias. Não tem história e até é um pouco monótono, mas neste momento, é o tipo de filme que me apraz, calmo, sorridente, senior!

"When you push yourself to the edge, the real fun begins"

" Best of all, these days when I see a mountain, I look at it slowly and appraisingly, with a narrow knowing gaze, and eyes of chipped granite"



Escusado será dizer que mal cheguei a casa, comprei pelo Kindle o livro em questão e já li umas páginas deliciosas...


sexta-feira, 9 de outubro de 2015

Autumn spree - festa outonal



Concluí este quadro hoje.

É uma festa de outono, com as cores mais vibrantes desta estação.


Fica aqui um poema de Miguel Torga:


Outono




Tarde pintada


Por não sei que pintor.


Nunca vi tanta cor


Tão colorida!

Se é de morte ou de

 vida,

Não é comigo.

Eu, simplesmente,

 digo

Que há fantasia

Neste dia,

Que o mundo me

 parece

Vestido por ciganas adivinhas,

E que gosto de o ver, e me apetece

Ter folhas, como as vinhas. 


 Miguel Torga - Diário X


quarta-feira, 7 de outubro de 2015

As eleições e as insónias

Estas eleições deixaram-me perplexa, surpreendida com o resultado e receosa quanto ao futuro.

Portugal está a crescer e muitos jovens estão a iniciar projectos e a montar empresas que precisam de estabilidade, incentivo e não de altos e baixos na governação.

Do Spiegel:

After all, they're not the only ones to have lost jobs. When the country had to turn to the European Union for a bailout in 2011, Portugal was forced to implement harsh austerity measures. Some 485,000 Portuguese, particularly young university graduates, left the country during the crisis to try and find opportunities abroad. They went to Germany, Brazil and even to the former African colony of Angola.

Entrepreneurial Energy and a New Spirit

Around 60 percent quickly returned. Others never left the country, with many of them trying to find a way to eke out a living after finding themselves unemployed. They took risks and established their own businesses, reinventing traditional products, opening hotels with new twists and unusual restaurants. They developed software and became fashion designers. In doing so, they also transformed Lisbon into one of Europe's most popular travel destinations while at the same time creating an unexpected economic upswing and helping to bring an end to the country's blues.

São inúmeros os jornais estrangeiros que exaltam os sucessos conseguidos nos últimos anos em Portugal.

Mas agora vamos ter, à portuguesa, a política do bota-abaixo e do miserabilismo falso porque os partidos são autênticos clubes de futebol que competem entre si, sem nunca se entenderem, destruindo tudo aquilo que os outros fazem bem.

Sinto-me descoroçoada e não consigo compreender esta democracia que recusa aos partidos mais votados, mesmo tendo perdido votos, o sabor da vitória merecida.


Nunca falo de política aqui, mas hoje tenho de desabafar....ouvir estas vozes que se dizem de esquerda, mas que são mais extrema-esquerda e anti-democráticas que qualquer outra coisa, a clamarem vitória do alto dos seus tamancos e a reclamar um governo de esquerda, faz-me lembrar os tempos a seguir ao 25/4, que vivi intensamente em Lisboa e que me deixou curada do socialismo para o resto da vida.

Não se enxergam, não são patrióticos, detestam o país, só querem é olhar para o seu umbigo e destruir tudo o que é proposto do outro lado. Demagogia pura para captar votos. Nada fazem pelos mais desfavorecidos, embora falem em nome deles.  Não querem ir a lado nenhum, nem deixam os outros ir.

Ao fim de 40 anos, Portugal ainda anda a pedir por favor à esquerda que deixem governar quem ganha as eleições.

É dramático!!

sábado, 3 de outubro de 2015

Jardim de Outono

Fui ao Botânico para ver o Outono e os cogumelos.

Fico extasiada com as coreografias autênticas desenhadas por estes saprófitas, que se alimentam da seiva das árvores, mesmo daquelas que estão mortas, aparentemente.

Num dos cantos do jardim, há um cemitério de troncos, que faz as delícias dos miúdos, pois podem saltar de tronco em tronco, encavalitar-se, fazer equilíbrios, etc. Esses troncos estão cobertos de cogumelos que se acumulam nas épocas húmidas.

No ano passado fiquei extasiada com as cores e formas destes grupos, nada parecidos com os cogumelos tradicionais às bolinhas dos livros de histórias infantis.

Não havia ainda muitos, mas os suficientes para poder fotografar alguns exemplares.



As árvores ainda não estão no apogeu outonal. A maioria ainda conserva o seu manto verde escuro, mas o chão já está repleto de folhas, assim como os lagos e os bancos de pedra. Cheira a humidade e há menos passarinhos a chilrear.









Por baixo do caramanchão de vinha virgem o ambiente é divinal. As folhas estão vermelhas, laranjas, castanhas e verdes e formam cachos lindíssimos, que não vão durar muito. Basta que venha um dia de ventania forte para elas se despedirem do tronco-mãe.






quinta-feira, 1 de outubro de 2015

Dia Mundial da Música


Como não o celebrar?

Para mim todos os dias são dela, pois sem ela não conseguiria viver. Não é dramatismo, é necessidade vital.

Ainda hoje estive cá com os meus netos e enquanto eles faziam um puzzle os dois, eu ia pondo música a pedido. Música essa que me encheu de alegria e imbuída de espírito jovem. Foi uma hora bem passada e nem démos pela TV.


Depois deles saírem, estive a ouvir música barroca com a minha filha. E senti-me no céu....há peças lindíssimas que nos fazem acreditar em Deus, mas este Deus é o da Música, da Beleza, dos Sons, da Harmonia...

Muitos foram os que escreveram frases magníficas sobre Música. Aqui ficam algumas com a colagem do New Color, dedicada aos instrumentos musicais, em que uma das fotos - a do violoncelo - é minha.


A música é o vínculo que une a vida do espírito à vida dos sentidos. 
Beethoven

A música é o tipo de arte mais perfeita: nunca revela o seu último segredo.
Oscar Wilde

Quando se acaba de ouvir um trecho de Mozart, o silêncio que se lhe segue ainda é dele.
Sacha Guitry

Onde há música não pode haver coisa má.
Miguel Cervantes


Mozart, claro. E respeitem o silêncio dele! :)