terça-feira, 28 de março de 2017

Um dia de sol



É um bálsamo para o espírito, sobretudo quando sentimos que a Vida não tem sentido.

Continuo a vivê-la e a cuidar dos meus, mas não consigo esquecer tudo o que se passou.

É uma saudade quase insuportável, que não sentia quando o meu marido estava vivo. É semelhante à que senti ano após ano quando nos namorávamos à distância. As cartas estão aí a expressar toda a coragem, ânimo e superação das dificuldades assim como as saudades que, às vezes, quase nos impediam de estudar e de aceitar a Vida como ela era.


Agora nem sequer consigo ver o futuro.

Diz-se que as pessoas ficam cá dentro de nós, que as memórias são boas  e que é preciso olhar para o futuro e agradecer estarmos vivos... uma balela.

A nossa vida só tem sentido quando os que amamos estão presentes. E perder um que seja é muito difícil.

Tenho a certeza de que já vivi muito. Tanto!

Vivi bem e vivi mal e vivi o que podia.

Há dias, porém, em que sinto que já vivi TUDO.

Hoje fui ver a Primavera com sol.

Tem estado mau tempo e frio. Mas hoje estava lindo e no Botânico não se sente frio nenhum, o vento só sopra ao de leve e faz estremecer a água dos lagos.



O sol é forte, sobretudo ao pé dos cactos , que parece irradiarem luz. Andei 1,5 km dentro do jardim, sentei-me numa pedra a contemplar e a respirar o ar puro e a cheirar o eucalipto.

Apetecia-me morrer assim...em plenitude. Não sofrer. Não fazer os outros sofrer com o meu envelhecimento.

Fechar os olhos e deixar-me ir para o espaço cósmico...ser mais uma estrela no Universo.







18 comentários:

  1. Que imagens lindas!
    Penso que o tempo vai ajudar um bocadinho (de alguém que eu perdi parecia-me que doía até recordar os bons momentos, e com o tempo voltei a sentir-me feliz por ter vivido esses momentos)
    um beijinho
    Gábi

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    1. Obrigada, Gabi. Pode ser que com o passar dos dias me venha outra vez a Força e a capacidade de criar e superar. Tenho muita sorte na vida agora. Mas para cá chegar trabalhei tanto, tanto que estou mesmo cansada. E sem vontade de fazer esforços....
      Bjinho

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  2. Virgínia, ainda é cedo para ir para os cosmos... Acho que o que está a sentir é muito natural . Tem aguentado tudo com muita valentia .É penoso ver alguém que estimamos, doente e de doença fatal . Muitas vezes é pior do que a própria morte... Quem nunca passou por estes tormentos talvez não saiba dar valor ... Por isso não pode passar de um dia para o outro tudo o que está a sentir . Tem razões sim para ver o futuro porque tem filhos e netos que precisam de si . Não tarda nada vai mudar de ares e espero que venha com outro ânimo .
    Dentro dessa sua saudade e tristeza tem partilhados momentos tão bonitos...

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  3. Sempre a palavra certa, Madalena. Só revela o seu carácter. Podia ser minha Amiga aqui no Porto. Faz-me falta, sabe?

    bjinho

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  4. Os irmãos mais novos, supostamente, não deveriam dar conselhos aos mais velhos. Vai daí, pedi à minha cadela Tenrinha, com 18 anos de idade (o que, numa rafeira apodengada vale por cerca de 90) me dissesse o que escrever aqui. O que se segue é da sua autoria:

    "Olá Tia Bicas - permita-me que a trate assim. Não a conheço, mas é como se conhecesse, porque os meus donos falam muito de si, e sei que é uma querida, boa e criativa, como nós, canídeos, apreciamos.
    Estou aqui na minha caminha ao sol, aproveitando-o, e o meu dono está a escrever, uma das coisas que ele mais gosta de fazer.
    Hoje passeámos longamente pela Primavera, a ver cada flor, cada folha nova, cada canídeo novo (que se livrem de marcar o território deles em cima dos meus) e fiquei a pensar que a vida vale sempre a pena ser vivida.
    Sei o que é a perda, mas sei que a Tia Bicas vai ultrapassar estes momentos maus - estranho seria se eles não fossem maus -, e continuar as duas "mais de mil pinturas", "mais de mil fotografias", "mais de mil afectos", "mais de mil entradas neste blogue" e sentir que tem amigos, que tem (muita) gente que se preocupa consigo e que, como nós, cães, defendemos, o amor é desinteressado, fiel, leal e... cúmplice.
    Mando daqui um au-au de esperança, e gosto quando o meu dono me mostra as coisas belas que escreve, pinta ou fotografa.
    Um dia hei-de conhecê-la, seja no Porto, na Lourinhã ou algures.
    Um Au-au terno
    da Tenrinha".

    Ela é quem diz... e, aqui entre nós, acho que tem toda a razão...

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  5. Tinha escrito uma carta à Tenrinha...que ela bem merece coitada, mas a porcaria da Internet falhou e o blogger comeu-a. Tudo me corre mal. Entretanto pouz no meu FB mais umas fotos lindas que tirei hoje no meu lugar sagrado. Agora vou lá todos os dias. Só queria que eprmitissem um dia que as minhas cinzas fosse enterradas nesse local. Foi onde me senti mais perto de Deus ou da Natureza perfeita aqui nesta cidade. Obrigada, Tenrinha, por me compreenderes, tu sabes o que é perder alguém que foi tudo para nós em tempos. Sabes, os meus netos gostariam muito de te conhecer, eles têm desgosto de não ter nenhum cãozinho...
    Beijos para os teus donos. Qualquer dia vou a Lx. Estou sempre a prometer e nunca vou, não é?

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  6. Desculpa as gralhas. Tenho os netos aqui ao pé e distraí-me.

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  7. Olá Tia Bicas
    Sou eu, A Tenrinha. Au-au!
    Obrigado pelas suas palavras. Mesmo não a conhecendo pessoalmente, sinto uma enorme empatia por si; sabe, nós, canis canis, estamos há milhares de anos em comunhão com os humanos, e apesar de por vezes parecermos distantes, observamos, contemplamos, fazemos os nossos juízos sem ajuizar, se isso é possível.
    Sabe, Tia, estive agora a ouvir uma selecção de música francesa, no youtube (foi difícil digitar no teclado - com as minhas patas de apenas 4 dedos mas consegui - , e estive a ouvir, entre outros, o Adamo.
    Soa a estranho - ainda está vivo, imagine -, mas representa, para o meu dono, o vosso amor. "laisses mes mains sur tes hanches!" - eu, que me gabo de ser uma cadelinha "prafrentex", até fiquei surpresa pela letra tão sedutora, em 1965. Era França, o ideal, a revolução, a libertação... Paris, capital do amor. Agora, segundo o meu dono, Paris corre o risco de ficar como, sei lá, a capital do terrorismo, da LePen, sei lá... eu, que sou frugal, e que desde que haja passeios, festinhas e "petits biscuits" já fico contente, espero que os humanos nunca percam a esperança, por mais coisas horríveis e inexplicáveis que lhes aconteçam.
    Até breve, Tia Bicas!
    Au-au!
    da sua Tenrinha

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  8. Isto, Tenrinha, levava-nos muito longe. Políticas estragam tudo o que é belo...
    Em 1965, Paris era para ricos....nós sentíamo-nos uns boémios sem eira nem beira, nem dinheiro para mandar cantar um cego. Mas foi lá que nos conhecemos, sim, e amámos. O Adamo era um dos meus ídolos, o Manel achava-o efeminado :). Mas cantava muitas vezes o Viens, viens ma Brune, viens écouter la mer...pois sabia o quanto eu amava o mar...
    Até breve, Amiga! Bons passeios com o teu dono que é um poeta!

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  9. Que ternura de mensagens trocadas entre ti, o teu irmão Mário e a "Tenrinha" ...

    Na véspera da tua partida para Leeds, deixo um excerto da resposta ao teu último comentário no meu blog, que não sei se chegaste a ler:

    Acho que fazes muito bem em ir a Leeds.
    A mudança de ambiente e a presença da Luísa irão, por certo, fazer-te bem
    Bjs para ti e para ela

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    1. Obigada, regina. Também espero mudar de ares e de mood!

      Foi um abalo muito grande e nunca estarei a 100%. O Manel era "My North, My east, my South and East#, como ele dizia nós vivíamos um no outro....

      Bjo

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  10. Passei para desejar que este seja um bom fim-de-semana e também uma boa-viagem
    um beijinho
    Gábi

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  11. Querida priminhamiga

    Volto aqui depois de três meses passados (mal) em Goa e vim encontrar como sempre belas fotos, verdadeiros documentos da tua objectiva. E agora...

    Em Goa as coisas não correram muito bem, antes pelo contrário; uns problemas de saúde (meus) - ainda que bastante graves (Ver abaixo sff) - deram origem a situação pouco feliz - que ainda persiste. Irei escrevendo quando tiver a cabeça mais arrumada...
    Além disso no local não havia ligação Internet...

    ******

    1 de Abril - Parece-me que vou melhorando da recaída que tive da depressão bipolar - com ela terei de viver até ao forno crematório, pois é doença incurável.

    Vou pois andando devagarinho (sempre são 75 aninhos...) e um destes dias volto a publicar umas linhas. Aproveito para agradecer a todas/os que me acompanharam nestes momentos menos fáceis e sobretudo à Grande Mulher, a minha querida Raquel, que me amparou, cuidou de mim, amou como sempre, enfim teve a paciência de me aturar...

    Da viagem nem vale a pena contar: 29:30 de Dabolim (0 aeroporto de Goa) até ao General Humberto Delgado, com paragens em tudo que era sítio, incluindo 9:30 de espera no aeroporto de Mumbai (antiga Bombaim…)
    A Jet Airways – uma desgraça. Comida péssima, atendimento mau, tripulantes de cabina – trombudos. Em Paris (tínhamos pedido assistência pois continuo a ter dificuldades em andar) – não havia cadeiras de rodas suficientes e fartei-me de protestar; enfim veio uma – para mim – mas a Raquel que também tinha reservado outra teve de palmilhar que nem uma marchista... (de marcha, disciplina olímpica...) Enfim uma puta de uma viagem; não torno (amos) a cair noutra..



    Qjs & abçs

    Henrique, o Leãozão



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    1. Querido Henrique,

      Não sei porque não respondi a tua mensagem, provavelmente estava em Inglaterra, não sei. Fiquei triste de saber que a vossa viagem a Goa que costuma ser tão agradável se tornasse um inferno. As doenças como a tua são tramadas, também tenho na família do Manel quem sofra do mesmo e sempre encarei a doença de frente. Espero que com medicação as coisas vão ao sítio. A Raquel é realmente uma joia, ou não fosse minha Prima. Não sei se sabes que o meu Manel faleceu de cancro no dia 25 de Fevereiro após 7 meses de sofrimento, internamentos sucessivos, operação ao colo do femur, etc. Ainda não me recompuz, todos os dias penso nele, sonho com ele e sinto umas saudades profundas, como nos tempos em que nos namoravamos à distância e as pessoas me chamavam "viuva" alegre. Um grande abraço para todos os teus. Fica em, Primo.

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  12. Achei muita graça ás cartas da Terrinha. Que fofura de cadela deve ser. Para o dono fazer dela as suas palavras tem de ser uma relação muito estreita, claro. De facto o seu irmão é um poeta. Tem-no demonstrado no seu blog nos posts que tenho lido.
    Desejo-lhe uma boa viagem, as mudanças de ar fazem bem à mente. Mãe e filha têm sempre muito que conversar, não é?
    Bjs

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    1. Geninha, Tu adorarias o passeio que eu e a Luisa estamoa a fazer. Esta zona da Inglaterra tem sítios lindos duma paz e liberdade excepcionais. Tudo é perfeito para o emu mood. A Luisa está óptima e tb ela me transmite uma serenidade exemplar. Bjinhos

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