Gosto muito de chuva.
É uma sensação de amor mais do que de ódio, na realidade, pois amo o cheiro das ervas molhadas, da maresia trazida pelo vento sul , das gaivotas em sobressalto, ansiosas por um alimento esquecido.
Gosto dos reflexos das casas, das árvores e das silhuetas nos charcos junto às bermas dos passeios. Gosto da dança dos chapéus de chuva na calçada.
Nunca vi chuva num país tropical, mas adoraria sair quase nua para os campos, abraçando a água do céu feita louca.
Há alturas em que adoro contemplar as plantas depois da chuva, gratas e contentes, luminosas, e compensadas.
Também gosto de abrir as persianas e ver as gotinhas de água a rolar pelo murete.
Sou mais planta do que gente. Amo mais a Natureza do que as pessoas e os animais. É o silêncio delas que me fascina. Não falam,não exigem, não cansam, não poluem, limitam-se a dar o que têm e a prometer o que vão ter.
Como elas, gostaria de morrer de pé , com a certeza de que uns meses depois, outros botões brotariam, belos, prometedores e esperançosos. Que futuro risonho!
Só por isso valeria a pena viver num mundo sem palavras, feito de sons magníficos, imagens extraordinárias e paisagens transcendentes.
Gosto de chuva, mas só de algumas . Gosto da chuva que cai e faz barulho nas janelas, e adormecer com o seu som! Gosto da chuva quando estou em casa e não tenho que andar a esconder-me nos beirais! Não gosto da chuva torrencial, que faz lembrar deuses zangados e vingadores. Ao contrário de si, gosto mais de pessoas e animais, porque gosto mais de sentimentos, sejam eles bons ou maus! As plantas são seres vivos, mas estão paradas, não têm expressar, nem calor, nem ideias. As pessoas são como tudo, bom, mau e assim-assim. Mas penso que se o mundo acabasse devia ser com um dilúvio, para limpar os nossos pecados mortais. Estela Canaveira.
ResponderEliminarQuerida Estela, concordo no que se refere aos sentimentos, mas já acreditei mais neles como motores da nossa existência do que hoje. O negativismo apoderou-se de mim, há mais sentimentos negativos a ameaçar a nossa existência do que positivos. Sempre houve, mas a minha juventude e fé nas pessoas morreu. Só acredito na família e pouco mais. E mesmo essa...
ResponderEliminarBeijinhos ao Henrique e Raquel e Luís.