quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

O frio

Tenho estado no apartamento do meu filho mais novo à espera dum senhor que vem arranjar a caldeira Roca, há mais de quatro horas. Combinou vir à tarde das 3 às 6, mas já são 6.30 e ainda não apareceu.
Felizmente trouxe o laptop e para alem das várias coisas que aqui vim fazer, ainda deu para trabalhar um pouco no meu projecto.
Escrever planos de aulas, tintinportintin é coisa que não lembra ao diabo, mas que se tornou obrigatório para os autores. Confesso que tinha jurado a mim mesma nunca o fazer - e este é o primeiro projeto ( já fiz mais de dez) em que o pesadelo se tornou realidade.
O chamado Teacher's File é um dossier recheado de acepipes para os professores com a planificação para o ano inteiro, 70 planos de aula detalhados, com objectivos, conteudos, materiais a usar, avaliação e estratégias a utilizar. Até o TPC é indicado.
Parece que os profs são mentecaptos e incapazes de se desembrulhar nos mais ínfimos pormenores. E mesmo assim, todos dizem que os profs são menos capazes agora do que eram no nosso tempo...
Lembro-me dum professor da faculdade que dizia: O bom professor é o que faz maravilhas com o giz e o quadro!

Não exageremos, mas a panóplia de objectos que o professor tem de trazer para a aula deve encher duas mochilas.
Escrever planos é imaginar a aula de fio a pavio com todos os pormenores, o que é totalmente irrealista se formos a pensar nas contingências de cada uma. Nunca fui capaz de obedecer a planos, nem sequer os escrevia quando era orientadora de estágio. Os meus estagiários sabiam que tinham de os apresentar, mas que importante era dar uma aula como deve ser, com princípio, meio e fim....
Estão 12º aqui no apartamento, pois o aquecimento não funciona sem a caldeira e esta bloqueou por desuso. O meu filho só muito raramente aqui vem e nestes dois meses só veio duas vezes, se tanto. resultado, o frio é intenso, a sala é enorme e em geral tem sol, mas hoje nem isso. Estou de kispo vestido e até me sabe bem escrever, se não as mão gelariam.
Estou tão habituada ao aquecimento, que há sete anos que não sei o que é ter frio em casa....
Hoje sinto frio na alma...não é só na pele....saudades de não sei o quê...e desejo de libertação. Já propuz à editora despedir-me, mas eles não foram nisso!!

4 comentários:

  1. A imagem lá em cima é magnífica, Virgínia que vermelhos e rosas !

    Pois foi mesmo por estarem a fazer de mim imbecil, com planos de aula e outras tretas, que adiantei a minha reforma. O meu ideal de professor é aquele que planifica tudo na cabeça, entre o adormecer na véspera, o pequeno-almoço e a viagem para a escola, criando quase por impulso. Só assim as aulas podem ser únicas e soberbas. Dar aulas pela cábula é para funcionários do ensino.

    Acho que as editoras têm um papel cada vez mais prejudicial.

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  2. A imagem por incrível que pareça é dum tecido indiano: As calças são da minha filha e ela tinha-as vestidas quando eu lhe tirei a foto por detrás. Ela ficou escandalizada :) por eu ter um foto do seu traseiro, mas as cores ficaram lindas. Cortei o resto e fiquei com esta amostra, que me regala a vista quando abro o blogue.
    Eu tb me reformei com seis meses de antecipação, mas por outras razões, que não vêm ao caso. Já estava muito cansada e farta da MLR e das suas fantasias. Na altura ainda gozei dum ano excelente em que fui coordenadora de departamento, mas as benesses acabaram logo no ano seguinte e a ideia de ficar mais horas na escola era insuportável.
    A sua ideia de planificação é exactamente a minh, Mário....tantas vezes tirei coisas da Internet as 7 da manhã ou gravei videos do Sky channel para levar aos meus alunos. Sem falar dos óscares que eles viam na manhã a seguir à noite da cerimónia!!!
    Mas agora temos de adivinhar o que o prof vai fazer com um ano de antecedência ....ou anos......:))
    Abº

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  3. Eu acho que o professor deve planificar as suas aulas. Agora o que eu não suportaria é que me impusessem um plano.

    Um abraço.

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  4. O professor planeia sempre as suas aulas, mas há ocasiões em que se pode improvisar para benefício dos alunos. Tudo depende da disciplina que se está a ministrar. Línguas é um mundo global, onde cabe tudo se com isso motivarmos os alunos a falar inglês. Não é preciso ensinar Shakespeare ou limitarmo-nos `à cultura inglesa ou americana. Pode-se usar tudo como detonador de vontade de aprender por isso gosto tanto desta língua e ensinei-a durante 37 anos em locais diversos. Foi uma experiência que nunca me sairá da memória. Acho que aceitei este projecto para não me desligar do ensino totalmente...

    Bom fds!

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