Ontem fui pela primeira vez ao
Museu Romântico do Porto, um local do outro mundo, que pareceria mais adaptado a Sintra ou ao Buçaco do que ao coração desta cidade, ainda que nela, haja muitos mais recantos igualmente belos e preservados, como só encontrava dantes em Coimbra ou em Viseu.
O museu fica na denominada R
ota do Romântico, um roteiro para os que buscam raizes do passado cultural romântico da cidade, dos tempos de Garrett e dos concertos senhoriais em salões de famílias nobres, que, às vezes, vemos recreados nas séries inglesas da BBC e também nalgumas portuguesas de época.
O caminho para lá é sinuoso com ruas estreitas e rampas de calçada a partir do Palácio de Cristal, onde o autocarro nos deixou.
Entra-se num mundo diferente, todo feito de musgo e muros de granito, casas antigas, árvores seculares, fontinhas e trepadeiras. Não fossem os malditos carros e estaríamos perante um cenário de filme da época. A tarde de sol pleno realçava mais ainda os contrastes e as sombras.
Locais como estes deveriam ser conservados como se de jóias se tratassem, pois são eles que nos fazem identificar esta cidade com o seu passado histórico, literário e cultural.
A vista da Ponte da Arrábida, muito embora mais recente, enquadra-se bem neste cenário em contra-luz, o rio Douro vestiu-se de prata, contornando as margens da cidade.
Fiquei ali uns minutos, extasiada, antes de entrar para o museu, onde ia decorrer o
Recital da Pauta. As crianças que iam tocar já se encontravam lá dentro e ouviam-se instrumentos vários, numa cacofonia agradável, que não estragava o ambiente.
A sala lindíssima ostentava à frente um enorme espelho,
que reflectia a audiência, enquanto os intérpretes vinham à vez tocar a sua peça em violino ou violoncelo acompanhados ao piano. O meu neto saiu-se muito bem, tocando o
Concerto Húngaro de
O. Rieding, uma peça menos conhecida , mas lindíssima, uma toada eslava com o seu ritmo de dança cigana.
Foi-me possivel gravar tudo, sem interrupções, apesar dos meus dois netos mais novos estarem junto a mim, mexendo-se e deixando cair os programas ou bonecos que traziam na mão :))
Os jovens da Pauta tocam bem e , sobretudo, empolgam a plateia pela sua simplicidade, técnica , arrojo e no modo como enfrentam as famílias e amigos que aparecem sempre a apoiá-los em grande número.
No fim do concerto, ainda houve tempo para estar no jardim um pouco a admirar o fim da tarde sobre o Douro.
A minha filha e eu fomos depois jantar à Mascara na Foz e passeámos junto ao mar, enquanto o restaurante não abria. Estava frio, mas aquele passeio abriu-nos o apetite e a refeição soube-nos pela vida. Os meus netos foram para casa, pois hoje tinham colégio e ao domingo vai-se cedo para a cama:)
Já em casa ouvi mais de 4 vezes o vídeo que fiz. Enviei-o ao meu filho e aos Avós. É comovente ver uma criança de 9 anos tocar com tanto sentimento e técnica. Todo ele vibra com a música - desta vez húngara, cigana - e toca com sensibilidade dum adulto. Não sou uma Avó babada, sou bastante crítica, mas verifico desde miúdo que ele é dotado para a Música, como o Pai e a Mãe.
Amei - como agora se diz - todos os minutos da tarde de ontem. Esta cidade é um espanto, cada vez gosto mais de cá viver e de descobrir as maravilhas que por aqui se escondem. Não chegariam os anos que me faltam viver para a conhecer toda. É uma cidade com património, com História, com identidade, patriótica e Invicta. Houvesse muitas assim.....