segunda-feira, 4 de maio de 2015

Mundo cão


Na Inglaterra, faz-se a festa e deitam-se os foguetes, milhares de pessoas saem à rua só para verem a nova princesinha acabada de vir à luz. Fazem-se apostas sobre o nome da pequenina. Abundam as fotos dum bébé bem nutrido, bem tratado e protegido de qualquer mal. Aquela criança nasceu num berço de ouro.

Segundos depois, reporta-se a notícia de uma menina nascida hoje de noite num navio italiano que acolheu centenas de emigrantes provenientes da Síria algures no Mediterrâneo, onde tantos já pereceram. O que vai ser daquela menina, que futuro a espera? Será que a mãe sobreviveu a tanta violência?

Passa-se daí para o Nepal, onde  se escavam os escombros há dias e dias e se encontram pessoas soterradas que conseguiram sobreviver à custa da sua própria resistência física e anímica. Deus saberá como.

Entretanto , continuam a abrir os telejornais com notícias macabras de pais que violam filhas de 13 anos...

Como acreditar num Deus que permite tais disparidades e tanta crueldade?

Lá fora está um temporal medonho, hoje quase levantava vôo quando fui à piscina, onde consegui apaziguar a minha revolta.

Em minha casa está quente, tenho tudo o que preciso. Mas sinto a alma vazia e ansiosa por respostas.

6 comentários:

  1. É por isso ( e não só) que eu não creio...
    À quinta feira sou voluntária no Hospital de Santo António. Vejo casos de sofrimentos de crianças( e dos pais, obviamente) que me deixam revoltada nem eu sei bem contra quê. E lembro-me de Augusto Gil: Mas as crianças, Senhor, porque lhes dais tanta dor, porque padecem assim?
    Ab
    Regina

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Compreendo-te, Regina. Ver sofrer e nada poder fazer é cruel. Ando a ler os Diários de Etty Hilleman, judia holandesa que escreveu sobre a discriminação dos judeus entre 1941 -43 no seu país e às vezes pergunto-me como foi possível o holocausto....e como é possível todo sofrimento humano a que somos indiferentes na nossa vida todos os dias. Estou só e dá-me para pensar mais.
      Somos privilegiados em tanta coisa!

      Eliminar
  2. Não sei se devemos procurar respostas, muito embora seja essa a nossa natureza. Nunca lá chegaremos, tenho essa consciência, nunca perceberemos estas injustiças da vida... O estado de desesperança quando se atinge a dimensão da realidade, é quase insuportável. A clareza da crueldade do mundo é um estado ruim, Virgínia, e o pior de tudo é que quando se atinge, jamais saímos de lá...

    Um beijinho para si.

    ResponderEliminar
  3. Estou a ler por sugestão da Miss Smile um livro sobre Etty Hillesum, que já citei aqui - já vou no segundo, o primeiro eram cartas delas, este é sobre a evolução que se deu na sua própria personalidade nos anos 41-42. A situação dos judeus era de tal modo insuportável, que Hetty começou a introspeccionar-se e a procurar respostas dentro de si, conseguindo superar o ódio, a violência, a perda de tudo e de todos. É uma bela lição de vida , mas para a atingirmos é necessário passarmos por períodos de sofrimento e carência assustadores. Nem todos conseguem sobreviver.
    Já passei alguns momentos terríveis mas nunca perdi a fé em mim própria e consegui sempre, com ajuda dos meus filhos, acreditar que havia vida para alem de dessa fase dolorosa.
    Hoje está sol depois de quatro dias de chuva torrencial e vento aqui no Porto. Vou ao Botânico ver as flores da primavera!! Bjinho

    ResponderEliminar
  4. Virginia, é muito difícil encontrar respostas para o sofrimento que assola o mundo, se é que elas existem...
    Penso que o que podemos fazer é ajudar, estar presente, aliviar o sofrimento, estender uma mão, dar um sorriso no momento certo... pequenos grandes gestos à nossa escala. Quanto ao sentido do sofrimento, compete a cada um encontrá-lo para que possa continuar a viver e não a sobreviver.
    Um beijinho

    ResponderEliminar
  5. Sim, penso que a nossa atitude deve ser positiva, activa e na medida do possível, construtiva. Mas não conseguimos abarcar tanto mal que grassa pelo mundo e mesmo à nossa beira.
    Estou a ler agora outro livro sobre a Etty Hillesum: Uma vida transformada , que comprei no kindle e descreve como se deu a sua mudança interior naqueles anos horríveis. Aprende-se bastante...
    Obrigada!

    ResponderEliminar