segunda-feira, 6 de julho de 2015

O silêncio e o barulho da futilidade

Habituei-me ao silêncio há muito. E este ano vou estranhar de novo a companhia, o barulho, a ausência de privacidade.

Gosto de ouvir música como este concerto de violoncelo sugerido pelo meu Amigo Mário, que descobre sempre pérolas e as partilha no seu blogue. Só oiço o violoncelo,  em completo silêncio de vozes.

A minha filha foi para a praia munida dos seu tesouros: livro, iPod e creme solar. É igual a mim. Desaparece quando há barulho.
O meu neto foi ao correio levar duas cartas enormes para os amigos de Mountain View, que deixou apenas há 15 dias, mas de quem já tem saudades.

Fechei as janelas todas e nem sequer oiço o barulho do mar. Que maravilha!

Acho que entrei na fase da negação. As pessoas irritam-me. Os mails cheios de PPs, as anedotas, os recados e avisos encharcam a minha mailbox e pôem-me do contra. Ainda agora protestei contra um da minha mana com tulipas da Holanda dispostas em tabuleiros - milhares deles de todas as cores. Flores feitas a martelo não me entusiasmam nada, prefiro a beleza dum hibisco singelo, nascido aqui num vaso, quase sem água e muito calor.

Fotos assim de enfiada são mesmo para que não aprecia a simplicidade do que é genuíno e puro.

Alguém se queixava - e com plena razão - do novo Museu dos Coches, que parece uma nave espacial com modelos de coches dos séculos passados, sem patine, nem História, sem nobreza e com milhões de euros investidos só para turista ver.


As pessoas estão cada vez mais showoffish, só se querem armar, mostrar que têm isto e aquilo, mas nada apreciam na realidade. O barulho ensurdecedor que fazem quando estão juntas é impressionante. Felizmente aqui há mais famílias nórdicas que portuguesas e essas tb apreciam o sossego, excepto quando à noite bebem copos a mais e então a algazarra é igual.

Nunca estive tanto tempo em férias aqui...ou seja desde há mais de 40 anos, pelo menos.

Não vou voltar a ficar tanto tempo...tenho saudades do meu filho mais novo, da minha casa, do jardim Botanico... e estou farta deste ramerrame todos os dias.

Mas vou ficar saudosa deste mar sem fim, que me enche os olhos todos os dias....

Não se pode ter tudo!!



8 comentários:

  1. Querida Virginia, há quem diga que o melhor de ir de férias é quando se regressa :)
    Todos precisamos de momentos de recolhimento. Por vezes, "less is more".
    Um beijinho

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  2. Tem razão. As vezes invejam-se as pessoas que vivem junto ao mar porque podem gozar da vista todos os dias. No entanto, a vista cansa e ao fim de anos, já nem notamos nos pormenores que tanto nos encantaram no início. Sempre quis casas com luz, mas não especialmente com vista...aqui é o mar imenso que nos cerca e se vê de todos os lados...uma imagem que fica na retina durante toda a nossa vida...

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  3. Como sabes, adoro a Luz onde já não vou há muitos anos, mas também sei que, por mais aprazível e encantador que seja um lugar, a dada altura sentimos necessidade de regressar ao nosso cantinho.
    Bom regresso e até breve.
    Bjs

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  4. Aparelhei o barco da ilusão
    E reforcei a fé de marinheiro
    Era longe o meu sonho, e traiçoeiro
    O mar...

    (Só nos é cedida
    Esta vida
    Que temos;
    E é nela que é preciso
    Procurar
    O velho paraíso
    Que perdemos)

    Prestes, larguei a vela
    E disse adeus ao cais, à paz tolhida.
    Desmedida
    A revolta imensidão
    Transforma dia a dia a embarcação
    Numa errante e alada sepultura...
    Mas corto as ondas sem desanimar

    Em qualquer aventura,
    O que importa é partir, não é chegar.

    ......................Miguel Torga











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    1. AnonimU, gosto das suas intervenções poéticas....são muito reconfortantes.

      Neste momento estou mais a pensar em chegar....

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  5. Tinha escrito resposta à Regina e desapareceu, acontece-me frequentemente com esta net diabólica. Tenho pensado em ti quando vejo aslindas buganvilias por aqui....

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  6. Um comentário relativamente ao silêncio... e à sua necessidade.

    AS PALAVRAS


    Sem palavras
    Não existimos
    Não dizemos
    Não expressamos
    Não comunicamos
    Não sentimos.
    Sem palavras
    Seria o nada
    Porque não havia descrição
    Nem sujeito ou predicado
    Nem verbo nem acção
    Nem redacções ou ditados
    Ou conjugações.
    Sem palavras estaríamos sós.
    E, contudo,
    Como é bom estar só.
    Em silêncio.
    Na noite bucólica e pastoral
    Em que apenas os cães falam,
    Mas como não lhes conheço a linguagem
    Não lhes descodifico os símbolos
    Não lhes entendo os argumentos
    As frases, os diálogos, os monólogos.
    Talvez por isso não me inquietem
    Não me perturbem
    Não me interroguem
    Não me firam.

    Como o fazem as palavras.

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  7. Adoro o poema....as palavras estão omnipresentes em tudo o que fazemos, respiramos, sentimos ou planeamos. Não conseguimos viver sem elas....mesmo o silêncio está repleto delas, mas devemos lutar para termos momentos de vácuo...

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