sábado, 1 de agosto de 2015

Agosto escalda


Não está muito calor, mas o sol é quentíssimo, a secura e e a aridez fazem-se sentir.

Ir ao Botânico nesta altura do ano é deprimente, sentimos a sede de todas estas plantas que estão à míngua de água.


Choveu há duas noites, mas não chega, as flores parecem desbotadas e com excesso de pétalas murchas.
Os agapantos já deram flor, agora inclinam-se para a terra, prostrados, com os seus bagos secos.

Os malmequeres desapareceram, as próteas nem vê-las, há alguns nenúfares, arrumadinhos por entre as folhas espalmadas e prateadas. Já se começam a ver alguns papiros, que tinham morrido por completo na altura das obras.
Andam-se metros sem ver uma flor e as folhas das árvores já estão escuras e densas como num bosque. Respira-se bem, mas fazem falta as camélias, os lírios, os narcisos, as estrelícias, que dantes enchiam por completo os canteiros.


Vá lá que junto ao busto de Sophia, as dálias parecem dançar numa festa, em tons de amarelo, rosa e vermelho, simples e dobradas, ponpons em profusão.



Sophia ia gostar...

Aqui fica um poema seu, ainda hoje verdadeiro.

Quando

Quando o meu corpo apodrecer e eu for morta 
Continuará o jardim, o céu e o mar, 
E como hoje igualmente hão-de bailar 
As quatro estações à minha porta. 

Outros em Abril passarão no pomar 
Em que eu tantas vezes passei, 
Haverá longos poentes sobre o mar, 
Outros amarão as coisas que eu amei. 

Será o mesmo brilho, a mesma festa, 
Será o mesmo jardim à minha porta, 
E os cabelos doirados da floresta, 
Como se eu não estivesse morta. 

Sophia de Mello Breyner Andresen, in 'Dia do Mar' 

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