terça-feira, 28 de junho de 2016

28 de Junho de 1946


Nasci eu.

Com o calor, as tardes longas, parece que nasci pelas 8.30 da noite, ainda havia sol.

A minha mãe comeu cerejas, que ela adorava. Deram-me o seu nome, que tinha três iis e era difícil de escrever correctamente.

A guerra tinha acabado, havia um perfume de paz no ambiente.
Chamaram aos bébés desses anos os baby-boomers, nascidos no pós guerra e em grande número, sobretudo nos países que tinham estado envolvidos.

Já era a quarta filha, ou antes a terceira, visto que o meu irmão mais velho nasceu antes das meninas. Depois vieram mais quatro, eu estava no meio da sanduíche.

Sempre desejei ser rapaz, fazia tudo por parecê-lo, até afrontava o meu Pai em momentos infelizes.

Fui uma miúda feliz, apesar da concorrência constante, sobretudo na adolescência, em que comecei a querer encontrar o meu lugar ao sol e havia demasiada sombra.

Na adolescência passei por maus momentos, mal adaptada ao liceu, péssima a Matemática e a Física, toda virada para as letras, que me apaixonavam. Só respirei fundo no 6º ano quando me dediquei de alma e coração às línguas e literaturas.

Os meus aniversários eram sempre acompanhados de festas e exames. Quase todos tínhamos exames, mas no meio vinham os meus anos e volta e meia, havia festas dos "santos" em casa, apesar deles não fazerem milagres. :)

Havia fogueira, balões, cravos com quadras, caldo verde e chouriço...eram os meus anos. " C'est ma fête, je fais ce qui me plait!".  A música dos anos 60 entusiasmava-nos. Eram os Beatles, os Rolling Stones, os franceses românticos...e o rock n'Roll.

Dizem que foram anos bons. Maus não foram, comparados com as crises que nos assolam. Mas havia a guerra em África e em 1974, um cunhado meu morreu em África deixando a minha irmã viuva com duas filhinhas pequeninas. Nunca mais a minha família foi igual, embora a vida continuasse...

Casei em 1973 e a partir daí, a minha vida deu uma volta de 180º. Deixei Lisboa para sempre em 75 e para trás a família, os amigos, a cidade onde me sentia bem,  e também um pouco a minha identidade.

Custou-me tanto deixar tudo que tive de sublimar a ausência da família e amigos com o desvelo pelos meus alunos e pela minha profissão de professora na província remota aliado à minha paixão cada vez maior pela Natureza e pela Música.

A partir de 1976, sublimei tudo com a dedicação e amor incomensurável que nutria pelos meus filhos.

Nunca mais o meu eu se sobrepôs ao deles até eles serem adultos. Mas houve momentos dramáticos, que tentei sempre superar com a esperança de dias melhores.

E aqui estou eu com 70 anos, três netos e uma felicidade sempre presa por cordéis ao quotidiano.

Cada dia que passa é mais um num percurso que penso ter sido bem realizado.

Tudo o que vier a mais....é mais uma vela acesa na minha Vida.


Happiness is looking forward to



19 comentários:

  1. Parabéns, Virgínia. É uma idade bonita e tanto quanto posso avaliar uma vida bonita também. Que tenha um excelente dia de festa !

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  2. Muito obrigada, Mário.

    Prefiro não pensar muito nos números redondos :)

    O dia de festa é estar com a família em paz!

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  3. Muita paz querida amiga, muita saúde e, claro, MUITOS PARABÉNS! :)

    (Uma vida em cheio, heim?)

    Beijos e um forte abraço!

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  4. Tu sabes bem, Paulo que foi uma vida em cheio. Conheces-me melhor do que muitos dos meus familiares, nos defeitos e nas qualidades. Há um mundo que nos liga para lá da realidade na virtualidade do ciberespaço.
    Obrigada por teres escrito aqui, onde estás sempre presente "in the windmills of my mind".

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  5. "The Heart is the Capital of the Mind -
    The Mind is a single State -
    The Heart and the Mind together make
    A single Continent -

    One - is the Population -
    Numerous enough -
    This ecstatic Nation
    Seek - it is Yourself."

    Emily Dickinson

    Muitos parabéns, querida Virginia! Que a vida lhe continue a sorrir :)

    Um beijinho

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  6. Miss :), a sua presença tem sido uma chama linda aqui no meu blogue. Quando fizer 80, vou convidar todos os meus leitores para uma festa a sério!

    Bjinhos e continue, please......

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  7. Querida Virgínia, em primeiro lugar os meus votos de um dia muito feliz do seu aniversário. Segundo comentar o que escreveu . O final do texto tocou-me quando se refere: Nunca mais o meu eu se sobrepôs ao deles até eles serem adultos. Acho que o meu eu, por mais que tente . será sempre secundário em relação aos meus filhos . Nunca estarei bem se eles não estiveram até ao fim dos meus dias .
    Se somar todas as parcelas do seu percurso de vida vai ver que tem muito boa média . Também nunca gramei matemática mas sempre soube fazer médias.(risos)
    A sua aparência física está óptima e pelo que conta sabe muito bem sair das dificuldades quando elas aparecem . É isto mesmo e continue assim que está num caminho.
    Abraço grande !

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    1. Querida Madalena,

      Os nossos percursos são parecidos e a Madalena é uma Mulher às direitas, muito completa e cheia de energia. Quando falo dos meus filhos serem adultos, não quero com isso dizer que os abandonei. Pelo contrário, acho que sofri bastante mais depois do que antes de eles chegarem aos 18 anos. Uma mãe nunca se distancia, mas tem de os deixar fazer as suas escolhas, é isso que eu tento.
      Estou bem melhor das artroses e isso anima-me. Hoje já recebi Parabéns de dezenas de pessoas do Fb, mas não só. É muito grato!
      Um belo dia para si tb!! Bjinhos

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  8. Muito bonito, Mãezinha, obrigada e muitos beijinhos! :-D

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    1. Contribuis com a "lion share" para a minha boa disposição ao chegar a esta idade. Continua.....
      Bjinho

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  9. Parabens! Somos colegas! Também faço 70 anos hoje! Gostei demais de suas palavras! Cláudio.

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    1. Benvindo Cláudio. Muitos parabéns e um dia maravilhoso para você.

      Abraço

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  10. "Mais vale ser setentinha do que sessentona", parafraseando o Miguel Esteves Cardoso. Aliás, é melhor uma pessoa que se tenta, do que uma que se senta, acrescento eu!
    Já tive ocasião de falar pessoalmente contigo. Neste post resumes (se é possível resumir) muita coisa, muitos factos e sentimentos. É engraçado debruçarmo-nos sobre o percurso de vida e pensar que, se nem tudo foram rosas, houve muitos momentos bons. O Bicas (cá está, o masculino...) das fotografias, de passar dias e dias de férias a colar e montar filmes de 8 mm, dos livros, do sucesso com os namorados (porque não dizê-lo, se eu, dez anos mais novo, bem me dava conta), a pessoa interessante que, mesmo que me pegasse de vez em quando com ela, logo encontrávamos a matriz comum da nossa fraterna amizade. Os espaços temporais e físicos entre nós, decorrentes do ritmo triturador da vida quotidiana, não beliscaram a nossa cumplicidade. Assim continua e se reforça, e mesmo com "o Porto aqui tão perto", ainda nos encontramos demasiadamente pouco. Mas tudo "câmbia", e haveremos de encontrar uma "geringonça" que permita estarmos mais vezes "olhos nos olhos". Beijinhos e um dia muito feliz, com os Parabéns cantados por um coro que tenho aqui, da Catarina, Eduardo, Zé Maria, Tomás e Tenrinha.

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    1. Que dizer?

      Hoje já o sol vai bem alto e não há palavras para agradecer o teu post, e os de todos os outros no FB, por mail, pelo telefone...é lindo fazer anos quando se tem tanta gente que gosta de nós!! A Vida é algo de grandioso e só de vez em quando paramos para pensar.
      Sim houve momentos de grande cumplicidade entre nós ( lembras-te do meu ano de estágio no Pedro Nunes, tinhas 16 e eu 25?) e também hiatos enormes devido à ausência de comunicação...mas agora podemos recuperar. E ainda a noite é uma criança....
      Bjos a todos, meus queridos sobrinhos, cunhada, cadelinha e Mano com M grande.

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  11. Um grande abraço de parabéns
    Regina

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  12. Muitos Parabéns e que post incrível para celebrar a data :)
    um grande beijinho
    Gábi

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  13. Minha querida Redonda....quando tinha sete anos recebi o Livro da Dona Redonda como prenda. Ainda tenho aqui a dedicatória da minha Avó! Era um livro maluco, mas que ia ao encontro da minha imaginação e criatividade. Gosto muito da sua presença aqui...beijinhos e obrigada!

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