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Nunca pintei com o intuito de vender, nem de expôr sequer. Acabei por fazê-lo a pedido. Mas não gosto muito, nem acho que valha a pena o esforço. Gosto muito dos meus quadros e ofereço-os a quem realmente aprecia, é das coisas que mais prazer me dá. Ainda há pouco tempo ofereci uns a duas amigas uma flautista e outra oboeista, que estiveram cá de visita e no ano passado, a uns amigos suiços que nos visitaram e apreciaram muito alguns dos meus quadros.
Também já tenho oferecido à família, aos meus filhos quando vejo que gostam deles, o que não acontece com todos. Em contrapartida já comprei quadros bastante caros, de que gostei.
Já ofereci mais de 30 quadros que me lembre. E também dei alguns para serem vendidos num centro de Coimbra que faz vendas para fins humanitários. Gostaria de deixar os meus quadros a uma instituição psiquiátrica, que se comprometesse a usá-los na decoração das paredes nuas e brancas que, em geral, nada ostentam de criativo. Mas isso só quando o rei fizer anos, é mais difícil doar coisas em Portugal do que nos outros países.
Comecei a pintar quando me reformei e durante uns 4 anos, frequentei dois locais que me ajudaram a ocupar o tempo deixado livre pelas aulas, onde se pintava sem grande ambição. Convivi com pessoas interessantes e mesmo excelentes pintores, que ainda hoje recordo com saudade. Não aprendi muito, talvez porque sou rebelde e gosto de experimentar e de inventar. Sempre fui assim...
Deixei o atelier já há uns anos. Na altura estava cheia de trabalho para a editora e as deslocações para a Antero de Quental eram cansativas, pois tinha de levar materiais, mesmo quando os tinha lá guardados. Também não me dava jeito pintar à 3ª feira e depois esperar pela semana seguinte para continuar o quadro. Gosto de fazer tudo seguido.
Na Paleta, o atelier que frequentei durante dois anos, saía de casa, andava uns metros e estava no local. Infelizmente, tendo o professor Nikola Raspopovic partido para Berlim, o atelier fechou. Está agora condicionado por exposições, muito raras. Faz-me pena passar por lá e ver tudo fechado. Fui muito feliz. Descobri que gostava de pintar e tive apoio, não só do professor como da dona do atelier, que ainda hoje admiro, Mª José Casais com quem conversava longamente fora das aulas e sepre que me apetecia ir para aquele espaço maravilhoso.
No segundo atelier, onde o professor era extraordinário e credenciado, o Professor Domingos Loureiro, que sempre admirei e de quem me considero amiga, nunca senti o mesmo ambiente criativo.
Ali conversava-se mais do que se pintava, distraía-me com tudo , o espaço era exíguo e não me parecia estar num local de trabalho. Ainda hoje funciona com outra gerência, mas mudaram para a Rua da Alegria que fica mais longe. Nunca mais lá fui.
Nunca consegui pintar bem no meio de muita gente. Aliás, em casa só pinto sozinha. Nem oiço música. Olho pela janela, inspiro-me nos verdes que me rodeiam e pego nos pinceis. As vezes até à noite, sem boa luz. Nem me sirvo do cavalete, pois uso muita água; pinto na mesa que é de acrílico e muito moderna.
À volta tenho o meu ambiente, tudo o que é verdadeiramente meu, livros e revistas sobre Arte, cartas de namoro em caixas lindas de papelão pintado, livros feitos por mim, materiais variados e quadros meus ou que adquiri nestes anos. É um local privilegiado ainda que com pouca luz do sol.
Hoje resolvi tirar um dos meus quadros grandes da parede e colocar lá uma série de quadrinhos que tenho feito nos últimos tempos. São quase todos abstractos e emoldurados em madeira. Compro as molduras em várias lojas diferentes: na Worten, na Fotosport ou no Chinês. Gosto muito de madeira crua para este tipo de quadros com cores pasteis. As fotos infelizmente, ficam cheias de reflexos que deturpam as cores dos quadros.
Ultimamente, também fiz uns quadrinhos sobre o Yorkshire - região onde a minha Luisa vive e que é das mais lindas que conheço. São pequeninos mas muito bonitos, na minha humilde opinião.
Não tenciono convidar nenhum expert para os ver. É só para meu gozo visual.
E fico feliz com pouco. :)