terça-feira, 11 de julho de 2017

Limbo



Sinto-me num limbo ultimamente.

Acordo de manhã sem um objectivo presente, sem saber bem o que vou fazer, sem projectos nem alegrias especiais.

De vez em quando há excepções como o Concerto da Academia Pauta no domingo, celebrando os 20 anos da instituição, em que todos os alunos participaram e ainda houve convidados - antigos alunos - que viajaram do estrangeiro para cá e tocaram em conjunto.


O meu neto André, de 11 anos, desempenhou um papel especial , dançando a solo o Cisne de Saint- Saens,  numa versão contemporânea, que, infelizmente, não pudémos gravar.

De resto , a vida nunca me pareceu tão monótona e pouco aliciante. Está um tempo belo, luminoso, mas nem sequer me apetece ir à Foz ou aos parques. Nunca senti esta modorra, acho que ainda estou a sentir a ressaca da morte do meu marido, quanto mais o tempo passa, mais memórias me vêm, mais saudades se alimentam, mais necessidade tenho de alguém que não está aqui.

Penso que o tempo cura tudo. Gostava de me sentir mais animada mas não consigo. Daí passarem-se dias e dias em que não escrevo aqui no blogue. Melhores dias virão.

Fica aqui o vídeo de O Cisne, dançado por Lil' Buck e acompanhado por YoYo Ma, uma versão parecida com a que o meu neto produziu no palco da CdM.


8 comentários:

  1. Só é vencido quem desiste de lutar, no matter what.
    Melhores dias virão, mas há que tentar agarrá-los, na espuma dos dias.
    Beijinhos empáticos e fraternais

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    1. Sim, tive nas minhas sete vidas , muitos momentos assim. O Freud deve saber explicar isto. Há alturas em que dá a impressão de que tudo gira à nossa volta como uma engrenagem em que não fazemos falta nenhuma e só apetece sair dela, libertarmo-nos, não sei bem com que objectivo. Mas sonho com algo mais que não sei o que é.
      Bjinhos gratos.

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    2. O futuro está adiante e embora se tenha que aprender com o passado e ponderar as circunstâncias e contextos presentes, não são eles quem tem de dar a última paçavra, mas sim nós.

      Não sou fã das teorias do "carpe diem" ("vive o teu dia de hoje como se fosse o último".) - acho que libertaria a fera que há em mim (todos nós o faríamos) e a besta narcisista atacaria, produzindo dolorosos estragos.
      Todavia, também não creio que devamos estar demasiado aprisionados pelo que de bom ou de mau aconteceu - no primeiro caso, tudo o que vier será pior; no segundo, a tendência será para nos lamuriarmos e vitimizarmos, passo primeiro para estacarmos. Prefiro aprender com o passado, não o descurar mas não deixar tomar conta de mim e, sobretudo, não sentir obrigado a fazer o que não quero apenas pelo "politicamente correcto", o que é diferente de respeitar os outros e fazer alguns fretes pelo prazer de alegrar os outros.

      O futuro, todavia, somos nós quem o construímos, mesmo que com limitações, dificuldades e obstáculos. A verdadeira liberdade não precisa obrigatoriamente de dinheiro ou de tempo, mas de uma noção interior de "decisores do nosso destino", seja ele qual for, e em que circunstâncias for.

      Talvez por isso tenha deixado de andar a reboque de rebanhos e de "pensamentos dominantes". Haverá muita gente que não gosta... mas para esses estou-me positivamente nas tintas.
      Freud deu-me uma grande ajuda, podes crer, em desfazer a engrenagem e mostrar que, resolvida a infância, feitas as pazes com o amargo do passado e c recuperando coisas boas das quais nem nos recordamos, também da infância, estamos aptos para sermos nós próprios, com uma identidade única e insubstituível. Quem não gostar, que vá dar banho ao cão!!! (ao meu não, que tem tomado a tempo e horas...). Por falar nisso, vou agora passeá-la pelas veredas das Cezaredas, com um por-do-sol magnífico e por locais onde não se ouve um ruído que seja de um ser humano - um privilégio, só paralelo à beleza da Natureza. Quem me dera saber pintar!

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    3. Concordo com essa abordagem do passado. Talvez que eu não lhe tivesse dado a importância que dei - e dou - se não tivesse lido 500 cartas escritas por mim e pelo M. durante cinco anos ou mais. Elas foram mais úteis que 500 sessões de psicanálise e ainda hoje estou a reflectir sobre o que eu era aos 20 anos e no que me tornei 50 anos depois. Sem amargura, com saudade, sim, mas sobretudo com uma enorme gratidão pelo grande amor que vivi, pela chance que tive de conhecer um grande Homem e de ele me ter dado três filhos maravilhosos. Não branqueio toda a parte negativa do passado, sei que dei a volta por cima e não estou arrependida. Só estou é sozinha e não sei até que ponto consigo lidar bem com esta solidão profunda. Neste momento, estou sozinha no Porto - os filhos e netos estão todos longe - e sinto-me estranha pois é a primeira vez que tal acontece.
      Já te disse que me podes mandar algumas fotos das Cezaredas para eu pintar, se conseguir...
      Por falar vou fazer uma pequena expo no salão da Casa do Vinho Verde, onde a minha nora vai festejar os 40 anos em Agosto. Será uma coisa pequena, mas com significado!
      Bjo

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  2. Acho que o tempo ajuda e falar também e estar com quem se possa conversar.

    um beijinho e espero que logo, logo venham melhores dias

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  3. Sim, é bom comunicar com pessoas compreensivas e sensíveis que nos entendem...

    Obrigada, Gabi. Bjinho.

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  4. Sinto-me assim. Acabo de perder o meu Pai,na segunda-feira, cheio de vida e saúde. A seguir aos seus anos celebrados no domingo, com uma festa linda, no dia seguinte depois de uma manhã bem ocupada, "adormeceu", como ele sempre pedia. Um choque!
    Sei que melhores dias virão, é essa a minha esperança...

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    1. Estou sem palavras, Geninha. Nem sequer tenho o teu telefone para comunicar contigo, os meus sinceros pêsames e um grande , grande abraço. Coragem. Podes agradecer o facto de ele não ter sofrido, ainda que não seja consolação.

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