sábado, 20 de maio de 2023

Coimbra tem mais encanto


 na hora da despedida.

Isto repetia me vezes sem conta o meu Manel , enquanto namorávamos, durante a separação passageira de 68-71 e depois de nos casarmos. 

Para ele era ipsis verbis. 

Durante o curso, não encontrou encanto nenhum na cidade, na universidade, nas casas universitárias por onde passou e sofreu, na comida e fome que sentiu, nos colegas que considerava grosseiros, ignorantes e pouco cultos na sua maioria. Haveria excepções. A semana era passada a espera do fim de semana no Porto, o que nem sempre acontecia por causa dos exames.

O Manel dizia que fora procurar a mulher da vida dele (eu) fora de todo aquele ambiente que o asfixiava. 

Quisera estudar em Lisboa, mas o Pai cortou lhe as vasas. Faleceu num acidente quando ele andava no 2o ano e o filho nunca mais pôde realizar o seu sonho. 

Tenho muitas cartas em que


 ele se queixa do barulho, da desordem  , do compadrio, das bebedeiras dos colegas, das praxes idiotas, das noites sem dormir, do estudo com calor tropical,  das saudades de casa e do Porto. Só era feliz no cinema ou a ler policiais nas idas e vindas da sua cidade. As idas a Lisboa eram escassas.

Compreendo bem a sua visão agora. 

Lisboa, onde vivi, nunca teve vida academica e estudar não era problema. Não havia clãs, nem amiguismos, cunhas ou bebedeiras na Cidade Universitária. Só eventos culturais.  

Nem sequer havia queimas. Só benção das pastas na Sé.

Depois de acabar o curso com 16, o Manel poderia ter ficado a fazer a pós graduação para ser assistente na FDUC. Não quis. Preferiu a magistratura onde não dependia de bolsas, nem de favores. 

Foi colocado como Delegado em Macedo de Cavaleiros aos 23 anos, longíssimo do Porto, em 1971, sujeito às estradas diabolicas, neve, gelo, curvas, solidão e ausência de tudo.vivia numa pensão .

Entrou em depressão e o que lhe valeu foi a Mãe que nunca o abandonou. 

Eu , a 500 km de distância, ia lhe escrevendo de vez em quando e continuava ama-lo sem desfalecimento.

Só em 1973 nos reencontramos em Lisboa por um bamburrio da sorte. E aí voltou a magia. Já não havia tanto sonho, mas continuava a paixão.

Karma?


2 comentários:

  1. Estive a ler e a ver as imagens - fotografias e quadros - desde a última vez que passei por aqui e são tão lindas - gosto muito da forma especial como olha e captura o que vê. Um beijinho grande e bom Domingo

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    1. Olá querida Gabi.
      Não ando muito inspirada e demasiado sentimental. E o karma. :) Beijinho

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