terça-feira, 19 de abril de 2016

60 anos depois

Há uns meses escrevi aqui sobre um episódio da minha vida que se revelou extraordinário, o reencontro no FB com uma senhora, que passara dois anos, de 1956-58, na nossa casa em Lisboa, uma Fraulein chamada Nelly Annaheim, que ficou nossa amiga para sempre.
Nunca mais a vimos e não sabíamos como a contactar, pois entretanto casou e mudou de nome.

Fica aqui um extracto dessa entrada:

Há dias , uma das minhas irmãs recebeu através do FB um email duma senhora chamada Doris Estermann, que se dizia filha da Nelly e andava à procura da nossa família por causa da sua Mãe, que nunca nos esquecera.
Foi uma surpresa total. Enviava fotos da família já grandinha e  duas nossas em pequenas com a  nossa Nelly que agora tem 83 anos e  que, segundo ela, nos relembrava com saudades , pois tinham sido"os dois anos mais felizes da sua vida".


Ficou combinado então, depois de várias chamadas no skype que a Nelly, agora com 83 anos, os dois filhos e neto viriam em Abril até ao Porto e depois a Coimbra e Lisboa. Assim foi.

Anteontem encontrámo-nos no Hotel da Música aqui no bom Sucesso. Foi comovente. Parecia que nunca tínhamos perdido o contacto tal foi a empatia que sentimos pela família  toda. O enlevo com que os filhos tratam a Mãe e o empenho que puseram nesta vinda é exemplar.

Démos um passeio longo de autocarro hop on desde o Castelo do Queijo até à Ribeira. Como o trânsito estava muito intenso, pudemos contemplar longamente toda a marginal da Foz, o mar, os transeuntes, as crianças, as esplanadas, etc.

Na Ribeira saímos e procurámos o Chez Lapin onde eu queria jantar. Ficámos dentro, pois estava fresco, mas cá fora a vista era espantosa com o rio espelhado e o fim da tarde. Comemos muito bem, um bacalhau com natas, um naco de vitela e spaghetti regado com Monte Velho.





Quando saímos, a Ribeira parecia um cenário de ópera, dourado, iluminado, lindíssimo. Eles estavam maravilhados com a cidade.

Infelizmente,  estavam muito cansados, de modo que quiseram ir para o hotel, mas a minha filha e eu ainda ficámos um pouco a admirar o panorama.



Ontem enchi-me de brios e preparei um almoço indiano aqui em minha casa para a família Estermann e meus filhos. Comprei tudo a preceito no Jumbo e nada faltava: Caril de porco com legumes, e jinga Masaledar, um prato com gambas, tandoori e molho picante, que eles adoraram. Também havia papadoms e naan.

Os meus netos vieram da escola às 3. O Daniel tocou duas peças no violino que eles apreciaram muito. Foi mais um momento mágico.

Finalmente despedimo-nos - eles queriam ainda fazer umas compras e hoje partiram para Coimbra onde se vão encontrar com as minhas irmãs.

Há situações na vida que nos compensam de muitas outras onde o vazio se instala.






quinta-feira, 14 de abril de 2016

A Espera
















 O título é peremptório.
É preciso saber esperar. O filme centra-se no acto da espera.
Duas mulheres aguardam a vinda dum homem, mas não sabemos se ele chega a vir.

Os símbolos - Semana Santa celebrada a rigor na Sicília -  no início são inquietantes mas deixam algumas dúvidas no espírito do espectador que, no fundo, espera ( nos dois sentidos da palavra) que Giuseppe apareça dum momento para o outro.

O ambiente é fúnebre, faz lembrar os filmes de Manoel de Oliveira, a lentidão quase insuportável. No entanto a presença das duas mulheres, interpretadas por Juliette Binoche, de quem sou fã incondicional e Lou de Lagge, uma jovem com um rosto clássico quase renascentista, enchem a nossa impaciência e dão contornos mais nítidos a uma história de vida dramática, mas com laivos de felicidade.

Se não gosta de filmes lentos , é melhor não ir ver. Se o audiovisual, o pormenor, os gestos, os lugares e o ambiente o fascinam, então este é um filme para si.

Fica aqui uma das canções do filme, que acompanha,  para mim, uma das mais belas cenas do mesmo.

Leonard Cohen: Waiting for a Miracle.




terça-feira, 12 de abril de 2016

Pintura surreal


O Fb veio-me recordar que há 4 anos tinha pintado este quadro.

Lembro-me bem dele, ainda o tenho. Não quis retratar a Primavera, mas depois de acabado, consegui ver elementos desta estação muito nítidas no quadro: árvores, folhas, riachos, um pássaro, etc.

Hoje estive a pintar um quadro sobre a Foz para oferecer aos meus amigos suiços que vêm no próximo fim de semana. É figurativo. Muito diferente deste, mas também não me parece desinteressante.



E aqui um poema de José Régio, surreal também.

Canção de Primavera
Eu, dar flor, já não dou. Mas vós, ó flores, 
Pois que Maio chegou, 
Revesti-o de clâmides de cores! 
Que eu, dar, flor, já não dou. 

Eu, cantar, já não canto. Mas vós, aves, 
Acordai desse azul, calado há tanto, 
As infinitas naves! 
Que eu, cantar, já não canto. 

Eu, Invernos e Outonos recalcados 
Regelaram meu ser neste arrepio… 
Aquece tu, ó sol, jardins e prados! 
Que eu, é de mim o frio. 

Eu, Maio, já não tenho. Mas tu, Maio, 
Vem com tua paixão, 
Prostrar a terra em cálido desmaio! 
Que eu, ter Maio, já não. 

Que eu, dar flor, já não dou; cantar, não canto; 
Ter sol, não tenho; e amar… 
Mas, se não amo, 
Como é que, Maio em flor, te chamo tanto, 
E não por mim assim te chamo?

sábado, 9 de abril de 2016

Morte aos blogues e viva o FB


Cada vez tenho menos leitores - ou melhor, comentadores - neste espaço.

Reli várias entradas de há dois, três anos e em nada as actuais são inferiores ou menos interessantes, na minha modesta opinião. Pelo contrário, as fotografias são hoje bem melhores, as referências culturais idênticas, as críticas a filmes equiparam-se.

Não compreendo bem porque se dá este fenómeno.
Verifico também que, nos blogues que aqui aconselho, as entradas são cada vez mais esparsas, dá impressão de que os bloguistas estão cansados ou atarefados com outros afazeres.

Todos os dias há umas 100 pessoas que lêem o que escrevo, mas muito poucas a comentar. Atribuo este facto ao Facebook, que hoje em dia, desgasta a mente dos cibernautas e os faz perder muito do seu tempo.

Pessoalmente gosto mais de comentar nos blogues do que no FB, embora me dedique à fotografia dum modo especial e adore os sites do FB sobre a mesma.

Contribuo com fotos minhas todos os dias, por vezes sou recompensada com menção. As colagens das melhores são sempre bonitas como estas que aqui podem ver.



quinta-feira, 7 de abril de 2016

O abstracto


Pinto tanto abstracto como figurativo, há quem prefira o primeiro, outros o segundo.
Em matéria de fotografia, o mesmo se passa. Embora não goste de usar photoshop e outros meios sofisticados para modificar as fotos, uso muito o corte, a sintonização, o aquecimento das cores, a colagem e outros processos.

Há no FB um site chamado Abstract Photography para o qual já enviei várias fotos que considero estranhas, mas belas, muito semelhantes a quadros.

Estão aqui alguns exemplos extraídos de fotos do Botânico. Os reflexos na água tomam formas caprichosas e muitíssimo sugestivas.








Junto um poema de Álvaro de Campos que liga bem com esta noção de abstracto:

Não, não é cansaço... 
É uma quantidade de desilusão 
Que se me entranha na espécie de pensar, 
E um domingo às avessas 
Do sentimento, 
Um feriado passado no abismo... 


Não, cansaço não é... 

É eu estar existindo 
E também o mundo, 
Com tudo aquilo que contém, 
Como tudo aquilo que nele se desdobra 
E afinal é a mesma coisa variada em cópias iguais. 


Não. Cansaço por quê? 

É uma sensação abstrata 
Da vida concreta — 
Qualquer coisa como um grito 
Por dar, 
Qualquer coisa como uma angústia 
Por sofrer, 
Ou por sofrer completamente, 
Ou por sofrer como... 
Sim, ou por sofrer como... 
Isso mesmo, como... 


Como quê?... 

Se soubesse, não haveria em mim este falso cansaço. 


(Ai, cegos que cantam na rua, 

Que formidável realejo 
Que é a guitarra de um, e a viola do outro, e a voz dela!) 


Porque oiço, vejo. 

Confesso: é cansaço!... 

Álvaro de Campos, in "Poemas" 

segunda-feira, 4 de abril de 2016

.Wolfgang Tillmans - No limiar da visibilidade



Tinha prometido escrever sobre este fotógrafo alemão que apresenta em Serralves uma exposição de encher o olho dos fotógrafos que amam as meias tintas, os luscos-fuscos, o twilight...a indefinição.e o mar.

As fotografias quando ampliadas assumem o carácter de verdadeiros quadros, levando-nos ao sonho e ao infinito, para lá do próprio horizonte que representam. Perdemo-nos um pouco perante aquele céu imenso e o azul do mar.

Tive a sensação de estar a ver algumas fotos minhas- se as ampliasse , penso que adquiririam esse carácter imutável, que nos surpreende e atrai.

Fiquei sentada durante bastante tempo a contemplar algumas fotos mais oníricas, em que as cores se confundem e morrem umas nas outras...

Interessante, mas não genial.




 Transcrevo um parágrafo do folheto distribuido pelo Museu:

Para a sua primeira exposição em Portugal, Wolfgang Tillmans (1968, Remscheid, Alemanha) continua a expandir as possibilidades de receção da sua obra através de um reposicionamento radical das suas múltiplas dimensões. Em Serralves, presta especial atenção ao que descreve como as suas "Paisagens Verticais”, fotografias dos fenómenos naturais da luz quando o dia encontra a noite, o céu encontra a terra, a nuvem encontra o céu. Datadas de 1995 ao presente e impressas em escalas que vão das dimensões fotográficas estandardizadas à expansão panorâmica de quatro metros, as fotografias traduzem o potencial expressivo do apurado formalismo visual de Tillmans e o compromisso do artista com a fotografia tão inerentemente físico quanto imaterial. Na sua beleza perturbadora, produzida em parte pelos avanços técnicos dos fabricantes de câmaras, em parte pela insistência dos fotógrafos em permitir que esses avanços se vejam, criam um desafio aos cânones do "cool”, dominante na cultura visual dos nossos dias



quinta-feira, 31 de março de 2016

Regresso a Serralves


Ando numa de turismo no Porto.
Sinto-me bem depois da operação, que me restituiu bastante mobilidade, ainda que não possa fazer grandes esforços , nem estar muito tempo em pé. O problema não está na coluna, mas nos joelhos, que continuam a ter artroses e sofrem com o peso. Mas já ando bem 1km em plano e subo escadas sem muito esforço. Descer é pior, mas a minha filha ajuda-me sempre.




Hoje fomos a Serralves, o santuário da cidade, que agora na Primavera nos oferece panorâmicas maravilhosas das árvores a ressuscitar depois dum curto inverno com muita chuva e sol. Vê-se que estão felizes e que a chuva só lhes traz vida. Há árvores seculares, como o liquidambares, que têm folhas na parte inferior e ainda estão descarnadas e esguias lá no alto.
Não há muitas flores neste jardim, não é como o botânico, as espécies são quase todas verdes, mas as glicíneas já se apresentavam lindas na Casa de Chá, vazia de público.

Há quem goste de ir a Serralves nos dias de Festa. Prefiro pagar os 10 euros e disfrutar do museu e jardim só para mim...o canto dos pássaros é único, sem o barulho da VCI que tanto me incomoda no J. Botânico. A paz que se respira é extraordinária e, mesmo que as amostras culturais nunca me satisfaçam plenamente, só a visita àquele parque dá para recarregar baterias durante muito tempo. O sol com nuvens tb é extremamente fotogénico, os jogos de luz e sombras maravilhosos.

As exposições não são nada de extraordinário, embora a de Wolfgang Tillmans me tenha impressionado pela qualidade e tamanho das fotografias, tiradas com máquinas digitais da 1ª geração, quando ainda não havia Photoshops nem impressoras a laser. Dedicarei nova entrada a este assunto, pois creio que as minhas fotos agradarão à maior parte dos leitores deste blogue.

Foram duas horas apenas a passear. Mas é neste tempo de Primavera que se enche a alma de poesia e de sonho.


segunda-feira, 28 de março de 2016

Nevoeiro e séries policiais

Hoje está mesmo um dia para ressaca.


Da minha janela vê-se mal a rua e as árvores perdem-se no nevoeiro. Há pouco tirei umas fotos que contrastam com as de sol luminoso que ainda ontem nos encheram de alegria.

As festas acabaram, há uma tonalidade triste no ar e choveu todo o dia...

Dormi grande parte do dia, pois, não conseguindo adormecer às 2, tomei dois comprimidos em vez do habitual. Hoje estou meia pedrada, mas condiz com o tempo taciturno e triste.

Ontem acabei de ver a série "And then there was none" extraído do romance policial de Agatha Christie, que li aos 12 anos e me impressionou imenso. A série da BBC é tenebrosa e cria um ambiente de verdadeiro mistério para quem não sabe como se desenrola a história.



Fiquei com curiosidade de verificar as mudanças entre o romance e  a série - mínimas até agora - e comprei o livro pelo Kindle por apenas 7 dolares.

Já não lia um livro da A. Christie há mais de 50 anos!!! Nunca me apaixonou muito o estilo de policial dedutivo, ainda hoje prefiro séries policiais de investigação, mas li tudo na colecção vampiro que a minha  mãe comprava religiosamente. Pensei muito nela ao ver estes três episódios da série, ela adoraria o inglês e a sobriedade da produção.

A Fox Crime é o canal que mais prazer me dá. Não só pelas séries, mas também pela curiosidade que desperta em mim e me faz querer saber mais....

A série está tão bem feita que fiquei completamente apanhada e não consegui dormir.... :)

Spooky, como diriam os ingleses!!

domingo, 27 de março de 2016

Páscoa - o milagre da Natureza

Considero que a Páscoa - este ano coincidente com a chegada da Primavera - é um tempo de exaltação, de renovação, de beleza e ressurreição. Mas não no tradicional modo como os católicos a celebram.
Para mim estar com e na Natureza é o melhor modo de celebrar esta ressurreição.

Quando era nova, praticava todos os actos aconselhados pelos meus pais e padres, cheguei a ir todos os dias da Semana Santa à Igreja dos Jerónimos que era a minha paróquia, lia os Evangelhos, sobretudo a parte relativa à morte de Cristo e acreditava na renúncia ao que mais gostava - doces e festas - na Quaresma.

Hoje já não acredito em nada disso, acho que não passa de tradição e embora aprecie um bom pão de ló ou folar, não sou nada esquisita no que se refere à família e obrigatoriedade de estarmos juntos neste domingo.


Por essa razão, achei muito bem que o meu filho e família fossem para fora todos juntos. Estive todo o dia com a minha filha - no ano passado passei a Páscoa sozinha - e jantei com os meus filhos mais novos aqui em casa, comida caseira, sem pretensões.
 

A minha Páscoa foi uma ida à Foz com direito a passeio a pé da praia dos Ingleses até ao farol onde o espectáculo era algo de feérico e indescritível. Vários malucos ousavam ir quase até à ponta do molhe, onde as ondas batiam fortes, fazendo repuxos altíssimos e perigosos.
Em dada altura, dois polícias começaram a mandar todos embora, mas enquanto lá estive, deu para tirar fotos magníficas.

Esta Foz é dos locais mais bonitos e variados que conheço, o Porto tem uma situação geográfica invejável. Muitos turistas andam nos autocarros embevecidos com a vista da nossa costa e do rio.

Como sempre, a minha filha e eu sentíamo-nos bem e em uníssono. Rimos, tirámos selfies, almoçámos juntas um prego no prato - nada pascal - e andámos imenso. Viémos de autocarro para casa , e nem o termos de esperar 25m pelo mesmo nos estragou a Páscoa...a espera na paragem do autocarro faz parte da festa!!