quarta-feira, 17 de abril de 2013

Ai se Portugal tivesse mar

Poucas vezes transcrevo aqui textos alheios, pois prefiro escreve-los eu e dá-me sempre a sensação de estar a fazer o mesmo que os miudos da escola que apresentam trabalhos com copy-paste, dizendo que é produto da sua pródiga imaginação.

Este não é. Encontrei-o no FB, citado por uma sobrinha que adora o mar , é surfista, faz vela e só não vive num barco porque sai caro.

Eis o texto. Não percam, pois é tão raro conseguirmos rir hoje em dia, que estes momentos hilariantes compensam de todos os sacrifícios e crises que possam afligir-nos.










"Os dados mais recentes do Instituto Nacional de Estatística (INE)
demonstram que o Pingo Doce (da Jerónimo Martins) e o Modelo
Continente (do grupo Sonae) estão entre os maiores importadores
portugueses."

Porque é que estes dados não me causam admiração? Talvez
porque, esta semana, tive a oportunidade de verificar que a zona de
frescos dos supermercados parece uns jogos sem fronteiras de pescado e marisco.
Uma ONU do ultra-congelado. Eu explico.
Por alto, vi: camarão do Equador, burrié da Irlanda, perca egípcia,
sapateira de Madagáscar, polvo marroquino, berbigão das Fidji, abrótea do Haiti?

Uma pessoa chega a sentir vergonha por haver marisco mais viajado que nós. Eu não tenho vontade de comer uma abrótea que veio do Haiti ou um berbigão que veio das exóticas Fidji. Para mim, tudo o que fica a mais de 2.000 quilómetros de casa é exótico. Eu sou curioso, tenho vontade de falar com o berbigão, tenho curiosidade de saber como é que é o país dele, se a água é quente, se tem irmãs, etc.

Vamos lá ver. Uma pessoa vai ao supermercado comprar duas cabeças de pescada, não tem de sentir que não conhece o mundo. Não é saudável ter inveja de uma gamba. Uma dona de casa vai fazer compras e fica a chorar junto do linguado de Cuba, porque se lembra que foi tão feliz na lua-de-mel em Havana e agora já nem a Badajoz vai. Não se faz. E é desagradável constatar que o tamboril (da Escócia) fez mais quilómetros para ali chegar que os que vamos fazer durante todo o ano.

Há quem acabe por levar peixe-espada do Quénia só para ter alguém
interessante e viajado lá em casa. Eu vi perca egípcia em Telheiras.
Fica estranho. Perca egípcia soa a Hercule Poirot e Morte no Nilo. A
minha mãe olha para uma perca egípcia e esquece que está num
supermercado e imagina-se no Museu do Cairo e esquece-se das compras. Fica ali a sonhar, no gelo, capaz de se constipar.

Deixei para o fim o polvo marroquino. É complicado pedir polvo
marroquino, assim às claras. Eu não consigo perguntar: "tem polvo
marroquino?", sem olhar à volta a ver se vem lá polícia. "Queria
quinhentos de polvo marroquino" - tem de ser dito em voz mais baixa e rouca. Acabei por optar por robalo de Chernobyl para o almoço. Não há nada como umas coxinhas de robalo de Chernobyl.

Eu, às vezes penso:
O que não poupávamos se Portugal tivesse mar.

JOÃO QUADROS . NEGÓCIOS ONLINE
(TEXTO ESCRITO EM COMPLETO DESACORDO ORTOGRÁFICO)

9 comentários:

  1. Nada como o humor subtil e inteligente!... ;)

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  2. Só é pena o texto estar tão pequeno, mas quando o ponho maior desformata todo.

    Este tipo de humor faz-me bem. Ri-me sozinha de cada vez que o li e já o li duas ou tres vezes. É uma verdadeira delícia:)))

    Bjo e obrigada!

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  3. Já conhecia o texto de que gosto muito.
    Um abraço e muito boa estadia nos Açores. Já visitei 4 ilhas, S. Miguel, Terceira, Faial e Pico e fiquei maravilhada, principalmente com esta última.

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  4. Hoje estou em sintonia com a Graciete Rietsch: já conhecia o texto de João Quadros (meu amigo e excelente autor de textos humorísticos) e das cinco ilhas que conheço dos Açores, a que mais gostei foi do Pico.

    Boa viagem, Amiga!

    Bjos

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    1. Thanks.

      Pelos vistos este texto já e sobejamente conhecido...para mim foi a primeira vez, achei-o delicioso.

      Bjinho.

      Lembrar-me-ei de ti quando vir a Lagoa do Fogo!

      Mas é claro que as minhas fotos não se vão parecer nada com as tuas, fotógrafo quase profissional!!

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    2. Não se esqueça da ermita na Lagoa das Furnas. Vá a pé se puder, a estrada é plana e boa. É mesmo fantasmagórica.

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  5. Infelizmente só vou poder ficar em S. Miguel - e talvez dar um passseio de barco até à ilha pequena ao pé, mas vou aproveitar para ver o mais possível no tempo que tenho. Terei de fazer duas sessões e espero não me desconcentrar:))

    Obrigada e um bom fim de semana, Graciete, com sol e saúde.

    Bjinho

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  6. Já me ri, sim senhora... :)

    ( Boa viagem.)

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  7. Ainda bem que não fui só eu a rir:)))

    Obrigada!

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